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Conheça Ana Augusta, a 'Mãe Malvada' que dá nome à prova de triathlon de Juazeiro

Por Leandro Aragão

Conheça Ana Augusta, a 'Mãe Malvada' que dá nome à prova de triathlon de Juazeiro
Ana Augusta (no meio) e seus nove filhos | Foto: Arquivo Pessoal

Neste domingo (14) acontece a segunda edição do Triathlon Mãe Malvada, em Juazeiro. A largada está marcada para as 6h com a disputa da natação no Rio São Francisco. A competição é organizada pela Federação Baiana de Triathlon (Febatri) e vale como segunda etapa do Campeonato Baiano da modalidade. A prova, na cidade do Velho Chico, tem esse nome em homenagem à triatleta Ana Augusta, que desempenha um papel importante de desenvolvimento do esporte na região e trata os atletas como filhos. Mas por que esse apelido ruim para uma mulher que trabalha em prol da modalidade? Única mulher do grupo de ciclistas "Ranca Pulmão", a própria Mãe Malvada, de 32 anos, tem uma explicação simples.

 

"Um belo dia, a gente foi fazer um percurso de 226 km. Saímos eu e mais 20 e poucos homens. No final, só eu e mais dois completaram o percurso. E esses vieram o tempo todo na minha roda e tomando vento na cara (risos). Depois disso, o pessoal do Ranca Pulmão começou a falar: "Isso não é uma mãe nada, isso aí é uma mãe malvada! Deixou os filhos todos no meio do caminho". Todos eles subiram no carro. Aí ficou esse apelido feio", contou ao Bahia Notícias. "Mas eu sou mãe boa, viu? Não sou nada de mãe malvada!", completou.

 

Tudo começou por causa de uma depressão pós-parto. Mãe do garoto João Lorenzo, agora com quatro anos, a advogada Ana Augusta Soares teve problemas após o nascimento da filha Clara, que hoje tem dois anos. Ao procurar ajuda para tratar a doença, ouviu do especialista que precisava ocupar a cabeça com algo que ela gostasse de fazer. "Esporte!", respondeu Ana que antes não corria mais do que 10 km, fazia musculação e de vez em quando dava umas pedaladas de mountain bike.

Foto: Arquivo Pessoal

 

Foi debaixo da ponte Presidente Dutra, que liga Juazeiro a Petrolina, que ela conheceu Patrick, de 22 anos. O jovem tinha o hábito de nadar no rio uma vez por semana com outros oito amigos, Abelardo, Alberto, Ueslei, Filipi, Jorginho, Jarlei, Tom e Gil Bala, e todos eram praticantes de triathlon. Só que ao conhecer os demais garotos, Ana Augusta percebeu a forte rivalidade entre eles.

 

"Eles resolveram disputar uma prova de triathlon em Salvador pela primeira vez. Fui também e percebi que eles brigavam muito, um discutiu com o outro. Eles competiam entre si e não se ajudavam. Um queria ganhar do outro. Eles só foram essa vez e depois se afastaram", afirmou.

Foto: Arquivo Pessoal

 

Através do grupo, Ana foi apresentada ao triatlon e começou a treinar com os garotos. Só que a relação não ficou apenas no esporte. O lado mãe de Ana Augusta falou mais alto e ela passou a educá-los.

 

"Comecei a uni-los, a dizer que eles precisavam ter cuidado um com o outro, a chamar de irmãos e que a gente tinha que competir contra os outros e não com os nossos daqui da cidade, e precisávamos ajudar um ao outro para que todos crescessem. Aí, nesse negócio de ficar preocupada com eles, de ajeitar, tratar como filhos e que eles fossem irmãos, foi quando apareceu o nome de 'Mãe'. Eles diziam que eu era tipo uma mãe, que uniu todo mundo, que fazia tudo e se preocupava. Aí comecei a treinar de verdade com eles", relembrou.

 

Ana Augusta começou a treinar triathlon em janeiro de 2018. E oito meses depois disputou o seu primeiro Ironman, em Maceió. "A primeira prova conclui em 5h6min, mas senti a pior dor da vida, nem se compara com as do meus dois partos que foram naturais e em casa, sem nenhuma intervenção", declarou. "Cheguei por ela, Clarinha. Ela não tinha nem um ano de vida. Treinei todos os dias sem saber o que era dormir uma noite inteira, mas eu precisava fechar esse ciclo. Deixei tudo nessa prova. Cruzei a linha de chegada e disse para mim mesma que nada é mais forte do que alguém que se reconstruiu", relembrou.

 

Em março deste ano, Ana Augusta foi campeã do Ironman de Bariloche, na Argentina. Com o resultado, ela conquistou uma vaga para o Mundial, que vai acontecer no próximo mês de setembro, em Nice, na França.

Foto: Arquivo Pessoal

 

I EDIÇÃO DO MÃE MALVADA
O grupo que começou com a mãe e seus nove filhos aumentou para cerca de 20 atletas. E esse carinho e dedicação resultou na primeira edição do Mãe Malvada.

 

"No ano passado, por eles terem esse carinho todo comigo, junto com algumas empresas, por gratidão, resolveram fazer esse triathlon para comemorar o meu aniversário. Aí teve recorde de inscrições. Foi uma coisa tão linda que esse ano tornou a se repetir, mas nesse ano pela Febatri", contou Ana, que faz aniversário no dia 2 de agosto. A prova de 2018, no entanto, acabou antecipada para o dia 28 de julho.

 

Mas a Mãe Malvada nunca deu ouvido às críticas e é só elogios aos filhos. "Eles são as pessoas mais ricas que já conheci na vida! Rica de amor, de ajuda ao próximo, de fidelidade, de respeito! Embaixo da ponte, não tem a doutora, a esposa de fulano... Aqui somos verdadeiramente iguais! Nos amamos", derreteu-se.

Foto: Arquivo Pessoal