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Ferramentas cada vez mais comuns no dia a dia dos pacientes, os chamados "Wearables" - dispositivos como relógios inteligentes, óculos de realidade virtual e até anéis capazes de compilar informações das pessoas - se tornaram um possível aliado dos profissionais de saúde na obtenção de dados. Porém, é importante saber reconhecer quando essas informações são minimamente confiáveis. E isso traz um novo desafio para os médicos que recebem esses dados e as dúvidas de quem chega ao consultório.
Em entrevista ao Bahia Notícias, o cardiologista e professor Eduardo Lapa avaliou que mesmo aqueles médicos não tão afeitos à tecnologia precisam estar preparados para avaliar esse tipo de conteúdo. "É interessante que ele saiba o quão confiável é cada instrumento. 'Ah, eu vou saber todos os relógios do mundo?'. É inviável. Mas pelo menos as principais marcas têm trabalhos publicados. Exemplo: é muito confiável esse relógio pra medir a frequência cardíaca, mas não é confiável pra ver sono", apontou.
SEPARANDO O JOIO DO TRIGO
Criador e editor-chefe do site Afya CardioPapers, uma das principais referências em Cardiologia no Brasil, Lapa se aprofundou no debate sobre a inclusão de IA no mundo da Medicina. Durante o evento Afya Summit, realizado no final de agosto em São Paulo, ele apresentou a palestra "IA na Medicina: Ficção Científica ou Realidade", em que trouxe exemplos de filmes sobre inteligência artificial para provar que muito do que se imaginava que haveria "no futuro" já é presente quando se fala do cuidado médico. Entre os exemplos, estavam equipamentos de inteligência artificial que são criados em filmes como "Homem de Ferro" e "Avatar". Para cada filme, uma tradução prática dessas experiências que já estão nos consultórios.
Durante o Afya Summit, o cardiologista e diretor médico da Afya, Eduardo Lapa, mostrou como a IA que aparece em filmes já virou realidade nos consultórios pic.twitter.com/lXHM6hJv2D
— Bahia Notícias (@BahiaNoticias) August 23, 2025
Em sua visão, todo médico tem que ter uma formação sólida em Medicina baseada em evidências. "Ou seja: ele tem que saber interpretar artigos científicos. Não quer dizer que ele vai virar um pesquisador, ele pode só clinicar, mas precisa separar o joio do trigo", frisou.
O especialista alertou que estudos experimentais tomam a internet, mas que para serem considerados cientificamente comprovados são necessários vários anos e um aprofundamento das pesquisas: "A ciência não dá saltos, ela tem que seguir toda uma tramitação para você ver se aquilo é eficaz e seguro".
Foto: Fábio Mendes / Divulgação / Afya
O professor crê que o ponto-chave da Inteligência Artificial é o banco de informações que a alimenta. Por isso, como plataformas como ChatGPT se alimentam de todo o banco da internet - inclusive fontes não confiáveis -, é preciso acender o sinal de alerta, já que, na Medicina, um erro pode custar caro.
"A gente lançou a IA que é alimentada só pelo conteúdo da Afya, que é curada por mais de 200 médicos especialistas. Então tende a ser muito mais confiável, porque tem toda uma equipe de humanos que já criou", sugeriu. Por isso, Lapa sugere que, no cenário ideal, sejam consideradas apenas ferramentas "treinadas" especificamente com conteúdos médicos.
Uma média de 2 médicos por cada mil habitantes, concentração de especialidades na capital e espaços de residência cada vez mais disputados, que afastam recém-formados da qualificação necessária para atendimento. O cenário da Bahia não é o ideal, mas traduz um desafio de todo o sistema de saúde do Brasil - não só no público, mas também no privado. Mas uma ferramenta tem se tornado crucial nas estratégias de interiorização do cuidado e na prevenção de doenças de base em locais distantes dos grandes centros urbanos: a tecnologia.
O Ministério da Saúde lançou, no final de maio, o programa Agora Tem Especialistas, uma iniciativa em parceria com estados, municípios e unidades privadas de saúde para reduzir tempo de espera no SUS, sejam exames, consultas ou até cirurgias emergenciais. Entre as ações desenvolvidas estão a ampliação de mutirões, o uso de unidades móveis de saúde (carretas), a aquisição de transporte sanitário e o fortalecimento da Telessaúde.
Em entrevista ao Bahia Notícias durante o Afya Summit, realizado em agosto em São Paulo, a Secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad, explicou como a pasta tem investido em recursos tecnológicos para alcançar os vazios assistenciais. "A gente está mobilizando toda a infraestrutura da rede de serviços da rede pública, mas também convidamos o setor privado, para somar esforços - através de trocas de impostos, de redução de dívidas... E nós temos o componente digital. A gente pensa a jornada do paciente no SUS com diferentes abordagens para melhorar a qualidade da atenção, garantir a continuidade do cuidado e reduzir tempo de espera”, detalhou.
Segundo a secretária, como não há recursos suficientes para ter especialistas em todos os locais necessários, a ideia é diminuir a necessidade de deslocamento desses pacientes sempre que possível, mas garantido a orientação médica correta. “Tanto telediagnóstico, quanto teleconsultas - em que você tem um profissional que dá uma atenção primária no local e que pode entrar em contato com um especialista para melhorar a capacidade de fazer um bom diagnóstico, discutir casos, e resolver mais rápido”.
Haddad deu o exemplo de um caso de sucesso no Ceará: entre 918 teleatendimentos, a teleregulação reduziu o deslocamento em 256 mil quilômetros. "Isso traz mais comodidade ao paciente, redução de custos, uma resposta imediata e uma orientação pro caso, com um encaminhamento mais bem feito", apontou. Já em Santa Catarina, apenas no atendimento de dermatologia, 46% dos casos foram resolvidos pela teleconsulta.
MEU SUS DIGITAL
Um outro recurso que tem recebido a atenção do MS é o aplicativo Meu SUS Digital. Uma evolução do Conecte SUS, que se popularizou na pandemia, a ferramenta deve reunir todas as informações de quem recorrer ao sistema único de saúde, com dados de exames, consultas e vacinas em um só lugar. “A gente ampliou muito essa experiência inicial que aconteceu na pandemia, quando a gente tinha, no começo, o resultado de exames de Covid-19 e as vacinas. Hoje a gente já tem os certificados de vacina muito mais ampliados - não só da Covid. Nós temos na Rede Nacional de Dados em Saúde hoje um legado de 50 anos já na rede de vacinas. O que não está na rede, deve estar em caderneta de papel. Aí, é só a pessoa levar a caderneta na Unidade Básica de Saúde e, sendo registrado no sistema, já vai aparecer no Meu SUS Digital”, comemorou.
Foto: Fábio Mendes/Divulgação/Afya
Os atendimentos clínicos das UBSs também já foram vinculados, além da inserção de novas funcionalidades. "Há muito conteúdo educacional, miniaplicativos como o 'Hemovida', a fila de transplante de órgãos - quem está esperando um transplante pode acessar o seu lugar na fila -, a caderneta de saúde da criança...", exemplificou, dizendo que haverá novidades no aplicativo "todo mês".
VAZIOS ASSISTENCIAIS
Em um estado do tamanho de um país como a Bahia, alcançar atendimento especializado em 417 municípios parece impossível. E a dificuldade também afeta o Sistema de Saúde Suplementar - que atua como um sistema paralelo ao SUS, oferecendo opções de assistência médica privada.
De acordo com um levantamento da Demografia Médica, acessado pelo Bahia Notícias, a Bahia tem hoje a razão de 2,07 médicos por 1.000 habitantes no estado - a média nacional é de 3,08 médicos por 1.000 habitantes. Os números baianos ainda indicam uma densidade de médicas inferior regionalmente: no Nordeste, a Bahia só fica acima do Maranhão. Ainda segundo o estudo, a distribuição de médicos nos municípios baianos é desigual e repete um padrão nacional, onde esses profissionais estão concentrados em centros urbanos. Em Salvador, por exemplo, há 16.934 médicos registrados, com uma razão de 6,59 médicos por 1.000 habitantes.
De acordo com o Mapeamento da Rede e dos Vazios Assistenciais na Saúde Suplementar, realizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e divulgado este ano, a Bahia tinha 31 Regiões de Saúde em 2011, mas esse número caiu para 28 em 2018 - quantidade que se manteve até 2023, último dado disponível no documento. O relatório aponta que, enquanto alguns especialistas estão à disposição em todas as regiões, como cirurgião-dentista ou clínico-geral, serviços de hemodiálise ou radioterapia não estão disponíveis nem em 10% dos municípios do estado.
Fonte: Mapeamento da Rede e dos Vazios Assistenciais na Saúde Suplementar, da ANS
Vejam dados que apontam a presença de assistências nos municípios da Bahia registrados no mapeamento divulgado pela ANS - os números consideram os Dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) referentes a outubro de 2023.
- CIRURGIÃO-DENTISTA: 216 municípios (52% das cidades) - 28 regiões (100% das regiões de saúde)
- CLÍNICO GERAL: 144 municípios (25%) - 28 regiões (100%)
- MÉDICO GINECOLOGISTA E OBSTETRA: 117 municípios (28%) - 28 regiões (100%)
- MÉDICO PEDIATRA: 93 municípios (22%) - 27 regiões (96%)
- ESTABELECIMENTOS PARA ATENDIMENTO DE URGÊNCIA: 90 municípios (22%) - 28 regiões (100%)
- ESTABELECIMENTOS COM INTERNAÇÃO: 76 municípios (18% das cidades) - 28 regiões (100% das regiões de saúde)
- CIRURGIÃO-GERAL: 67 municípios (16%) - 27 regiões (96%)
- SERVIÇO DE HEMODIÁLISE: 28 municípios (7%) - 23 regiões (82%)
- SERVIÇO DE QUIMIOTERAPIA: 14 municípios (3%) - 12 regiões (43%)
- SERVIÇO DE RADIOTERAPIA: 5 municípios (1%) - 4 regiões 14%
TELEATENDIMENTO E ENSINO
E a interiorização do atendimento a partir de práticas de teleatendimento também já é foco da academia. O Grupo Afya, por exemplo, conseguiu levar especialidades como neuropediatria e psiquiatria voltada para crianças e adolescentes à cidade de Abaetetuba, a 125 km da capital paraense, Belém. "A gente sabe que o número de profissionais com essas especialidades é muito reduzido, então nós tentamos agregar esses profissionais com a telemedicina, com atendimento de Belém ou até de outros estados", apontou Fagner Carvalho, professor e coordenador na Afya Faculdade de Ciências Médicas de Abaetetuba.
Foto: Fábio Mendes/Divulgação/Afya
Carvalho reforçou ainda que, mesmo com o atendimento à distância, há sempre um médico generalista presente ao lado do paciente, tanto para suporte de informações quanto para humanizar o atendimento e esclarecer dúvidas. "O olhar do especialista ajuda nos diagnósticos diferenciais, para dar a conduta adequada, e o médico que está com o paciente dá esse suporte, inclusive em relação a prescrições de receitas", completou.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) vai lançar um robô movido a inteligência artificial para rastrear redes sociais e identificar falsos especialistas. A ferramenta, classificada como uma resposta a uma "epidemia" de fraudes na área da saúde, deve ser lançada ainda no próximo mês.
O anúncio foi feito por Jeancarlo Cavalcante, membro do CFM, que detalhou os esforços do Conselho para equilibrar a regulamentação com o incentivo à inovação. "O maior desafio é justamente você regular sem tosar, sem atrofiar o desenvolvimento dessas inteligências, dessas startups e da inteligência artificial. Eu diria que esse é o nosso maior desafio", afirmou Cavalcante.
Veja momento:
O Conselho Federal de Medicina vai lançar robô para rastrear redes de médicos e encontrar falsos especialistas: "Vivemos uma epidemia" pic.twitter.com/1GDinW4Y1K
— Bahia Notícias (@BahiaNoticias) August 23, 2025
A iniciativa é a primeira de um conjunto de quatro ferramentas de inteligência artificial que o CFM planeja lançar. Ela surge como uma tentativa de conter um problema que, segundo o Conselho, tem se alastrado sem controle. "Hoje nós vivemos no Brasil uma epidemia de falsos especialistas, e os conselhos de medicina não têm pernas para conseguir alcançar essas pessoas", explicou o conselheiro.
A ferramenta também terá como alvo fraudadores que, além de falsos, usam números de Registro de Qualificação de Especialidade (RQE) inválidos ou de outras áreas. "Por exemplo, diz que são nutrólogos, RQE número tal, e quando você vai ver, o RQE é um RQE de clínica médica, é um RQE de cirurgia geral", exemplificou Cavalcante.
Jeancarlo Cavalcante | Foto: Fábio Mendes
Curtas do Poder
Pérolas do Dia
Luiz Inácio Lula da Silva
"O problema que eu tenho é que eu não gostaria que o Rui deixasse o governo. Mas eu também não tenho o direito de exigir sacrifício do ministro que tem oportunidade de se eleger. Então, quem quiser ser candidato será liberado para ser candidato".
Disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao afirmar que não gostaria que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, deixasse o governo federal, mas ressaltou que não pretende impedir que integrantes de sua equipe concorram nas eleições de 2026.