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Aos 24 anos, baiano tenta carreira de técnico na Arábia após aposentadoria precoce

Por Leandro Aragão

Aos 24 anos, baiano tenta carreira de técnico na Arábia após aposentadoria precoce
Foto: Divulgação

Foi-se o tempo que técnico de futebol era sinônimo de um homem mais velho a partir dos 40 anos, com os primeiros cabelos brancos aparecendo. Atualmente, alguns clubes do futebol mundial têm apostado em professores jovens. O soteropolitano Fabiano Ferreira não é muito conhecido no futebol da Bahia, mas já aos 24 anos vem trilhando seu caminho como treinador. Ele comanda o time sub-17 do Feid Sports Club, da Arábia Saudita.

Fabiano com o time sub-17 do Feid Sports Club | Foto: Divulgação

 

Fabiano chegou no clube árabe em setembro deste ano para dirigir o time sub-15. Cerca de um mês depois foi efetivado para a categoria acima. A precoce carreira de treinador começou quando ele teve que escolher entre ficar com uma andorinha na mão ou deixar as duas voando. Aos 18 anos, ele decidiu pendurar as chuteiras para estudar educação física. "Tive uma lesão no joelho com 18 anos, quando resolvi fazer um vestibular e acabei passando. Na minha recuperação, o Botafogo-BA queria que fosse pra disputar o Campeonato Baiano. Mas eu já tinha me matriculado na faculdade. Se eu escolhesse o futebol, seria uma escolha incerta. Então, preferi seguir o lado mais seguro e dei seguimento aos estudos", contou em entrevista ao Bahia Notícias. O jovem "aposentado" jogou apenas nas categorias de base durante a curta carreira com passagens pelo Bahia, ABB, Atlântico, Palmeiras de Praia Grande-SP e Botafogo-BA, sempre atuando como zagueiro.

 

Desde que começou a faculdade, Fabiano já sabia o que queria. Com 21 anos, montou sua própria academia, Centro de Futebol Gol Mágico, para trabalhar como preparador físico num projeto chamado "GO USA". "O projeto é brasileiro e o intuito era levar atletas para os Estados Unidos para ganhar bolsa de estudos e vaga em clubes. Todo ano eles viajam para lá disputar a Disney Cup", contou.

Fabiano, em ação, dirigindo o Primeiro Passo no Bahia Cup | Foto: Divulgação

 

A estreia na carreira de treinador aconteceu quando ele tinha 23 anos. Ele comandou o time sub-17 do Primeiro Passo Futebol Clube, que não é o Vitória da Conquista, na disputa do Bahia Cup, em outubro do ano passado, chegando até a fase de quartas de final. Ao deixar a equipe, Fabiano transformou o Centro de Futebol Gol Mágico num time de futebol da categoria para disputar competições em 2018.

 

"Tinha a intenção de ajudar os meninos que precisavam de oportunidade. Gravei todos os jogos que fiz com a minha equipe e disponibilizei para todos eles, para que fizessem um vídeo com os melhores momentos de cada um", disse. "Sem cobrar nada, apenas com intenção de ajudar", completou. O convite para o Feid Sports Club veio em seguida. "Um treinador brasileiro, Rogério Oliveira, que trabalha na Arábia com a equipe profissional acompanhou o meu desempenho. Eles estavam procurando um técnico. Logo, eu tinha o que ele exigia. Sabia falar inglês e tinha experiência em clubes. Fiz a entrevista com ele, passei e recebi a proposta", falou.

Fabiano Ferreira quando comandava o seu time, Centro de Futebol Gol Mágico | Foto: Divulgação 

 

Família era contra
Fabiano nunca encontrou o apoio da família, composta pelos pais e um irmão, quando tentava buscar o seu espaço como jogador de futebol. "Na verdade, minha é grande, mas resume muito a minha mãe, meu pai e meu irmão. Meu irmão se casou cedo, e nunca comentava nada comigo, nem apoiava nem criticava. Meu pai era bem parecido, só que ele tem problemas sérios de alcoolismo. Minha mãe sempre teve que sustentá-lo, porque ele não conseguia ficar em emprego nenhum por conta do vício", contou. "Quando eu tinha 18 anos, minha mãe achava que eu deveria trabalhar e eu pensei da mesma maneira. Pois, eu devia ajudá-la dentro de casa, ou pelo menos, conseguir me manter. Foi o que eu fiz, arrumei um emprego com 18 anos e comecei a pagar minha faculdade", continuou.

 

O jovem treinador disse que entrou no mundo bola sozinho. Como não tinha o apoio da família, no início contava apenas com a motivação dos companheiros de time. "Quem me motivava eram meus amigos. Minha família nunca foi a favor que eu seguisse o rumo do futebol. Eu tenho muitos amigos que cresceram comigo e hoje são bem sucedidos. Alguns atletas jogam na Série A do Brasileiro", disse.

Feid Sports Club Sub-15 | Foto: Divulgação

 

Mas as dificuldades em casa não se resumiam apenas ao apoio da família. Bem antes de tentar a vida como jogador, as coisas já eram complicadas. "Minha mãe superou três cânceres quando eu ainda era criança. Ela acordava 4 da manhã todos os dias pra ir no médico, mas meu pai nunca acompanhou-a. Nem quis saber. E eu não entendia porque minha mãe saía tão cedo de casa", lembrou.

 

Segundo Fabiano, para que ele tivesse foco na busca pelos seus objetivos, a mãe resolveu se mudar para o interior, evitando que o pai dele causasse problemas. "Eles sempre ficaram juntos teoricamente, meu pai era o dono da casa, mas minha mãe era quem bancava tudo... Ela pensou várias vezes em se separar, mas não tinha recursos para isso, até que resolveu se mudar para o interior com ele pra distanciar um pouco ele de mim e evitar que eu tivesse conflitos com ele. Passei a morar só até que me casei com uma pessoa e estamos junto há mais de sete anos", contou.

Foto: Divulgação

 

Gravidez da esposa
Faltando uma semana para a viagem para Arábia, Karen, esposa de Fabiano, descobriu que estava grávida. "Eu fiquei muito feliz! Sempre foi um sonho ter um filho. Trabalho com crianças e tenho uma sobrinha que sou extremamente apegado. Não pensamos no que iríamos fazer, apenas curtimos a nossa felicidade", falou.

 

Karen ficou no Brasil, mas o casal continua firme e forte a espera do filho, que se chamará Davi e deve nascer entre o final de abril e meados de maio. "É um momento difícil, ter que lhe dá com a saudade, ainda mais agora com ela grávida, precisando da minha presença...", afirmou. "Mas Deus está guiando os nossos caminhos, e tenho certeza que logo logo estaremos juntos novamente", finalizou.

 

O casal faz planos para voltarem a ficar juntos na Arábia. No entanto, segundo Fabiano, vai depender das propostas para 2019. A vida nômade é um dos ossos do ofício no futebol.

Fabiano com o time profissional do Feid Sports, em que tem tido oportunidades como auxiliar | Foto: Divulgação