Opinião: Flerte do PDT com PT na Bahia inverte estratégia do passado e esquenta debate interno
Por Fernando Duarte
O flerte do PDT com o governo de Jerônimo Rodrigues é uma estratégia que os próprios pedetistas usaram no passado quando se aproximaram do grupo político do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União). À época, foram declarações aqui e acolá, mostrando insatisfação com a atenção dada pelo então governador Rui Costa até que houve a migração. No entanto, agora, o partido tem uma representação majoritária com Ana Paulo Matos como vice do prefeito de Salvador, Bruno Reis (União) e o jogo não poderá ser jogado nos mesmos moldes.
Como no âmbito federal, os pedetistas abandonaram a perspectiva de Ciro Gomes, de se manter equidistante de Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de ter evocado votos contra Jair Bolsonaro, é natural existir uma aproximação entre o PDT e o PT. Carlos Lupi, que preside o PDT há tempo suficiente para arvorar o título de dono da sigla, é ministro de Lula e não se faz de rogado quando o assunto é costurar a própria sobrevivência política. Se isso implicar um alinhamento em 2026 desde agora, não será a aliança em Salvador a ser um empecilho.
O deputado federal e presidente do PDT na Bahia, Félix Mendonça Jr., não apenas sabe disso como mantém pontes firmadas para uma eventual aproximação. Foi dele a declaração de que houve uma conversa sobre o futuro do partido com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, de quem se espera uma candidatura ao Senado na chapa de Jerônimo em 2026. Foi a senha para que os mais próximos de Bruno Reis e ACM Neto bradassem contra esse movimento, ainda que “bebam” na fonte do governo federal há algum tempo.
Também deputado federal, Leo Prates viveu as turras com o próprio Félix Jr. até bem pouco tempo, mas nunca escondeu que tem lado: é aliado de primeira hora de ACM Neto. Ao entrar na cota de “amigo” do ex-prefeito, teve que engolir a seco a indicação de Bruno Reis como sucessor de Neto e, depois, Ana Paula como vice em duas oportunidades. Agora, aguarda ansiosamente pela chance de ser indicado como candidato a prefeito desse grupo político em 2028, ainda que revezes possam acontecer daqui até lá.
Caso haja esse movimento de aproximação do PDT com o PT na esfera estadual, Leo ficará em uma situação extremamente delicada. Apesar de se apresentar mais próximo das pautas da esquerda, o parlamentar dificilmente se tornaria adversário de quem o apadrinhou politicamente — e na vida é tratado como familiar, visto que chama “dona Rosário” de tia. Foi quem mais “se doeu” com a possibilidade de ver o partido a que está filiado mudar de barco. E não vai aceitar tal condição sem protestar.
Enquanto isso, as arraias miúdas também se posicionam e se mostram, até certo nível, divididas. Enquanto sete dos oito prefeitos do PDT no interior querem migrar o apoio para o PT, a vice-prefeita de Salvador e a robusta bancada de vereadores na capital baiana, vão defender que a sigla se mantenha onde está, ao lado de Bruno Reis — e consequentemente de ACM Neto. São muitos interesses envolvidos, especialmente as carreiras políticas de todos os envolvidos.
De flerte em flerte, não duvidemos que o PDT consiga se equilibrar nos mesmos moldes do PP, que mantém um pé em cada um dos barcos na esfera estadual e soteropolitana. Ou então tantos partidos que conversam com o governo federal de Lula e o PT e se colocam frontalmente como oposição ao PT na Bahia, como o próprio União Brasil. Não há meninos onde apenas homens sentam na mesa.