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'O gueto não sabe o que é stand up': Conheça o criador da página 'Humor Cyclonizados'

Por Pascoal de Oliveira

'O gueto não sabe o que é stand up': Conheça o criador da página 'Humor Cyclonizados'
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

Com linguagem originada no gueto de Salvador e temáticas que vão de brigas no Carnaval a “rolês” no Rio Vermelho, a página “Humor Cyclonizados” ganhou destaque na internet com textos e vídeos protagonizados pelo humorista Cristian Beell. O jovem de 20 anos conta que a ideia surgiu por causa das brincadeiras que fazia com os moradores do bairro da Liberdade, onde mora há 12 anos. “Eu fazia resenhas lá, postava historinhas. Aí eu falei: ‘Vou criar uma página para Salvador’. A primeira postagem que eu fiz falava sobre abordagem [policial] e teve sete mil compartilhamentos. Rapidinho a página cresceu. Aí eu comecei a fazer umas histórias também e foi aquilo ali que alavancou. Ninguém fazia, era original, exclusiva”, explicou. Para ele, o bairro em que vive ofereceu uma experiência única, que ele utilizou para se inspirar. “Eu amadureci lá, foi onde eu aprendi as coisas. É um bairro muito cultural. Eu não tenho vergonha de dizer que eu sou de lá. Tem coisas que só a Liberdade tem”. 

 

Com mais de 240 mil curtidas, a página “Humor Cyclonizados” utiliza um vocabulário específico em textos construídos com frases curtas. Segundo Cristian, o texto seria uma reprodução escrita das formas de oralidade existentes nas periferias. “Eu tento mostrar como é o gueto. Ela [a linguagem] é totalmente da página, é algo que eu criei. A galera do gueto toda se identifica porque eu trabalho com a representação da favela mesmo. Até os ‘playboys’ olham assim e gostam”, esclareceu. Ele completa dizendo que mistura diferentes formas de falar com o objetivo de inovar. “Por exemplo: Na favela as pessoas falam ‘pegue sua visão’, aí eu escrevo ‘solicite sua visão’. Eu faço umas maluquices e a galera curte bastante”, descreveu rindo. Para quem não sabe o significado de duas expressões populares em seus conteúdos, ele desvenda: “Playboy é aquela galera que nunca teve dificuldade nenhuma na vida, esse povo burguês da Graça, da Barra. O Cero é a abreviação da palavra parceiro. Me chamam de Cero porque eu dou conselho, dou ideias que a galera abraça. Eu gosto de ser chamado de Cero. É uma gíria que eu acho que criei”.

 

O jovem, que se denomina como “humorista fuveiro”, foi da internet para os palcos em pouco tempo. Após o sucesso do seu trabalho, ele começou a se apresentar em espetáculos de comédia, stand ups e até em fast-foods, e afirma que prefere o contato presencial com o público porque “não tem nada melhor do que sentir a energia da galera rindo”. Usando o humor como sua ferramenta principal, o intérprete também busca tocar em assuntos mais sérios durante suas performances. “Aquela música ‘Surubinha de Leve’, muitas das minhas seguidoras acham que é uma música simples e não é. Ela fala de violência feminina. Então às vezes eu uso do poder que eu tenho para conscientizar as pessoas”, defendeu. Ao contrário do que se espera após uma rápida olhada na “Humor Cyclonizados”, Cristian garante que grande parte das interações obtidas não são de pessoas das comunidades: “A maioria do meu público hoje está na faculdade. Antigamente quando eu fazia resenha pesada era favela, mas eu percebi que ele foi mudando”. 

 

 

O humorista, que diz ser uma pessoa séria fora dos teatros e das lentes, tem perspectivas de futuro muito claras. Ele deseja mais reconhecimento para ele e para a comédia no cenário baiano. “Eu quero conquistar a Bahia toda. Não tenho pretensão de ir para São Paulo, como os outros humoristas. Eu quero ficar aqui e fortalecer o humor baiano. Eu dou muita oportunidade nos meus shows para quem está começando. Eu quero que aqui tenha pelo menos uma casa de humor como tem lá em São Paulo”, assegurou. Ele completou seu raciocínio alegando que os artistas que vieram antes dele não fazem questão de produzir conteúdo e mostrar para os internautas. Cristian finalizou com uma análise local: “O gueto nem sabe o que é stand up [...] Tem uma galera que tá correndo atrás e está sendo difícil para eles. Eles fazem show para cinco ou seis pessoas [...] Whindersson vem para cá, coloca cinco mil pessoas”.