Estudante aprovada em medicina tem matrícula cancelada após questionamento sobre autodeclaração étnico-racial
Por Aline Gama
A baiana Samille Ornelas, de 31 anos, foi aprovada em Medicina na Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2024, após anos de dedicação aos estudos, enfrenta a revogação de sua matrícula devido a um questionamento sobre sua autodeclaração como parda.
Segundo a estudante, ela é primeira de sua família a ingressar em uma instituição pública de ensino superior, relatou ter conquistado a vaga por meio do sistema de cotas, após enviar toda a documentação exigida. No entanto, a banca responsável pela heteroidentificação considerou-a "inapta", alegando que ela não possuía "características fenotípicas de uma pessoa parda".
Veja vídeo:
A decisão surpreendeu a jovem, que nunca havia sido questionada sobre sua cor. Ela recorreu, enviando um novo vídeo de 17 segundos, no qual reafirmava sua autodeclaração, mas o recurso foi indeferido. Após um ano de batalha judicial, em janeiro de 2025, um juiz concedeu liminar favorável, determinando que a universidade realizasse sua matrícula em até 30 dias. A instituição cumpriu a decisão apenas dois dias antes do início das aulas, dificultando sua adaptação.
Apesar de ter cursado todo o semestre, a estudante descobriu, ao final do período, que seu acesso aos sistemas da universidade havia sido bloqueado. Ao verificar, constatou que sua matrícula foi cancelada devido a uma liminar cassada por um desembargador, que afirmou não caber a ele "vestir a camisa da banca de autodeclaração" e considerou insuficientes as provas apresentadas, incluindo um laudo antropológico que analisou traços fenotípicos, como formato do nariz, boca e textura do cabelo.
A jovem, disse em vídeo que estudou sozinha utilizando recursos gratuitos como o YouTube, afirma que sua trajetória está sendo desconsiderada. Ela busca apoio para que seu caso ganhe visibilidade e seja reavaliado, argumentando que cumpriu todos os requisitos para a vaga e que o cancelamento de sua matrícula representa o desrespeito a um direito conquistado após 12 edições do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).