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Coluna

Governança e Desenvolvimento: Impacto da COP30 para além do clima

Por Caio Magri

Governança e Desenvolvimento: Impacto da COP30 para além do clima
Foto: Arquivo pessoal

Quando se fala em ir “além do clima”, não se trata de reduzir a importância das mudanças climáticas, mas de reconhecer que o desafio ambiental não é suficiente para abarcar a complexidade da crise atual. O que enfrentamos não é apenas uma crise climática, e sim uma crise civilizatória, social e moral, que exige coragem, integridade e atuação política. Enfrentar o colapso ambiental passa por reduzir desigualdades, proteger vidas e reconstruir laços de justiça social e territorial. Como afirmou António Guterres, a desigualdade é o motor da crise climática. Assim, a transição só será justa se também for social, econômica e democrática.


Desde Estocolmo, em 1972, passando pela Rio-92 e pelo Acordo de Paris em 2015, o mundo ainda hesita em reconhecer o óbvio: não há futuro ambiental possível em um planeta desigual. A Amazônia, nas palavras de Marina Silva, é o espelho moral do mundo, um reflexo das contradições humanas. Proteger a floresta é proteger o Brasil de si mesmo, reafirmando que a integridade ambiental começa com a integridade social. Há mais de 25 anos, o Instituto Ethos reforça que as empresas, detentoras de imenso poder econômico e político, têm também uma imensa responsabilidade com a sociedade e o planeta. Se são parte do problema, precisam ser parte da solução, assumindo que a integridade socioambiental é o novo pacto do século XXI.


Esse pacto vai além da agenda ASG. Representa um reposicionamento ético e político do setor empresarial diante das transformações inevitáveis. É um compromisso que une integridade pública e privada contra o negacionismo e a corrupção, justiça socioambiental como resposta ao colapso das desigualdades e responsabilidade empresarial como coerência entre discurso e prática. Como lembrou Ignacy Sachs, não há sustentabilidade sem justiça social. A essência desse pacto está em alinhar ética, economia e democracia e reconstruir a confiança social, base indispensável para restaurar a credibilidade empresarial.


O Instituto Ethos chama essa convergência de integração ética da sustentabilidade. Não basta anunciar metas de carbono: é preciso definir metas de impacto justo. A transição climática deve envolver trabalho digno, equidade racial e de gênero, diversidade, circularidade e sociobioeconomia. A revolução verde precisa ser também uma revolução social. Afinal, metade da população mundial mais pobre emite apenas 10% dos gases de efeito estufa, mas é quem mais sofre com os desastres climáticos. No Brasil, mais de 30 milhões de pessoas vivem em vulnerabilidade climática extrema. Perguntar-se sobre a contribuição para reduzir a pobreza, proteger territórios e defender os direitos humanos deve ser parte da governança de qualquer empresa comprometida com o futuro.


Há ainda um alerta sobre as armadilhas das compensações de carbono. Assim como as antigas indulgências medievais, elas podem se tornar instrumentos de ilusão moral, mantendo intocado o modelo de produção e consumo. O relatório da ONU de 2023 advertiu: sem transparência, as compensações viram ficções contábeis que mascaram injustiças. Compensar não é o mesmo que transformar. 


A COP30, que será realizada no Brasil, representa mais do que uma conferência climática. É um teste político e civilizatório. O mundo observará o país e perguntará o que nossas empresas têm a oferecer. O Brasil pode se tornar uma ponte entre o Norte e o Sul globais, articulando desenvolvimento, justiça e integridade. Mas isso só será possível se o poder econômico atuar como força de transformação. Como lembra o Papa Francisco em Laudato Si’, tudo está interligado. Não há poder neutro: toda decisão empresarial é também uma decisão política. O silêncio diante da desigualdade e da destruição ambiental é cumplicidade, e o engajamento é uma forma de proteção do futuro.
Integridade, nesse contexto, é o elo que conecta ética, clima e democracia. É alinhar valores, decisões e impactos. Sustentabilidade não deve ser verniz de marketing, mas compromisso verificável. Isso inclui também a integridade digital, uma inteligência artificial ética e inclusiva, que reduza desigualdades em vez de ampliá-las. Tecnologia sem ética é apenas o espelho da desigualdade.


Por isso, ao impactar a COP, cada empresa deve assumir compromissos concretos: revisar seus modelos de negócio, fortalecer políticas públicas e padrões éticos, ouvir os territórios, reconstruir a confiança social e educar para a sustentabilidade. Coalizões empresariais como Ethos, IBGC e Sistema B provam que é possível construir lideranças coletivas guiadas por princípios, não apenas por interesses. O futuro será de quem souber cooperar.


Ir além do clima é reencontrar o humano na sustentabilidade. É compreender que a luta climática é também uma luta contra a desigualdade. É fazer com que o lucro volte a ser meio, e não fim. Como disse Ignacy Sachs, o desenvolvimento sustentável é o nome político da esperança. Se o século XX foi o da economia, o XXI precisa ser o da integridade socioambiental e da transparência. Recomeçar como humanidade é reconstruir o pacto entre pessoas, empresas e planeta. O desafio está lançado: as empresas brasileiras podem e devem ser agentes dessa reconstrução. Não apenas mitigando danos, mas reconstruindo o futuro. Juntas. Além do clima.

 

Caio Magri é Presidente do Instituto Ethos. Integra os Conselhos Governamentais: CTICC (Conselho de Transparência, Integridade e Combate à Corrupção (CGU); Comitê Gestor Pró-Ética (CGU); Comitê Gestor Agro + (MAPA); Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável- CDESS (Conselhão). Também integra o Conselho Consultivo do Fundo JBS para a Amazônia; Conselho Deliberativo do Instituto Brasileiro de Autorregulação no Setor de Infraestrutura (IBRIC); Conselho Consultivo do Pacto Global no Brasil; Conselho Consultivo da Rede Nossa São Paulo; Conselho de Administração da Associação São Agostinho (ASA); Conselho Consultivo do Instituto Ética e Saúde; Conselho Deliberativo do InPacto, Conselho de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) e Conselho de Administração do Projeto Saúde e Alegria e Vice-presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade- IDS.