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Fenômeno das redes sociais, o Frei Gilson — conhecido por reunir milhões de fiéis em lives de madrugada para orações e rezas no Instagram e no Youtube — se apresentou em Salvador na noite desta quinta-feira (25), em meio aos festejos de Natal.
Com mais de 11 milhões de seguidores nas redes sociais,o frei levou uma multidão à capital baiana. O evento realizado na cidade, serviu para demonstrar a popularidade do religioso, um dos mais influentes do país. Em entrevista, antes de subir ao palco da Arena O Canto da Cidade, o líder religioso de 37 anos, refletiu sobre ser alvo de críticas e de associações políticas partidárias. Isso porque, o frei, em março deste ano foi chamado por internautas de um grupo político de “fascista”, “negacionista”, “oportunista”, “misógino”, entre outros adjetivos, além de ter sido associado a outro grupo político.
Questionado pela reportagem do Bahia Notícias sobre realizar seu trabalho religioso em meio a uma polarização política e de ser alvo de alguns grupos políticos, Frei Gilson lamentou a tendência do viés político que é colocado a ele e a outros sacerdotes.
“No nosso país, muitas vezes, tudo quer se enxergado por um viés político. O evangelho não é assim. É muito triste quando tudo é visto com o viés político. A política é importante, tem um espaço importante no nosso país, mas não é tudo. O evangelho é a boa nova do reino, mas um reino dos céus. Então é isso que procuro fazer. Tudo que faço, tudo que levo do Evangelho de Jesus Cristo procuro levar a mensagem do Evangelho”, respondeu o frei ao BN.
Ele enfatizou também que Jesus Cristo, principal figura do Catolicismo, não seria um agente político.
“A mensagem do Evangelho fala de um reino que não é desta terra. O meu reino não é deste mundo. Jesus falou isso tantas vezes e quem prega o Evangelho deve mirar as coisas do alto deve olhar para o céu e para a eternidade. Hoje é Natal, dia do nosso Salvador que veio para nos salvar. Então é isso que a gente prega. Jesus, não como um agente político, mas Jesus, o autor da nossa salvação, que veio para nos salvar, não de coisas deste mundo que passam, mas veio nos salvar dos nossos pecados”, observou.
Frei Gilson reforçou ainda que considera a política importante para o Brasil, mas criticou o uso de associações políticas em excesso.
“Então, repito, a política é importante para o nosso país, mas é triste ver quando a pessoa tudo vê com viés político. A ponto de esquecer os seus próprios pecados. E o que mais faz mal à nossa sociedade são os meus e os teus pecados, são os nossos pecados”, concluiu.
Alvo de críticas por parte do setor artístico (saiba mais aqui, aqui, aqui e aqui), o apagão na política cultural por parte do governo federal será investigado pelo Ministério Público Federal (MPF).
De acordo com informações da coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo, o órgão abriu um inquérito para investigar se o Ministério do Turismo, que abriga a Secretaria Especial da Cultura, comandada por Mario Frias, aprova projetos via Lei de Incentivo Cultura - antiga Lei Rouanet - baseada em inclinações político-ideológicas.
Ainda segundo a publicação, a Procuradoria da República no Distrito Federal vai apurar a demora da análise de projetos culturais que buscam financiamento por meio desta política de incentivo.
Tal postura motivou, inclusive, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a mover uma Ação Civil Pública junto à Justiça Federal, em Brasília, denunciando o que consideram o desmonte da cena cultural do país promovido pelo governo Bolsonaro (clique aqui).
O cantor e compositor paraibano Chico César agitou as redes ao rebater o comentário de um fã em publicação nas redes sociais.
“Safra recorde em 2020. Parabéns, Chico César. Ótimas músicas. Carinhosamente te pediria para evitar as de cunho político-ideológico. Tu és muito maior que eles todos. Tu não deves nada a eles. Eles que te devem. Tuas mãos são limpas. Não as coloque no fogo por nenhum deles”, escreveu o seguidor em um post no qual o músico publicou um vídeo cantando a música “Pisadinha”, cuja letra fala de amor.
Diante do comentário, o músico retrucou, destacando que jamais deixaria de se posicionar. “Romeu Benicio Maia, por favor, todas as minhas canções são de cunho político-ideológico!! Não me peça um absurdo desse, não me peça para silenciar, não me peça pra morrer calado. Não é por ‘eles’. É por mim, meu espírito pede isso. E está no comando. Respeite, ou saia. Não veja, não escute”, respondeu Chico.
“Não tente controlar o vento. Não pense que a fúria da luta contra as opressões pode ser controlada. Eu sou parte dessa fúria. Não sou seu entretenimento, sou o fio da espada da história feito música no pescoço dos fascistas. E dos neutros. Não conte comigo para niná-lo. Não vim botar você pra dormir, aqui estou para acordar os dormentes”, concluiu o artista, que em seguida recebeu muitas mensagens de apoio.
“Ai, que orgulho de ler isso!!! Arte potência. Que grandeza, Chico!!!”, disse uma fã. “Por favor Chico não se cale neste momento tão sombrio que estamos vivendo. Precisamos de tua música e do teu protesto em forma de Poesia. Vamos sacudir essa poeira fascista”, comentou outro. “Você é ídolo por essas e outras!!”, declarou um terceiro.
ATUAÇÃO POLÍTICA
Além de cantar letras engajadas, Chico César também já atuou em cargos públicos. Ele foi titular da Secretaria de Cultura do Estado da Paraíba e também foi presidente da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope).
Em um artigo publicado no Jornal Estado de S. Paulo, a ex-secretária Especial da Cultura, Regina Duarte, tentou defender a si à sua gestão das inúmeras críticas recebidas nos poucos meses em que esteve no governo.
No texto, ela diz que sabia que ao aceitar o convite do presidente Jair Bolsonaro ela seria alvo, mas afirmou que tal certeza nunca lhe desencorajou. “Ao contrário, assumi a missão com a firme convicção de que, para contribuir com a cultura brasileira, teria que enfrentar interesses entrincheirados em ideologias cujo anacronismo não parece suficiente para sepultá-las”, defendeu, destacando que seu espanto se deu pela “total ausência de substância das sentenças condenatórias que me dirigem na praça pública das redes sociais – esse potente megafone usado por grupos organizados dentro e fora da classe artística”.
Ela disse ainda que não se viu no meio de um debate sobre políticas públicas voltadas para as artes. “Em vez de uma discussão franca, que seria saudável, por mais altos que fossem os decibéis, o que identifiquei foi só a ação coordenada de apedrejar uma pessoa que, há mais de meio século, vem se dedicando às artes e à dramaturgia brasileira”, disse ela, provavelmente em referência à ala ideológica olavista, que travou uma “guerra” virtual contra Regina, que segundo eles, flerta com a esquerda.
“Recuso-me a responder às manifestações de desaprovação vociferadas pelos mais exaltados. Há críticas que são refratárias ao argumento racional exatamente por extrapolarem qualquer juízo. Elas vicejam apenas no terreno pantanoso da maledicência. Recuso-me a adentrar essa arena onde meus pretensos algozes se movimentam com desenvoltura”, acrescentou a atriz, que no entanto, não respondeu sequer o questionamento de uma amiga, Maitê Proença, ao ser questionada justamente pela ausência de políticas públicas para o setor cultural durante a pandemia.
“Minha resposta tem sido a serenidade que deriva de uma paz de espírito que só pode ter quem age de acordo com sua consciência, fiel a seus princípios, sem se vergar diante de pressões, sem se preocupar em agradar ou desagradar a este ou àquele”, defendeu a artista, que avaliou que “o posto de projeção” que ocupou “parece ter servido de instrumento a enfurecidos gladiadores entrincheirados nos dois extremos do espectro político” e por isso foi criticada à esquerda e direita.
Segundo ela, o lugar intermediário que ficou não é de “conforto”. “Sei disso porque foi onde sempre estive, independentemente das circunstâncias. Nos anos 80, na pele da Viúva Porcina e integrante do elenco da novela Roque Santeiro, enfrentei a censura nos primórdios da redemocratização. Fui aplaudida. Duas décadas mais tarde, não me abstive de alertar a sociedade sobre a ameaça que representaria para o País um governo de matiz notoriamente socialista. Fui vaiada”, lembrou, em referência ao “eu tenho medo”, dirigido à campanha que levou Lula à presidência.
Ela disse ainda lamentar “a insistência em querer separar os brasileiros”. “Amo meu país, sim, e tenho deixado isso sempre bem claro, a ponto de, numa recente entrevista à TV, ter cantado a conhecida marchinha dos anos 70, que fala de “todos ligados na mesma emoção”. Nada a ver com defesa da ditadura, como quiseram alguns, mas com o sonho de brasilidade e união que venho defendendo ao longo de toda a minha vida”, afirmou Regina, a respeito da fatídica entrevista à CNN Brasil, na qual ela minimizou a ditadura militar, justificou a ausência de homenagens póstumas a grandes nomes da arte brasileira porque a secretaria “não pode virar um obituário” e ainda deu um “chilique” - como ela própria classificou - ao ser questionada sobre sua gestão na Cultura.
“E me desculpo se, na mesma ocasião, passei a impressão de que teria endossado a tortura, algo inominável e que jamais teria minha anuência, como sabem os que conhecem minha história. Dito isso, não será o veneno destilado nas redes sociais que me fará silenciar nem renegar amor à minha pátria.
O que mais me dói é ver o Brasil à mercê de uma ignóbil infodemia, termo cunhado para designar a pandemia de informações tendenciosas em que conta o viés de quem as veicula e não o factual isento, não a verdade”, afirmou, acrescentando que o país “precisa de uma política cultural que transcenda ideologias”. Entretanto, o fato de sua gestão não abraçar totalmente a ideologia bolsonarista, foi fundamental para a queda do cargo.
Regina Duarte, que tem passado por um período de fritura, como secretária Especial da Cultura, conseguiu se reunir com o presidente Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (6), em Brasília, e garantiu uma sobrevida no governo. Ela que em um áudio divulgado pela revista Crusoé dizia que o presidente estava decidindo sobre sua permanência na pasta e acreditava que ele estaria lhe dispensando, fica mais um pouco na política. A artista aproveitou a ocasião para aparesentar planos para o setor cultural.
O mais recente desgaste entre Regina e o governo foi a exenoreção de do maestro Dante Mantovani - que é conhecido por ligar o rock ao aborto e satanismo - como presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), no dia 4 de março, pela secretária. Nesta terça ele foi reconduzido ao cargo e exonerado novamente em menos de 24h (clique aqui e saiba mais).
De acordo com a CNN, durante o encontro nem Regina pediu a demissão e nem Bolsonaro mencionou sua saída. Segundo informações da coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, a reunião teve ainda a presença o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, e ocorreu sem intercorrências entre ele e a atriz, que já se bicaram anteriormente e viviam em queda-de-braços na secretaria.
Segundo a coluna, Camargo teria dito que sofre com a narrativa da imprensa e que quer apenas um país melhor para todos, enquanto Regina Duarte explicou que Humberto Braga, um dos nomes escolhidos por ela para assumir um cargo na Cultura, que foi atacado pela ala ideológica bolsonarista por ser de esquerda, nunca foi ligado a partidos e chegou até a trabalhar no setor público em governos conservadores.
Apesar da permanência de Regina Duarte como titular da Cultura, segundo a CNN, o governo já estuda um substituto para o cargo: o ator e apresentador Mário Frias.
Secretária de Cultura do governo Jair Bolsonaro, Regina Duarte evitou divulgar uma nota pública lamentando a morte do músico Aldir Blanc (relembre aqui) por questões ideológicas. Segundo o jornalista Robson Bonin, da coluna Radar, da Veja, a ex-contratada da Rede Globo se limitou a mandar uma mensagem privada aos familiares do artista.
Tem sido desta forma que Regina tem enviado suas mensagens de pesar para parentes de pessoas ligadas ao setor cultural, que faleceram neste período de gestão a frente da pasta. Dentro da estrutura da secretaria, inclusive, a atriz tem sido alvo de uma patrulha ideológica, que lhe impede de divulgar homenagens até mesmo nas suas redes sociais.
Nos últimos dias, as relações entre a secretária e o presidente se estremeceram. Com o aval do próprio Bolsonaro, aliados do presidente iniciaram um processo de fritura de Regina Duarte, com o objetivo de fazer com que ela peça demissão do cargo de secretária especial da Cultura antes mesmo de ter completado dois meses no cargo. (relembre aqui).
Com nomeação para assumir a Secretaria Especial da Cultura no dia 4 de março (clique aqui), Regina Duarte rebateu um seguidor nas redes sociais, que a acusou de contratar “pessoas de esquerda” para montar sua equipe.
Segundo a coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, a futura secretária da Cultura rebateu afirmando que seu time “é composto por servidores públicos e profissionais com larga experiência na gestão pública” e que “tudo isso está muito acima de qualquer ideologia (esquerda/direita)”. Segundo a artistas, tais especulações são “colocações empobrecedoras que não contribuem em nada com os objetivos de fomentar e divulgar nossas expressões culturais”. “Fica tranquila, a cultura brasileira vai estar em boas mãos”, concluiu Regina.
O governo federal publicou no Diário Oficial da União desta segunda-feira (2) a nomeação do novo presidente da Biblioteca Nacional, em substituição de Helena Severo, que havia colocado o cargo à disposição na última sexta-feira (29).
Em conformidade com a guinada ideológica da Secretaria de Cultura, promovida pelo novo titular da pasta, Roberto Alvim, assume o cargo Rafael Nogueira, que segundo informações do jornal O Globo é seguidor de Olavo de Carvalho, ideólogo da família Bolsonaro.
O governo anunciou ainda a nomeação do músico Dante Henrique Mantovani como presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), no lugar de Miguel Proença, exonerado no dia 4 de novembro.
A Funarte é o órgão responsável por políticas públicas voltadas para o fomento das artes visuais, música, circo, dança e a teatro.
O ex-diretor da Funarte, nomeado há dez dias como Secretário Especial de Cultura pelo presidente Jair Bolsonaro (clique aqui), Roberto Alvim chocou delegações estrangeiras ao proferir um discurso ultraconservador com ataques à classe artística nacional, em na reunião anual da Unesco, realizada em Paris, França, nesta terça-feira (19).
De acordo com informações do Uol, o brasileiro, que ganhou o novo cargo após insultar Fernanda Montenegro (clique aqui e saiba mais) e propor a criação de um banco de dados de artistas conservadores para criar uma “máquina de guerra cultural” (clique aqui), afirmou durante o evento que "nas últimas duas décadas, a arte e a cultura brasileira foram reduzidas a meros veículos de propaganda ideológica, de palanque político, de propagação de uma agenda progressista avessa às bases de nossa civilização e às aspirações da maioria do nosso povo".
Para espanto da plateia, composta por ministros de diversos países, o secretário defendeu ainda que "passamos não mais a produzir e experimentar arte como uma ferramenta para o florescimento do gênio humano" e afirmou que "a arte brasileira transformou-se em um meio para escravizar a mentalidade do povo em nome de um violento projeto de poder esquerdista, um projeto mesquinho que perseguiu e marginalizou a autêntica pluralidade artística de nossa nação".
Subindo ainda mais o tom, Alvim afirmou que "a arte e a cultura no Brasil estavam a serviço da bestialização e da redução do indivíduo a categorias ideológicas, fomentando antagonismos sectários carregados de ódio - palcos, telas, livros, não traziam elaborações simbólicas e experiências sensíveis, mas discursos diretos repletos de jargões do marxismo cultural, cujo único objetivo era manipular as pessoas, usando-as como massa de manobra de um projeto absolutista". Segundo ele, a "ideologia de esquerda perpetrou uma terrível guerra cultural contra todos os que se opuseram ao seu projeto de poder, no qual a arte e a cultura eram instrumentos centrais de doutrinação".
Alvim acusou ainda o movimento progressista de acabar “quase totalidade do teatro, da musica, das artes plásticas, da literatura e do Cinema” e afirmou que isso “não ocorreu de modo espontâneo", mas foi "meticulosamente pensado, orquestrado e executado por lideranças tirânicas para nossa submissão".
Em contraponto, o titular da Cultura afirmou que hoje isso acabou, apesar de ele mesmo ter convocado artistas conservadores para uma cruzada ideológica. Segundo ele, com o governo Bolsonaro "os valores ancestrais de elegância, beleza, transcendência e complexidade encontraram uma nova atmosfera". Ele defendeu também que a nova gestão permitiu “retomar o sonho de libertar a cultura e colocá-la na direção de princípios poéticos sagrados" e que o governo está "envolvido na árdua tarefa de promover um renascimento da arte e da cultura brasileira", além de prometer " promover uma cultura alinhada às grandes realizações de nossa civilização judaica-cristã".
Segundo o Uol, o discurso, cujo encerramento incluiu "para a glória de Deus" e "que Deus os abençoe", foi recebido tão mal pela plateia, que uma das missões estrangeiras encaminhou o texto lido pelo brasileiro, citando o espanto pela guinada ideológica oficial sobre as artes no Brasil. Ainda de acordo com a publicação, após a fala de Alvim, ainda durante o evento, , um governo europeu tomou a palavra para fazer elogios à classe artística brasileira. Outros diplomatas de países vizinhos revelaram ainda que o discurso levou alguns participantes ao riso.
Inspirado em um caso real, acrescido de vários toques ficcionais, o espetáculo “Cinco Segundos” faz curta temporada desta quinta-feira (29) até o domingo (1º), no Teatro Jorge Amado, em Salvador.
Com texto do dramaturgo e historiador Ricardo Carvalho, a montagem se passa na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial, e estende segundos decisivos na vida de dois oponentes, um soldado brasileiro e um nazista alemão que se topam na batalha sem armas de fogo ou munição. Contar em 50 minutos o que ocorreu em cinco segundos na história dos personagens foi um dos primeiros desafios enfrentados pelos diretores, mas também uma forma de explorar o caráter “espiritual e onírico” do tempo. “O tempo também é uma construção, a gente inventou essa fração de segundos pra organizar melhor nossa vida. A peça nasce justamente da explosão dessa ideia de tempo. A gente tem o tempo real, mas tem a intenção e encenação de entender que esse tempo é outro em outras dimensões também”, defende Daniel Arcades. “A gente brinca muito com essa noção das dimensões do tempo. Então, cinco segundos pra nós pode ser muito rápido, mas a depender das camadas que a gente atinge da cabeça esses personagens, principalmente, pode durar uma eternidade”, explica.
O enredo é resultado de um desejo antigo do autor, que só agora decidiu levar aos palcos. “Ricardo tem, há muito tempo, esse projeto de texto. Ele ouviu um relato de um pracinha baiano e a partir desse relato construiu uma história que a gente foi discutindo muito”, conta Daniel Arcades que, ao lado de Alan Miranda e do próprio autor, assina a direção da peça. “A gente tem falado muito, nas nossas conversas sobre o trabalho, da importância de olhar mais pra nossa história e aprender com esses exemplos, porque a sensação que dá, hoje, inclusive, é que a gente anda sem memória”, avalia o artista baiano, destacando que outro bom motivo para levar este enredo ao palco é o fato da Segunda Guerra fazer 80 anos em 2019. “A gente acreditou que era o momento, talvez, de também trazer esse debate, de colocar isso na dramaturgia do teatro, porque o teatro não discute muito a guerra, a gente fala pouco dessas temáticas mais bélicas. E a gente sentiu muito essa necessidade de começar a discutir”, justifica.
Por ser escrito por um historiador, o texto traz uma sólida pesquisa, que foi incorporada por toda equipe e somada ao trabalho dos demais, na busca por referências sobre a guerra no cenário artístico. “A gente assistiu muitos filmes que discutiam a guerra, procurou muita dramaturgia. [Bertolt] Brecht é um dos maiores autores que discute a guerra, a gente leu o que ele falava sobre a Segunda Guerra Mundial. As referências artísticas eram muito importantes, mas as históricas também. Então, tanto a direção de arte quanto a própria encenação procuraram se esmerar o máximo possível”, diz Arcades, reiterando que a montagem passeia pelo realismo, mas não é realista. “Ela tem momentos muito líricos. A direção de arte, principalmente, procurou trazer momentos de pesquisa muito fiéis à imagem desses soldados e às informações contidas no texto também. E o processo de pesquisa foi todo mundo junto, nossos ensaios demoravam muito por conta disso, porque não bastava que os atores soubessem fazer os personagens, era muito importante pra gente que eles tivessem também munidos de todas as informações históricas e filosóficas que a Segunda Guerra Mundial traz pra nossa sociedade”, acrescenta.

Espetáculo traz questionamentos sobre a natureza da guerra e expõe motivações e ódios que levam pessoas a apoiar regimes autoritários | Foto: Sidnei Campos/ Divulgação
Apesar de se manter em um período histórico específico no passado, segundo o diretor, a peça traz também inevitáveis paralelos com a atualidade. “A gente tem um soldado alemão, sujeito de linha de frente, uma figura do povo, mas uma figura do povo que compra todos os discursos totalitários que induziram e levaram a uma guerra mundial. Então, não tem como a gente não pensar sobre os discursos que são proferidos hoje e como a população assume esses discursos cegamente. [Não tem como não] Atentar para um perigo do cunho de novo regime totalitário, de um século XXI repetindo o quão desastrosa foi a primeira metade do século XX”, diz ele, explicando que a ideia do espetáculo também é colocar luz nos exemplos do passado, para que grandes erros não se repitam. “Temos exemplos na nossa história em que a gente consegue enxergar para onde os discursos de ódio e purismo vão, e como a guerra não é uma solução pra repensar a nossa sociedade”, pontua o artista, que considera “imbecil” a ideia da guerra como tática ou símbolo de conquista, já que este artifício sempre pressupõe um vencedor e um perdedor, o que acarretaria em um ciclo vicioso pela busca do triunfo. “O espetáculo nos atenta na verdade pra esse discurso de separação a partir da guerrilha, pra gente entender a história humana, observar mais o ser humano e perceber como essa armadilha, que é a guerra, nos separa tanto, muito mais do que nos fortalece”, avalia o diretor. “A gente usa a palavra 'guerreiro' pra parecer forte, mas não se atenta que muitas vezes ser guerreiro quer dizer oprimir ou derrubar alguém”, pondera.
É justamente ao explorar o lado humano dos personagens que a peça expõe questões profundas sobre a natureza da guerra, além de estimular o público a pensar na lógica torta do belicismo. “Em ‘Cinco Segundos’ aqueles soldados nunca se viram e não dá tempo de se conhecer. É matar ou morrer ali na guerra. O espetáculo parte do pensamento de como a gente agiria se tivesse acesso à história do outro, a partir do olhar do outro”, conta o diretor. “Será que a gente mataria tanto se tivesse acesso a entender a história do outro? Será que a gente guerrearia tanto a partir do momento da tentativa de entender o ponto de vista do outro?”, questiona. “Então, a gente não romantiza muito a guerra. O brasileiro não vai pra lá com sentimentos pacíficos, o Brasil tem um objetivo na Segunda Guerra também. Existe um objetivo mercadológico, de aliança, então ambos estão ali, primeiro, como sujeitos da base da pirâmide, e são os primeiros que morrem. Óbvio que com realidades diferentes, por um ser alemão e o outro ser brasileiro, mas eles têm histórias e anseios muito parecidos, porque estão ali comprando os discursos que justificam a presença deles ali”, explica.
Arcades salienta ainda que enquadra os anseios, os sentimentos e tudo que perpassa a característica humana dos personagens como algo universal. Já as motivações que passam pela cultura, como ideologias, pensamentos e história de vida, constituem as diferenças. “A relação deles com o sentimento é muito parecida. Eu acho que é isso que diferencia a gente. Nós somos iguais, no lugar da vida humana, mas somos diferentes por conta das escolhas dos modos de vida, a depender de onde a gente esteja vivendo. É a cultura que nos diferencia. Tirando a cultura nós somos iguais”, avalia o artista.
SERVIÇO
O QUÊ: “5 Segundos”
QUANDO: 29 de agosto a 1º de setembro. Quinta a sábado, às 20 e domingo, às 19h
ONDE: Teatro Jorge Amado - Pituba – Salvador (BA)
VALOR: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia)
O escritor e jornalista baiano Jolivaldo Freitas está lançando seu novo livro “Votar em quem? Manuel Sintético e Minimalista Para Entender Um Pouco de Policística e Ideologia”.
O livro é apartidário e meramente explicativo. Ele tem o intuito de explicar de forma sintética o que é ideologia, esquerda, direita, fascismo, democracia, anarquia, República e tudo o que conceitua uma nação.
“Trata-se de um manual completo sobre as eleições 2018. É uma análise sintética e minimalista para entender um pouco de política e ideologia. Percebi que ainda há uma confusão muito grande não apenas sobre o perfil dos candidatos, mas também sobre correntes de pensamento, e escrevi o livro para ajudar a esclarecer um pouco esses conceitos”, afirma Jolivaldo Freitas.
Na publicação, o escritor apresenta um perfil imparcial de todos os candidatos a presidente, seus programas de governo, e apresenta conceitos importantes, sem academicismos, acerca de democracia, nação, república e ideologias. O livro, que custa R$ 29, está a venda no site da Amazon (veja aqui).
Em carreira solo, o ex-Barão Vermelho Frejat incluiu em seus shows a música “Ideologia”, composta por ele em parceria com Cazuza. Em entrevista à revista Rolling Stone Brasil, o músico revelou o motivo de cantar a canção pela primeira vez na nova turnê “Tudo se Transforma”. “Nunca tinha tocado ao vivo, nunca tinha colocado no meu repertório até essa turnê. Na verdade, eu encanava com uma frase da letra – 'meus heróis morreram de overdose’ –, mas consegui resolver agora. Não tenho heróis, então como eu vou cantar que ‘meus heróis morreram de overdose’?”, explica Frejat. Para solucionar o entrave ele faz uma pequena alteração. “Consegui resolver cantando ‘seus heróis’, fazendo analogia com ‘o garoto que queria mudar o mundo’. Eu não tenho heróis, não tenho relação de idolatria com ninguém. Mesmo as pessoas que eu mais admiro – seja na área humana, na história da civilização, ou na música, os guitarristas que adoro –, não tenho relação de idolatria com nenhum deles”, diz o músico. “O Cazuza, sim, ele tinha essa relação de idolatria, então ele se sentia muito à vontade de cantar”, revela o artista, contando que ficou em paz após resolver a questão da leta. “Já eu tive que ficar achando uma maneira de encaixar. Mas, agora que encontrei essa solução, estou tranquilão, posso cantar [essa música] pelo resto da vida [risos]”, conclui.
Curtas do Poder
Pérolas do Dia
Hugo Motta
"Eu não vou fazer pré-julgamento. Não sei ainda a motivação nem qual foi a busca. Apenas recebi a ligação do diretor-geral da Polícia Federal. Pelo que me foi dito, parece ser uma investigação sobre questão de gabinete, mas não sei a fundo e, por isso, não quero fazer pré-julgamento".
Disse o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) ao afirmar que o Judiciário “está cumprindo o seu papel” ao autorizar operações contra parlamentares. A declaração foi feita após a deflagração de uma ação da Polícia Federal que teve como alvos o líder do PL na Casa, Sóstenes Cavalcante (RJ), e o deputado Carlos Jordy (PL-RJ).