Opinião: Candidatura de Flávio Bolsonaro é balão de ensaio que pode explodir a direita
Por Fernando Duarte
A semana passada terminou com Flávio Bolsonaro ungido pelo próprio pai, Jair, como candidato da família à presidência da República em 2026. Foi mais um exemplo de como o clã não tem um projeto de país como arvora, mas um projeto de poder no modelo hereditário e sem qualquer constrangimento. Nesse cenário, Michelle Bolsonaro foi colocada em escanteio, numa possibilidade de se tornar mártir e ser lançada com clamor como uma alternativa ao enteado. Em resumo, as atenções se concentram em um sobrenome, ao invés de uma perspectiva de futuro para a nação, como tanto pregam os bolsonaristas.
O mercado logo se abalou com a hipótese do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ser defenestrado da condição de candidato do clã Bolsonaro à presidência. Para ele, que se manteve em cima do muro todo o tempo, foi bem confortável aceitar não ser mais o escolhido. Pode tentar a reeleição sem percalços e sem um adversário à altura. E ainda tentar se manter viável para 2030, quando o campo estará ainda mais aberto sem a chance de uma nova eleição com Luiz Inácio Lula da Silva como candidato. É o sonho mais viável para os futuros "tarcisistas", que tendem a existir quando o bolsonarismo for, finalmente, suplantado.
No entanto, como se não bastasse o "bombástico" anúncio da sucessão com Flávio, o senador fluminense deixou claro que a candidatura tem "um preço". Para quem entende mensagens não tão subliminares, é a senha de que um candidato que se mostrar viável politicamente e que tenha como bandeira a anistia a Jair e asseclas da tentativa de golpe pode tranquilamente substituí-lo nas urnas. Flávio é eleitoralmente mais fraco que outros potenciais candidatos, mas é de longe o mais articulado do clã e com a possibilidade de diálogo com outras frentes. Todavia o açodamento com que se tornou público o desejo de Jair mostra que a pacificação está longe de ser atingida.
Aparentemente, a direita segue batendo cabeças exatamente porque personificou o clã Bolsonaro como única alternativa possível pós-2018. E a desastrosa condução da gestão de Jair até 2022, que fez ressurgir o lulopetismo com força eleitoral muito expressiva, é consequência dessas escolhas. Tarcísio tem a menor das preocupações. Já outros nomes como Ronaldo Caiado, Romeu Zema e até Ratinho Jr. precisarão ser mais ágeis para serem viabilizados para as urnas em 2026 - especialmente porque encerram seus segundos mandatos como governadores. Sob o risco de serem jogados ao mesmo ostracismo que Jair está fadado. Claro que se todos os prognósticos desfavoráveis a Flávio se confirmarem. O Brasil pode até ter um projeto conservador de direita. Só não precisa ser refém de uma família como similam Jair e o restante dos filhos e da esposa
