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Marca Bahia Notícias

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Opinião: Wagner dá “baile” no teatro político ao agir como Pôncio Pilatos no PL da Dosimetria

Por Fernando Duarte

Opinião: Wagner dá “baile” no teatro político ao agir como Pôncio Pilatos no PL da Dosimetria
Foto: Ricardo Stuckert/PR

O senador Jaques Wagner pode ter surpreendido desavisados ao “liberar” na Comissão de Constituição e Justiça e, consequentemente, no plenário do Senado a votação do chamado PL da Dosimetria – ao qual seria mais justo chamar PL Jair Bolsonaro. No entanto, a decisão do líder do governo no Senado não foi sem sentido e, tampouco, uma ação isolada. O ex-governador baiano sabia exatamente o que estava fazendo e interpretou bem o personagem que lhe cabia no teatro político.

 

Wagner agiu como Pôncio Pilatos e lavou as mãos sobre a tramitação do PL. Experiente, o senador preferiu não lutar contra toda uma articulação feita pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que tentavam reagrupar os plenários em torno das próprias lideranças. Fragilizado, Motta pediu apoio de Alcolumbre, que andava às turras com o governo e criou-se o ambiente perfeito para que o bolsonarismo conquistasse o intento de pautar a anistia (em uma versão mais leve).

 

Dar murro em ponta de faca nunca foi uma característica presente no perfil de Wagner. O ex-governador da Bahia aprendeu desde a época de sindicalistas quais brigas deveria levar a cabo e quais poderia recuar ou adiar. Tanto é que era próximo de Luís Eduardo Magalhães, herdeiro do clã que ajudou na derrocada anos depois da morte do amigo. Com a atual formação do Congresso, conseguir votar projetos de interesse do governo em detrimento da pauta sequestrada pelo bolsonarismo é um exercício político que exige, além de paciência, uma sabedoria bem acima da média dos políticos brasileiros.

 

Com o apoio do senador Otto Alencar (PSD-BA), presidente da CCJ, a articulação do governo conseguiu ao menos adiar, em uma semana, a votação relâmpago proposta por Alcolumbre. A sequência de atos mostra que houve o esforço até para que o relator do projeto, Espiridião Amin (PP-SC), não saísse prejudicado no projeto de reeleição. Mesmo as manifestações contrárias de figuras como Renan Calheiros (MDB-AL) fizeram parte de um jogo de cena relevante, cujos personagens não são imaturos ou recém-chegados nas esferas de poder do país.

 

Esticar a corda pela aprovação seria manter o tema na agenda pública, enquanto o governo lidava com desgastes de projetos de importância econômica ficavam em segundo plano. Ao invés disso, Wagner deixou a água rolar – no que se convencionou chamar de acordão geral “com o Supremo, com tudo”, numa citação a Romero Jucá. Com previsão de sair da liderança do governo no Senado em breve e em um esforço para se reaproximar de Alcolumbre, o senador da Bahia recuou para colher os frutos a partir do próximo ano – incluindo aí a apreciação da indicação de Jorge Messias ao STF, por exemplo.

 

Entretanto, nem todos os atores são principais no teatro político. Os ataques de Gleisi Hoffman a Wagner, por exemplo, a colocam como coadjuvante nesse processo. Afinal, o senador e Lula são tão parecidos e próximos que é muito improvável que o ex-governador da Bahia tenha feito algo sem o conhecimento ou anuência do presidente. O “Galego”, como o chama Lula, é mais esperto do que muitos pensando juntos. O Brasil assistiu mais uma vez a isso.