Ex-cônsul honorário da França na Bahia busca na Justiça indenização de R$ 40 mil em caso de racismo
Por Redação
Mamadou Gaye, cônsul honorário da França na Bahia de fevereiro de 2019 a junho de 2024, está no centro de um embate judicial na busca por uma indenização no valor de R$ 40 mil a título de danos morais em um episódio de injúria racial, assédio moral e calúnia.
O ex-cônsul, que também foi diretor da Aliança Francesa de Salvador, entre os anos de 2017 e 2021, ingressou com uma ação no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) contra o francês Fabien Liquori após insultos proferidos contra ele.
Liquori procurou o então cônsul honorário para resolver questões administrativas sobre um determinado auxílio. Diante da impossibilidade de ter pedidos de ordem pessoal atendidos, Fabien Liquori passou a difamar, por e-mail, o representante da França na Bahia.
Nas mensagens, Mamadou Gaye foi classificado como “tirano africano” e acusado de roubar informações dos seus cidadãos franceses apenas para os seus próprios fins pessoais. Em um dos e-mails, Liquori ainda escreveu: “Boa volta no seu buraco em Paris”.
Como consta nos autos do processo, os e-mails eram enviados com cópia a interlocutores institucionais, não só da Bahia, mas de outros estados e países. Além do consulado da França em Recife, as mensagens chegaram à Academia de Letras da Bahia (ALB). Fabien Liquori foi alvo de denúncia policial pela equipe da Fundação Pierre Verger.
“Todas as mensagens ofensivas foram incluídas no processo. E o mais triste: é que a pessoa não teve medo de fazer as ofensas por escrito por julgar que está protegido pela cor da pele dele”, reitera Mamadou.
Em primeira instância, a juíza Daiany de Almeida Jesus, da 8ª Vara do Sistema de Juizados Especiais de Causas Comuns, reconheceu as ofensas e determinou que Fabien Liquori pagasse R$ 3 mil a título de indenização.
Ao julgar a quantia irrisória, o ex-cônsul honorário recorreu da decisão pedindo R$ 40 mil em indenização e uma retratação pública. O pedido foi negado pela Primeira Turma Recursal do TJ-BA. A ação, no entanto, segue em tramitação na 8ª Vara.
“Qual é o preço do racismo? Independente do valor, a dor é ver que, mais uma vez, a justiça minimizou a situação. O dano foi público, a injúria foi pública. A retratação precisa ser pública também, por uma questão, sobretudo, educativa”, argumenta Mamadou Gaye.