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Futebol de 5: Bahia tem 2 pentacampeões mundiais, mas luta por melhor estrutura

Por Gabriel Rios

Futebol de 5: Bahia tem 2 pentacampeões mundiais, mas luta por melhor estrutura
Foto: Divulgação

O futebol de 5, modalidade destinada a atletas com deficiência visual, tem dado muitas alegrias ao Brasil. O time brasileiro conquistou o pentacampeonato mundial ao vencer a Argentina por 2 a 0, em Madri, no dia 17 de junho. O título garantiu à seleção a primeira vaga conquistada para a Paralimpíada de Tóquio, em 2020. O Japão também tem presença garantida, mas por ser o anfitrião. Na engrenagem dessa forte equipe, dois baianos são peças fundamentais. O Ala/Pivô Jefinho, 28, e o fixo Cássio Reis, 29, se destacam como grandes jogadores da modalidade.

Seleção conquistou o título contra a Argentina Foto: Renan Cacioli / CBDV

Em entrevista ao Bahia Notícias, Cássio destacou o feito brasileiro e projetou mais conquistas. “Único título garantido é o Brasil, fora o Japão. Será o grande campeonato desse ciclo. Os outros campeonatos que a gente participa são degraus, mas são todos importantes. Tem a Copa América, o Mundial, além do Parapan do ano que vem, que servirá como uma grande preparação para Tóquio”, afirmou.

 

Baiano de Ituberá, Cássio perdeu a visão aos 14 anos. Foi no Instituto de Cegos da Bahia (ICB) que ele conseguiu se “readaptar”.

 

“O interior acabou sendo algo que não me levaria a obter grandes resultados futuros. Vim para Salvador para aprender o braile e continuar inserido no colégio. Acabei conhecendo o esporte no ICB. Não escolhi o futebol de cara, também fazia natação e atletismo. Procurei no esporte uma porta de entrada na sociedade. Em seguida me destaquei no futebol, pois jogava na infância lá em Ituberá”, relembrou.

 

Cássio conquistou muitos títulos na carreira, como as duas Paralimpíadas em 2012 e 2016. Pelo ICB, o jogador foi campeão seis vezes seguidas do Brasileiro de Futebol de 5. Entretanto, mesmo com uma trajetória vitoriosa, ele salienta que o esporte ainda precisa de mais apoio, principalmente nos clubes.

Cássio Reis em ação pela Seleção Brasileira de futebol de 5 Foto: Divulgação

“Existem duas visões do futebol de 5 no Brasil. A estrutura da Seleção Brasileira é melhor do que muitos clubes de futebol na Série B. O centro de treinamento é fantástico, temos nutricionista, fisiologista, tudo. A CBDV [Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais] nos dá todo suporte. Já no clube, a situação não é a mesma. Os clubes enfrentam muitas dificuldades. Para os órgãos não é tão interessante que se invista em algo que possivelmente não vá dar o retorno esperado”, lamentou.

 

O fixo, inclusive, não esconde a decepção com a propagação do esporte no país após o título na Paralimpíada do Rio em 2016.

 

“Quando aconteceu a Paralimpíada no Rio, nós imaginávamos que seria o divisor de águas. A aceitação era muito grande. O SporTV transmitiu e fez muito sucesso. No entanto, tudo isso foi esquecido depois da competição. Houve todo aquele alvoroço, mas depois caímos no anonimato novamente. É justamente por esse motivo que dificulta recebermos patrocínios”, revelou.

Brasileiros representando o país no futebol de 5 Foto: Divulgação 

Por fim, Cássio aponta a falta de divulgação como o principal fator para o pouco crescimento e reconhecimento do esporte no Brasil: “Tudo parte da divulgação e o quanto de importância se dá. O futebol de 5 não é lembrado. Aqui se fala muito de Bahia e Vitória, mas são dois times que não engrandecem tanto. Na minha opinião, a nossa categoria orgulha muito mais. Nós conquistamos muitos títulos. A dupla Ba-Vi não tem nenhum jogador na Seleção de Tite, já eu e Jefinho estamos sempre representando o estado. Não temos 1% do reconhecimento da população e da imprensa em relação a Bahia e Vitória”, concluiu.

 

Quem endossa o discurso de maior visibilidade e apoio é Gerson Coutinho. Treinador do ICB, ele revela que o Instituto faz algumas atividades para divulgar o projeto, mas acaba destacando que a estrutura deixa a desejar quando se atinge certo nível.

 

“O ICB fez uma campanha no final do ano para divulgar as atividades do instituto, em um shopping. Mas a campanha não é totalmente voltada ao esporte, até porque as instalações, quando se atinge certo nível, não atendem mais. A piscina só tem 10 metros, temos que sair para treinar em outro lugar. A quadra do instituto não tem o tamanho oficial, então tivemos que ir para a Unime que tem a quadra oficial”, contou.

 

Prestes a disputar a Copa Nordeste em julho, Coutinho revela que os jogadores estão tendo dificuldade em adquirir a passagem para Petrolina – local onde acontecerá o torneio. “Alguns já compraram as passagens do próprio bolso, mas outros não têm condições para adquirir, pois não atingiram um nível que dê bolsa”, aponta.

 

“São quatro equipes da Bahia e todas elas vão participar do torneio. Solicitei à Sudesb [Superintendência dos Desportos do Estado] um ônibus. Eu acho que eles vão nos ceder o transporte. Sei que iremos de qualquer maneira. Alguns de avião, outros de ônibus”, afirmou.

 

Jefinho e Cássio foram recepcionados no Aeroporto de Salvador após mais um título Foto: Divulgação / Governo

O treinador também salienta que a Sudesb ainda não forneceu a bolsa esporte, algo de suma importância para os atletas.

 

“Já fizemos a inscrição. Espero que todos sejam contemplados, pois eles vivem disso. Treinam todos os dias, compram medicamentos e dependem da bolsa. No ano passado, apenas o Jefinho e o Cássio foram contemplados”, explicou.

 

O evento em Petrolina acontece entre os dias 24 e 29 de julho. O ICB defende o título do torneio.