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Com 81 anos de história, Leônico investe na base, mas não desiste de voltar ao Baianão

Por Ulisses Gama / Leandro Aragão

Com 81 anos de história, Leônico investe na base, mas não desiste de voltar ao Baianão
Guiovaldo (agachado no meio) | Foto: Arquivo Pessoal

Neste sábado de Aleluia (3), a Associação Desportiva Leônico completa 81 anos de fundação. Para contar um pouco da história de um dos clubes de futebol mais tradicionais da Bahia, a reportagem do Bahia Notícias entrou em contato com o senhor Guiovaldo Veiga. Lúcido aos 90 anos, ele é filho do fundador da agremiação, Osvaldo Veiga, e já defendeu o "Moleque Travesso" como jogador e também como presidente. A história do grupo, fundado em 1940, ainda é vívida em sua memória.

 

O Leônico começou sem nenhuma intenção de chegar ao profissional. A ideia era apenas disputar os campeonatos de futebol entre as empresas instaladas em Salvador. Esportista, Osvaldo era remador do Vitória e gostava de jogar o esporte bretão.

 

"Ele jogava futebol, mas mesmo jovem foi trabalhar numa empresa alemã exportadora de fumo. E aqui tinha um campeonato no final de outubro chamado Torneio Caixeiral, que comemorava o Dia dos Comerciários. Era o maior torneio de Salvador, porque envolvia as grande firmas da cidade. Então apareceu um alemão, naturalizado argentino, para ser diretor da empresa e que também gostava de futebol. Meu pai era requisitado para jogar em outros clubes desse torneio. Mas ele propôs ao alemão-argentino fazer o time da empresa Carl Leoni & Co", contou.

 

Guiovaldo (segundo direita para esquerda) | Foto: Arquivo Pessoal

 

O nome Leônico foi ideia de Osvaldo. "Era o Leoni da firma e Co, de companhia", explicou Guiovaldo. Já as cores do novo clube, grená e branca, foram inspiradas no Independiente, da Argentina, já que o diretor alemão argentino foi conselheiro da agremiação de Buenos Aires e providenciou as camisas. "Ele encomendou as camisas na Argentina. Era camisa de seda com botões até o meio da barriga e gola branca, com calção e meia branca também. Essa camisa durou uns 15 anos, foi de 1960 até entrarmos no profissional", lembrou. "Eu joguei com ela", fez questão de frisar.

 

Além do torneio entre os comerciantes, o Leônico também disputou campeonatos entre os bairros e jogos amistoso. Até que, em 1942, o presidente Osvaldo resolveu filiar o novo clube na Federação Baiana de Desportos Terrestres participando do campeonato de amadores, que era a terceira divisão amadora.

 

"Eu digo que o Leônico fez o primário, ginasial e o científico para conseguir o profissionalismo. Mas naquela época foi assim com o Leônico, com o Colo-Colo foi a mesma coisa. Todo mundo começava na terceira divisão de amadores, tinha que passar pela segunda, primeira para chegar no profissional. Os times de hoje em dia não chegam ao profissionalismo por ascensão", disse.

 

O Leônico passou a colecionar títulos das divisões amadoras até chegar ao profissional e conquistar o título do Baianão em 1966. "Daí o Leônico começou a ganhar troféus no interior, em Salvador. Chegamos a ser campeões em 1966, vice-campeões 1974, 1984, cinco vezes campeões do torneio de incentivo, três vezes campeão do torneio início", relembrou.

Foto: Reprodução / Blog História do Futebol

 

LEVANTANDO FUNDOS PARA JOGAR
A diretoria do Leônico não tinha nenhum membro rico, que pudesse bancar o clube do próprio bolso. Guiovaldo lembra que a saída para isso era fazer excursões pelo interior e arrecadar dinheiro disputando jogos amistosos.

 

"Nós tínhamos uma diretoria de quase todo mundo com nível superior. Então, cada um tinha um colega que era prefeito de não sei da onde. O Leônico foi quase um time de Itabuna, tínhamos um presidente de honra que era de lá. Aí levávamos até presidentes de federação. Esse campeonato estadual de hoje é por causa do Leônico. Porque ninguém viajava para Juazeiro para jogar. Mas nós fomos para lá jogar em campo de terra batida para buscar dinheiro. Jogamos até na praia com o time profissional", falou.

 

APELIDO
O Leônico é conhecido como 'Moleque Travesso' do futebol baiano. Segundo Guiovaldo, o apelido foi dado pela imprensa da época, já que aquele time desconhecido entre os profissionais, sem torcida, começou a fazer frente à dupla Ba-Vi.

 

"Foi um clube que surgiu sem torcida, sem nada e começou a ganhar, enfrentando Bahia e Vitória de igual para igual, ganhando títulos. Aí começaram a chamar de Moleque Travesso. Acho que copiaram lá da Juventus-SP, que é grená também", sugeriu.

 

JOGADOR E PRESIDENTE
Como diz o ditado, 'filho de peixe, peixinho é'. Guiovaldo seguiu os mesmos passos do pai. Na época de colégio, ele já gostava de jogar futebol e ao crescer passou a ter uma vida no clube como jogador amador até assumir a presidência, passando antes pelo cargo de diretor, quando o Moleque Travesso conquistou o Baianão de 66. Inclusive, ele é o único dirigente vivo daquele título.

 

"Foi morrendo um por um. De vivo do título baiano, só tem eu, que era diretor", disse. "Foi um título muito bom, mas depois tentamos outro em 1984. Fomos vice-campeões e o Bahia foi campeão. Mas temos muitos troféus e muitos títulos", completou.

Leônico vice-campeão baiano em 1984 | Foto: Divulgação / Leônico

 

No entanto, não é a conquista estadual que ele guarda com mais carinho e sim dos tempos amadores. "Eu tenho um título que gostei muito. Foi de campeão universitário de 58. Na época o campeonato era forte", ressaltou.

 

Após atingir a profissionalização, Guiovaldo disse que disputou apenas dois jogos pelo Lêonico.

 

"Só joguei dois amistosos. Não dava mais para jogar, não, eu estava com 30 e tantos anos. Além de ser advogado, eu era procurador e não tinha tempo mesmo, era muito ocupado", justificou. "Mas uma vez fomos jogar em Juazeiro e eu entrei num tempo. Fomos também jogar no Acupe. Faltou jogador e eu entrei também. Tinha tomado um bocado de cerveja de manhã e o jogo era de tarde, mas eu não sabia que ia jogar. Aí disseram que eu tinha que entrar de qualquer forma. Era amador, mas era bom", relembrou.

 

"Fui presidente em 1974 na primeira vez e depois fui presidente mais uns cinco anos. Aí João Guimarães pegou e ficou até 1989. Em 1990, eu peguei o clube, mas não tinha mais condições, fiquei sozinho, porque ficou saindo um por um", contou.

 

SUSPENSÃO DAS ATIVIDADES
As dificuldades financeiras fizeram com o que o Lêonico fechasse as portas na década de 1990. Antes disso, o clube chegou a ser a terceira força da Bahia no ranking nacional entre 1966 e 1992. 

 

"Sempre fomos vencedores, nunca fomos lanternas, mas na hora que não podíamos mais, paramos. Ainda fiquei na presidência até 1990", contou. "Infelizmente tudo tem seu tempo. Fazíamos por amor, ninguém era rico, todo mundo classe média e levamos até quando pudemos, mas não deixamos morrer", lamentou.

 

RETORNO
Em 2007, o Leônico reabriu as portas e chegou a disputar a Série B do Baiano de 2014, sob a presidência do filho de Guiovaldo, Jairo Veiga. Porém, o time não conseguiu o acesso à elite e no ano seguinte passou a focar nas categorias de base.

 

"Quando o Leônico foi rebaixado em 1993, meu pai ficou desanimado. A diretoria gastava do bolso deles. Como ficou subindo e descendo, resolveram parar. Conversando com meu pai, que sempre ficava preocupado com a parte financeira, procurei algumas pessoas, dentre elas Sinval Vieira. Ele me orientou a começar pela base e disputamos o sub-17. Em 2014, inscrevi o Leônico na Série B para ver os gastos. Mas vimos que é muito caro. Então, em 2015 começamos a trabalhar só com a base. Nosso intuito é fazer jogadores e repassar para outros clubes. Com isso começamos a conhecer outros dirigentes e nisso apareceu nosso vice, Lula", afirmou o atual mandatário. "Hoje já fazemos uma administração profissional, temos 28 jogadores em vários clubes no Brasil como Guarani, Avaí, até na segunda divisão de Portugal. Fazemos parcerias com os clubes para ver se eles estouram e recebemos um aporte financeiro", finalizou.

 

Como revelou o BN (leia aqui), o Leônico tenta fechar uma parceria com um grupo de empresários para montar um time profissional. A ideia é voltar a disputar a Série B do Baiano a partir de 2022.

 

"Infelizmente não podemos comemorar os 81 anos com essa pandemia. Mas vamos voltar com fé em Deus para a segunda divisão forte em breve", declarou Guiovaldo Veiga.

Foto: Divulgação / Leônico

 

MUSEU DO ESPORTE BAIANO
Entusiasmado em contar a história do Leônico, Guiovaldo tem o sonho de montar um memorial do clube. Inclusive, ele chegou a ter um espaço próximo à sua residência, na capital baiana, onde criou um pequeno museu. Porém, precisou fechar o local e guarda cerca de 100 troféus em casa.

 

Antes do Bahia iniciar o projeto, Guiovaldo conta que chegou a procurar as empreiteiras que construíram a Arena Fonte Nova para montar um espaço do Moleque Travesso.

 

"Estávamos esperando para fazer nosso memorial. Eu tentei na Fonte Nova, porque tem muita área. A OAS concordou, mas a Odebrecht achou que era cedo e depois veio esse negócio da Lava-Jato. Aí depois veio o Bahia e alugou uma área e fizeram o memorial deles. Mas minha ideia era falar com o presidente da OAS e pegar uma área, não só para o Leônico, mas cada um pegava uma pedaço e faziam as exposições com o que tinham. Seria uma atração como tem no Pacaembu", disse. "No Pacaembu tem o museu moderno que passa até filmes. Tem uma revista do Leônico lá. Uma livraria de Campinas, quando eu soube que eu estava lançando uma revista, solicitou e eu mandei uma. Quando o Pacaembu estava sendo reinaugurado, solicitaram, aí mandei umas duas. Não temos uma biblioteca esportiva aqui em Salvador. Não temos. Eu estou vivo ainda para colaborar, mas não tenho área. A Federação nunca se interessou", criticou.