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Recém-formado, ex-volante Xavier busca mais qualificação para retornar ao mundo da bola

Por Leandro Aragão

Recém-formado, ex-volante Xavier busca mais qualificação para retornar ao mundo da bola
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

Assim que decidiu pendurar as chuteiras no primeiro semestre de 2014, Anderson Conceição Xavier, conhecido nos gramados como Xavier, já planejava seguir no futebol. Sem perder tempo, ele entrou para a faculdade de Educação Física seis meses depois e no final do ano passado concluiu o curso. Apesar da pressa nos estudos, o ex-jogador, de 39 anos, ainda não definiu qual função vai desempenhar. 

 

"O rio segue o seu fluxo. Desde os meus 14 anos que eu vivo no futebol. Entrei na base do Vitória com 15 e segui até 2014 como atleta profissional. Então, a gente tem que pegar um direcionamento", explicou em entrevista ao Bahia Notícias. "Num primeiro momento foi para me qualificar e estar próximo da área em que eu sempre atuei. Mas eu também não sou aquele cara engessado, tenho algumas outras possibilidades dentro do futebol ou não. Temos que estar sempre nos qualificando para estarmos prontos para o mercado de trabalho", completou.

 

Mas engana-se quem acha que o curso de Educação Física é o ponto final de Xavier. Em paralelo à graduação, ele também fez um curso técnico em Gestão Esportiva e está no quarto semestre de inglês. O ex-volante nem bem pegou o canudo de formado e já está escolhendo qual pós-graduação irá fazer. "Ainda quero começar nesse semestre, já entrei em contato com duas instituições para analisar as possibilidades e eu, graças a Deus, não tenho aquela pressa de já estar empregado, de já estar em algum lugar", falou.

 

A velocidade que teve para retornar aos bancos das salas de aula contrasta com a paciência para buscar todas as qualificações necessárias. Xavier não quer retornar ao mundo da bola de favor e, por isso, decidiu cair de cabeça nos livros em busca de mais conhecimento e qualificação. A ideia é estar preparado para a oportunidade que surgir no momento que julgar mais apropriado para voltar ao futebol. "Meu foco inicial é só minha qualificação, não estou com pressa de assumir algum cargo, apesar dos convites sempre aparecerem e, por você gostar do meio, acabar cedendo. Então, quero estar pronto para não ir como favor e sim, qualificado para assumir qualquer um dos cargos que seja. Esse semestre também vou tentar buscar fazer a licença B da CBF para treinador, independente de pensar em ser treinador ou não. Quero estar sempre agregando valor à minha história".

 

Apesar da vontade de retomar os estudos, a volta às aulas aos 34 anos não foi nada fácil. Para conseguir superar essa dificuldade e se readaptar melhor, ele resolveu recusar alguns convites não só para voltar a jogar, como também seguir em outras funções no futebol.

 

"Quem parou de estudar com 18 anos e volta a estudar com 34, a dinâmica é completamente diferente. A gente sabe, tinha aquele foco de todo dia estar no treino, sem se preocupar muito com esse lado. Quem estudou e fez faculdade sabe que cada dia tem que estar ali correspondendo cada matéria, então queria focar mesmo e por isso não aceitei. Agora, estou começando a analisar as possibilidades que continuam se abrindo aí e fico feliz por isso", pontuou.

 

Foto: Reprodução

 

RECONHECIDO NA FACULDADE E DISPUTADO NOS BABAS
Xavier sempre foi um cara discreto fora dos campos. Além da dupla Ba-Vi, ele também defendeu outros dois dos grandes clubes do futebol brasileiro: Vasco e Corinthians. A mesma discrição que tinha nos tempos de atleta, ele tentou, em vão, manter na faculdade. O anonimato durou apenas três dias.

 

"Eu cheguei lá tranquilo, na minha, me apresentei como Anderson, que é o meu primeiro nome. Os outros alunos ficavam olhando, mas sempre com um pé atrás. Aí no terceiro dia, chegou um professor que deu um palavrão: "Rapaz, é você!". Aí eu falei: "Professor, depois a gente conversa"... Ele veio: "Rapaz, eu sou seu fã!". E eu tentando fazer com que o professor ficasse mais comedido, mas aí a galera reconheceu e ficava nessa aproximação, querendo saber um pouquinho da carreira", contou aos risos e ressaltou o carinho que recebe das torcidas tanto do Vitória, quanto do Bahia.

 

Já desmascarado, outro momento curioso era na hora do "baba" com a galera da faculdade. "Sempre tinha o time contra que não queria, reclamava e falava que eu tinha que jogar meio tempo em cada time. Eu levava numa boa", relembrou.

Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

 

O MOMENTO DE PARAR
Escolher a hora certa para pendurar as chuteiras é uma decisão crucial para um jogador de futebol. Apesar da vontade de retomar os estudos, Xavier às vezes tem dúvidas se optou pela aposentadoria no momento mais correto. "Às vezes o jogador tem muita dificuldade de entender o momento de parar. Na verdade, muitos dizem que o meu ainda não tinha chegado, mas eu não tinha mais paciência. Até um amigo meu dizia que eu não tinha mais o perfil para clube grande naquele momento e não tinha mentalidade para clube pequeno. Tive a infelicidade de jogar em dois menores onde não tinham respeito com o atleta, não tinham condições de trabalho, alimentação. Não tinha a mínima estrutura de clube. Aí depois de ter lutado, ter conseguido tantos feitos na carreira, ficar batendo 'biela', digamos assim, sendo desrespeitado, sendo desvalorizado em clubes menores não era para mim. Então, resolvi logo virar a página", explicou. Os dois últimos clubes da carreira do jogador foram o Botafogo-BA e o Galícia.

 

Porém, mais do que a hora certa de pendurar as chuteiras, Xavier lamenta um pouco a época em que jogou. Comparando com o seu tempo, ele acredita que atualmente os jogadores recebem bem mais do que antigamente. "Eu subi com um ou dois salários mínimos, joguei o Brasileiro para depois brigar por maiores salários. Hoje eu vejo que só por serem promessas, os meninos já ganham valores que podem ajudar a família. Outro dia eu dei uma palestra para uns meninos e falei que eles já poderiam ajudar a família sem entrar no profissional, coisa que eu só consegui fazer com dois, três anos de carreira".

 

ESCOLA DE FUTEBOL
Xavier não se retirou 100% do futebol para retomar os estudos. Ele é dono de uma academia de futebol, a X5 Centro de Futebol, localizado no bairro do Imbuí. Trata-se de uma escolinha particular para garotos darem seus primeiros chutes. "Tenho a academia de futebol que peguei no intuito de estar num laboratório, aprendendo a gerenciar, aprendendo a lidar com garotos, aprendendo toda a parte operacional. Isso me deu uma maturidade muito grande. Eu não me preocupei em fazer divulgações para ter muitos alunos e sim para fazer essa gestão. Isso me motiva a de repente continuar dentro do futebol", ressaltou.

Foto: Reprodução / Instagram

 

Apesar da escolinha ser particular, Xavier tem trabalhado na criação de uma ONG para receber incentivos e dar oportunidade também para as crianças mais carentes. O que motiva o ex-volante são as demonstrações de gratidão que recebe por tirar alguns meninos, moradores de bairros mais carentes, do mau caminho.

 

"Não é só futebol, envolve cidadania, cuidar da família. Tirar algumas crianças da criminalidade. Financeiramente não me dá retorno, mas para mim, ver um pai chegar chorando e agradecendo a mudança de conduta e de postura dos filhos nos bairros... Uma vez fui para um baba de Keno [ex-jogador do Palmeiras] lá em São Caetano e um cara me abraçou por trás lá. Eu olhei assustado, porque não o conhecia. Aí o cara me agradeceu dizendo que estava muito feliz com a ajuda que eu estava dando para um menino do bairro dele. Ele disse que esse menino era tido como problemático e que possivelmente entraria para o crime. Mas hoje ele se identifica como jogador da X5, é um menino educado, anda com postura e tem ajudado outros meninos do próprio bairro", contou.

 

"Essas coisas nos faz entender que temos sim que pensar no retorno financeiro, porque tenho três filhas, mas temos que também estar próximos e ajudar o social, porque eu vim do Calabar e alguém um dia me ajudou, mesmo de forma precária de conhecimento técnico, mas me deu um espaço onde eu pude sonhar e conseguir iniciar o sonho focando no futebol", completou.