Documentário sobre 30 anos do Axé conquista ao apresentar as fragilidades da trajetória
por Júnior Moreira

Hoje resolvi assumir uma outra postura e falar diretamente com vocês, na primeira pessoa, pois o papo será direto e especial. Bem, a coluna Holofote sempre foi calçada pelos movimentos festivos que acontecem no Brasil, principalmente os daqui da Bahia. O que significa dizer que diariamente carregamos a tinta no dendê, atabaque e swing para contar todas as histórias e, por isso, o motivo desta carta. Na noite da última quarta-feira (11), Salvador recebeu a pré-estreia do documentário “Axé - Canto do Povo de um Lugar”, idealizado por Chico Kertész, e o resultado é instigante, pra não falar primoroso. Arrisco-me a dizer que é impossível ser baiano e não sentir um afago no coração com a experiência e todas as músicas de pano de fundo. Durante cerca de duas horas, o produto apresenta a linha do tempo dos 30 anos desse movimento, que, como explicitado no vídeo, é muito maior que um estilo musical, pois bebe da fonte de diversas influências. São depoimentos de empresários, produtores, jornalistas e músicos que vivenciaram desde o surgir em 1986 com a música Fricote, composição de Luiz Caldas e Paulinho Camafeu, passando pelo estágio, digamos, “amador”, em que o apresentador Chacrinha, ou “Velho Guerreiro”, teve papel fundamental na difusão pelo país, sem deixar de exibir o poder que os blocos de Carnaval liderados por bandas como Mel, Reflexo, Chiclete com Banana, Gera Samba/É o Tchan, Araketu e Asa de Águia exerceram, além de pontuar a importância do produtor musical e cultural Wesley Rangel ao fundar a gravadora WR Estúdios e abrir as portas para colaborar com o sucesso de Ricardo Chaves, Ivete Sangalo, Edson Gomes, Olodum, Daniela Mercury, Timbalada, Terra Samba, Gang do Samba, Araketu As Meninas, Babado Novo, entre outros. “O que Donk King representou para o boxe, Rangel fez pela Bahia”, disse Luiz Caldas em um dos trechos.
Porém, para mim, o documentário ganha quando não se resume a contar apenas os pontos positivos; não busca ser chapa branca e nem foca no didatismo. Ao longo das cenas, vamos conhecendo aqueles fatos que não costumam estar em evidência, pois o jogo de interesse chega junto. Ele toca na ferida ao trazer a indústria do jabá – muitas vezes tratada como algo distante no dia a dia, mas que sempre esteve presente; entristece ao exibir a ganância dos empresários em torno da indústria financeira que o movimento virou, fazendo que poucos virassem os “donos da roda”, prejudicando, muitas vezes, seus próprios artistas a ponto de viverem hoje apenas das memórias do passado. Fiquei sentido ao perceber que muitos deles, talvez por inocência e falta de preparo, movimentaram milhões de reais e atualmente não têm quase nada. O filme trouxe ainda as mágoas dos bastidores quando alguns artistas decidiram seguir em carreira solo; apresentou a tão falada crise do Axé e encerrou depositando em Saulo a esperança da renovação do movimento, ao exibi-lo como o único artista da atualidade que incorpora os elementos da essência, criados no passado, na sua produção pensando no futuro. “Saulo quer fazer música e não pensa em estar todo domingo no Faustão”, sugere o filme.
É um documentário simples e forte. Ri, pensei, me emocionei, fiquei refletindo na importância de conhecer a nossa história e me questionei quanto ao futuro do movimento. Muitas vezes, focamos nos hits trazidos pela contemporaneidade e esquecemos de valorizar quem veio da base, da raiz. Acredito que de alguma forma, todos já fomos impactados pelo que o Axé se tornou, tanto para o lado bom, quanto o ruim, e ter esse registro é o possibilidade de não perder a memória. Ah, vale lembrar que na noite da pré-estreia, estiveram presentes artistas como Caetano Veloso, Luiz Caldas, Book Jones, Alobened, Tatau, Ninha, Daniela Mercury, Gerônimo, Sarajane, Pierre Onassis, Marcio Mello, Saulo Fernandes, Carla Visi, Cumpadre Washigton, Magary Lord, Mari Antunes, Rafa Chaves, Felipe Pezzoni, Adelmo Casé, Ju Moraes, além da apresentadora Regina Casé, e o clima de comoção tomou conta do local. “Axé - Canto do Povo de um Lugar” terá estreia nacional no dia 19 de janeiro, em mais de 40 cinemas, e não preciso dizer que vale muito a pensa conferir, né? Saca só o trailer:
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