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Coluna

Governança e Desenvolvimento: O decoro profissional como pilar da integridade pública e corporativa

Por Marcelo Zenkner

Governança e Desenvolvimento: O decoro profissional como pilar da integridade pública e corporativa
Fotos: Divulgação

Em tempos de redes sociais onipresentes, tornou-se cada vez mais difícil separar o indivíduo da organização que ele representa. Não há mais fronteiras tão nítidas entre vida pessoal e vida profissional. Cada gesto, cada comentário público, cada compartilhamento pode repercutir não apenas na esfera individual, mas também na reputação do microcosmo público ou privado ao qual se está vinculado. É nesse terreno delicado que emerge o conceito de decoro profissional, um elemento absolutamente essencial para qualquer sistema de integridade maduro.

 

Ao ingressar em uma empresa ou em um órgão público qualquer, o profissional carrega consigo não apenas suas competências técnicas, mas também a responsabilidade de externar, dentro e fora do horário de trabalho, os valores da instituição que o acolhe. Afinal, integridade não se mede em frações: ou se é íntegro em todos os espaços da vida, ou não se é. Essa inteireza significa que a postura de civilidade, respeito e ética não pode ser desligada ao final do expediente, como quem desliga o computador e fecha a porta do gabinete ou do escritório.

 

A legislação trabalhista brasileira reconhece essa conexão. Quando prevista de maneira expressa em códigos de ética e conduta, a noção de decoro profissional autoriza a ruptura do contrato de trabalho em casos de comportamentos graves, capazes de corroer a confiança entre empregado e empregador. Mas, antes de ser uma questão jurídica, trata-se de uma questão relacionada a valores morais.

 

A reputação de uma pessoa jurídica não se sustenta apenas por meio de campanhas institucionais, peças publicitárias ou slogans bem elaborados. Ela é forjada, dia após dia, no comportamento de qualquer um que a represente, seja o estagiário ou o principal executivo. Uma postagem celebrando a violência, um ato discriminatório em público, ou uma atitude que atente contra a civilidade não afetam apenas o autor. Afetam a cultura, a credibilidade e a imagem de toda a organização.

 

É preciso enfatizar que decoro profissional não significa censura, mas sim responsabilidade. É compreender que a vida privada, quando se manifesta em arenas públicas, também reflete sobre a organização que você integra. Empresas sólidas que se pretendem longevas e entidades públicas que necessitam de credibilidade sabem que devem estimular em seus quadros não apenas a boa performance, mas também o exercício pleno da cidadania. 

 

Se queremos companhias e organismos públicos fortes, precisamos de profissionais íntegros. Se desejamos uma sociedade melhor, as empresas e as entidades estatais devem assumir o compromisso de não se tornarem cúmplices de comportamentos que corroem a civilidade. O decoro profissional, nesse contexto, deixa de ser apenas um conceito técnico para se tornar um pacto social: a reafirmação de que integridade pública e corporativa e ética individual caminham lado a lado, e de que não há reputação sustentável sem esse alicerce comum.

 

Marcelo Zenkner é Managing Director da FTI Consulting em São Paulo. Ex-Diretor de Governança e Conformidade da Petrobras. Ex-Promotor de Justiça do Ministério Público do Espírito Santo. Ex-Secretário de Controle e Transparência do Estado do Espírito Santo. Membro da Comissão de Ética e Integridade do IBGC e do Conselho Deliberativo da Transparência Internacional. Professor dos Cursos de Mestrado e Doutorado da da Faculdade de Direito de Vitória (FDV) e Instrutor Credenciado do IBGC. Doutor pela Universidade Nova de Lisboa e autor da obra "Integridade Governamental e Empresarial", dentre outras.