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Ouro de Ana Marcela em Tóquio premia anos de dedicação; Paris-2024 é logo ali

Por Nuno Krause

Ouro de Ana Marcela em Tóquio premia anos de dedicação; Paris-2024 é logo ali
Foto: Jonne Roriz / COB

No exato minuto em que saiu da água, logo após conquistar a medalha de ouro na maratona aquática dos Jogos Olímpicos de Tóquio, sua primeira na carreira, Ana Marcela Cunha já começou a se preparar para a Olimpíada de 2024, em Paris. Foi o que revelou Fernando Possenti, técnico da baiana, ao Bahia Notícias. "Quanto mais atrasado for, pior. Menos oportunidades você tem, menos você se planeja. Tenho o planejamento dela finalizado até junho do ano que vem. E a gente não vai querer participar do próximo ciclo, a gente vai querer ganhar", destacou.

 

A circunstância exemplifica todo o esforço e dedicação necessários para uma atleta de alto rendimento como Ana chegar a tamanha conquista, enquanto nós, meros espectadores, admiramos cada braçada que faz parecer a coisa mais fácil do mundo. Não é. São 10 quilômetros nadando sem parar. "A gente se preparou muito para chegar aqui, e ela teve todo o mérito em relação às adversárias dela porque ela se preparou mais, se dedicou mais, conseguiu colocar em prática mais daquilo que ela trouxe para cá do que elas", lembra Possenti.

 

E a preparação destacada pelo técnico não vem apenas deste ciclo olímpico, entre a frustração de chegar em 10º na Rio-2016 e a glória do ouro em Tóquio-2020, mas sim do momento em que os avós, quando Ana ainda era criança, passaram a levá-la para a aula de natação. "Nós temos a medalha como a concretização de um resultado, de um objetivo, que não abrange só a mim, pai, técnico e equipe", explica Ana Patrícia Cunha, mãe da baiana campeã olímpica.

 

Ao lado de George, o pai, Patrícia administra a carreira de Ana Marcela, desde sua alimentação e rotina até a obtenção de patrocínios, coisa que poderia ser considerada um trabalho árduo e monótono, mas que para a orgulhosa mãe "é até bom, viu?", fala, entre risos. "A cabeça fica bem movimentada, e a vida dela não é tranquila, é bem movimentada. E agora, com essa medalha olímpica, a gente tem um monte de entrevista para dar, gente para atender", revela.

 

Basicamente, a rotina de Ana passa por acordar, tomar café, treinar, almoçar, descansar, treinar, jantar e acompanhar as aulas da faculdade de Educação Física da Unissanta, antes de dormir. Na maioria das vezes, até sobra tempo para brincar com os cachorros. Isso, obviamente com todas as particularidades de cada época, desde antes dos 17 anos, quando a atleta disputou sua primeira Olimpíada, em Pequim-2008. 

 

Todas essas provações direcionam Ana Marcela Cunha para o ouro olímpico, mas não só elas. Maratona Aquática também é estratégia, que, diferente do que pareceu aos leigos, não foi "ficar distante" das adversárias durante a prova em Tóquio. "A questão é que o pelotão, em circuito menor, com contornos de boias mais frequentes, fica mais em linha do que em coluna, mais alinhado uma atrás da outra do que o pelotão piramidal. Isso acontece pelo circuito e pelo número de atletas. A Olimpíada tem 25 atletas. Desses 25, cinco são da universalidade, ou seja, não têm o mesmo nível dos outros 20. Já ficam para trás no começo. Nas provas de mundial dela, tem 60, 70, 80 atletas, onde o contato corporal é maior pelo número e pelo desenho. Mas ela não ficou distante. Muito pelo contrário. Se ela ficasse distante, não se aproveitaria do vácuo dessas atletas que estavam à frente dela", explicou Possenti.

 

A motivação, após tudo isso, existe por si só. Não é preciso preleção, pilha, ou qualquer recurso motivacional que o técnico possa exercer. "Motivação é: a Olimpíada tá acontecendo, você está podendo fazer o que você gosta e ainda é remunerado por isso. Antes da prova, inclusive, eu peço para dirigente ficar longe, para o pessoal ficar longe, para deixar ela quieta, concentrada, lembrando daquilo que a gente planejou, fazendo seu aquecimento com a maior tranquilidade do mundo. Ela detesta que fiquem incomodando ela. Ela quer fazer a theraband, colocar o traje com toda calma, relembrar o percurso, nada de pilhar", conta o comandante.

 

Não é à toa que, na primeira Olimpíada de parceria efetiva, Ana Marcela Cunha e Possenti obtiveram o sucesso máximo. Bom para a Bahia. Bom para o Brasil. E bom, com certeza, para a família dela. "A gente gritava, mas foi muito bom. E quando ela pegou aquela reta, que tava na frente, eu tinha certeza que ela não ia deixar ninguém passar na frente. Porque Ana Marcela é muito determinada, e já vimos algumas provas dela assim. Quando ela bota na frente, é complicado. Tínhamos que ter cuidado, mas a gente gritava. Fiquei rouca", contou Ana Patrícia, feliz da vida.