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axe
A teoria do Big Bang, uma das mais aceitas cientificamente para comprovar o início de tudo, pode ser utilizada como sinônimo para justificar o início de outras coisas, para além da criação do universo atual.
Em uma analogia à explosão que há cerca de 15 bilhões de anos deu origem ao que somos hoje, para se ter o que conhecemos hoje como ‘Axé Music’, foi necessária uma explosão em algum lugar da Terra, sendo a terra em questão, Salvador, mais especificamente o endereço da “casa do axé”, os estúdios do administrador e advogado Wesley Rangel (1950-2016), o Estúdio WR, criado em 1975, que foi berço do movimento revolucionário na música baiana.
E é a história deste local e de quem fez ele acontecer que o editor de áudio Nuno Penna e a jornalista Maira Cristina querem contar no documentário “Alegria da Cidade”, que vem sendo produzido com recursos próprios há mais de 10 anos, na esperança de fazer a fantasia, tão cantada por diversos intérpretes da música baiana em ‘Baianidade Nagô’, ser eterna.
“Eu tive a ideia de filmar, começar, na verdade, a registrar as pessoas mais velhas que fizeram parte da história da WR, porque eu sabia que eles estavam começando a ficar mais velhos e a gente ia perder um pouco a capacidade de, através deles, entender essa história. Na época, Rangel já estava diagnosticado com câncer, e eu comecei primeiro sem um roteiro, sem uma ideia definida de um documentário, pensei mesmo em começar a entrevistar as pessoas para ter esse registro”, conta Nuno.
Foto: Registro cedido pela equipe do documentário Alegria da Cidade
A ideia surge, além de um desejo de marcar a história de um dos espaços mais importantes da música baiana, como uma forma de eternizar as próprias memórias de Nuno, que iniciou a carreira como editor de áudio nos estúdios de Rangel, com uma chance dada pelo produtor musical.
“Foi o meu primeiro trabalho e quando eu entrei, que vi aquela história eu fiquei fascinado. Eu entrei lá em meados de 98. Fiz a entrevista no dia do aniversário de Rangel, ele me deu uma carona até em casa e a gente foi conversando sobre a proposta de estágio. A WR me formou na prática, como grande parte dos operadores que trabalharam lá. A maioria da mão de obra era formada na prática, né? Eu não tinha conhecimento, mas tinha muita vontade.”
Ao lado de Maira Cristina, Nuno conta, através de depoimentos, imagens de arquivo e músicas que marcaram época, a história das mãos, vozes e cabeças pensantes responsáveis por grandes momentos da música baiana, como um dos discos mais importantes de Lazzo Matumbi, autor da canção que dá título ao documentário.
Foto: Registro cedido pela equipe do documentário Alegria da Cidade
“Nuno me ligou em busca de uma pessoa para ser assessora de imprensa desse projeto, e como eu sou muito amiga, eu disse ‘Não quero ser assessora, quero fazer o roteiro’. Eu já conhecia a história, o estúdio e entendia um pouco também essa importância WR pra sonoridade da Bahia. Fora que uma coisa que eu achei muito forte no projeto foi essa ideia de falar no estúdio e de quem estava lá desde o começo”, conta a jornalista.
Para isso, a dupla foi atrás dos bastidores da canção, entre eles Nilton César Lacerda dos Santos, o baterista Cezinha, que tem papel importante em grandes álbuns da música baiana.
“A gente quis ouvir os músicos envolvidos nessas gravações. No documentário a gente tem um cuidado com essa coisa do técnico. Ouvimos os artistas, é claro, mas buscamos ouvir os músicos, os coristas, guitarristas, percussionistas, baixistas. Queremos a voz dessa galera que não está na frente, na capa do disco, mas que está ali nos créditos. Cesinha, que era baterista de Luiz Caldas na época do Acordes Verdes e que hoje toca com todo mundo, ele tem uma memória tão rica e entende tanto do axé, do negócio da criação como qualquer artista, entendeu? Mas de repente esse cara nunca foi ouvido.”
Em uma caminhada independente, Nuno e Maira conseguiram reunir depoimentos de figuras importantes para a “casa do axé” e de tantos outros ritmos para os quais Rangel abriu as portas ao longo dos anos, como reggae de Edson Gomes, o samba de Roberto Mendes, o forró de Zelito Miranda, o rock da Camisa de Vênus, mas brigam para fazer com que essa história consiga ser ouvida ao redor da Bahia e do Brasil.
“É muito cansativo você ter um documentário, que fala sobre, talvez, a maior revolução musical brasileira desde a Bossa Nova, e não ter tanto apoio. Isso, no sentido de que a música que nasceu aqui quebrou padrões muito consolidados, seja na forma, na técnica, seja no conteúdo. A Bahia se orgulha muito do 2 de julho, da independência, mas a independência musical para a Bahia só veio a partir de 85, foi quando a WR grava e consegue estourar no Brasil todo, tocar nas rádios um disco gravado e mixado aqui. Antes disso, qualquer artista que tivesse a pretensão de fazer qualquer tipo de música, seja rock, seja MPB, bossa nova, samba, ele não teria espaço na Bahia, seja para gravar, seja para depois de gravar conseguir com que essa música entrasse nas rádios. Porque havia toda uma estrutura pronta que estava no Rio-São Paulo. A WR foi o primeiro estúdio, fora do eixo Rio-São Paulo, a produzir música em escala e fazer sucesso a ponto de vender mais que artistas do eixo. Como é que essa revolução, que aconteceu aqui, não atrai pessoas que detém o poder de financiar essa história?”
Foto: Site Estúdio WR
Desde que o documentário começou a ser produzido, em 2013, até os dias atuais, Nuno conta que inscreveu o projeto em todos os editais do município, estado e federal, no entanto, não conseguiu ser contemplado.
“Hoje, a gente está partindo para um momento que é bater na porta das empresas para tentar algum financiamento, um patrocínio em troca de divulgação da marca. O nosso perfil foi criado justamente para que a gente consiga demonstrar de forma natural e orgânica a força que essa história tem, mostrar que esse filme tem uma força e que a gente vai conseguir ter uma visibilidade boa para alguma marca.”
O valor arrecadado será direcionado para o aprimoramento do material, para o pagamento das questões com direitos autorais e para a produção de um evento de lançamento para o projeto.
“Na montagem do filme. A gente usou algo em torno de 13 fonogramas, que são as músicas que já foram gravadas. A única regravação que a gente fez foi ‘Alegria da Cidade’, que dá título ao filme, mas o resto é basicamente fonograma. E a gente precisa pagar o direito para poder veicular e poder exibir o filme. Enquanto a gente não tiver esse dinheiro, o filme vai estar no HD aqui no estúdio. Fora que nós queremos fazer um lançamento digno desse material, convidar quem participou da produção, quem fez parte da história.”
Foto: Registro cedido pela equipe do documentário Alegria da Cidade
Uma das boas notícias envolvendo o documentário ‘Alegria da Cidade’ é que em 2024 ele foi selecionado para um importante festival de cinema brasileiro, e a história começa a deixar o HD para ganhar as telas.
“Através desse perfil nas redes sociais estão chegando pessoas que estão ajudando, e colocando um pouco de energia nisso. A gente já conseguiu ser selecionado para um Festival importantíssimo. O nosso filme tem força, a história tem força para sair do papel e ganhar o Brasil, porque ele não interessa só a Bahia. A música baiana tem força no mundo todo e eu acho que essa história representa muito bem a nossa cultura.”
Com cerca de 90% do documentário já pronto, Nuno e Maira citam algumas figuras que ainda faltam ser entrevistadas para o documentário, mas pontua que a demora no lançamento se dá mesmo pela falta de verba de patrocinadores interessados em contar a história de uma das partes mais importantes da música baiana nas telonas.
“A gente não teve data, não teve tempo para entrevistar, por exemplo, uma mulher que conseguiu emplacar na música, quase igual a Luiz Caldas, e que era uma pessoa queridíssima do Chacrinha, que é a Sarajane, por exemplo. Ela explodiu junto com Axé, junto com o Luiz e que estava desde do comecinho da WR. Ela, que levou Cezinha para lá. Tem Margareth também, que é uma outra grande potência da nossa música e estourou mundialmente antes de todo mundo. Então, se conseguirmos eles a história fica ainda mais completa.”
Foto: Spotify/ Amazon/ iTunes
A história se fez ali, desde a gravação de grandes discos da música baiana que renderam ao Estúdio WR uma comparação à lendária Motown, aos desafios de registrar pela primeira vez a percussão baiana com uma técnica inovadora que permitisse transmitir com qualidade o som dos tambores, dos agogôs, dos atabaques e dos timbaus, ao incentivo para criação de projetos que mudariam o curso da cultura local, como a Timbalada.
“A WR era um lugar que reunia pessoas para se fazer música. Ali foi o maior ponto de encontro musical que a gente já teve, mas isso foi uma época aqui em Salvador. Você tinha um lugar aglutinador, e isso possibilitou a criação de música. Era um lugar que unia todos os gêneros, o povo do axé com o povo do rock. Mais do que um estúdio, a WR era um lugar que centralizava os artistas, as pessoas ligavam para lá para pedir o contato de outros músicos, ou chegava lá para encontrar alguém e produzir. O estúdio ainda existe, a parte física, mas o que a gente tinha antes dificilmente volta a acontecer. Acho que era muito de Rangel, ele era muito assertivo nisso e mudou a história da música com esse projeto.”
O endereço segue o mesmo, Rua Maestro Carlos Lacerda, na Avenida Anita Garibaldi, e é possível que se encontre alguns dos antigos rostos que por ali circularam e marcaram a história iniciada por Rangel, mas algo como foi a WR quando ela surgiu, dificilmente será encontrado em algum lugar, e por isso a importância de deixar a história marcada.
“O formato de se gravar música mudou muito com o tempo, e no documentário a gente traz um pouco disso, a derrocada da WR. O modelo de negócio para uma WR, como a gente teve na década de 80 e 90, eu não consigo ver até porque é outra coisa hoje. As músicas são outras, não tem a ver com a qualidade da música, não é questão de conteúdo, é a forma de se fazer.”
FICHA TÉCNICA DO DOCUMENTÁRIO ALEGRIA DA CIDADE
Produção Executiva: Nuno Penna
Dirigido por: Maira Cristina e Nuno Penna
Roteiro: Maira Cristina
Direção de Fotografia: Jásio Velásquez
Produção: Val Benvindo e Igor Penna
Montagem: Igor Caiê Amaral, Álvaro Ribeiro e Nuno Penna
Colorista: David Júnior Mixagem: Nuno Penna
A ex-participante do reality “A Fazenda” e atual vocalista da banda Cavaleiros do Forró, Kally Fonseca, viralizou mais uma vez nas redes sociais nesta quinta-feira (11), após ter o registro de uma participação no show de Claudia Leitte publicado pelo jornalista Lucas Pasin.
Visivelmente embriagada, Kally foi retirada do palco por ter se recusado a descer para que o show tivesse continuidade, durante a Festa do Gelo, em João Pessoa, na Paraíba. Claudia percebeu que a situação não seria contornada e retirou a cantora pelo braço, pedindo para que as pessoas a conduzissem para que ela não caísse e prometendo que a convidaria para cantar novamente durante o show, o que não aconteceu.
SE PASSOU? ???? Cantora de forró bebe demais e é expulsa do palco por Claudia Leitte
— Bahia Notícias (@BahiaNoticias) January 11, 2024
Saiba mais ?? https://t.co/ylQVlQsOFl pic.twitter.com/sWyO1AccNr
“Eu vou fazer um repertório, e quando chegar nessa música, eu te chamo de novo. Vá!”, pediu Claudia Leitte. “De novo?”, questionou Kally um pouco alterada. “Tu não quer mais cantar comigo não, é? Vai ficar mais bêbada? Já tá no ponto… Venha”, respondeu a cantora levantando a ex-Fazenda para descer do palco.
A cantora de forró já viralizou outras vezes nas redes sociais por este motivo, durante o reality “A Fazenda”, que foi ao ar em 2023 pela Record, ela protagonizou diversos momentos polêmicos e divertidos durante dinâmicas, festas e discussões dentro da casa.
A banda Ara Ketu, liderada pelo cantor Dan Mirada, agitou a Virada Cultural de São Paulo, na noite deste sábado (27). O show da banda baiana, que aconteceu na Arena Capela do Socorro, chegou a atingir a capacidade máxima do espaço.
O grupo que completou 43 anos de história neste ano, apresentou no repertorio do show, sucessos que marcaram a música baiana. t “Mal Acostumado”, “ Pipoca”, foram alguns dos hits embalados pela banda.
“Foi uma noite inesquecível. A sintonia entre o público e a banda vai ser algo que eu nunca vou esquecer. Eles já estavam na frente do palco esperando o show, cantaram todas e a gente sentiu muito carinho. Ficou na história”, disse Dan Miranda, que completa 5 anos no Ara Ketu em junho deste ano.
Além do Ara Ketu, nomes como Sandra de Sá, Mike Love, Karol Conká e Xanddy se apresentaram na mesma praça.
O cantor Saulo Fernandes comemorou, nesta quinta-feira (21), o retorno aos trios elétricos na Bahia. Atração desta noite no Carnasal, folia indoor realizada no espaço de festas do Wet’n Wild em Salvador, o artista demonstrou nervosismo e ansiedade por voltar a fazer carnaval, mesmo que fora de época.
Foto: @mateusross
“Está se aproximando o horário, eu vou me sentindo como se fosse a primeira vez. Emocionado, nervoso, como se eu não soubesse saber isso. Eu já não faço isso há muito tempo. Vai ser um dia incrível. A gente está voltando para um lugar em que a gente já foi muito feliz”, afirmou Saulo, em entrevista ao Bahia Notícias.
Saulo aproveitou para exaltar a música da Bahia. Segundo ele, a tradicional percussão do estado, uma herança dos povos africanos que compõem a origem da população baiana, tem uma espécie de “antídoto” depois de dois anos de pandemia.
“Que bom que a gente está se encontrando hoje. A gente precisa dessa alegria. A música da Bahia tem o antídoto que a gente precisa no momento, de esperança, de luz, de força. A percussão da Bahia tem a maestria de fazer isso. Hoje é um dia maravilhoso”, comemorou o cantor.
Além de Saulo, também se apresentam na noite nesta quinta-feira no Wet’n Wild outras estrelas da música baiana, como Carlinhos Brown, Jau e Lincoln. As bandas Parangolé e Babado Novo completam a programação do dia.
Na sexta-feira (22), será a vez de Leo Santana, Durval Lelys, Timbalada, Rafa e Pipo, Tuca Fernandes e Filhos de Jorge animarem os foliões do Carnasal. Já no sábado (23), Bell Marques, Banda Eva, Psirico, Alexandre Peixe e Olodum encerrarão os dias de festa no Wet.
A cantora baiana Marcia Castro lançou nas plataformas digitais, nesta quinta-feira (16), o single “Ver a Maravilha”. A música veio acompanhada ainda de um videoclipe, com roteiro e direção de Juh Almeida.
De autoria do conterrâneo Teago Oliveira, líder da banda Maglore, a canção foi composta especialmente para a voz da artista. A produção musical de "Ver a Maravilha", assim como a de todo o álbum “Axé”, é feita a quatro mãos por Letieres Leite e Lucas Santtana. A direção artística é assinada por Marcus Preto.
A ficha técnica dessa faixa tem ainda André Lima nos teclados, Rafa Moraes nas guitarras, Bruno Marques no MPC e synth bass e Hudson, Ricardo Braga e Tiaguinho na percussão. O arranjo de sopros escrito por Letieres Leite é executado por João Teoria e Guiga Scott nos trompetes, Paulinho Andrade no sax alto, André Becker no sax tenor e Gilmar Chaves no trombone.
A lista de compositores das canções do disco “Axé” inclui nomes como Carlinhos Brown, Russo Passapusso (BaianaSystem), Emicida e Nando Reis, além da própria Marcia Castro.
Veja o clipe:
Nascido em Alagoinhas, no Agreste baiano, Adrião Filho (30) é formado em Direito, tem mestrado em Ciências Sociais, mas encontrou na poesia que lhe acompanha desde a infância a possibilidade de viabilizar o doutorado em Lisboa, Portugal.
Inspirado pela paisagem rural e o gosto pelas letras herdado do avô, o advogado e poeta lançou recentemente seu primeiro livro, “Redemoinho”, cuja renda será revertida para custear sua segunda incursão acadêmica na Europa. A primeira delas foi entre 2015 e 2018, quando, no intuito de se debruçar na pesquisa sobre estado de bem estar social, estudou o programa Bolsa Família em mestrado na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, na França.
Para concretizar aquela empreitada, ele reuniu as economias de mais de cinco anos de trabalho na Federação dos Comerciários, onde passou pelo cargo de assistente de administração, até conseguir uma vaga no setor jurídico, área de sua formação.
Durante a experiência internacional, Adrião tinha sede de conhecimento e aproveitou todas as possibilidades, dentro e fora da Universidade. “Através do Mestrado eu pude descobrir que o Bolsa Família, querendo ou não, é um programa de viés neliberal de transferência de dinheiro, de nascimento, digamos assim, de direita, mas abraçado pela esquerda. E nesse meio de campo conturbado e não muito dado à reflexão, nós temos a direita chamando um programa cunhado nas escolas desta direita de comunista e esquerdista, e temos as esquerdas vendo o programa como seu, salvador das terras e dos céus”, explica o baiano, que a partir dos estudos visualizou com mais clareza a complexidade do cenário no Brasil.
Adrião em um dos intervalos do Mestrado, enquantro trabalhava de babá cuidando dos irmãos Isaure e de Basile (o fotógrafo), que brincam em um parque em Paris | Foto: Arquivo Pessoal
Na França, quando aliava a pesquisa a serviços como babá e garçom, ele também despertou uma maior consciência de classe e a respeito dos direitos trabalhistas, já que o país é pioneiro na luta pela humanização das relações laborais. “Enquanto estudante de direito, atuei muito na área trabalhista. Foi interessante ver o cenário da legislação na França. Coisas simples mostraram como o zelo pelo cidadão traz uma resposta à saúde pública futura”, conta Adrião, lembrando um episódio no qual colegas mulheres da época em que servia mesas em uma creperia de Paris não podiam carregar insumos pesados, pois estudos indicavam que aquele tipo de atividade era agravante para a incidência de câncer no colo do útero.
Já ambientado, ao concluir os estudos, o pesquisador, advogado e poeta poderia seguir no país, após ser aprovado em um doutorado com um sociólogo especialista em pobreza. A realidade no Brasil, entretanto, abortou o projeto. Era outubro de 2018 quando ele resolveu “deixar o discurso” e partir para o concreto, retornando à terra natal para votar no segundo turno das eleições presidenciais. “Era uma questão de humanidade”, lembra. “Decidi voltar para o Brasil, não me arrependo, mas sigo chocado com o quão desumano, vil, perverso e pervertido o ser humano pode ser ao tratar temas tão sensíveis e importantes, como se fosse futebol”, avalia, em crítica frontal à polarização protagonizada pelos chamados “petralhas” e “bolsominions”.
De volta à casa, Adrião trabalhou por seis meses no escritório de advocacia do pai, chegou a pensar em enveredar na política como vereador, mas entendeu que a dureza da disputa eleitoral e a burocracia do ofício de operador das leis não lhe despertavam a mesma paixão que as artes. Em 2019 ele resolveu se mudar para São Paulo e viver com a namorada da época. Durante um ano, o baiano deu aulas de francês, até fez algumas petições para complementar a renda, mas se dedicou de corpo e alma às letras.
Adrião com o avô e o irmão recém-nascido, no avarandado da casa dos avós, próximo a Rafael Jambeiro, nos Dez Réis, onde ele escutava histórias passadas de geração a geração | Foto: Arquivo Pessoal
Foi naquele período, fruto das andanças pela capital paulista que nasceu o livro “Redemoinho”. O despertar surgiu pelas ruas do bairro de Santa Cecília, quando um taxista gritou para um morador de rua: “vá trabalhar, vagabundo!”. “O mendigo era conhecido na região, trabalhava com coleta seletiva. Aí ele deu risada, olhou para o taxista e falou assim: ‘rapaz, eu tenho endereço fixo, não devo ao banco não, eu sou livre, vá trabalhar você, vagabundo!’. Eu achei genial, o taxista deu risada, buzinou pra ele e seguiu”, conta o poeta. “E aí, eu falei: gente, tá aí! Tudo é uma questão de afeto, de acolhimento”, conclui o artista de discurso acelerado, revelando que vez por outra é incompreendido pelos amigos, mas diz ser bem interpretado pelos “ditos mendigos e os doidões”, que nunca lhe pediram que repetisse suas falas. “No final, o que importa é estar abraçado, é o diálogo estar fluindo alí”, conclui.
O grande fio condutor da história, então, virou aquele morador de rua. “Ele me permite falar sobre os atores sociais marginalizados, falar dos discursos marginais, que falam de verdades da sociedade, me possibilita ser o observador, porque tudo passa por ele na rua. Ele me possibilita costurar a ideia de afeto e acolhimento. E aí eu falei: ‘temos aí um personagem’”, detalha Adrião Filho.
Além da inspiração concreta das ruas, as tradições ancestrais também deram tom ao projeto. “Redemoinho foi girando, os orixás foram permitindo com muito axé, porque eles costuram todo esse novelo de redemoinhos que giram e giram. Escutando o ‘Obatalá - Uma Homenagem a Mãe Carmen’, encabeçado por Gil, eu pensei: é isso. Ela [Mãe Carmen] fala que terreiro é um espaço de acolhimento, um espaço de afeto, fala que não há hierarquia como lá fora, mas o respeito que forma hierarquia. Aqui todo mundo é pai, é irmão, irmã, filhos e filhas. E aí eu falei: é isso que é basicamente a mensagem de ‘Redemoinho’: acolhimento e afeto”, explica.
Paralelo à obra literária, a ideia de seguir os estudos nunca morreu para o baiano, que por indicação de um amigo residente em Portugal, viu as portas se abrirem para o doutorado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Desta vez, a pesquisa é na área de Gestão de Patrimônio Imaterial, com o tema “Terreiros de Candomblé - Potências Socioeconômicas“, que casa com o livro e toda sua trajetória, tanto acadêmica quanto pessoal.
“Eu vi a oportunidade e pensei que estava diante de um tema que é muito importante. Porque eu sempre falei isso: os marginais, via de regra, são os explorados. A gente pega a mulher, que sofre feminicídio, machismo, e a sociedade global vai da economia doméstica e faz trilhão no mundo e não é paga; você bota o Brasil, a sociedade foi construída pelos pretos, que são os marginais; os índios; os homossexuais que são abusados em toda estrutura. Estruturalmente você vai ver que os marginais são abusados, explorados, oprimidos e expropriados da possibilidade do ser”, conta Adrião, que a partir desta análise entendeu que os orixás “costuram todas as narrativas”, desde o livro até o doutorado. “O que é o terreiro na Bahia e em Salvador? É uma potência socioeconômica. Por quê? Na pandemia, a cidade de Salvador deixa de receber R$ 1,7 bilhão sem o Carnaval. O Carnaval da Bahia é diferenciado e é essa grande festa por quê? Porque, basicamente, se inspira na festa de terreiro, ou seja, no grande culto chamado festa, que é o grande presente que nos foi dado por Olodumare”, concluiu o poeta, destacando a contribuição social e econômica das religiões de matriz africanas, ainda que elas sejam marginalizadas.
“Partindo do universo que se delimita e se expande dentro dos Terreiros de Candomblé, temos a pretensão de trabalhar com uma tese que gire em torno ‘Dos ganhos socioeconômicos que se advêm da implementação de políticas públicas de proteção ao patrimônio imaterial (fazendo uma imersão no universo da pretitude baiana), articuladas às proposições das convenções internacionais’. Enfim, a correta gestão do patrimônio imaterial tem o poder de preservar, valorizar e ampliar os bens que o compõem”, resume.
O baiano Ubunto e o pernambucano Barro se uniram para um estudo sobre o ijexá e suas influências com a sonoridade pop. Buscaram novas formas de marcar células, novos timbres de bateria eletrônica e encontraram uma mistura interessante de percussões com sintetizadores. O resultado do início dessa pesquisa é o single "Carne dos deuses", que chega nesta quinta-feira (3) às plataformas de música.
"Escutamos muita coisa e fomos tentando pensar como dialogar também com o que tem rolado hoje e principalmente sobre como encontrar as pontes entre o que eu venho fazendo e o que Ubunto vem desenvolvendo também", conta Barro.
"É um ijexá moderno muito ligado ao Axé Music do fim dos anos 80, início dos 90. Vem também com esse gosto de verão que Pernambuco trazia nos anos 90 e para além da timbragem solar tem uma proposta de letra bastante amorosa e hedonista", acrescenta Ubunto.
Para Barro, os dois artistas têm um interesse recíproco sobre Bahia e Pernambuco. "De aprender mais nessa troca sobre como podemos crescer com as experiências das nossas cenas, pensando as conexões e a potência desses dois estados que compõem duas matrizes fundamentais para se pensar o Brasil", acredita.
As referências mais próximas, segundo a dupla, são grupos baianos como o Oludum e a Banda Mel, mas também pernambucanos a exemplo da Banda Versão Brasileira e da Banda Pinguim.
O projeto Culinária Musical fará uma homenagem ao Carnaval de Salvador e à axé music neste domingo (9), a partir das 12, na Casa do Benin, no Pelourinho. Essa é a edição de 59 e terá como atrações o cantor Tonho Matéria e participações de Lucas Di Fiori (Olodum) e Marquinhos Marques (ex-Olodum). O cardápio terá pratos preparados pelo afrochef Jorge Washington. A tradicional Maxixada de Carne Seca e a conhecida Feijoada do Jorge serão os pratos feitos na ocasião.
O evento também terá o desfile da grife Afrolook, criada por Ângela Duarte em 2018 com a proposta de vestir pessoas com identidade africana, divulgar a cultura afro brasileira e as religiões de de mesma matriz por meio da moda.
O acesso ao Culinária Musical custa R$ 20. Já o prato custa R$ 30 e R$ 15 (meia porção). Além da música e culinária, o público também vai ter acesso ao acervo afro-brasileiro da Casa do Benin, que promove em suas peças a relação entre a Bahia e o país da África Ocidental.
SERVIÇO
O QUÊ: 59ª edição do projeto Culinária Musical
QUANDO: 9 de fevereiro (domingo)
ONDE: Casa do Benin - Pelourinho
VALOR: R$ 20 (o acesso) e R$ 15 (prato)
A irmã do cantor capixaba Silva, Lucilia Silva, publicou em sua conta no Instagram uma prévia do que seria a nova parceria do artista com a baiana Ivete Sangalo, nomeada como "Pra vida inteira" . O lançamento da canção estaria marcado para a próxima sexta-feira (10).
O registro de Lucilia não passou desapercebido por fãs de "Veveta". Uma página de fãs republicou um trecho do vídeo.
Dentre os trechos audíveis da música estão frases como "vou te beijar" e "vem comigo para além do suor do tambor". A melodia é embalada por arranjos típicos da axé music e o clipe deve ter imagens gravadas no Centro Histórico de Salvador (veja aqui).
Veja o registro:
Que hino gostosinho????! Segundo a irmã de Silva, a parceria entre @SilvaOficial e @IveteSangalo será lançada nessa sexta, dia 10. Mais um prévia: pic.twitter.com/y0SzInTeQu
— Acesso Sangalo???? (@AcessoSangalo) 6 de janeiro de 2020
Os músicos Jonga Cunha, Gilmelândia, Ramon Cruz e Dinho Barral se reuniram na tarde desta quinta-feira (31) para o lançamento de "Dija – Um Musical Inusitado", show que irá homenagear os 40 anos de carreira de Djavan (leia aqui). Na ocasião, os músicos aproveitaram para comentar um pouco da carreira e da expectativa para o Carnaval do próximo ano. "Eu acho que o axé acabou", declarou o músico Jonga Cunha sobre o futuro do estilo. "Quando eu falo que o axé music acabou não é uma coisa ruim. É como falar que a Tropicália acabou. O movimento do axé passou. Hoje temos uma música baiana pop percursiva pós-axé que é mais plural", completou Jonga. O percursionista, que estreia no dia 14 de setembro ao lado de Gilmelândia, Ramon Cruz e Dinho Barral em "Dija", também questionou o título dado a Luiz Caldas como pai do estilo tipicamente baiano. "O Luiz não tem autoridade para dizer que é o pai do axé. Antes do disco dele tinha gente fazendo músicas do estilo", declarou. Já para Gilmelândia, o movimento estaria em decadência por razões políticas: "O axé deixa as pessoas felizes. Hoje, politicamente, ninguém está interessado nisso. Quanto mais o povo está triste e com autoestima baixa, melhor". "Nossa música só tinha positividade", lembra a cantora.
Roberto Barreto, guitarrista do BaianaSystem - uma das atrações do Rock in Rio 2017 -, falou sobre a rotulação da música produzida na Bahia, em entrevista ao G1, publicada nesta segunda-feira (7). Perguntado sobre o fato de no Sudeste a banda ser enquadrada como de axé, ele disse que o rótulo “não incomoda porque, na verdade, o axé não existe enquanto gênero”. O músico argumentou ainda que o público daquela região acaba enquadrando tudo como uma mesma coisa e deu alguns exemplos de seu ponto de vista. “Olodum é completamente diferente de Ivete. O que existe é um mercado de axé, que funciona diferente do mercado que a gente surgiu. Quando fazem essa referência ao novo axé, talvez seja por causa de elementos que usamos - das festas de largo, o entendimento do sound system como uma coisa popular, percussão, guitarra, samba… Lógico que tem elementos do que as pessoas conhecem como axé”, explica Beto Barreto. “Quando a gente tira esse peso, não se incomoda. A Bahia hoje está justamente numa fase de superar esse estigma do axé que ficou, muitas vezes como uma coisa pejorativa”, afirma, acrescentando que ainda nos dias de hoje a música baiana segue estigmatizada. “O mercado acabou ditando muito como as coisas aconteceram. Salvador sempre teve uma produção incrível e nunca parou de ter. Mas estamos em um período em que a música passa por uma transformação. O que chega às pessoas não é necessariamente o que vem da grande mídia. Elas conseguem conhecer o que está acontecendo no Pará, em Goiânia, Recife, Salvador… Com essa dimensão, dá para fugir um pouco dessa centralização”, disse o guitarrista do BaianaSystem.
Serviço
“Considero uma liberdade da criação musical. Não tem classificação, não tem gênero. Vale o que vier. É um disco que conta com a direção do baixista Fernando Nunes que já tocou com Cassia Eller e toca com Zeca Baleiro. E arranjos de corda do maestro Luciano Calazans. As quatro músicas são de minha autoria. Apenas uma é em parceria com meu amigo Cajá. O meu EP é conceito de liberdade musical”, disse a cantora, em entrevista ao Bahia Notícias.
Multi-instrumentista, Marcela toca violão, guitarra e bateria. Ela despontou no cenário musical no ano de 2011 com a música de sua autoria “Meu Coração é Todo Seu”. Na época, a cantora trilhava pelo axé music. “Me afastei do Axé tem uns três ou quatro anos e entrei nas minhas raízes e compondo. Me encontrei musicalmente. Pode se dizer que o meu estilo é Pop Rock, mas você vai poder escutar uma orquestra por trás no meu EP. Uma música de amor. Um lado rock'n'roll e outro romântico. A gente brinca com os dois lados”, destacou.
Além das canções autorais, o repertório do show também possui clássicos do rock e da música popular brasileira. “Faço um trabalho com releituras do Barão, Cássia Eller... Tem muita coisa boa no show”, finalizou. Os ingressos para o lançamento são vendidos a R$ 20 reais no site Sympla (confira aqui) e R$ 30 reais no local do show.
Marcela Martinez lança EP "Sem Censura"
Abertura: Dj Roger N Roll
Participação especial: Bruna Barretto e Marcos Clemente
Data: 28/01, quinta-feira
Local: Portela Café, Rio Vermelho
Horário: 22h
Ingressos: R$ 20 na internet; R$ 30 no local do show
Sem glamour, pompas nem grande público, o clima na premiação era de pura apreciação das obras. O mestrando em composição, Tharcísio Vaz, de 28 anos, aprovou a iniciativa. “A gente é muito carente de ter iniciativas como essa, que é uma parte muito importante do nosso aprendizado como músico, como compositor”, afirma. Vaz, que também dá aulas e compõe para trilhas sonoras, acredita que a premiação abre um espaço para os compositores. “É importante ter nossas peças tocadas, ainda mais num concurso, num prêmio que incentiva a produção. Porque a gente não só tem a oportunidade de escutar o que a gente faz, mas de trazer pessoas pra conhecerem”, explica. Nessa edição, Vaz não conseguiu inscrever nenhuma obra.
Grupo Camará, regido pelo maestro Paulo Rios | Foto: Ailma Teixeira/ Bahia Notícias
Com competidores e organizadores satisfeitos com a premiação, uma segunda edição do evento seria quase certa, mas é preciso financiamento do governo para se concretizar. “A gente pensou num projeto contínuo, que todo ano acontecesse, que a gente pudesse contemplar outras temáticas para formar público e a gente espera que isso aconteça”, explica Nathan Ourives, um dos organizadores da premiação. Ourives, ao lado de Patrick Andrews, pretende inscrever o projeto em editais públicos. Essa edição, sonhada pelos dois há anos, foi financiada pelo Fundo de Cultura do Estado da Bahia.
Já Caio de Azevedo, único finalista baiano, foi premiado com a com a segunda colocação e o prêmio de R$ 3 mil reais. Azevedo também levou pra casa o prêmio, que é na verdade a tarefa, de compor uma obra a ser apresentada pela Orquestra Sinfônica da Bahia. Com atenção disputada pelos admiradores e amigos, o baiano que percorreu a história da axé music e do axé, enquanto sincretismo religioso, conseguiu contar ao Bahia Notícias como se sentia com os prêmios conquistados. “É uma felicidade grande pra mim de estar com amigos, pessoas que eu gosto participando desse momento”, afirma.
Com a sincrética obra "Oya, Laudamus. O tempo, a Emersão" Azevedo conquistou o segundo lugar | Foto Ailma Teixeira/ Bahia Notícias
A complexidade da música erudita esteve diretamente ligada à proposta nada específica de junção com a axé. “A gente percebe a falta de público para a música de concerto, contemporânea, erudita em geral. A gente tentou utilizar esse link com a axé music para aproximar o público”, justifica. Na rigorosa seleção – as médias entre os finalistas vão de 7,67 a 8,18 pontos – avaliou-se grau de criatividade, originalidade, viabilidade de execução em cinco ensaios, maturidade técnica e clareza de escrita. Além, claro, da relação com a axé de livre grau e escolha dos compositores. “Tem sempre um rigor alto e cada compositor tem um gosto, uma visão da partitura diferente, então eles tiveram a possibilidade de criar de acordo com suas preferências”, explica Ourives.
Apesar de reverenciar à música baiana, apenas o primeiro finalista do prêmio é do Estado, fator bem visto pelos organizadores. “A gente vê com bons olhos ao perceber que a Bahia ainda atrai muita gente de fora. O peruano caiu aqui por questões pessoais, mas o chileno veio aqui pra estudar, ele procurou um professor daqui. Ele queria estudar na Escola de Música, ela tem uma tradição”. O segundo colocado é gaúcho, enquanto o terceiro e o quarto são peruano e chileno, respectivamente. “A melhor questão é fazer esse intercâmbio cultural”, destaca.
Com 14 compositores inscritos, Ourives acredita que a edição de estreia teve boa repercussão. “A gente achou um número muito alto se tratando desse tipo de música porque demos uma instrumentação complexa, porque a formação da Camará é específica”, defende. Dentre as obras habilitadas, 10 foram classificadas para a premiação. Os quatro primeiros finalistas, apresentados em série pelo Bahia Notícias, terão suas obras estreadas pelo Camará, o Conjunto de Câmaras da Ufba, regido pelo maestro Paulo Rios. As obras também serão gravadas e disponibilizadas digital e gratuitamente para todo o público. As outras seis peças classificadas serão lidas em ensaio aberto durante a premiação e uma delas será premiada com a estreia pelo Camará. O público presente ainda poderá votar nos compositores para eleger aquele que receberá a encomenda de uma obra a ser estreada pela Orquestra Sinfônica da Bahia.
Com patrocínio da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), a premiação dará três prêmios em dinheiro, nos valores de 1,5 mil, 3 mil e 5 mil reais. Após a apresentação do Camará, o júri, formado por três músicos, vai definir o prêmio dentre as quatro obras finalistas. O evento será aberto a todo o público, com ingressos distribuídos por ordem de chegada no local. Por parte dos organizadores, outras edições da premiação serão realizadas. “A gente pensa em dar oportunidade aos compositores em início de carreira pra que eles tenham suas composições tocadas”, finaliza.
Para aqueles não íntimos da música erudita, a peça de Azevedo pode muito bem parecer complexa. Segundo o próprio compositor, “ela transborda uma profunda empatia entre a relação e a personificação da axé music”. Azevedo criou um universo em que a cantora – integrante da Camará que interpretará a obra na premiação – será a personificação do ritmo. “Eu faço uma relação entre o carnaval e uma espécie de ressurreição, então, eu lido com o abismo entre o trio [elétrico] e a multidão. Uma relação de divindade, de procissão e do homem e do infinito”, elabora. Os instrumentos de corda e a própria cantora foram ressignificados pelo compositor como instrumentos de percussão. Outro ponto que Azevedo destaca é o sincretismo presente, inclusive, no próprio título da peça. “Oya é Iansã, Laudamus vem da liturgia católica, uma missa que diz ‘Te Deum Laudamos’, que significa ‘Louvai ao Senhor’, esclarece”.
Otero ou Zé de Papel, pseudônimo usado pelo músico na premiação e na capoeira, buscou uma inspiração para além do estilo musical. "A minha obra é uma espécie de uma pequena biografia da axé music que começa antes do afoxé com a letra em iorubá, um pouco de referência ao axé [em referência à religiosidade afro-brasileira]. "Dança do Equilíbrio" se propõe a passar por toda a trajetória do ritmo baiano. "Minha música é como se fosse um universo em formação, é um pouco desconexa no início, tem referências meio soltas à cultura afro-baiana (...) Depois dessa passagem, a música começa a tomar forma e toma outros caminhos que o axé teve e no final eu entro num groove", detalha. Assim como a obra do quarto finalista, Héctor Garcés, a canção de Otero é inspirada na música Fricote, de Luiz Caldas, que ele classifica como polêmica. "É uma letra que hoje em dia é considerada um pouco politicamente incorreta", explica.
Composição de Otero para um solo de clarineta
Em Salvador desde o ano passado, quando se mudou para fazer um mestrado em Composição na Ufba, Garcés conta que se inscreveu no prêmio pela proposta de união entre o erudito e o axé. “Eu cheguei aqui interessado na cultura, na essência afrodescendente, e eu já estava um pouco envolvido nesse ambiente da composição da música”, conta. Lá no Chile, Garcés já conhecia um pouco da música baiana, “mas nem sabia que isso era axé”. Já a música erudita fez parte da sua formação. “Minha formação como músico tem a ver com o erudito. Eu comecei na música popular com o rock, mas com o estudo, a composição, eu passei a ter essa influência com o mundo erudito”, explica. Autodidata, Garcés toca violão, piano - que considera “bem necessário pra quem faz composição”-, e baixo, que tocou em pequenas bandas de rock no Chile. A composição surgiu como experimentações, foram as primeiras criações do músico em meados dos anos 1990, que se desenvolveu quando ele iniciou seus estudos de poesia escrita.
Garcés com o maestro Cirilo Vila | Foto: Milena Bahamonde
Idealizada pelos músicos e especialistas em composição, Natan Ourives e Patrick Andrews, a premiação, que é aberta ao público, entregará três prêmios em dinheiro nos valores de R$ 5 mil, R$ 3 mil e R$ 1,5 mil reais. Além disso, os finalistas, dentre eles Garcés, terão suas obras gravadas e distribuídas digital e gratuitamente e a categoria de voto popular premiará o compositor escolhido pelo público com a estreia de sua obra pela Orquestra Sinfônica da Bahia. Veja o vídeo do concerto "Instrucciones para Bordar una Arpillera" em que Garcés participou:
Os cantores gravaram "Nossa Gente" no disco "Tropicália II":
Cristiano chegou a mostrar uns golpes de capoeira para convencer os jurados | Foto: Reprodução
Uma moqueca de arraia garantiu a classificação do baiano no Masterchef Brasil | Foto: Reprodução
O baiano integra o time de 18 concorrentes que entraram na segunda edição do Masterchef Brasil | Foto: Divulgação
Erick Jacquin, Paola Carosella e Henrique Fogaça são os jurados do programa apresentado por Ana Paula Padrão | Foto: Divulgação
Lucas é um dos melhores amigos de Cristiano no Masterchef | Foto: Reprodução
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— Reality Social (@RealitySocial) 8 julho 2015
Tatau e Márcia Castro fizeram dueto durante a cerimônia / Foto: Beto Jr. / Ag Haack / Bahia Notícias
Curtas do Poder
Pérolas do Dia
Jaques Wagner
"Tá igual a mandacaru, que não dá sombra nem encosto".
Disse o senador Jaques Wagner (PT) rebateu as críticas feitas pelo o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) sobre a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.