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Baianos lidam com frustração de não carimbar vaga em Tóquio e projetam futuro

Por Leandro Aragão / Nuno Krause

Baianos lidam com frustração de não carimbar vaga em Tóquio e projetam futuro
Fotos: Divulgação / Divulgação / Rodolfo Vilela / Sátiro Sodré

Participar dos Jogos Olímpicos é o sonho de qualquer esportista. O evento reúne apenas os atletas do mais alto nível desde 1896. Contudo, mesmo estes às vezes não conseguem alcançar a glória desejada. Neste ano, quatro baianos que já fizeram muita história no esporte passaram por essa frustração, e não irão à Olimpíada de Tóquio: os maratonistas aquáticos Allan do Carmo e Victor Colonese e os canoístas Erlon de Souza e Valdenice Conceição. A próxima oportunidade só ocorrerá em 2024, em Paris. Para uns, representa a possibilidade de iniciar um novo ciclo com foco total. Para outros, talvez não. 

 

DESIDRATAÇÃO NO FRIO 
O nadador Allan do Carmo ficou de fora dos Jogos Olímpicos de Tóquio pela eficiência do traje de borracha usado para baixas temperaturas da água. Na seletiva mundial disputada no dia 20 de junho na cidade portuguesa de Setúbal, que distribuiu 15 vagas, ele completou a prova de maratona aquática de 10km em 2h14min29s50, na 44ª colocação.    

 

"Na seletiva, eu estava muito bem treinado e condicionado, mas senti um pouco em relação ao uso do traje de borracha, que é uma dificuldade que eu tenho. Eu desidratei, passei mal pela grande perda de líquido. Tanto que depois eu tive que tomar soro e fiquei medicado lá. Isso foi uma circunstância que não deu para avaliar meu desempenho real numa prova, se eu estava numa condição de classificar ou não. Então isso atrapalhou um pouco minha prova e deixando um pouco de lado de poder avaliar essa condição de estar bem treinado ou não, classificado ou não. Mas eu estava me sentindo muito bem treinado, achava que teria condições de estar disputando uma das vagas tanto dos 10 como do continente. Se tivesse uma prova normal, na condição física normal do início ao fim... Então para mim, isso deixou sem poder me avaliar numa prova de nível alto como a seletiva olímpico", afirmou em entrevista ao Bahia Notícias.

 

Segundo Allan, a partir de 2017, o uso do traje de borracha passou a ser opcional quando a temperatura da água marcar entre 20 e 18ºC e obrigatória entre 18 e 16ºC.

 

"A água estava 19ºC mais ou menos e tinha o traje de borracha. Uma das funções dele é segurar a temperatura, não deixar que você receba muito a temperatura da água e não entre em hipotermia, não sinta muito frio. Eu transpiro muito, desidrato bastante. Com essa roupa não dá para ter a troca de calor com a água gelada e ela acaba me aquecendo muito por dentro", explicou. "Isso me fez desidratar, me debilitou durante a prova", completou.

Foto: Divulgação

 

Às vésperas de completar 32 anos, Allan do Carmo ainda não definiu seu futuro a partir de 2022, o que inclui o próximo ciclo olímpico para os Jogos de Paris 2024.

 

"É uma coisa que vou definir de tempo em tempo, ainda está muito recente. Vou fazer 32 anos agora em agosto. É uma coisa que ainda vou definir, não tem nada certo. Vou no meu tempo, no meu momento fazendo o que eu gosto que vai me dando prazer a cada momento", disse. "Estou no Rio de Janeiro. Voltei para cá, já estou treinando. Passei 10 dias de folga, uma semana em Salvador. Mas já estou aqui há uma semana mais ou menos. Voltei a treinar no dia 1º para dar continuidade nas competições desse ano", continuou.

 

Campeão mundial em 2014, Allan do Carmo iria para a sua terceira Olimpíada e tentaria conquistar sua primeira medalha. Antes ele havia participado das edições de Pequim-2008 e Rio-2016.

 

ATRAPALHADO POR LESÃO
O nadador baiano Victor Colonese vinha ganhando destaque nos últimos anos na maratona aquática e chegou a sonhar com a disputa dos Jogos de Tóquio. Em 2019, ele terminou em quarto lugar na prova dos 10km, mas acabou herdando a medalha de bronze quase um ano depois com o doping do argentino Guillermo Bertola, que havia ficado com a prata. O atleta vinha num bom ritmo, mas acabou sendo atrapalhado por uma lesão na reta final do ciclo olímpico.

 

"Esse ciclo foi um pouco atípico, a gente teve a pandemia. Eu estava numa crescente muito boa até com uma medalha no Pan-Americano no início desse ano depois da desclassificação por doping do argentino. Eu vinha numa crescente, mas no final do ano passado tive uma lesão [tendinite nos dois punhos] e aí atrapalhou um pouco a reta final do ciclo e por isso não consegui a vaga", lamentou entrevista ao BN. "Mas foi um ciclo importante, aprendemos bastante coisa, tiramos lições dele. Agora é o momento para analisar tudo que fizemos de bom para continuar e o de negativo para melhorar para alcançar na próxima Olimpíada", completou.

 

Foto: Flávio Hopp

 

Após não ter o passaporte para o Japão carimbado, Colonese tirou um período de férias, mas já retornou aos treinamentos focado em conseguir uma vaga nos Jogos na França.

 

"Tirei um período de férias, mas já voltei aos treinamentos. Passei por uma mudança de treinador agora e já estou me adaptando ao novo trabalho para buscar melhores resultados nesse novo ciclo. Meu objetivo é classificar e representar o Brasil da melhor maneira possível em Paris 2024", projetou.

 

Para o novo ciclo olímpico, ele também está com um novo treinador. Após Márcio Latuf deixar a Unisanta, Gerson Luiz Pazian assumiu o comando da equipe.

 

"Tem algumas diferenças no trabalho, mas ele [Gerson] é um técnico que já me conhecia e via algumas coisas que eu podia melhorar. Então, ele está fazendo um trabalho mais voltado para essas coisas que ele acha que eu posso melhorar", comentou.

 

FALTA DE APOIO E LESÃO

"Se a pandemia não existisse, e os Jogos Olímpicos tivessem cumprido sua data original, em 2020, você conquistaria a vaga?", perguntou a reportagem à canoísta Valdenice Conceição, 31, destaque do Brasil na modalidade. A resposta foi direta: "Estava bem preparada. Vinha treinando em Maraú, na Bahia. Não tive apoio, mas com certeza, se a Olimpíada fosse no ano passado, eu estaria nas cabeças e conquistaria um resultado bem expressivo para a canoa feminina". 

 

Medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de 2015, em Toronto, no Canadá, a baiana de Itacaré já não tinha participado da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. Dessa vez, ela precisava vencer a Copa do Mundo de canoagem, que funcionou como Pré-Olímpico, para garantir vaga em Tóquio. Na final de C1 200m feminino, contudo, Valdenice ficou com a terceira colocação (relembre aqui).

 

Valdenice ficou com o terceiro lugar no Pré-Olímpico (Foto: Rodolfo Vilela / Rede do Esporte)

 

Na opinião da atleta, duas coisas, que inclusive se relacionam, foram determinantes para o desempenho "abaixo" do esperado: em primeiro lugar, o frio em Barnaul, na Rússia, local da competição. "Estava preparada para essa vaga, mas não estava crente que seria em Barnau, na Rússia, bem perto da Sibéria. O que me prejudicou muito foi o frio. Estava acostumada a treinar no calor, em um lugar tropical. Isso foi o fator chefe para a minha apresentação. E a questão da adaptação, que não tive. Foram três dias de viagem, não consegui me adaptar ao fuso horário, e um dia depois eu tive que competir. Pela logística, eu teria que ir alguns dias antes, para tentar a vaga olímpica", lamentou.

 

Em segundo lugar, a falta de apoio à canoagem feminina. "Eu, como principal atleta do Brasil, vejo que o país tem que construir uma base firme e forte para o próximo ciclo. Se não for eu, que venha outra atleta suprir esse lugar que eu tô agora. Não só treinamento, local, auxílio, mas todo o apoio que o atleta deve ter para chegar bem na próxima Olimpíada. Não só um salário mínimo, não só um treinador ali acompanhando. Isso tem que ser um grupo inteiro. Temos que ter 100% de apoio, como todos no masculino têm. Se não, no próximo ciclo vai acontecer a mesma coisa, não vai ter representante na canoa feminina. Por falta de apoio. Um por cento [de apoio] não é vaga garantida. Eu não tive 2%, por isso não conquistei a vaga. Se eu tivesse 50% do apoio que o masculino tem, eu conquistaria", expôs. 

 

Os próximos passos da canoísta ainda são incertos. Ela revelou ao Bahia Notícias que está refletindo muito sobre se vai continuar ou não para o próximo ciclo. "É uma pergunta que estou fazendo para mim mesma no momento".

 

Na canoa masculina, a situação é semelhante, porém com um infortúnio diferente. Erlon de Souza, medalha de prata na Rio-2016, na categoria C2 1000m, ao lado de Isaquias Queiroz, lesionou o quadril e ficou de fora de Tóquio. No ano passado, a presença do baiano de Ubatã estava praticamente certa.

 

Erlon não quis se posicionar sobre o caso para a reportagem, mas publicou um vídeo no Instagram no dia que recebeu a notícia de que não iria ao Japão. "Fui tendo um desafio muito grande no decorrer das semanas, e chegou um ponto que eu percebi que não chegaria em alto nível, a ponto de conquistar uma medalha ou chegar aos Jogos bem. Vou ter que adiar esse sonho, começar a pensar em 2024, mas primeiro tratar, passar por uma cirurgia, porque o tratamento que eu fiz com infiltrações não foi o suficiente para amenizar as dores que eu estava sentindo", revelou.

 

Erlon e Isaquias também levaram o bronze nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, em 2019, e o ouro mundial em 2015. O substituto do canoísta será o também baiano, de Ubaitaba, Jacky Godmann, de 22 anos, que inclusive é sobrinho de Valdenice Conceição e de Vilson Conceição, medalhista pan-americano em 2007. Ele e Isaquias disputarão a mesma prova da categoria C2. A estreia deles ocorre no dia 2 de agosto.

 

Erlon de Souza e Isaquias Queiroz já ganharam diversas medalhas para o Brasil

 

As chances de medalha, na visão de Valdenice, são de praticamente 100%. "Creio que os meninos fizeram uma boa preparação. Acredito que o Brasil venha de lá com medalha, para consagrar a canoagem do Brasil", finalizou.