Modo debug ativado. Para desativar, remova o parâmetro nvgoDebug da URL.

Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias Holofote
Você está em:
/
/
Esporte

Notícia

Baiano com autismo se classifica para Mundial de Jiu-Jitsu e família faz vaquinha para viagem

Por Gabriel Rios

Baiano com autismo se classifica para Mundial de Jiu-Jitsu e família faz vaquinha para viagem
Foto: Arquivo Pessoal

O lutador baiano de Jiu-Jitsu, Igor Nogueira, 22, foi diagnosticado aos sete anos de idade com transtorno do espectro autista, popularmente conhecido como autismo, e encontrou no esporte a chance de vencer não só batalhas no tatame, mas a batalha contra a doença. Igor se tornou o primeiro atleta autista baiano a participar de competições e subir ao pódio. A missão do atleta agora é conseguir participar do principal torneio de Jiu-Jitsu, o Mundial de Abu Dhabi Grand Slam Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi, Dubai. Em entrevista ao Bahia Notícias, a mãe de Igor, Marleide Nogueira, explicou como o filho conseguiu a vaga. “Foram três etapas aqui no Brasil que começaram em novembro. A primeira foi o Grand Slam na etapa Rio de Janeiro, que ele ganhou. Essas competições são organizadas pela Federação de Jiu-Jitsu de Abu Dhabi (UAEJJF). A primeira etapa ele foi ouro, a segunda, em Guarapari, no Espírito Santo, ele foi prata. E teve em São Paulo, mas não deu para ele ir por conta de dificuldade em conseguir as passagens. Por isso não completou as três etapas. Mas foi classificado para o Mundial que acontece em Abu Dhabi em abril”, detalhou.

 

Para não repetir a situação da etapa de São Paulo, Marleide resolveu criar uma vaquinha online. Por conta da falta de patrocínios e pela dificuldade financeira, a mãe do atleta teme que ele não consiga viajar para competir. “Sempre quem nos ajuda é a Sudesb, que é ligada ao Estado. Ajudam no apoio em relação às passagens. No Rio foi assim, no Espírito Santo, também. Em São Paulo não deu para ajudar porque não tinham o contrato da agência. Com relação a Abu Dhabi ainda não temos certeza se teremos a ajuda deles. Então estamos correndo atrás, porque é um lugar muito caro, a hospedagem é cara, as passagens são caras, mas estamos confiantes que essa vaquinha vai dar certo. Nós colocamos o valor de R$ 15 mil, porque, além do Igor, eu também vou acompanhar. Ele na condição de autista, dito como incapaz, então eu tenho que ir”, explicou.

Igor Nogueira e seus pais Adilson e Marleide Foto: Arquivo Pessoal

 

Questionada sobre o que fará caso não consiga o apoio da entidade, a mãe do lutador afirma que tentará de tudo para proporcionar isso ao filho. “Estou tendo todo cuidado, porque eles (Sudesb) sinalizaram, mas ainda não concretizaram. Estou em busca de muitos amigos, de empresários que se colocaram à disposição para ajudar. Ou então, faço alguma coisa, um empréstimo, porque eu quero proporcionar isso para meu filho, é a maior competição de Jiu-Jitsu do mundo. Ele sempre assistiu às competições pela TV e eu nunca imaginei poder proporcionar isso a ele”, completou.

 

Entretanto, no início não foi assim. Quando Igor recebeu o convite para entrar no esporte, Marleide não queria aceitar. “Tudo começou em 2013, quando estávamos na academia e recebemos o convite do instrutor para participar da primeira aula. Ele era totalmente dependente, tinha dificuldade na coordenação motora, ficava preso nas limitações do transtorno do espectro autista, tinha gestos repetitivos muito intensos. Ele tinha aversão ao toque, não gostava. Era um jovem que tinha muitas limitações impostas pelo transtorno. Quando veio o convite do professor Marcelo Vidal, que é faixa preta de jiu-jitsu, eu achei um absurdo. Como ele poderia fazer jiu-jitsu, se é um esporte de contato físico intenso e o Igor tem aversão? Mas o professor insistiu tanto que eu falei ‘Meu Deus, para eu me livrar dessa insistência, eu vou investir nessa loucura’. Falei com meu esposo para que ele também participasse das aulas, porque eu tinha medo do Igor se machucar ou machucar alguém. Ele sempre foi muito forte. Foram três meses em que eu nem quis ver. Mas depois desses três meses, eu comecei a ver o resultado em casa. O Igor sentar em frente a uma televisão e assistir um filme do início ao fim. Foco, atenção, coordenação motora, raciocínio rápido, conhecimento em relação ao seu corpo. Quando eu fui reclamar com ele por algum motivo, ele olhou nos meus olhos, coisa que ele nunca tinha feito. O jiu jitsu foi um instrumento de transformação. O Igor hoje é totalmente independente, superou algumas limitações. Essa coisa de aversão ao toque era algo que me machucava bastante. Eu como mãe não podia beijá-lo, tocá-lo. Hoje a gente se beija, se abraça. Aguçou mais ainda o raciocínio rápido, o jiu-jitsu o ajudou a pensar sob pressão. Eu voltei à minha vida normal, porque tive que abandonar tudo para cuidar dele. Hoje abandonei minha vida profissional, minha vida acadêmica para cuidar da carreira dele”, relembrou.

Alunos da equipe "Força e Honra" no projeto social do Igor Nogueira Foto: Divulgação

 

A partir de então, Igor começou a competir, crescer na carreira, o que motivou a família a abrir um projeto social para ajudar outros autistas. “Depois desses benefícios houve um novo ciclo na vida dele, que foi o ciclo das competições. Ele entrou para história do esporte baiano em janeiro de 2016 como o primeiro atleta autista a participar de uma competição contra atletas sem transtorno. Ele começou a participar de algumas competições, começou a medalhar. Foi quando deu esse 'boom' dele. Nós temos um projeto social onde quisemos compartilhar o que aconteceu na vida do Igor. Temos nosso projeto aqui em Brotas onde ajudamos outros autistas. Atualmente, além da categoria convencional, para pessoas sem deficiência, ele participa também das categorias parajiu-jitsu que são para atletas com algum tipo de deficiência. Ele vai competir nas duas categorias. Igor hoje é o 13º do ranking do para jiu-jitsu do mundo e está na mesma posição também no Brasil. No convencional ele está na posição 227”, explicou.

 

Além da vontade de ver o filho competir no maior torneio do mundo, Marleide também espera passar uma mensagem para todas as pessoas. “Queremos mostrar para o mundo a capacidade de superação que o ser humano tem. Meu filho me ensinou isso. Muita gente nos colocava para baixo, falaram que nem a alfabetização ele conseguiria fazer. Hoje ele concluiu o ensino médio e já sabe o que quer fazer na faculdade. Hoje é um atleta profissional de jiu-jitsu, lutando em pé de igualdade. Ele merece lutar no principal campeonato de jiu-jitsu do mundo”, destacou.

 

Dos R$ 15 mil almejados, a família só conseguiu arrecadar R$ 340. Para ajudar nessa luta do Igor, é só visitar o site da vaquinha (acesse aqui) e doar.