TJ-BA lança prêmio para reconhecer jornalismo que combate a violência doméstica
Por Aline Gama
O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), por meio da Coordenadoria da Mulher, lançou o 1º Prêmio de Jornalismo “Narrativas que Salvam”. A iniciativa, que integra a programação da 31ª Semana da Justiça pela Paz em Casa, tem como objetivo central reconhecer e valorizar produções jornalísticas que contribuam para o enfrentamento da violência doméstica e do feminicídio no Brasil. O edital foi publicado nesta sexta-feira (3), e as inscrições, gratuitas, estarão abertas de 3 de outubro a 3 de novembro de 2025.
A desembargadora Nágila Maria Sales Brito, presidente da Coordenadoria da Mulher, justificou a criação do prêmio pela necessidade de destacar o poder da narrativa jornalística como instrumento de resistência, conscientização e transformação social. “O Prêmio ‘Narrativas que Salvam’ representa o reconhecimento ao trabalho jornalístico que salva vidas, ao romper o silêncio, alertar sobre riscos e apontar caminhos para uma sociedade mais justa, igualitária e livre de violência de gênero”, afirma o texto do edital.
Em entrevista ao Bahia Notícias, a desembargadora expressou profunda preocupação com a forma como os casos de violência têm sido noticiados, alertando para um possível “efeito gatilho”. Ela citou casos emblemáticos de extrema crueldade, como a agressão em que a vítima recebeu 61 socos, seguido por um crime similar em Brasília dias depois, e agressões com soda cáustica que causam deformidades permanentes.
Foto: Aline Gama / Bahia Notícias
“A gente tem que procurar saber: como a gente pode salvar essas mulheres? A primeira coisa logo que me preocupa nesses casos que são bem emblemáticos é que sempre tem um gatilho. Essas notícias todos os dias dizendo o modus operandi... acho que incentiva”, declarou a magistrada.
A desembargadora defendeu uma mudança no foco das coberturas. Em vez de detalhar o método do crime, as reportagens deveriam destacar as consequências humanas e sociais, como as crianças órfãs e a responsabilização financeira do agressor. “Quem vai criar suas crianças? E a repercussão dessas crianças, o que vai ser da parte psicológica e da parte material. Quem vai pagar essa conta?”, questionou.
Ela também enfatizou a importância de informar sobre as medidas de responsabilização, como a obrigação do agressor de custear despesas médicas, indenizações e até mesmo o valor da tornozeleira eletrônica. “São notícias que tem que dizer assim, olha, nós não estamos parados, a gente vai tomar providências para não onerar demais a sociedade”, completou.
O prêmio é destinado a jornalistas profissionais e estudantes de jornalismo de toda a Bahia, com trabalhos veiculados entre janeiro de 2024 e setembro de 2025. As categorias profissionais incluem Reportagem Escrita, Audiovisual, em Áudio e Fotojornalismo. Já a categoria universitária aceita artigos, publicações ou Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC). Cada participante pode inscrever até dois trabalhos por categoria, que serão avaliados por uma comissão julgadora com base em critérios como relevância social, qualidade narrativa, profundidade investigativa e potencial transformador.
A premiação consistirá em troféu, diploma e certificado de reconhecimento. Os finalistas serão divulgados no dia 11 de novembro, e a cerimônia de premiação está marcada para 24 de novembro, no auditório do TJ-BA, no Centro Administrativo da Bahia.