Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias Justiça
Você está em:
/
/
Geral

Notícia

Faroeste: Casal Maturino usou escritório de advocacia e salão de beleza para lavar dinheiro

Por Cláudia Cardozo / Lula Bonfim

Faroeste: Casal Maturino usou escritório de advocacia e salão de beleza para lavar dinheiro
Salão Maison 22, em Lauro de Freitas | Foto: Reprodução / Info About Companies

O Bahia Notícias obteve acesso ao conteúdo de mensagens colhidas, através das investigações no âmbito da Operação Faroeste, do celular de Geciane Maturino - esposa do falso cônsul da Guiné-Bissau, Adailton Maturino. As conversas, a maior parte delas por áudio, detalham como o casal e seus contadores manobravam o dinheiro sujo obtido, para fugir da fiscalização das autoridades. Através de simulação de empréstimos, os dois tentaram dar aparência de legalidade a R$ 14 milhões recebidos no esquema criminoso, conforme denúncia do Ministério Público Federal (MPF) e relatório da Polícia Federal (PF).

 

Em uma conversa datada de 6 de novembro de 2018, Geciane, identificada no aplicativo de mensagens como “Deus é Amor”, aborda um de seus contadores, Edson Antônio Cella - da Cella Contabilidade, em Barreiras -, afirmando ter recebido uma ligação do banco apontando um problema dela com a Receita Federal. Segundo ela, haveria um débito não parcelado do Simples Nacional em 2016 e 2017.

 

“Você parcelou, não foi? Me fala aqui, por favor, alguma coisa relativa a isso, porque você parcelou e eu venho pagando o parcelamento todo mês certinho. E tá dizendo que é no valor de R$ 35 mil. Você sabe alguma coisa relativo a isso? Se você souber, você me fala aqui, por favor”, pergunta Geciane.

 

“Deixa eu te explicar. O que que eu fiz em relação a 2017 pra justificar as origens de valores que entraram dentro [sic] da conta do escritório? Eu considerei uma parte como faturamento do escritório dentro do limite do Simples Nacional. E uma parte, que é a grande maioria, eu tenho os contratos de mútuo aqui, para colher a sua assinatura como empréstimos. Era a única maneira de justificar as entradas de recursos”, responde Edson.

 

Segundo o contador, ele identificou esses valores como honorários advocatícios “para dar cobertura nas origens dos recursos” e “esquentar o dinheiro”. “Provavelmente, eu vá a Salvador semana que vem, daí eu sento contigo, Adailton, que eu quero mostrar como eu adotei os procedimentos aqui, para registrar as operações de movimentação financeira no escritório de advocacia durante 2017”, afirmou.

 

“Pede para Brenda ou para alguém providenciar os extratos de 2018, pessoa jurídica, ou seja, do escritório. E também das pessoas físicas, sua, do Adriel, da Brenda, do Adailton, porque eu tenho que já preparar essa documentação, para não deixar isso pra gente fazer o ano que vem. Então eu já observo e faço as correções que forem necessárias ainda durante 2018. Tu sabe que depois é mais difícil a gente construir documentos, né? Então eu tenho que aproveitar ainda esse exercício de 2018 no transcurso e já resolver isso aí”, finalizou Edson.

 

Em outra conversa com Geciane, datada de 20 de novembro do mesmo ano, o contador volta a pedir extratos do escritório de advocacia. Segundo Edson, os documentos são necessários para “verificar” as transferências da JJF Holding para as contas dela. “Eu preciso identificar as transferências da JJF tanto para a pessoa jurídica da Geciane quanto para as pessoas físicas. Não é pra controlar nada, não. É apenas para fazer a identificação contábil e poder dar lastro aqui, como empréstimo ou como honorários advocatícios”, justificou.

 

A Polícia Federal já havia apreendido dezenas de contratos de mútuo entre a Geciane Maturino Sociedade de Advocacia e a JJF Holding, somando valores milionários. Para o MPF, tal engenharia financeira é indicativa de lavagem de dinheiro.

 

SALÃO DE BELEZA

Geciane é sócia-administradora do salão de beleza Maison 22 em Vilas do Atlântico, no município de Lauro de Freitas. O empreendimento também foi utilizado pelo casal Maturino para lavagem de dinheiro, conforme as mensagens obtidas na investigação. Em uma conversa ocorrida no dia 8 de fevereiro de 2019, Edson Cella enviou uma intimação para sua contratante.

 

“Isso aí é uma intimação contra o salão, pedindo para justificar um repasse de trinta e tantos mil reais para sua conta de pessoa física. Eles constataram, provavelmente no extrato bancário, que saiu um valor do salão e foi pra sua conta pessoa física”, disse o contador.

 

“Não sei se é o Renato [Porto Barbosa] ou é outro contador. Então nós temos que ver quanto ele tá declarando. Se ele me passar a senha de acesso ao sistema de Receita Federal, eu vou verificar se o salão tá declarando alguma coisa ou não. Aí obviamente, se estiver declarando, se não tem um contrato de mútuo, eu vou elaborar um contrato de mútuo com data retroativa e apresentar para Receita Federal. Só isso. Tá bem? O que não pode é o salão ter emprestado dinheiro sem ter faturamento”, explicou Edson.

 

Pouco mais de uma hora depois, após se comunicar com o outro contador contratado por Geciane - José Ricardo de Oliveira Pitangueira -, Edson voltou a mandar mensagens de áudio, explicando a operação criminosa.

 

“Anexei três contratos de mútuo, que são os três valores que acabam gerando o montante de R$ 31.700,00, que foi declarado no imposto de renda. Também anexei o extrato de janeiro de 2017 a maio de 2017 do banco Bradesco, da Maison, através do qual é possível se verificar os três valores que montaram os R$ 31.700,00”, explicou o contador.

 

Ainda assim, Geciane apresentou dúvidas a Edson. “Deixa só eu tirar uma dúvida contigo. Eu tô imprimindo aqui os contratos de mútuo, referente ao salão Maison 22. Precisa eu reconhecer firma deles não, né? Até por conta da data, né? Senão eles podem desconfiar que eu fiz esse contrato agora. Melhor deixar sem reconhecer firma, né? Que que você acha? Me fale aqui, por favor”, perguntou a esposa do falso cônsul.

 

“Não precisa reconhecer firma, não. Fica tranquila. É porque, na verdade, isso aí, eu só construí depois, né?”, respondeu o contador.

 

Com base nessas e em outras mensagens encontradas no aparelho celular de Geciane, o Ministério Público Federal solicitou a manutenção da prisão preventiva do casal Maturino. Os contadores Edson Cella, José Ricardo Pitangueira e Renato Barbosa não tiveram pedido de prisão por parte do MPF.