O Bahia garantiu vaga na Libertadores pela segunda temporada consecutiva &mdash; um feito in&eacute;dito nos 94 anos de hist&oacute;ria do clube. Sob o comando de Rog&eacute;rio Ceni, o Esquadr&atilde;o encerrar&aacute; 2025 com impressionantes 80 partidas disputadas em seis competi&ccedil;&otilde;es diferentes: Campeonato Baiano, Copa do Nordeste, Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro, Libertadores e Sul-Americana.

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Foi um ano at&iacute;pico no Departamento de Sa&uacute;de e Performance. Les&otilde;es que fogem ao padr&atilde;o recente do clube minaram alternativas para a desejada rotatividade &mdash; somadas &agrave;s pr&oacute;prias convic&ccedil;&otilde;es de Ceni &mdash; e aumentaram a carga sobre os jogadores mais utilizados. Em determinado momento, o Bahia chegou a enfrentar um dos melhores elencos do pa&iacute;s com nove desfalques por problemas m&eacute;dicos.

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Ainda assim, o clube se superou. Em campo, o Bahia apresentou uma campanha mais s&oacute;lida do que a de 2024, ampliando recordes, derrubando tabus hist&oacute;ricos &mdash; como contra Palmeiras, Bragantino e Flamengo &mdash; e estabelecendo, novamente, sua melhor campanha na era dos pontos corridos da S&eacute;rie A. &Eacute; importante sublinhar: o Bahia j&aacute; havia feito isso no ano anterior. Repetir e melhorar o feito mostra evolu&ccedil;&atilde;o real, n&atilde;o acaso.

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Sim, a campanha poderia ter sido ainda mais tranquila. Sim, o elenco tinha potencial para ir al&eacute;m na Sul-Americana e na Copa do Brasil. Mas a temporada 2025 do Bahia representa, sem d&uacute;vida, um passo firme rumo &agrave; consolida&ccedil;&atilde;o esportiva. Os recordes conquistados e a competitividade exibida em 2025 traduzem, em campo, a progress&atilde;o do projeto tra&ccedil;ado pelo Grupo City para o futuro do clube &mdash; sair de uma temporada que marcou a transforma&ccedil;&atilde;o da mentalidade da equipe e da torcida para uma temporada de recordes quebrados e um evidente crescimento esportivo. Ano passado? Na &uacute;ltima rodada. Este ano foi com tr&ecirc;s de anteced&ecirc;ncia e possibilidade de vaga direta.&nbsp;Se este passo, dado de 2024 para 2025, que levou o Bahia a um patamar ainda maior, n&atilde;o foi &agrave; frente, imagine quando for?

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E a temporada ainda n&atilde;o acabou. O Tricolor tem tr&ecirc;s compromissos para fechar 2025 com chave de ouro: Juventude, Sport e Fluminense. Tr&ecirc;s partidas que valem mais do que pontos &mdash; valem o direito de entrar na Libertadores 2026 direto pela porta da frente, na fase de grupos, e de coroar um ano que j&aacute; &eacute;, por si s&oacute;, hist&oacute;rico. Afinal, &eacute; para frente que se anda.

Demorou 34 anos para o torcedor do Bahia voltar a se ver representado na maior sele&ccedil;&atilde;o do mundo. J&aacute; acostumada a ser deixada de lado quando o assunto &eacute; convoca&ccedil;&atilde;o, a na&ccedil;&atilde;o Tricolor parecia conformada com a aus&ecirc;ncia de Jean Lucas e Luciano Juba na lista inicial de Carlo Ancelotti para os jogos contra Chile e Bol&iacute;via, pelas Eliminat&oacute;rias da Copa de 2026. Mas, o destino resolveu virar o jogo. A les&atilde;o de Joelinton abriu espa&ccedil;o, e o nome do camisa 6 do Esquadr&atilde;o ecoou como um grito de afirma&ccedil;&atilde;o: o Bahia est&aacute;, novamente, no mapa da Sele&ccedil;&atilde;o.

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&ldquo;Furamos a bolha&rdquo;, disse Caio Alexandre ao companheiro de clube. E a express&atilde;o talvez resuma mais do que parece. Por d&eacute;cadas, a Sele&ccedil;&atilde;o Brasileira viveu numa redoma, onde seus olhares s&atilde;o, quase sempre, voltados para o eixo Rio-S&atilde;o Paulo-Minas-Rio Grande do Sul. Era como se o mapa do futebol nacional tivesse um recorte invis&iacute;vel, mas cruel, que exclu&iacute;a tradi&ccedil;&otilde;es, talentos e culturas forjadas em outras regi&otilde;es do pa&iacute;s. Um reflexo, em parte, do que aconteceu historicamente fora do campo: a migra&ccedil;&atilde;o for&ccedil;ada de milh&otilde;es de nordestinos para o Sudeste, em busca de oportunidades negadas em sua pr&oacute;pria terra. 
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Jean&nbsp;na Fonte Nova. | Foto:&nbsp;Rafael Rodrigues / EC Bahia

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No futebol, n&atilde;o foi diferente. Jogadores do Nordeste precisavam sair de casa, vestir camisas do eixo e brilhar em outros gramados para, s&oacute; ent&atilde;o, serem reconhecidos como dignos da amarelinha. O olhar do Brasil sempre parecia atravessar o mapa do pa&iacute;s de cima para baixo &mdash; mas nunca de baixo para cima.

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&Eacute; nesse contexto que a convoca&ccedil;&atilde;o de Jean Lucas ganha um simbolismo especial. Ela &eacute;, claro, o reconhecimento do talento individual do jogador. Mas &eacute; tamb&eacute;m a consolida&ccedil;&atilde;o de um movimento que o Bahia tem encampado com coragem: o &ecirc;xodo ao contr&aacute;rio. Se por d&eacute;cadas o caminho natural era ir para o Sudeste em busca de grandeza, agora o Bahia mostra que &eacute; poss&iacute;vel pensar grande a partir do Nordeste. A campanha &ldquo;Pensar grande, &eacute; pensar fora do eixo&rdquo; n&atilde;o &eacute; apenas marketing: &eacute; um reposicionamento hist&oacute;rico. &Eacute; devolver dignidade e centralidade a um clube que representa um povo que j&aacute; deu r&eacute;gua e compasso ao Brasil em tantos sentidos.

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O chamado de Jean Lucas &agrave; Sele&ccedil;&atilde;o &eacute; um recado para os jovens da base do Tricolor, que n&atilde;o &eacute; preciso sair daqui para ser visto e lembrado. &Eacute; tamb&eacute;m um aviso para o mercado da bola, Salvador pode ser, sim, um dos destinos preferenciais para quem sonha vestir a camisa pentacampe&atilde;. Al&eacute;m disso, sobretudo, um gesto de mem&oacute;ria e repara&ccedil;&atilde;o: lembrar que o futebol nordestino &eacute; parte insepar&aacute;vel da cultura brasileira.

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Ent&atilde;o, Ancelotti, beleza que o Rio de Janeiro continua lindo. Mas Jean Lucas mandou um recado embalado na voz do Tricolor Gilberto Gil:

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&ldquo;Meu caminho pelo mundo eu mesmo tra&ccedil;o 
A Bahia j&aacute; me deu r&eacute;gua e compasso...&rdquo;

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Para os que esqueceram, que se lembrem. O Bahia voltou ao mapa. E agora, do Rio a S&atilde;o Paulo, de Minas ao Rio Grande do Sul, e de cada canto do Brasil, o povo tricolor grita:&nbsp;aquele&nbsp;abra&ccedil;o!

Vinicius Jos&eacute; Paix&atilde;o de Oliveira J&uacute;nior. O menino que ousou sonhar. Ele &eacute; um brasileiro sonhador, como eu, como voc&ecirc;, como tantos outros que, com cora&ccedil;&otilde;es cheios de esperan&ccedil;a, buscam um lugar ao sol. Vinicius representa a for&ccedil;a de muitos meninos e meninas que, com origens humildes, acreditam que, com talento e uma oportunidade, podem tocar o c&eacute;u.

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Quando despontou nas divis&otilde;es de base do Flamengo, seu talento come&ccedil;ou a brilhar, atraindo olhares de grandes clubes pelo mundo. Entre eles, o gigante Real Madrid, que n&atilde;o esqueceu a dor da perda de Neymar. O presidente Florentino P&eacute;rez, com seu agente meio-brasileiro, Juni Calafat, viu em Vini a promessa de um futuro brilhante. Depois de uma longa negocia&ccedil;&atilde;o, o garoto de 16 anos escolheu o caminho que mudaria sua vida. Embarcou para a Espanha aos 18 anos, e assim come&ccedil;ou a jornada de um sonhador.

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Mas essa jornada n&atilde;o foi f&aacute;cil. As cr&iacute;ticas e d&uacute;vidas surgiram como sombras, e muitos duvidaram que ele um dia vestiria a camisa do Real Madrid. Havia quem ria, quem zombava, mas Vini, com a garra e a persist&ecirc;ncia do verdadeiro brasileiro, fez quest&atilde;o de calar essas vozes. Acompanhar sua trajet&oacute;ria desde o in&iacute;cio foi um privil&eacute;gio. &Agrave;s vezes, sinto como se ele fosse meu irm&atilde;o, enfrentando as mesmas dificuldades que passei. E mesmo agora, como um jovem que lida com a face cruel do racismo, Vini mant&eacute;m o sorriso no rosto. Sua leveza e tranquilidade s&atilde;o inspiradoras, mesmo diante das situa&ccedil;&otilde;es desumanas que enfrentou na Espanha.

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Aos 22 anos, ele deu o grande passo. De uma temporada com apenas 13 participa&ccedil;&otilde;es em gols, para um impressionante total de 42 na temporada seguinte. Ele trabalhou em sil&ecirc;ncio, enfrentando a press&atilde;o da m&iacute;dia, dos rivais e at&eacute; de companheiros que duvidavam dele. Mas Vini n&atilde;o apenas cresceu; ele fez crescer tamb&eacute;m o futebol de Benzema, contribuindo para a conquista de uma Bola de Ouro, enquanto aplaudia a vit&oacute;ria do amigo.

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Diante de tantas d&uacute;vidas, Vinicius provou que a sua ascens&atilde;o era real. Hoje, ele &eacute; um dos jogadores mais comentados do mundo, merecendo cada fragmento de respeito que recebe. Ele transformou-se em uma for&ccedil;a indom&aacute;vel, capaz de mudar o rumo de uma partida em minutos. J&aacute; s&atilde;o duas finais de Champions League, com dois gols e dois t&iacute;tulos, brilhando nos maiores palcos do planeta aos 24 anos. E agora, &eacute; o primeiro brasileiro a vestir a lend&aacute;ria camisa 7 do Real Madrid. A sua primeira temporada com esse n&uacute;mero ser&aacute; coroada com gl&oacute;ria.

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A Bola de Ouro que ele esperamos que ele ganhe na pr&oacute;xima semana &eacute; apenas uma formalidade, porque Vinicius j&aacute; venceu muito antes: ao chegar ao Flamengo, ao desembarcar em Madri. Ele vence essa premia&ccedil;&atilde;o todos os dias, ao criar oportunidades para crian&ccedil;as que sonham como ele sonhou. Sem baixar a cabe&ccedil;a para os racistas, Vini mostrar&aacute; ser poss&iacute;vel erguer as m&atilde;os para levantar o pr&ecirc;mio.

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Vinicius J&uacute;nior representa um farol de esperan&ccedil;a e inspira&ccedil;&atilde;o para as crian&ccedil;as brasileiras. Ele &eacute; a prova viva de que, independentemente das dificuldades, sonhos podem se tornar realidade. Sua trajet&oacute;ria de vida, come&ccedil;ando de origens humildes e enfrentando desafios, ensina que a perseveran&ccedil;a e o trabalho duro podem levar ao sucesso. Ele simboliza a luta contra o preconceito e as adversidades, mostrando ser poss&iacute;vel brilhar em meio &agrave; escurid&atilde;o. Vinicius ousou sonhar, e seu maior desejo &eacute; que um dia todos os brasileiros se unam para torcer por ele.&nbsp;

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Ele &eacute; um reflexo do que pode ser alcan&ccedil;ado ao ter coragem de sonhar alto e a determina&ccedil;&atilde;o para perseguir esses sonhos. &Eacute; um orgulho torcer todos os dias para o Vini, meu irm&atilde;o de luta, de ra&ccedil;a e de perseveran&ccedil;a. E meu exemplo para&nbsp;sonhar, ousar e brilhar.

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T&atilde;o lindo quanto a conquista, ser&aacute; assistir ao primeiro jogo do Real Madrid ap&oacute;s a cerim&ocirc;nia. Vini retornar&aacute; ao Mestalla, casa do Valencia, e palco onde o maior epis&oacute;dio de racismo contra ele aconteceu. Vai ser &eacute;pico.

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Ele &eacute; a personifica&ccedil;&atilde;o do poder que vejo no esporte como uma ferramenta transformadora. Vinicius Junior, de S&atilde;o Gon&ccedil;alo. Da favela. Do Brasil. O menino que fez a carne preta ser a mais cara do mercado. Na segunda-feira, dia 28 de outubro de 2024, proponho realizarmos o maior sonho de Vini, torcendo por um jogador que &eacute;, assim como n&oacute;s, um sonhador.

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