Convocada para o Sul-Americano, ginasta baiana pode não competir por falta de verba

Aos 10 anos, a baiana Keila Souza foi campeã brasileira e sul-americana de ginástica rítmica de sua categoria. Aos 13, foi novamente convocada para a seleção brasileira, para o Campeonato Sul-Americano (lembre aqui), que acontece na cidade de Cali, na Colômbia, em novembro. Contudo, a participação dela na competição está em risco por falta de dinheiro. Caso não desembolse R$ 6.584,00 nos próximos dias, Keila não vai. 

 

A explicação para isso começa pela idade. Como ainda tem 13 anos, Keila faz parte da seleção transitória, e, por isso, não terá suas despesas bancadas pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), que só disponibiliza os recursos para a seleção oficial - a partir dos 14 anos. Sendo assim, hospedagem, translado e teste PCR para seis dias de viagem (R$ 5.680,00) têm de ser bancados por ela e sua treinadora, Joseane Coelho, do clube Gorba, que irá como técnica da seleção. 

 

Além disso, elas têm de pagar os uniformes para Keila, que custam, juntos, R$ 730,00, e uma taxa de participação à Confederação Sul-Americana de Ginástica, de R$ 174,00. Como a família da atleta não possui condições para bancar tudo isso, uma rifa está sendo feita no Instagram para a arrecadação do valor. 

 

As passagens foram bancadas pela Superintendência de Desportos do Estado da Bahia (Sudesb). Segundo divulgou a pasta ao Bahia Notícias, Keila e Joseane viajarão no dia 1º de novembro e voltarão no dia 8. Nas redes sociais, a atleta agradeceu. 

 

 

A outra atleta baiana que foi convocada para a seleção, Julia Góis, de 16 anos, da ginástica aeróbica, também conseguiu o incentivo, e tem viagem marcada para 9 de novembro, com volta no dia 15. No Sul-Americano, ela participará do Campeonato propriamente dito e da Copa de Ginástica Aeróbica, na cidade de Ibagué, também na Colômbia, disputando as categorias individual feminino e dupla mista. A atual vice-campeã brasileira, felizmente, já está garantida, pois a família deve desembolsar os valores restantes. 

 

Júlia Góis foi vice-campeã brasileira de ginástica aeróbica em 2021 (Foto: Ricardo Bufolin | CBG)

 

O prazo inicial para apresentar o plano de voo e todas as outras pendências à CBG era esta quinta-feira (7). Porém, como a Sudesb liberou a tempo as passagens, Joseane conseguiu postergar por algum tempo o limite. 

 

"Estou super segurando, falando que não temos condições ainda. Mandei um ofício dizendo que já tínhamos a passagem. Tendo a passagem, já seguramos um pouco a CBG", relatou, em entrevista ao BN. 

 

Atualmente, Keila realiza sua preparação na sede da Confederação, em Aracaju (SE), e retorna para Salvador no dia 31 de outubro, já para viajar, caso consiga. "Pela sua performance, ela é sempre citada pelo Brasil para ingressar em futuras seleções. No último campeonato, apesar de não ter se saído tão bem, se classificou entre as cinco, por causa da parte técnica e da desenvoltura. Isso deu a possibilidade de ela participar de uma seletiva para o Sul-Americano", comentou a técnica. 

 

Além do Sul-Americano, Keila participará do Torneio Futuros Talentos, que acontece entre os dias 6 e 12 de dezembro, em Santa Cruz, na Bolívia.

 

Vale lembrar que as duas atletas foram aprovadas no último edital do Bolsa Esporte oferecido pelo governo da Bahia. A quantia, porém, ainda não foi definida pela Sudesb. 

Keila e Júlia, treinadas por Joseane representam o clube Borba desde os 8 anos (Foto: Arquivo Pessoal)

 

BAHIA EM EVIDÊNCIA 

O sucesso recente da ginástica baiana em competições nacionais e internacionais não é por acaso. Parte da "culpa" vem de um método implementado pela Federação Bahiana de Ginástica (FBG) durante a pandemia. A presidente da entidade, Evelin Lôbo, revelou ao Bahia Notícias que optou por não paralisar as competições, realizando-as de forma online. 

 

"Ficamos com a programação muito grande no início de 2020, e a pandemia pegou todo mundo de surpresa. Entramos em modo desespero. Não podíamos deixar de ter competição. Fizemos etapas de campeonatos online, cursos de capacitação... então a gente na verdade não parou. A Bahia participou de campeonatos brasileiros e tivemos resultados positivos", relatou. 

 

Além de ter servido para manter o apoio do governo do estado, a ideia ainda foi "copiada" por outras federações. "Eles [o governo da Bahia] ficaram receosos, porque nunca tínhamos feito online. Mostramos que conseguíamos fazer. Depois, o campeonato virou um 'case' de referência, e outras federações começaram a fazer o mesmo", conta Evelin Lôbo. 

 

O principal efeito positivo dos treinos online, analisa Joseane Coelho, foi a possibilidade de perceber melhor os movimentos. "Com o online, tivemos a possibilidade de ver minúcias. Coisas que no treinamento, no dia a dia, são coisas que deixamos passar. No online, você força que a atleta se preocupe em se concentrar. O toque, o braço no lugar certo... elas tiveram que aprender e desenvolver isso. Isso foi um fato muito positivo. Elas cresceram absurdamente", elogia. 

 

A ginástica baiana chegou a ir com apenas um clube para o Campeonato Brasileiro. Atualmente, leva cinco. A próxima competição prevista no estado é o Circuito Bahia, que serve para ranquear atletas para o cenário nacional.

 

O torneio será dividido em quatro fases. Duas híbridas - em que as atletas competem de forma online nas sedes dos seus próprios clubes - e duas presenciais, entre os dias 22 de outubro e 19 de dezembro.

 

Confira o calendário completo: 

 

Primeira fase (híbrida): 22 a 24 de outubro 

Segunda fase (híbrida): 12 a 14 de novembro 

Terceira fase (presencial): 12 e 13 de dezembro 

Quarta fase (presencial): 18 e 19 de dezembro