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Luis Ganem: Histórias da Música Baiana – Dança da Manivela

Por Luis Ganem

Luis Ganem: Histórias da Música Baiana – Dança da Manivela
Foto: Divulgação

Na música baiana, quase tudo já foi falado em verso e prosa. Desde livros comemorativos ou de memórias, como o do multiagitador cultural e produtor artístico Jonga Cunha, a filmes premiados, a exemplo de “Axé, canto de um povo de um lugar”, do diretor Chico Kertész.

 

Aliás, como bem retratou o filme, quem não quer saber como músicas se tornaram sucessos ou artistas nasceram para a música, ou seja: como, quando, quem, onde e por quê? 

 

Pois bem, tudo isso e um pouco mais é o que eu vou tentar trazer para meus textos a partir de agora. Histórias e personagens que fizeram com que a música baiana se tornasse um produto musical reconhecido em todo o mundo.

 

Minha primeira história mesmo, ouvi da boca do produtor artístico e empresário de shows Nei Ávila em um almoço. Somente para constar, Nei – como os amigos o chamam – é um dos ícones da produção musical baiana. Com mais de 25 anos de mercado, foi durante quase toda sua vida profissional produtor de Durval Lelys e da Banda Asa de Águia e daí que conhece muitas histórias dos bastidores. 

 

E então conversávamos – eu e Nei – no dito almoço sobre os destinos da música baiana e a necessidade de uma casa de shows em Salvador. Conosco na conversa estavam o empresário de eventos Alex Amaral e o Diretor do Grupo Aliansce Shopping da Bahia (SDB) Everton Visco. Ali os quatro, entre um drink e outro, concordávamos e discordávamos, meio que oráculos do “nada com coisa alguma” (entenda aqui), sobre os caminhos da música baiana, sem culpa por estarmos certos ou errados.

 

Em dado momento – e aí não lembro bem o porquê, mas salvo engano, foi por algo ligado a não poder se prever o futuro –, Nei resolveu contar uma história para ilustrar sua tese de que nem sempre tudo sai como planejado e é essa a história que conto a seguir.

 

O ano era 1997.  O Asa tinha no ano anterior detonado várias faixas do disco Kriptonita. “Super Homem do Amor” e “A Dança da Tartaruga”, dentre outras, tinham invadido as rádios de todo o Brasil e, por isso, havia, por parte da estrutura do Asa, uma certa ansiedade em continuar acertando com o novo projeto que estava sendo lançado.

 

Naquela época – continuou contando Nei – a produtora do Asa fazia uma convenção anual com os contratantes e parceiros de blocos de todo o Brasil, para apresentar o trabalho musical que iria ser tocado no novo CD que viria. O evento anual servia como um termômetro do que seria trabalhado no ano. Nesta convenção em particular foram apresentadas doze músicas. E além delas, foi apresentado também um “patinho feio“, que foi meio que execrada por todos. Tratava-se da música “Dança da Manivela”. 

 

Essa música era, ao que parece, uma das que Durval Lelys gostava e tinha chegado até ele por um dos componentes da produção, que malhava em uma academia de ginástica, tendo este recebido a fita de uma atendente do espaço que tinha uma relação pessoal – não sei de que espécie – com o compositor da música de nome Jou Batá. A música logo apelidada de “patinho feio” não teve à época o apoio dos produtores do Asa, que já se preocupavam com um possível excesso de músicas temáticas, dos contratantes e parceiros, que não viam graça nenhuma na música, nem sequer da gravadora, que, achando o mesmo, a excluiu das faixas do disco a ser lançado.

 

Dentro da mística musical daquela época – não sei hoje – o artista se deslocava até a sede da gravadora para apresentar à sua Diretoria Executiva o chamado disco master. Neste processo eram apresentados ao artista os planos de mídia e marketing para a obra e ali se discutiam estratégias, previsões, enfim, tudo que fosse parte do produto era fechado ali naquela reunião de audição. 

 

Como Durval era surfista – e ainda é – preferia sempre ficar nas ondas. Viajar era algo que ele deixava a cargo do seu staff. A gravadora, mais precisamente a diretora de Marketing, pra convencer Durvalino, comprou uma prancha de surf e colocou na sua sala, com a deixa de que, nos intervalos das reuniões, Durval poderia pegar boas ondas. Com um apelo desses – continuou Nei– Durval foi finalmente convencido a ir.

 

Pra não chegar de mãos abanando, Durvalino resolveu levar a música da Manivela toda produzida para apresentar ao presidente e demais executivos da companhia – seria a chance que ele teria de emplacar a dita cuja. Ouviram todas, discutiram sobre tudo o que seria feito e, na chance que teve, Durvalino apresentou sua música que, por consideração, foi colocada como a última faixa do disco. 

 

Resultado: a Dança da Manivela foi e é um dos maiores sucessos do Asa. Dois anos como a melhor música do carnaval, propaganda tendo como tema a música, estourada em todas as rádios do Brasil, enfim o tal patinho virou um sucesso estrondoso.

 

Diante do que Nei Ávila contou ali, quando acabou, o silencio se fez. Creio que durante uns 10 segundos eu, Everton e Alex Amaral ficamos olhando uma para a cara do outro pensando. Eu mesmo fiquei parado pensando em como realmente não podemos prever o futuro e que nada acontece por acaso. Desfeito o silêncio e com cada um já querendo contar algo que sabia dos bastidores do carnaval, nosso grupo momentâneo foi desfeito por chamarem Everton – anfitrião da festa – em outro canto da casa, e daí lembrei de uma história que Jesus Sangalo tinha me contado a respeito do show de Ivete Sangalo na Fonte Nova na gravação do DVD que dizia...

 

Fica para a próxima.