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Dia do Futebol: Incentivos e visibilidade são entraves para atletas do futebol feminino

Por Eduarda Pinto / Beatriz Santos

Dia do Futebol: Incentivos e visibilidade são entraves para atletas do futebol feminino
Foto: João Ubaldo / Ascom Sudesb

A paixão e o entusiasmo do público brasileiro pelo futebol é quase unânime. Com diversas variações e categorias, o esporte vem rompendo as barreiras de gênero ao longo dos anos. Neste sábado, 19 de julho, dia em que se comemora o Dia Nacional do Futebol, o Bahia Notícias se debruça sobre uma das principais categorias desta modalidade: o futebol feminino. Em meio a incentivos públicos e das federações, a falta de visibilidade e o sonho das atletas, como é realizada formação de talentos na Bahia. 

 

Para entender esse cenário, o BN conversou com o avaliador de atletas e ex-treinador, Leon Ferreira. Para ele, que já passou pela equipe técnica de times femininos como Bahia, Galícia e Lusaca, uns dos mais consolidados do estado, afirma que a estrutura do futebol feminino no Nordeste ainda é aquém do que se observa no Sudeste. 

 

“A diferença está realmente muito grande. Lá [na região Sudeste] já tem, além do Campeonato Paulista, a Copa Paulista, tem todas as bases. Os clubes são quase todos profissionais. Aqui, a gente tem três clubes que pagam apenas as atletas, e nos outros clubes as meninas jogam por amor. [Jogam] Porque gostam ou querem crescer, jogam para gravar seu material, ou jogam apenas por amor mesmo. Então, a diferença continua muito grande com relação à São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul também”, define.

 

Foto: Arquivo pessoal

 

Leon afirma que apesar das dificuldades, o crescimento da categoria é iminente, não só na Bahia, mas no Nordeste como um todo.

 

“Eu creio que a gente está avançando, porque a gente agora vai ter os campeonatos baianos de futebol feminino de base, sub-15, sub-17, a sub-20. Então, tem mais clubes entrando na categoria, como Boca Juniors; da Argentina tem uma escolinha aqui e vai colocar um clube feminino. Tem o Vitória que já tem sua divisão de base. Então está crescendo”, afirmou o treinador. 

 

Conforme regulamentação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), desde 2019, os times de futebol da Série A do Brasileirão masculino são obrigados a montar times para disputar a categoria feminina. Em 2023, a CBF sugeriu ainda ampliar a obrigatoriedade para outras divisões do campeonato masculino, como a Séries B, C e D até 2027. A data-limite, estipulada pelo ex-presidente Ednaldo Rodrigues, não é aleatória, já que em 2027, o Brasil vai ser sediar a Copa do Mundo de Futebol Feminino pela primeira vez.  

 

Apesar da falta de avanço na meta divulgada, Leon defende que o que foi feito, já causa bons reflexos no cenário esportivo.

 

“As meninas estão sonhando, estão colocando o seu sonho em prática. Antigamente já se sonhava, mas agora bem mais. Se abriram várias divisões do campeonato do brasileiro, as competições estaduais. Os clubes da primeira divisão, por exemplo, são obrigados a colocar times femininos também, quem sobe para a primeira divisão tem que colocar time feminino. Então, eu creio que isso, de forma crescente, está acontecendo”, ressalta. 

 

CULTIVO DE TALENTOS 

O crescimento da categoria feminina de futebol na Bahia se reflete diretamente no avanço dos campeonatos profissionais e amadores. No calendário esportivo da Federação Baiana de Futebol (FBF), existem duas competições oficiais: O Baianão Feminino e o Baianão Feminino Sub 17, mas outras organizações ainda promovem outras competições, como a Copa Loreta Valadares, Liga Poeirão e a Copa CBX, além dos eventos no interior do estado. 

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, a coordenadora do Núcleo Mais Mulheres no Esporte da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), Juliana Camões, deu mais detalhes sobre a manutenção da Copa Valadares, que, em 2025, chega a sua 4ª edição.

 

Responsável pela Copa Loreta Valadares, a gestora contou que ela foi criada a partir de um apelo das atletas.

 

“Copa Loreta Valadares iniciou através de uma iniciativa mobilização de mulheres pioneiras, a gente costuma falar, chamá-las de pioneiras, do futebol, feminino no estado da Bahia. É uma idealização que partiu delas e ela veio tomando o corpo diante de suas edições”, destacou. 

 

Copa Loreta Valadares 2024 - Foto: João Ubaldo / Ascom Sudesb 
 

A Copa foi ganhando robustez a cada edição. Atualmente, tem três categorias: a adulta, a sub-17 e sub-15, que é a mais recente adição. “A ideia da (categoria) sub-15 é, também, além do fomento do esporte, começar a trabalhar as atletas de base, as meninas, as mulheres em formação. A gente já vai fazendo base para o futebol feminino, que é uma coisa que não existe ainda de forma efetiva”, afirma. 

 

Para garantir uma competição minimamente equitativa, Juliana destacou que tudo é pensado para dar suporte às mulheres em várias frentes: desde os uniformes pensados para corpos femininos, a disponibilização de chuteiras e luvas a todas as atletas e equipamentos estruturais que comportem a dimensão do evento. 

 

“A gente conseguiu observar a necessidade do suporte, principalmente para elas poderem treinar e jogar numa condição pelo menos semelhante umas às outras. E também para poder estimular essas meninas mais jovens, porque a partir daí, quando entra na adolescência é uma fase que inicia os conflitos, muitas vezes elas abandonam a prática esportiva e a gente percebe que existem muitos talentos a serem revelados”, ressaltou a coordenadora da competição.

 

Juliana Camões revelou ainda que as inscrições para a edição de 2025 devem ser divulgadas em breve e a expectativa é receber mais de 900 atletas na competição. “A realização da política pública com relação ao esporte feminino, ela é, sem dúvidas, fundamental, porque é no momento dessa observação que a pessoa que está ali numa situação desfavorável se sente segura num amplo sentido, no latosenso mesmo, para poder praticar o esporte”. 

 

Vitória na Copa Loreta Valadares 2024 - Foto: João Ubaldo / Ascom Sudesb
 

Como “olheiro” e avaliador, Ferreira reforça a importância das competições para a revelação de talentos. Mas para ele, o trabalho de dar visibilidade ao futebol feminino não se restringe ao trabalho como avaliador. Há 15 anos, Leon Ferreira é o administrador da página @futebolfemininodabahia, com mais de 12 mil seguidores nas redes sociais. Por meio do perfil, o avaliador ajuda a divulgar eventos e notícias sobre o futebol feminino em toda a Bahia. De eventos escolares a informações sobre a seleção brasileira, Leon conta que o trabalho é mais social do que comercial. 

 

“Eu estava no futebol masculino e começaram a vir treinar comigo algumas meninas, então resolvi criar algo só para elas. Depois de alguns projetos [como treinador], eu queria divulgar notícias e apoio ao Futebol Feminino da Bahia, então criei o perfil. Começou no Facebook e foi crescendo a medida que as redes iam sendo criadas. Hoje temos 15 anos”, afirmou. 

 

Pelo perfil, Leon viaja para entrevistas e coberturas das competições, além de abrir espaço para divulgar jovens talentos. Algumas delas que já encontraram seu caminho para o futebol profissional.

 

Para Juliana, a visibilidade dá resultado nas arquibancadas. “Acho que é fundamental para se dar visibilidade, para se proporcionar o caminho, mais uma vez, da revelação dos talentos do futebol feminino no estado da Bahia”, diz. 

 

“A frequência de público no estádio de uma edição para outra, já teve um público maior. A gente já tem trabalhado divulgação de horários, colocar as partidas em horários que sejam acessíveis, para que a fãs, famílias, s o público que é amante do futebol esteja presente. Também existe um apelo com relação à vinda da Copa do Mundo do Futebol Feminino em 2027 para o Brasil. Então, isso já movimenta as pessoas, já causa um pouco mais de curiosidade, porque querendo ou não, futebol masculino ou feminino é a modalidade esportiva do futebol, e são paixões”, completa a gestora. 

 

Copa Loreta Valadares 2024 - Foto: João Ubaldo / Ascom Sudesb 

 

DO SONHO À REALIDADE

O caminho até o destaque no futebol feminino baiano ainda é repleto de obstáculos, mas também de histórias que inspiram. Na última quinta-feira (17), Milena Oliveira, jogadora do Doce Mel, foi considerada a craque da Série A3 do Brasileirão Feminino. A premiação foi feita pela página Turbilhão Feminino, nas redes sociais e a atleta contou com 529 votos para conquistar o título de melhor jogadora do torneio. 

 

Natural de Salvador, Biro Biro, como também é conhecida, construiu sua trajetória enfrentando as limitações que ainda cercam o esporte no estado, desde a falta de estrutura nas categorias de base até a escassez de visibilidade. Em conversa com o Bahia Notícias, a jogadora contou o começo da sua história no esporte e relatou a primeira oportunidade que recebeu no futebol baiano, ainda em 2019. 

 

“Eu sonhava em me tornar atleta profissional de futebol. Sempre tive o apoio da minha mãe, apesar de não ser o sonho dela. Então, quando eu era novinha, meu tio Luiz me colocou em uma escolinha de futebol. Já em 2019, fiz parte da primeira peneira do Bahia. Na época tinha 17 anos. Graças ao Nonato, que me preparou, me treinou, me passou as coordenadas, fiz a peneira com mais de 200 meninas e passei na primeira fase, passei na segunda e na terceira até que eu atuei pelo Bahia no Brasileiro Sub-18. Depois disso, fiquei no Lusaca, e depois fui fazer uma avaliação no Vitória.", disse a camisa 2 do Azulão. 

 

Milena Oliveira pelo Doce Mel - Foto: Arquivo pessoal
 

Durante a competição feminina, o Doce Mel foi a equipe baiana que chegou mais longe, mas sofreu uma derrota por 6 a 1 nas semifinais do torneio e não avançou para a fase final. Apesar da eliminação, o clube garantiu a vaga na Série A2 do Brasileirão de 2026 e será e será a segunda equipe a representar o estado na competição, que também conta com o elenco feminino do Vitória. 

 

Nos holofotes do esporte baiano, Milena citou a sua perspectiva sobre a formação de atletas no estado, e revelou que a equipe de Jequié e o Vitória são os principais clubes nas categorias de base femininas. Além disso, a craque aproveitou para destacar as dificuldades que as mulheres enfrentam no futebol profissional. 

 

“O Vitória dá muita oportunidade ao meu ver, nas categorias de base, porque eles realmente estão disputando o Brasileiro Sub-17. Eles fazem peneiras, fazem testes, então eu acho que eles dão bastante oportunidade. Ainda acho que hoje os clubes mais que revelam atleta mesmo é o Doce Mel e o Vitória. Por exemplo, no Doce Mel tem atletas que saíram do clube e, assim como a Claudinha, foram para o Fluminense, tem gente que tá na Turquia, tem Sol que tá no Palmeiras. Mas, apesar disso, precisamos de mais visibilidade. O Doce Mel agora,  provavelmente, não vai participar do estadual justamente por conta da falta de investimentos. O nosso treinador honra com os compromissos e tudo que ele fala. Ele quer dar total assistência pra gente. Nos trata como atleta assim como merecemos, paga e oferece todo o apoio, alojamento, quarto com ar condicionado, duas meninas por quarto. Tínhamos 20 meninas no alojamento, a alimentação até sobrava. Tivemos que doar no final da competição. Apesar de também ser o vereador de lá, não tem como arcar com um time sozinho. Então, realmente é complicado, porque creio que a maior parte dos clubes baianos passa por isso também.”, desabafou. 

 

Milena Oliveira em sua passagem pelo Vitória - Foto: Arquivo pessoal
 

Além de já ter colecionado passagens pelo Sub-18 do Bahia e na equipe profissional do Vitória, Milena ainda teve seu nome no Estanciano, de Sergipe, Vila Nova, de Goiânia e Lusaca, de Dias D'ávila, interior da Bahia.