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Esportes ao ar livre têm sido opção dos baianos na pandemia; cuidados são necessários

Por Nuno Krause

Esportes ao ar livre têm sido opção dos baianos na pandemia; cuidados são necessários
Fotos: Divulgação

Caso você já tenha saído de casa durante a pandemia, para fazer qualquer coisa, necessária ou não, deve ter visto, em algum momento, pessoas andando de bicicleta em conjunto. Grupos de 10, 20, 30 ciclistas pedalando no asfalto, em geral no acostamento, nos horários e dias mais variados possíveis. Se você deu um pulo na praia, por qualquer motivo que seja - caminhar, ver o mar, sentir o cheiro de sal ou a brisa batendo no corpo -, também pode ter observado outra prática muito comum: o futevôlei. Diante da necessidade de manter o corpo em movimento, o risco maior de contaminação pela Covid-19 em locais fechados tem gerado uma procura cada vez maior dos baianos por esportes ao ar livre.

 

"É impressionante a quantidade de pessoas que eu não via fazendo atividade e em menos de um ano praticamente quadruplicou. Principalmente na bicicleta. Nunca vi tanta gente pedalando em todos os lugares que eu vou. É um ponto positivo", afirma o professor de educação física, especialista em movimento, Felipe Macena, que tem no esporte uma inspiração de vida. "Atividade física é a única droga, o único remédio que nenhum laboratório vai conseguir colocar em cápsula. Isso nunca vai acontecer com a atividade física. É uma forma não só de inserção de pessoas na sociedade, não só na parte estética, mas um hábito saudável e necessário. Transforma vidas. Você sai de um estado letárgico e pode ter uma profundidade de sensações e movimentos que só a atividade lhe dá", destaca.

 

Professor Felipe Macena tem pedalado sozinho durante a pandemia (Foto: Arquivo Pessoal)

 

O estudo Year in Sport, divulgado anualmente pelo Strava, plataforma online de registro de atividades físicas, apontou um aumento considerável da prática de atividades físicas em 2020. No Brasil, pessoas correndo percorreram 133,1 milhões de quilômetros, contra 98,4 milhões em 2019, com média de 5,9 km para homens e 5,3 km para mulheres. Já na bicicleta, o número foi de 1,2 bilhão de quilômetros percorridos. Os homens tiveram distância média de 29,3 km, e as mulheres de 22,9 km, segundo reportagem do portal Viva Bem, do Uol.

 

O médico infectologista Igor Brandão afirma que fazer atividades físicas durante a pandemia é necessário. De preferência, elas devem ser realizadas em locais que tenham o menor risco de contaminação possível. Para isso acontecer, os praticantes e instrutores devem seguir os protocolos de prevenção da Covid-19. "[Com as orientações de distanciamento social] Não é para as pessoas entenderem que não têm que fazer nada. É que tem que fazer consciente dos riscos. Dentro de uma balança risco-benefício, a pessoa que pratica exercício físico de forma segura vai ter uma vida mais saudável. Obesidade e sedentarismo são fatores de risco para ter uma Covid grave. O segredo é o equilíbrio. Dar preferência a ambiente aberto, manter a distância, usar máscara, álcool gel. É essencial o exercício físico, uma boa alimentação e um bom sono. Isso aumenta a imunidade", pontua. 

 

O professor Dalton Vinhaes Dantas, especialista em bike indoor, jump, local e circuitos, já participou de diversos grupos de bicicleta e garante que a maioria deles cumpre os protocolos, mas estão mais flexíveis diante do avanço da vacinação. "São organizados e rígidos. Quando vão para a pista, andam em fila dupla por local. São duas filas indianas. Se mantêm distantes uma da outra. E usam, sim, máscara, quando em grupo. De um mês para cá, tenho observado algumas pessoas em grupos que não estão usando máscara. Sem vacinação, eles são muito exigentes. Os que conheço. E ninguém faz bobagem, porque, se fizer, é afastado", revelou ao Bahia Notícias.

 

Professor Dalton Vinhaes não costuma fazer trilhas urbanas (Foto: Arquivo pessoal)

 

Igor Brandão lembra que, a depender da atividade, os protocolos são diferentes. "O distanciamento ao ar livre é diferente de acordo com a movimentação da pessoa. Um Yoga, por exemplo, eu estou parado. Mas se estou andando rápido, é diferente. Se eu estiver andando de bicicleta, eu posso deixar um rastro maior. Tem que manter o uso da máscara, e manter o distanciamento social", lembra.

 

O artigo "Towards aerodynamically equivalent Covid-19 1,5 m social distancing for walking in running", indicado por Igor e elaborado por cientistas da Universidade da Pensilvânia, traz justamente essas referências. Quando parado, o indivíduo deve manter o distanciamento de um metro e meio. Caminhando, o número sobe para de quatro a cinco metros. Correndo ou pedalando em ritmo moderado, 10 metros, e correndo ou pedalando em ritmo intenso, 20 metros.

 

A maior procura pela bicicleta, por exemplo, tem gerado até um problema, segundo Vinhaes. "Chegou ao ponto de hipervalorização da bike. Faltam peças no mercado. Fora as vendas de site, imagine como está o mercado. Além do ciclismo em grupo para lazer, muita gente com medo de tomar ônibus comprou a bicicleta. Com as ciclovias instaladas em Salvador, as pessoas estão indo para o trabalho de bicicleta. É um mercado que abriu para todos os lados", destacou.

 

Apesar de os grupos serem, teoricamente, "seguros" em termo de chances de contaminação, o professor Felipe Macena tem preferido andar sozinho durante a pandemia. "A bicicleta se torna um reencontro com o deslocamento fácil e a possibilidade de você interagir com a natureza ao mesmo", diz, o que, para Vinhaes, se torna algo muito importante para a saúde mental. "Posso dizer que a bicicleta, de todos os esportes, é o mais familiar. Eu já pedalei com famílias, que tinha o filho de 11 anos e a vó de 62. Há um fortalecimento das emoções pela alegria de estar com a sua família. É um negócio que mexe muito com o emocional também", revela.

 

Felipe conta que os lugares mais frequentes pelos quais costuma pedalar são as trilhas que ficam atrás do Alphaville Litoral Norte, em Camaçari. Aos domingos, ele tem o hábito de fazer um percurso urbano, por ter menos carros na rua. "É mais seguro. Gosto de ir no Pelourinho, Bonfim, Ribeira. Sempre faço circuitos longos, porque eu gosto de pedalar e você acaba conhecendo a cidade de outro ângulo. Você aprende caminhos novos", relata.

 

ALTINHA OU SALÃOZINHO? 

Dá pra chamar de qualquer coisa, mas fato é que a altinha e o salãozinho, que são a mesma atividade, têm origem em um esporte que está cada vez sendo mais praticado aqui em Salvador: o futevôlei. Ian Santana, professor da modalidade há um ano e três meses, na região de Vilas do Atlântico, revela que, durante a pandemia, a visibilidade do esporte aumentou.

 

"Houve uma busca maior porque os campeonatos têm sido transmitidos pelo YouTube. O pessoal em casa tem acompanhado também no Instagram, e acaba querendo praticar. (...) Grande parte dos alunos vai em busca do futevôlei como uma forma de praticar a atividade física fora de uma sala de musculação, por exemplo. É uma forma mais dinâmica, que traz mais movimentos. Outros também buscam aprender o básico para aprender, jogar na praia, se divertir", afirmou, em entrevista ao BN.

 

Uma dessas pessoas que começou a praticar recentemente, há dois anos, foi a influenciadora Tainá Moreira. Ao Bahia Notícias, ela conta que conheceu o esporte por meio do marido. "Na época ele saía todo dia para jogar e eu fiquei curiosa, apesar de eu nunca ter tido um contato com outro esporte. [Comecei] pelo treino e pela prática do jogo em si, para fortalecer a parte respiratória. Eu sinto mais disposição, além de que, como é um esporte praticado em areia, fortalece a musculatura", conta. A prática parou durante o período de restrições mais rígidas, mas voltou recentemente. 

 

Influenciadora Tainá Oliveira começou a jogar há dois anos (Foto: Reprodução | Instagram)

 

De qualquer forma, o doutor Igor Brandão alerta para os cuidados que devem ser tomados durante essa prática específica. "Na hora que tiver um sol alto vai transpirar. A pessoa pode transmitir a doença de uma pessoa para outra", afirma. Por isso, o contato deve ser evitado, e, segundo Tainá, isso tem sido feito. "Uma quadra tem mais ou menos 9 metros de largura. Então é praticamente impossível [ter contato], até porque, para marcar o adversário, tem que manter distância", pontua.

 

Outros protocolos de prevenção têm sido seguidos, como utilização de álcool gel e de máscara, mesmo durante as partidas. Apesar disso, diversos vídeos publicados no Instagram com a prática da modalidade mostram que essa segunda orientação não tem sido cumprida com tanto rigor. Mesmo com o aumento da imunização contra a Covid-19 e com a diminuição de ocupação nos leitos de UTI nas últimas semanas, a prática esportiva, como destacou Igor Brandão, mesmo ao ar livre, ainda tem a necessidade de "usar máscara, higienizar as mãos com álcool gel e distanciamento social". Neste contexto, ela será benéfica.