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Entrevista

Presidente interino da CBF, Ednaldo Rodrigues elogia Tite e promete melhoria do VAR

Por Glauber Guerra / Nuno Krause

Presidente interino da CBF, Ednaldo Rodrigues elogia Tite e promete melhoria do VAR
Foto: Glauber Guerra/ Bahia Notícias

Há pouco mais de dois meses na presidência interina da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o baiano Ednaldo Rodrigues já deu início aos seus projetos. Com a missão de cumprir o mandato de Rogério Caboclo, afastado do cargo por acusações de assédio sexual e moral (saiba mais aqui), o cartola explicou alguns pontos de sua gestão, nesta quinta-feira (28), em entrevista exclusiva ao Bahia Notícias. 

 

Diante dos rumores de uma possível troca no comando técnico da Seleção Brasileira, Ednaldo deixou claro que Tite faz um trabalho elogiável, até o momento. "A CBF está muito satisfeita com o trabalho de Tite e da Comissão Técnica. Um trabalho muito organizado, participativo, e bem executado. Uma liderança sem ter nenhum tipo de autoritarismo. Os atletas respeitam a hierarquia. Nenhum atleta que a gente possa dizer 'esse dá trabalho'. É consequência os resultados em campo", declarou. 

 

O Brasil é o líder das eliminatórias sul-americanas, com 31 pontos conquistados em 11 partidas, 26 gols marcados e apenas quatro sofridos. "Se Tite chegar na Copa e for campeão, ainda vão dizer que é sorte, tem que mudar. Temos que respeitar a opinião de cada torcedor, desportista, dirigente. O Brasil tem mais de 200 milhões de treinadores. Ele sabe que o cargo de um treinador da maior seleção do planeta realmente é de pressão, e tem convivido bem com isso", pontuou. 

 

Quanto ao futebol brasileiro, Ednaldo abordou um tema polêmico: o árbitro de vídeo (VAR). A ferramenta não tem funcionado tão bem no Brasil como em outros centros do futebol mundia. Entretanto, o presidente interino prometeu melhoras.

 

"Tudo que é novo carece de ter adaptações. O VAR é isso mesmo. A gente está envolvido diretamente, e sentimos que existem demoras. O torcedor quer o resultado imediato, porém eu acho que a CBF tem procurado investir nessa qualificação, para que o VAR tenha essas decisões mais rápidas. De qualquer forma, eu acho que, no momento que demora, e possa fazer uma correção de injustiça, ainda é um saldo positivo da implantação do VAR", destacou. 

 

O baiano comentou ainda sobre o calendário do futebol brasileiro, que deve ser apresentado aos clubes em novembro, no Conselho Técnico. "Teremos um ano atípico, porque em 2022 temos uma Copa do Mundo que acontecerá em novembro. Tem várias situações que tornam o calendário mais difícil. Porém, será discutido com os clubes. Quando ele é divulgado, foi debatido. Sempre tem essa discussão. Alguns vão entender que será injusto, mas será da aceitação da maioria dos clubes que participarão das competições", disse. 

 

Outros pontos abordados por Ednaldo foram a possibilidade da Copa do Mundo ser realizada a cada dois anos, os contratos de televisão para as competições da CBF, a ideia da criação de uma liga por parte dos clubes e, também, os projetos sociais da entidade. Confira a entrevista completa: 

 

Como tem sido essas primeiras semanas na presidência da CBF?

Tem sido um trabalho cansativo, mas fazemos com o maior prazer. Você sabe que está administrando paixões. Estamos buscando com todas as equipes, os clubes, as federações, procurado fazer com que esse trabalho seja cada vez mais tranquilo, de utilidade e produtividade. 

 

Vamos falar de projetos. Já tem algum que você começou a tirar do papel? 

A gente tem sempre, na condução do futebol brasileiro, projetos. Não só da presidência, como das federações, dos clubes, de toda a ordem social. Estamos aqui ainda em uma interinidade, porém o trabalho temos feito sempre buscando a melhoria do futebol brasileiro em todos os segmentos. Em todas as categorias, especialmente as categorias de base, dando um destaque especial para o feminino. A seleção brasileira está disputando em todas as suas categorias as competições que fazem parte do calendário nacional e internacional. Isso temos procurado fazer com muita distinção. O Brasil é um país continental, e temos que fomentar o futebol em todos os locais. Sempre procurando, junto com as federações, buscando fazer com que esse trabalho fique mais organizado e coeso. 

 

Você assumiu a CBF em meio a muitos problemas. Caso Caboclo, conflito com o Flamengo, problemas com a Anvisa, naquela partida contra a Argentina. Como você tem feito para administrar esses furacões de problemas?

Com relação ao Flamengo, não teve nenhum conflito. O Flamengo tem uma torcida muito grande e tudo que repercute lá tem dimensão maior. Porém, a relação do Flamengo com a CBF continuou sendo saudável e sem nenhum tipo de problema. Inclusive, nessa reunião da Conmebol, que teve na segunda-feira (23), fomos juntos, ficamos juntos e participamos de todas as reuniões. Sempre vai haver essas questões com relação a um clube não estar bem com a CBF, mas são coisas rotineiras, normais e administráveis. É o dia a dia, ninguém faz futebol sozinho. A postura da CBF foi respeitando o conjunto, a maioria e, acima de tudo, as leis e os acordos que foram feitos, através da própria Justiça do Trabalho. 


Foto: Divulgação/ Conmebol

 

Muito se falou de sua participação naquele episódio da Anvisa. O que de fato aconteceu?

A nossa participação foi levar a Seleção Brasileira para cumprir um jogo da Fifa. Fomos lá para cumprir um compromisso. E foi essa a nossa participação. Toda aquela situação foi por conta de uma burla às leis do Brasil, por parte de alguns atletas da Argentina, e com a aquiescência, entendo, de dirigentes da Argentina, porque senão os atletas não teriam uma postura daquela individualmente. As informações que foram para o ar é que como se os responsáveis pelo jogo fossem a CBF, a diretoria de competições e o presidente da CBF. Quando, na verdade, os responsáveis pela partida eram a Fifa, a delegada da partida e inclusive de segurança, a Conmebol. A CBF foi lá, com sua seleção brasileira, para jogar a partida. A Anvisa, com relação a dizer que o presidente solicitou que pudesse jogar com os atletas, isso no desenrolar dos fatos ficou bem evidente. Mostra duzentas imagens e não vê, em nenhum momento, a imagem do presidente falando com ninguém da Anvisa. Imagino que alguém possa ter colocado para ele isso, mas não foi, de forma alguma, nosso sentimento, e ficou provado. O ministro inclusive negou que tivesse qualquer contato comigo nesse período. 


Foto: Glauber Guerra/ Bahia Notícias

 

Calendário do futebol brasileiro é um problema que se tem desde a década de 80. Lembro que quando você assumiu como vice-presidente iniciou um trabalho de readequação. O que já se tem para ser colocado em prática para melhorar o calendário?

Muito se fala do calendário, mas ele não é feito apenas pela CBF. É feito também pelos clubes. A partir do momento que nesse calendário tem X campeonatos ou copas, cada entidade tem seu livre arbítrio de falar: "eu não vou participar dessa porque eu quero descansar meus atletas". "Eu vou perder tanto, mas prefiro ter menos jogos". Mas não tem nenhum clube que faz isso. Eles só encontram nos estaduais sua válvula de escape para dizer que o calendário é ruim, mas os calendários dos estaduais também estão sendo reformulados. Há 10 anos, tínhamos 26 datas para os estaduais, e o campeonato era durante todo um semestre. Hoje, temos 16 datas, que atingem a quatro, cinco estados. Os outros já entraram dentro de uma conformidade, enxugando suas competições, e fazendo que seus clubes disputem competições paralelas. Eu cito como exemplo a Bahia, que tem um campeonato enxuto, com 13 datas, 51 jogos, e que é conciliado com Copa do Nordeste, que tem 12 jogos. Esse progresso, eu tenho certeza, que acontecerá nos outros estados. Eles podem ir adequando seus calendários a 16 datas, para que esses estaduais sejam valorizados. 

 

Os torcedores acham que as regras das competições são definidas pela CBF, quando na verdade são os clubes que definem em arbitrais. A CBF só sugere. Não é assim que funciona? 

É assim. As reuniões de Conselhos Técnicos sempre vão dentro dessa linha. A CBF tem o calendário mundial, tem o calendário da Fifa, onde Datas Fifa têm de ser respeitadas, a Conmebol tem suas datas de Copa América, Copa Sul-Americana, Libertadores. Portanto, antes de o calendário que a CBF vai propor para os clubes "ir para rua", neste mês de novembro, determinamos que o diretor de competições possa fazer um prévio Conselho Técnico, para mostrar regulamento geral de competições e como vai ser o calendário. Teremos um ano atípico, porque em 2022 temos uma Copa do Mundo que acontecerá em novembro. Tem várias situações que tornam o calendário mais difícil. Porém, será discutido com os clubes. Quando ele é divulgado, foi debatido. Sempre tem essa discussão. Alguns vão entender que foi injusto, mas foi da aceitação da maioria dos clubes que participarão das competições. 

 

Existe a possibilidade de mudança nos critérios de classificação para a Copa do Brasil, como a extinção via ranking?

Isso foi uma reivindicação de quando eu era presidente da FBF. Eu entendia que teria que abrir mais a disputa nos estaduais para aqueles dez clubes que entram pelo ranking nacional. É uma situação que está na Diretoria de Competições desde que eu era presidente da federação, porque eu acho que quando você coloca a disputa dentro de uma motivação, você também faz com que aquele clube, quando for disputar o estadual, e não tem o conforto do ranking nacional, coloque uma equipe de qualidade para disputar a competição. Mas se essas mudanças ocorrerem, serão a partir de 2023, porque em 2022 temos contrato com televisão e outros patrocinadores e o formato já tinha sido desenhado. 


Foto: Glauber Guerra/ Bahia Notícias

 

E quanto aos contratos de televisão? Como estão as negociações?

Criamos uma comissão dentro da CBF com diretores que possam estar diretamente envolvidos na situação para que eles possam fazer com que os valores sejam melhores discutidos. Não só a questão dos valores, mas como vão ser disponibilizados esses conteúdos. Criamos a comissão para trazer contratos mais amplos e sólidos e que possam premiar cada vez melhor os clubes participantes. Temos discussões avançadas nesse sentido, temos várias propostas, e a Copa do Brasil vai se tornar melhor do que já é. 

 

Na próxima temporada, o VAR na Série B será a partir do começo da competição ou isso ainda será discutido com os clubes no próximo conselho técnico?

O trabalho que a CBF tem procurado fazer é no sentido de que tenha [desde o início]. A CBF tem investido quantias vultuosas para deixar a arbitragem transparente e livre de qualquer equívoco. Avançamos na Série B. Após os clubes terem reivindicado a colocação de duas câmeras, a CBF absorveu todos os custos dessas demandas. Colocamos o VAR na Série C e na Série D, na fase final das competições. O VAR veio para ficar. E a gente, cada vez mais, está procurando que a comissão de arbitragem faça cursos, e que possa qualificar cada vez mais os árbitros envolvidos, e possamos dar publicidade disso. Recentemente, decidimos que todos os áudios de lances polêmicos do VAR a CBF vai disponibilizar para os torcedores. Quando clubes tiverem qualquer tipo de questionamento, as respostas serão publicadas no site da CBF, para os torcedores enxergarem a CBF como uma entidade cristalina. 

 

O VAR ainda tem sido alvo de críticas em razão da demora até a conclusão da decisão e também de eventuais falhas. O que a CBF tem feito para melhorar essas questões?

Tudo que é novo carece de ter adaptações. O VAR é isso mesmo. A gente está envolvido diretamente, e sentimos que existem demoras. O torcedor quer o resultado imediato, porém eu acho que a CBF tem procurado investir nessa qualificação, para que o VAR tenha essas decisões mais rápidas. De qualquer forma, eu acho que, no momento que demora, e possa fazer uma correção de injustiça, ainda é um saldo positivo da implantação do VAR. Esperamos que, daqui para frente, com a prática intensa, isso cada vez mais dê tranquilidade e segurança para os próprios árbitros envolvidos. Em um futuro bem próximo, isso vai ser coisa do passado. 

 

De vez em quando surgem rumores sobre uma possível saída de Tite na imprensa. O que tem de verdade nisso? Tite segue com prestígio?

Os rumores nunca vão deixar de acontecer. Se Tite chegar na Copa e for campeão, ainda vão dizer que é sorte, tem que mudar. Temos que respeitar a opinião de cada torcedor, desportista, dirigente. O Brasil tem mais de 200 milhões de treinadores. Ele sabe que o cargo de um treinador da maior seleção do planeta realmente é de pressão, e tem convivido bem com isso. De cada crítica, quando ela é construtiva, pelo menos eu tiro lições. Isso vai ser uma convivência sempre, mas a CBF está muito satisfeita com o trabalho de Tite e da Comissão Técnica. Um trabalho muito organizado, participativo, e bem executado. Uma liderança sem ter nenhum tipo de autoritarismo. Os atletas respeitam a hierarquia. Nenhum atleta que a gente possa dizer "esse dá trabalho". É consequência os resultados em campo. Ele vai fazer sempre o melhor. 

 

Qual sua opinião em relação a movimentação dos clubes em criar uma Liga?

Respeitamos qualquer posição dos clubes, das federações. A CBF vai se colocar à disposição para ajudar naquilo que for preciso. Se por acaso está insatisfeito com alguma situação, eu pergunto o que a liga faria que a CBF já não faz. Temos que respeitar a vontade dos clubes, mas sabendo que a CBF, em qualquer liga que ela seja filiada ela, tem que atender aquela ordem jurídica, desportiva, para que não possa ter nenhum conflito com o estatuto da Conmebol, da Fifa. Eu não vejo nenhuma situação que possa trazer conflitos. Temos um exemplo, que é a Liga do Nordeste, que administra toda a parte comercial da competição, e toda a parte técnica e logística a CBF faz. A CBF sempre vai ser parceira dos clubes. Ela tem seus filiados como parceiros. E sendo parceiros, temos que abrir um bom debate, e estar sempre convictos que poderemos melhorar em qualquer que seja a posição ou reivindicação. 

 

Queria que você falasse do projeto seleção contra a fome. Cerca de 85 mil famílias foram beneficiadas em todo o Brasil.

Aquilo ali foi de uma forma voluntária. Os atletas da seleção principal e comissão técnica dando sua contribuição, visando sempre o melhor para aquelas pessoas mais carentes. Naquilo que foi arrecadado, a CBF colocou o mesmo valor. Foram R$ 2,5 milhões arrecadados, a CBF colocou R$ 2,5 milhões. Com isso, 85 mil cestas básicas foram para as regiões mais carentes do Brasil. Um trabalho muito importante através da diretoria de marketing da CBF. Isso não parou ali. Vamos estar sempre fazendo ações dessa característica para que a gente possa amenizar as dificuldades de muitos brasileiros que se encontram em situação de grande vulnerabilidade. 

 

Você é membro agora do Conselho da Conmebol. Qual é sua opinião sobre a Copa do Mundo de 2 em 2 anos? 

É um debate que iniciou. A Fifa fez uma explanação com os 211 países membros da Fifa, e verificamos alguns avanços que coloquei que era simpático. Mas, nessa reunião que tive com o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, só sobre esse tema, eu também vi muitos avanços naquilo que ele pretende fazer dentro das competições sul-americanas, principalmente dando condições de um calendário onde possamos ter jogos contra outros centros que não sejam o nosso, especialmente Europa. Gostei da resposta que ele nos deu, combatendo essa questão da Copa de 2 em 2 anos. O que tiver de aprofundar, vamos estar aprofundando de forma conjunta. A decisão será de união. Com certeza, no momento sou favorável à continuidade da Copa do Mundo de 4 em 4 anos.

 

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