Corinthians encontra série de irregularidades em gestão de materiais da Nike; vice-presidente é citado no relatório
Por Redação
Uma auditoria interna conduzida pelo Corinthians identificou um cenário de amplo descontrole na administração dos materiais esportivos fornecidos pela Nike. O levantamento, revelado pelos jornalistas Bruno Cassucci e Gabriel Oliveira, do ge.globo, na madrugada desta segunda-feira (17), aponta falhas graves na distribuição, armazenamento e registro de uniformes e produtos, além de excedentes superiores a 290% da cota anual prevista em contrato.
Entre os problemas detectados, a apuração destaca itens estocados por anos sem destinação, ausência de inventário físico há mais de quatro temporadas, notas fiscais não lançadas — somando R$ 6,4 milhões em pendências — e distribuição irregular de uniformes entre setores, diretores e funcionários.
Apesar da elevada quantidade de produtos recebidos, diversas modalidades do clube — incluindo a base e esportes aquáticos — operam com uniformes antigos, desgastados ou inexistentes. Em alguns casos, o Corinthians precisou comprar peças licenciadas para suprir demandas internas, gerando gastos adicionais de R$ 776 mil.
O relatório mostra que o clube recebeu 41.963 itens apenas em 2025, número superior ao de 2024 e muito acima do limite contratual de R$ 4 milhões por ano. Somados os dois períodos, o Corinthians recebeu R$ 23,7 milhões em materiais, ultrapassando em aproximadamente R$ 15,7 milhões a cota total, um excesso calculado em 297%.
A desorganização atingiu também o elenco principal. Em setembro, às vésperas do duelo contra o Fluminense no Maracanã, o clube percebeu que não havia camisas brancas suficientes para montar o uniforme titular. A Nike não conseguiria entregar novas peças a tempo, e o Corinthians precisou solicitar ao rival que ambos jogassem com o segundo uniforme.
Uma denúncia anônima levou a auditoria a identificar funcionários negociando produtos oficiais desviados do estoque. Um deles admitiu vender peças por R$ 150 a R$ 180.
Responsável pela gestão dos materiais desde maio, o vice-presidente Armando Mendonça aparece em diversas ocorrências classificadas como inconformes pelo relatório. Entre elas:
- retirada de materiais sem registro formal;
- solicitação de camisas extras em nome da rouparia para “relacionamento”;
- tentativa de ficar com camisas especiais da partida contra o Palmeiras;
- transferências de lotes entre almoxarifados sem respaldo documental;
- interferência em reuniões e conversas consideradas incisivas e interpretadas como intimidadoras.
Segundo o documento, Mendonça demonstrou preocupação com o andamento da auditoria e chegou a usar termos vistos como ameaçadores por Marcelo Munhoes, diretor de Tecnologia e responsável pela investigação.
A auditoria aponta falhas sistêmicas e recomenda 17 mudanças nos processos internos. O relatório já foi enviado ao presidente Osmar Stabile, ao Conselho Deliberativo e à Polícia Civil, que conduz uma investigação paralela sobre possível desvio de materiais.
