Caso Lucas Terra: mãe busca reparação após 25 anos de espera pelo julgamento do assassinato do filho
Por Aline Gama
Marion da Silva Vargas, conhecida como Marion Terra, ingressou com uma ação de indenização contra o Estado da Bahia, alegando violação de direitos humanos e falha estrutural do sistema de justiça. A demanda judicial decorre do assassinato do filho dela, Lucas Vargas Terra, ocorrido em março de 2001, crime que, segundo a autora, até hoje não teve uma resposta definitiva do poder público.
Lucas Terra tinha 14 anos quando foi sequestrado, torturado e queimado vivo em Salvador. O caso, que comoveu a opinião pública à época, deu início a uma longa trajetória judicial marcada por sucessivos adiamentos, decisões contraditórias e a sensação de impunidade, conforme descrito na petição inicial.
Logo nos primeiros momentos após o crime, a família enfrentou dificuldades para identificar o corpo de Lucas, que permaneceu no Instituto Médico Legal por 42 dias registrado como "Cadáver Ignorado". Apenas com a intervenção direta dos pais foi possível evitar que o adolescente fosse enterrado como indigente. Essa demora inicial é apontada na ação como a primeira de uma série de omissões estatais.
O processo criminal que se seguiu arrastou-se por mais de duas décadas. Em 2004, houve a primeira condenação de um dos acusados, Silvio Galiza, anulada um ano depois. Novos julgamentos, recursos e decisões judiciais prolongaram o caso. Em 2023, mais de 22 anos após o crime, dois outros acusados, Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda, foram condenados a 21 anos de prisão, mas, segundo a inicial, deixaram o tribunal em liberdade, aguardando julgamento de recursos.
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Marion Terra, hoje com 67 anos, alega que a morosidade e a falta de apoio institucional causaram danos morais, existenciais e materiais. Ela afirma que interrompeu a carreira como cozinheira, atividade que exercia no exterior, para acompanhar o caso no Brasil, o que resultou em perda financeira estimada em R$ 475 mil, além de prejuízos emocionais agravados pela morte do marido, José Carlos Terra, em 2019, que, segundo a autora, não resistiu ao desgaste da longa batalha judicial.
A ação judicial, foi protocolada na Vara da Fazenda Pública de Salvador e pede indenização total de R$ 3,875 milhões, distribuídos entre danos morais, existenciais, materiais e perda de uma chance. Além da reparação financeira, a autora solicita medidas simbólicas, como um pedido público de desculpas do Estado, a criação de um prêmio em memória de Lucas Terra e a implementação de políticas para evitar a repetição de casos semelhantes. O Estado da Bahia foi citado para se manifestar nos autos.
