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Ex-Vitória, goleiro Vitor integra projeto social no Líbano que atende refugiados de guerra

Por Glauber Guerra / Leandro Aragão

Ex-Vitória, goleiro Vitor integra projeto social no Líbano que atende refugiados de guerra
Vitor (E) | Foto: Reprodução / Instagram

O goleiro Vitor deu uma pausa na carreira de jogador de futebol para se dedicar a uma causa nobre. Com histórico de atuações pelo Vitória e pelo Olímpia (leia aqui), Carlos Vitor da Costa Ressurreição se mudou para o Líbano com a família no final de janeiro deste ano para fazer parte do projeto humanitário Winners, que atende refugiados no país vindos da Síria. O papel dele é implementar o futebol no desenvolvimento de crianças das famílias que fugiram das guerras civis. A ideia é fazer o acompanhamento dos pequenos durante cinco anos até que completem 18 anos e estejam prontos para continuar enfrentando os desafios da vida.

 

"O interesse surgiu quando recebi o convide para ser treinador da escolinha de futebol. Minha vontade de fazer parte foi por sentir a paixão das pessoas envolvidas no sonho de ir para outro lugar do mundo para ajudar pessoas e, principalmente, crianças. Quando vi algumas notícias das carências das pessoas, isso me atraiu. Senti que poderia fazer diferença na vida de alguém usando meu talento", explicou em entrevista ao Bahia Notícias. "Estou descobrindo um outro lado do futebol, antes jogador, agora estou ensinando. É muito bacana", completou.

 

Foto: Divulgação

Devido à pandemia do coronavírus, o projeto começou com atraso. A primeira etapa, que foi a seleção das crianças, teve uma grande procura - apesar deles terem apenas 100 vagas. Porém, mesmo que o país tenha sido pouco afetado pela Covid-19, as autoridades libanesas adotaram duras medidas para combater a doença.

 

"Parou tudo, tudo, não tinha nenhuma atividade. Até o nosso projeto atrasou, porque a data que marcamos para começar a seleção foi no dia que veio a proibição da prefeitura. Só começamos de fato os trabalhos há três semanas", contou.

 

O projeto é bancado apenas através de doações de recursos. Mas o prazo inicial de cinco anos ficou ameaçado na última terça-feira (4) quando uma enorme explosão devastou uma zona portuária de Beirute. A tragédia não poderia ter acontecido em momento pior, pois o Líbano já vivia uma grave crise econômica e instabilidade política, aliada à pandemia global do coronavírus.

 

"Só Deus sabe o que vai acontecer depois dessa explosão. As coisas estão incertas ainda, principalmente na economia. Não sabemos se vai melhorar, mas tomara que o país melhore com a ajuda que vai receber de outros países. Mas o cenário ainda está muito em dúvida. Depende também de muitas questões em relação ao recurso para manter o projeto, já que provém de doadores que compraram a ideia. São pessoas de diversos lugares do Brasil, dos Estados Unidos, que apoiam o projeto com recursos para manter as famílias, aluguéis, estutura, material, transporte. Tudo vai depender de alguns fatores, mas esperamos que esteja certo ficar os cinco anos aqui", disse.

Foto: Divulgação

 

Vitor contou como foi que soube da explosão e ficou bastante impactado com o ocorrido. "Quando soube da notícia, estava no treino numa cidade próxima da fronteira com a Síria. Antes de voltar para casa, paramos numa padaria e vimos todo mundo meio aflito, todo mundo olhando para a TV. Vimos muita fumaça, mas não tínhamos ideia, porque eles não falavam inglês. No caminho vi um monte de nuvem laranja, mas achei que fosse o pôr-do-sol, porque era fim de tarde e às vezes o céu fica meio alaranjado. Não tinha ideia, mas já era da explosão. Fiquei sabendo quando cheguei em casa e vi as notícias e mensagens de parentes e amigos perguntando como estávamos. Aí é que tivemos dimensão do que aconteceu. Ficamos aterrorizados, porque já passeamos muito por ali. No domingo passeamos lá, porque eu estava de folga. Na terça, no dia, planejamos voltar a Beirute, porque é meu dia de folga. Mas cancelamos, pois teve um novo lockdown de cinco dias, que terminaria na segunda. Terça e quarta seriam dias livres para comércio e na quinta voltaria ao lockdown. Aí transferimos o treino de segunda para terça e cancelamos o plano de ir a Beirute. Ficamos bastante abalados, porque a gente poderia estar lá e ser uma das vítimas", relatou.

 

ADAPTAÇÃO
Vitor e a família chegaram ao Líbano no final de janeiro, em pleno inverno. Após a diminuição da neve e do frio, eles começaram a sair um pouco mais da casa onde moram, que fica numa região no alto de uma montanha, e começaram a sentir um pouco as diferenças com o Brasil.

 

"No Brasil, temos esse costume do calor humano, bares cheios, ruas, mas aqui não se vê isso. As casa são isoladas, prédios. O povo é alegre, simpático, mas não tem a cultura do brasileiro de ruas cheias, até porque as cidades não são grandes. Mas já fizemos várias amizades com árabes, mulçumanos, cristãos. Tem sido uma experiência bacana e meus filhos se adaptaram até na quarentena", comentou. "No início com o inverno foi brabo, mas depois as coisas foram se ajustando. Aqui encontramos tudo, até feijão brasileiro, apesar de ser caro. Pagamos mais ou menos R$ 25 pelo quilo do feijão", pontuou.

 

Foto: Divulgação

 

FUTEBOL LIBANÊS E O FUTURO COMO GOLEIRO
Vitor está no Líbano por causa do projeto. Segundo ele, viver no país sendo apenas jogador de futebol é praticamente impossível.

 

"Ainda está muito no patamar de lazer. O futebol de formação é muito pouco, é mais voltado para o lúdico do que de rendimento. Não há tanto incentivo, não tem muitos campos em praças, tem mais em locais particulares. O esporte principal daqui é o basquete. O futebol profissional paga muito pouco, os jogadores precisam ter outro emprego para complementar a renda", ressaltou.

 

Por causa disso, ele vai esperar retornar ao Brasil no final deste ano para definir o futuro da sua carreira de goleiro.

 

"Até agora não passou pela minha cabeça. Ainda mantenho contato com alguns clubes do Brasil, mas tudo depende de como vai acontecer nesse ano aqui no Líbano. Meu plano e compromisso com o projeto é ficar 1 ano implementando a parte do futebol e depois voltaria ao Brasil. Tenho mantido a forma aqui, indo para a academia. Não sei como será o dia de amanhã, mas quando voltar ao Brasil vou ver isso, terei uma ideia melhor se vou pendurar as luvas ou seguir a carreira", afirmou.

 

Vitor começou a carreira no Vitória. Foi goleiro do Leão em parte da Série C de 2006, mas perdeu espaço no ano seguinte. Ele também acumula experiências no Londrina, mas devido à religião adventista precisou abrir mão de algumas situações da carreira profissional, dentre elas recusar uma proposta da Chapecoense e disputar a elite do futebol brasileiro. Seu último clube foi o Olímpia, de Lauro de Freitas, na disputa da Série B do Baiano no ano passado.

Foto: Divulgação