Opinião: Carnaval: Jerônimo abriu mão politicamente de Salvador e Bruno Reis controlou holofotes
Por Fernando Duarte
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, abriu mão politicamente de Salvador. A edição de 2025 do Carnaval na capital baiana foi o exemplo mais explícito que o grupo que atua no governo estadual prefere investir no interior do estado, onde garantiu a eleição, ao invés de “dar murro em ponta de faca” para desafiar a hegemonia da oposição em Salvador. A estratégia, iniciada ainda em 2024, ganhará contornos mais visíveis ao longo dos próximos meses.
Enquanto os holofotes da imprensa estavam majoritariamente focados em Salvador, Jerônimo foi a Barreiras para a abertura do Carnaval de lá, visitou Cairu e Belmonte — as duas primeiras, inclusive, governadas por prefeitos de oposição. Com o périplo, o governador se ausentou de momentos considerados simbólicos do Carnaval de Salvador: a saída dos blocos afro.
Foi a primeira vez em muitos anos que as saídas do Olodum, do Ilê Aiyê e dos Filhos de Gandhy não contaram com a presença do chefe do Executivo estadual. A justificativa, dada aos sussurros, era evitar ciúmes, já que Jerônimo priorizou a abertura do Carnaval em Barreiras e não poderia estar no Olodum. Ao invés de faltar apenas um, Jerônimo tomou falta nos três.
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No domingo, dia da tradicional coletiva de imprensa do governador, a falha de permitir ao coordenador do Carnaval, o vice-governador Geraldo Jr., falar apenas após todos os demais secretários e depois de um monólogo do próprio Jerônimo mostra que a repercussão política em Salvador não é prioridade. O vice, que ficou com esse posto desde 2024, quando tentou furar a bolha da oposição na capital e ficou somente com o terceiro lugar na disputa, foi relegado a aparecer se e apenas se o governador não estivesse presente. E Geraldo Jr. seria o “braço” do governo na cidade.
Como resultado mais tácito do que Jerônimo escolheu para o Carnaval de 2025, o prefeito Bruno Reis foi protagonista e dominou qualquer tentativa de capitalizar politicamente a festa. Até quando criticou os adversários pela insistência com a “plataforma do apartheid”, no apelido que não pegou para uma passarela para um camarote, Bruno conseguiu sair bem.
Com uma folia cujos números positivos falam por si, a prefeitura ganhou motivos para celebrar. Até mesmo o senador Jaques Wagner, petista de alta estirpe, admitiu que não havia motivos para falar sobre a organização da festa. O prefeito sequer se esforçou para controlar as narrativas, e o vácuo deixado pela não presença constante de Jerônimo durante o Carnaval permitiu que Bruno não precisasse dividir holofotes.
Tal qual nos últimos carnavais, para quem gosta de política não houve lá muito o que acompanhar. Por se tratar de um ano não eleitoral, a situação foi ainda pior. Restaram apenas algumas aspas aqui e acolá que renderam boas notas. Só ficou evidente que o governo abriu mão de participar politicamente da vida de Salvador e que a oposição tende a manter a hegemonia na cidade.