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Infuenciadores digitais baianos falam sobre lado escondido da fama: ‘É assustador’

Por Pascoal de Oliveira

Infuenciadores digitais baianos falam sobre lado escondido da fama: ‘É assustador’
Foto: Reprodução / Instagram

Do outro lado da tela de smartphones, tablets e notebooks, as belas imagens postadas por influenciadores digitais podem fazer muitas pessoas acharem que a grama do vizinho seja mais verde do que realmente é. Diante disso, o Bahia Notícias procurou saber um pouco mais sobre o que acontece nos bastidores da vida de alguns digitais influencers do estado e os riscos que podem existir no trabalho dessas figuras públicas que, com uma única postagem, conseguem atingir milhares de pessoas usando seu estilo, humor ou dicas. “Nós postamos recortes o tempo inteiro. Recortes sinceros e felizes. Ninguém vai postar suas desgraças, lágrimas e dívidas”. A fala é da instagrammer Rafaela Fleur, de 21 anos. Estudante de Jornalismo na Universidade Federal da Bahia (Ufba), a baiana possui mais de 65 mil seguidores no Instagram e defende que as dificuldades ocasionadas pela exposição nas redes podem surgir do lado de quem consome e do lado de quem produz os conteúdos. “As pessoas tendem a achar que só porque você posta algumas coisas ali, elas sabem tudo sobre a sua vida e podem se meter [...] Outra coisa negativa para quem trabalha com esse tipo de coisa, é [sempre] tentar fazer com que o ego não suba para a cabeça. Te dão demais e podem tirar demais de você também. Você precisa saber onde está se metendo. Já tive diversos problemas por causa disso, quase dei uma ‘piradinha’ de cabeça e já me desconheci em diversos momentos. Você acaba se iludindo com muita coisa”, explicou. 

 

Rafaela Fleur | Foto: Reprodução / Instagram

 

Mesmo tendo feito parcerias com diversas marcas, incluindo uma ação promocional para promover o álbum “Reputation” da cantora internacional Taylor Swift, Rafaela não se considera uma grande digital influencer. De qualquer modo, a fashionista não deixa de se preocupar com a mensagem que suas postagens carregam: “No caso do Instagram, que é uma plataforma que pode ser extremamente destrutiva se você não souber dosar, você pode acabar reforçando padrões, estereótipos e preconceitos. Tem que ter cuidado com qual discurso você está levando”, alertou. Rafaela, que não tem a carreira de influenciadora como sua grande prioridade, percebe uma desvalorização do mercado a respeito das atividades desempenhadas nessa área. “'Rola' muito a questão da permuta. Para mim é ótimo, mas chegar para uma menina que investiu em câmera, em iluminação, que edita um vídeo por dia durante horas, e falar: ‘Ah, divulga aqui minha marca que eu te mando uma camiseta’. Não é assim [que funciona]. Tem meninas que dão muito duro e que, para elas, essa blusa não é nada. É muito mais vantajoso e lucrativo para a marca mandar isso. Fico meio indignada com pessoas que menosprezam esse trabalho”.

 

Jéssica Dantas é uma das influenciadoras digitais com maior alcance na Bahia e passou a ver a carreira como uma profissão quando notou o crescimento do “Fala Dantas!”, canal no Youtube com quase meio milhão de inscritos. Imersa nessa realidade, ela não fez cerimônia para falar do lado que muitos fazem questão de esconder. “Às vezes é assustador”, resumiu a ex-estudante de Petroquímica sobre ter muitos seguidores. “Às vezes a ‘Fala Dantas’ não se separa da Jéssica. Eu posso estar triste, doente, mas eu tenho que continuar criando meu conteúdo porque eu não gosto de criar uma imagem falsa de vida perfeita. Minha vida não é perfeita”, desabafou. A blogueira, que figurou no clipe de Wesley Safadão e Anitta (saiba mais aqui), acredita que a enorme quantidade de posts felizes e positivos feitos nas redes sociais não nasce apenas da vontade do produtor de conteúdo online, mas deve-se também ao interesse do público. “Eu não mostro muito tristeza porque quem está nas redes sociais quer se distrair dos seus próprios problemas e não absorver os de outras pessoas. Eu tento ficar nesse limite de mostrar a realidade sem sobrecarregar quem está me assistindo.” Além disso, Jéssica falou sobre um tópico inesperado: a crença de que a sua saúde física é atingida pelas suas publicações. “Sempre que eu mostro muitas coisas boas na internet, eu fico doente. Sempre que viajo para fazer uma campanha muito grande eu fico doente. Por isso que eu só aviso as coisas quando já está confirmado ou quando eu estou voltando. Tem gente que gosta de nós e tem gente que não gosta, mas acompanha porque quer ver a vida dos outros”, explicou a cacheada, que aborda temas como lifestyle e beleza.

 

“Eu não queria ser digital influencer, não estava nas minhas expectativas. Mas acabei me tornando pela quantidade de seguidores. Eu queria ser só um comediante reconhecido aqui na Bahia”. Foi nessa contramaré que Cristian Bell se tornou uma referência para um público específico com a página “Humor Cyclonizados”. O humorista, nascido no bairro da Liberdade, em Salvador, ficou famoso depois de escrever textos e gravar vídeos que usam a linguagem das periferias da capital baiana para brincar com assuntos mais sisudos como abordagem policial nas favelas e comportamento feminino no gueto (entenda aqui). Para o jovem, o ponto de vista de pessoas famosas pode gerar uma restrição à liberdade de expressão desses indivíduos. “A responsabilidade é imensa[...] Eu não posto sobre política. Por exemplo: Se eu posto sobre Lula e é comprovado que ele é ladrão, eu já teria influenciado muitas pessoas sobre uma opinião minha”, notou Cristian.  Além desses aspectos, existe uma outra fonte de “pressão” exercida sobre o jovem: “Geralmente a família não acredita muito. Ficam falando para eu procurar emprego e fazer outra coisa”.

 

De acordo com a perspectiva do Dr. Fabrício de Souza, psicólogo e professor do curso de Psicologia da Ufba, os riscos associados com a exposição desses jovens existem e estão ligados à preparação que eles têm ou não para lidar com o público. “Qualquer coisa que seja um desafio, e que você não tenha uma resposta adequada para ele, pode gerar ansiedade e crise depressiva. Se a pessoa não tiver a devida preparação, ela pode ter um adoecimento psíquico como qualquer outra pessoa que está lidando com algo que não seja a tecnologia. Não há uma forma matemática, mas com certeza a pessoa não vai se sentir feliz e confortável nessa posição”.