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Entrevista

PC pede desculpas, reitera 'adeus' ao WhatsApp e promete gana para mudar fase do Vitória

Por Ulisses Gama / Leandro Aragão

PC pede desculpas, reitera 'adeus' ao WhatsApp e promete gana para mudar fase do Vitória
Foto: Ulisses Gama / Bahia Notícias

Aos 69 anos de idade e em sua segunda passagem pelo Vitória, o presidente Paulo Carneiro, peça importante nas maiores conquistas do Rubro-Negro, vive mais um momento conturbado no clube. Dentro da Série B do Brasileirão, o Leão não vence há sete partidas e se aproxima da zona de rebaixamento para a Série C. Fora do campo, muitos problemas financeiros a se resolver e polêmicas na internet dão o tom.

 

Entre uma reunião e outra dentro do seu gabinete, no Barradão, o mandatário do Leão recebeu o Bahia Notícias para uma entrevista exclusiva. Em quase uma hora de perguntas e respostas, Paulo Carneiro se desculpou pelo áudio em que culpou os sócios pela situação do clube e garantiu que a ameaça feita ao jogador Vinícius contra o Ceará, pela Copa do Brasil, é uma coisa que jamais se repetirá enquanto ele estiver no cargo principal. 

 

"Se acontecer, eu saio do Vitória. Foi a minha despedida", garantiu.

 

Sobre a busca pelo acesso, o mandatário opinou que o time tem sido intenso, mas não tem conseguido administrar os resultados. Paulo garantiu que não faltará dedicação para voltar a brigar na parte da frente da tabela.

 

"Temos sido extremamente incompetentes na administração dos jogos, a gente joga e cria. Isso tudo são justificativas, como aprendi no quartel, que explicam, mas não justificam. Nós estamos com muita gana de mudar isso, administrando toda essa dificuldade conjuntural que vivemos. Estamos todos unidos e imbuídos no Vitória para reagir imediatamente no campeonato", indicou.

 

Paulo Carneiro também falou sobre o início do trabalho do técnico Eduardo Barroca no Vitória, as brigas internas com a oposição, a perda da validade da lei do mandante, a queda do futebol feminino para a Série A-2, entre outros assuntos. Confira a entrevista completa:


Paulo, para começar, como você tem visto o clube passar em meio à essa pandemia? Como tem sido para driblar os problemas de arrecadação?

O clube ainda está longe do seu equilíbrio financeiro porque teve uma queda, independente dos desmandos do passado que eu não quero comentar, e o Vitória tem uma crise grave de receita. Com a pandemia a crise se agravou. Com toda essa dificuldade, iniciamos 2020 com um projeto de futebol, que em 2019 não foi possível iniciar por motivos óbvios. Posso dizer que foi o ano da sobrevivência. Em 2020, já entramos com ambições maiores, inclusive de subir. Não conseguimos ainda equilibrar o clube. Se isso reflete no resultado do time? Talvez. Quanto reflete? Não sei, é muito difícil de se avaliar. Mas eu sei que a imprensa e a torcida não podem reclamar é da atitude dos jogadores. Estamos jogando com um nível de intensidade altíssimo em todos os jogos, porque hoje temos um reloginho que mede, não é mais achismo. O Vitória joga com uma intensidade de jogo no padrão de qualquer liga mundial. Mas a gente está muito frustrado, nós e os jogadores, porque sabemos que temos time para estar muito melhor e não estamos ainda. Continuamos acreditando sempre no próximo jogo. Temos sido extremamente incompetentes na administração dos jogos, a gente joga e cria. Isso tudo são justificativas, como aprendi no quartel, que explicam, mas não justificam. Nós estamos com muita gana de mudar isso, administrando toda essa dificuldade conjuntural que vivemos. Estamos todos unidos e imbuídos no Vitória para reagir imediatamente no campeonato.


Lógico que é pouco tempo para avaliar, mas como tem sido na sua opinião os primeiros dias de Eduardo Barroca no clube?

Muito bom. Já conhecia ele há muito tempo, éramos muito amigos. O que ele tem mostrado no comando do grupo é o que eu esperava. Só que no futebol tem que esperar os resultados. Administrar clube de futebol, se você não ganhar, tudo o que fizer fora de campo ninguém valoriza. Se eu fosse enumerar o que já fizemos nesse um ano e meio em prol desse clube de todos os tipos de área, administrativa, médica, dá para encher uma página inteira de ações, mas se não ganhar, ninguém reconhece esse trabalho.


É possível ainda contratar reforços para essa Série B?

Eu sempre digo que enquanto as inscrições estiverem abertas tudo pode acontecer. Nós temos uma base, até fizemos uma reformulação no elenco, saíram jogadores, entregamos outros, reequilibramos o orçamento do plantel para poder continuar sobrevivendo e buscando os resultados.


Nos últimos dias, o Vitória emprestou jovens revelados no clube como o zagueiro John e o atacante Ruan Levine. Esses atletas não poderiam ajudar a compor o elenco nesse momento complicado?

O Vitória não pode ter ninguém para ajudar, tem que ter gente para resolver. O momento do Vitória é diferente. Muita gente está dizendo que estou quebrando meu projeto do futebol. Longe disso. Eu tenho que estabelecer prioridades. Se o problema de hoje é de caixa, só encontro um jeito de fazer dinheiro com atleta que é com atleta formado pelo clube. O atleta que vem, não tem como gerar caixa. Ele tem contrato curto, idade mais avançada, dificilmente você vai fazer dinheiro. Só se faz dinheiro com atletas formados no clube, veja o Flamengo que tem política de base, mas vende jogador. Nós também vendemos, só que vimos que para vender, tem que jogar em cima. Carlos e Jhon são duas exceções. Carlos era nosso quinto zagueiro, como tem que ser nosso projeto, o quinto tem que ser da base. O Palmeiras tinha muito interesse nele, nós pedimos um valor alto pelo empréstimo e um valor alto pela opção de compra. Negociamos esses valores. O Vitória tem jogador da base para manter a política. Ajuda a botar um pouco de dinheiro. No caso de Jhon, ele era o sexto zagueiro com 18 anos, portanto muito jovem. Nós voltamos ele para o time sub-18 quando começou o Campeonato Brasileiro, porque em janeiro não tinha campeonato na base, estava tudo parado. Nós tínhamos um excelente zagueiro no sub-20 que era Matheus. Ficaram disputando posição. O Vitória tinha uma dívida de quase R$ 500 mil com o Corinthians e nós quitamos a dívida para emprestar Jhon. Normalmente, se fosse emprestar Jhon, talvez ele não valesse esse valor. Não entrou dinheiro no clube, mas o Vitória fechou uma torneira. Fizemos uma opção e talvez entre um dinheirinho. E trouxemos Matheus, que era o titular do sub-20, para ser o quinto zagueiro no profissional. Portanto a política está preservada e nós estamos criando alguma alternativa para entrar caixa no clube que é o principal problema hoje.

 

Foto: Ulisses Gama / Bahia Notícias


Um dos acontecimentos durante a pandemia foi a lei do mandante, que acabou perdendo a validade. Como você avalia a perda de uma possibilidade de maior liberdade da negociação dos direitos?

Com muita tristeza. Acho que o presidente da Câmara [Rodrigo Maia (DEM)] prestou um grande desserviço ao futebol. Essa mudança não era do Flamengo, que foi quem primeiro se movimentou, era uma mudança do futebol brasileiro. Por uma questão de momento, de oportunidade, o Campeonato Carioca não estava negociado, o Flamengo foi em busca de uma MP que traduzisse esses anseios que eram de todos no futebol. A mudança da MP favorece principalmente os clubes menores, porque hoje não arrecadam nada de televisão nem nos estaduais, nem na Série C e nem na D. Esses clubes com o poder de negociar seus jogos, menor que fosse o valor, teriam condições de agregar valor nos seus portfólios de receitas. Com relação aos clubes médios e maiores, a possibilidade de negociação coletiva, de pacote de jogos, ou seja uma imensa variedade de oportunidades comerciais. Hoje não, você fica preso a uma Lei Pelé, que nesse aspecto é anacrônica e, no mundo, só o Brasil tem o direito de TV do jogo dos dois, que só dá direito de veto, não dá direito de mando. E essa política foi mantida durante anos com a mesma influência que derrubou a MP agora. O interesse de não pagar muito pelos direitos de televisão, ou seja, o futebol brasileiro foi violentamente prejudicado. Nada contra a Globo, mas ela é a grande beneficiária, porque tem os contratos. Dizem até que vai tentar reduzir os valores. Esse é outro problema que se avizinha, porque ela já saiu da Copa do Mundo, da Libertadores e tem contrato com o futebol brasileiro até 2024. Se os clubes não tiverem alternativas... Quando você não tem alternativa, fica preso num monopólio...


Presidente, o senhor falou sobre os estaduais. Lá no começo da pandemia, o senhor e o presidente Bellintani, do Bahia, chegaram a concordar muito sobre o atual modelo, que está defasado e que precisa mudar. O campeonato só vai acabar em fevereiro, mas já começa a se pensar em como será a próxima temporada. Como está hoje esse entendimento em relação aos estaduais?

Não mudou, o meu pensamento continua o mesmo. É um campeonato sub-23. Até então, antes da pandemia tínhamos um alinhamento com o Bahia, mas a liderança é da Federação Bahiana de Futebol. Nós estamos esperando um movimento dela, porque não temos mais direitos de televisão, o contrato acabou esse ano. Vamos ver o que vai acontecer. Acho que temos que reformular o campeonato imediatamente.

 

Também no início da pandemia, aconteceu uma situação em relação ao dinheiro do futebol feminino cedido pela CBF. No Campeonato Brasileiro, o time teve uma participação muito ruim acabou rebaixado. O que dizer sobre esse revés na categoria?

O Vitória só disputou a competição, porque foi obrigado. Se nós estamos com um problema de caixa, não conseguimos sustentar o que é mais importante no clube nesse momento, como é que eu vou ser hipócrita e ficar tendo discursos para agradar o politicamente correto que hoje graça na sociedade brasileira? Nós queremos que o futebol feminino seja forte no Vitória, porque é um clube de futebol. Mas com essa crise que estamos aqui, eu não podia ter empregadas atletas femininas, porque não geram receita nenhuma. Esses torcedores que reclamam, quantas vezes já viram o time feminino jogar? Mesmo no ano passado que tínhamos um time melhor, quantas vezes esses torcedores já estiveram no estádio e disseram assim: "Meu filho, vamos sair hoje para ver o time feminino do Vitória e tomar uma cervejinha lá no Barradão"? Sabe quem saiu? Os parentes, namorados e namoradas das jogadoras. A adesão não existe, é inexistente. Só que o discurso é fácil, né? Costumo dizer que esse é o discurso dos hipócritas. Não contem comigo. Agora, nós temos projeto para o futebol feminino, nós queremos fazer um CT para o futebol feminino. Já tem área e se eu tivesse dinheiro hoje já estava fazendo, um CT com dois campos só para o futebol feminino, com entrada independente. É aqui do lado na Avenida Mário Sérgio. O projeto é fácil de fazer, o difícil é executar.


O senhor sempre diz que o maior inimigo do Vitória está dentro do clube. Quem são essas pessoas? Você se sente perseguido de alguma maneira?

Eu conheço o Vitória desde a época de meu pai. Meu pai ainda me viu presidente antes de falecer e ele dizia: "Você está ganhando, todo mundo está passando a mão nas suas costas. Quando você perder, vai conhecer o Vitória. O Vitória é um clube vaidosos e invejosos". Eu tive o desprazer de conhecer. Só que na minha época, antes dessa segunda época que estou passando, comecei a ganhar logo quando chegamos, ainda na presidência de Ademar. Ganhamos o segundo bicampeonato estadual da história do Vitória. Imagine? O Vitória já tinha 90 anos e ganhou o segundo bicampeonato, tinha nove títulos estaduais. Ganhamos 89 e 90, até do Bahia que tinha sido campeão brasileiro. Em 92, implantamos o projeto de futebol que levou quatro anos para ser implantado. E em 93 nos levou à final do Brasileiro. Com essas vitórias e como o clube tinha todo tipo de carência, não tinha campo para treinar, não tinha material esportivo, não tinha energia no estádio e nem arquibancada, que era um pedaço de arquibancada, não tinha estacionamento. A concentração da base era fora do Vitória na Boca do Rio. A concentração que o profissional usava a casa da Chácara Vidigal Guimarães, nós compramos e fomos reformando. Ou seja, o Vitória não tinha a mínima estrutura de clube. Como ninguém tinha coragem de assumir o clube naquelas condições a gente foi tocando e foi fazendo. Depois que o clube se tornou atraente, duas vezes na semifinal de Brasileiro, uma vez na final, outra vez na semifinal da Copa do Brasil. A partir do momento que nós saímos, apesar de ter deixado o Vitória na terceira divisão, era um clube completamente estruturado, com dinheiro em caixa, ao contrário do que muita gente fala e eu posso provar. O Vitória tinha um ativo de atletas milionário, acho que valia mais de R$ 100 milhões, uma dívida pequenininha depois de 17 anos. Porque normalmente quando você constrói uma organização, gera passivo. Subiu em um ano, porque tinha estrutura e time, tinha formação, tinha tudo. Caiu como Corinthians, Grêmio, Palmeiras e o próprio Bahia caíram. O Bahia ficou sete anos na B e mais dois na C. A partir da minha saída aí se criou dentro do clube um revanchismo contra mim, uma coisa absurda. Tentaram me linchar até moralmente. Teve conselheiros que não estão mais aqui, que Deus já levou, que diziam que Paulo Carneiro tem que sair algemado, como se eu fosse um criminoso, porque o Vitória caiu para a Série C, como se na minha passagem não tivesse construído tanta coisa e ter ganho tanto como nós ganhamos. Durante minha época, eu não tive esse problema, não havia interferência e fui tocando o projeto. Hoje eu percebo que o Vitória mudou a partir da minha saída. Teve um grande dirigente que foi Alexi Portela, hoje muito próximo de mim, conquistou muitos títulos estaduais principalmente. Mas eu acho que o Vitória perdeu o seu caminho do projeto raiz, de ter sempre 12 ou 15 jogadores no elenco principal, voltou a ser um time de aluguel. Quando você não tem dinheiro, contrata na medida do dinheiro que tem disponível. Se seu time tem orçamento médio, o jogador que você contrata é médio. Essa tentativa de linchamento minha... Me expulsaram do Conselho, o que eu fiz para ser expulso? Foi uma coisa absolutamente política. E fui perseguido esses anos todos. Para voltar ao Conselho do Vitória, eu tive que ir à Justiça. Ganhei na Justiça e o presidente do Conselho da época, Paulo Catharino, se recusava a receber a intimação da juíza dizendo que eu tinha que voltar ao Conselho. Havia um sentimento muito ruim e é esse sentimento que está atrapalhando o Vitória. Eu soube que recentemente esse atraso que tivemos com os funcionários, que eu não nego nada, tem ex-presidente aí montando grupo para fazer cesta básica. Ao invés dele se aproximar para ver de que forma podia me ajudar, não. Ele vai para a mídia, para internet, de forma demagógica que é bem a cara dele. Venham conhecer a realidade do Vitória. Não, vai para a internet para desgastar a imagem do clube, mas a intenção é desgastar a minha imagem. Mas com qual objetivo? Quer voltar ao Vitória? Você tem que fazer o que você entende. O futebol não tem mais lugar para amadores, só porque são apaixonados. O futebol só tem lugar para dirigente profissional. Eu sou uma exceção. Eu era um dirigente amador e me profissionalizei por insistência. Em 17 anos é impossível que eu não tivesse aprendido. Agora, não pode entrar, como entraram aqui dirigentes, sem nenhum conhecimento de futebol, achar que isso aqui era fácil demais. O resultado é essa situação catastrófica que encontramos o clube.


Um áudio que você enviou no WhatsApp ao falar sobre os sócios gerou muita repercussão e você até falou em momento de raiva. Acha que exagerou?

Eu não tenho sangue de barata, sou um cara que tem um temperamento muito forte. Acho [que exagerei] e peço até desculpas para aqueles que tomaram para si. Mas eu não falei torcedor, falei sócio. Falei o torcedor que vota, o áudio é bem claro. O torcedor que vota é o sócio, o sócio que votou. Agora, hoje eu já digo que até isso exagerei, porque na realidade o sócio é enganado, ele também não entende futebol. Veja como o clube fica refém dessa situação. Quem elege não entende e quem é eleito também não entende, qual o resultado disso? Dívidas, passivos, más condutas, más contratações. Esse problema não é só do Vitória, é do futebol brasileiro todo. Você tem que se organizar. Se você é um presidente que não entende, tem que ter uma equipe que entenda, certo? E o Vitória nunca deu sorte nessa equipe. Esse é um esclarecimento que eu queria e quero fazer outro. Infelizmente tenho que chamar, mas alguns inimigos do clube, dizem que eu causei um prejuízo ao Vitória de R$ 61 mil, porque fui punido naquela invasão de campo e que nunca mais vai acontecer. Se acontecer, eu saio do Vitória. Foi a minha despedida. O presidente polêmico para dizer as verdades não acabou, mas sim para tomar aquela atitude. Mas aquele jogo foi uma vergonha. Aos 15 minutos o Vitória fazia o resultado e aos 30 perdeu dois jogadores, aquilo eu nunca vi na minha vida. No caminho, eu encontrei Vinícius, velho amigo, foi meu jogador, levei para o Athletico-PR. Sou amigo do empresário dele até hoje, que não é mais empresário dele. Quando eu vi Vinícius, lembrei dos gestos imorais que ele andou fazendo aqui no Barradão sob o olhar irritado, mas impotente dos torcedores e da mídia que achava engraçadinho. Se eu tivesse uma chance ia pegar Vinícius, mas não farei mais. Vinícius segue a vida dele, está jogando muito até. Sempre foi um grande jogador. Levei ele para o Athletico-PR em 2016, tirando do Fluminense, e montamos um time que foi para a Libertadores que tinha Otávio, Hernane, dois garotos de 20 anos, Vinicius, Nikão, Walter e Ewandro, esse que está no Vitória. Tenho um orgulho enorme de dizer que liderei esse processo. Sobre essa sacanagem que eu dei um prejuízo ao Vitória de R$ 61 mil, quero lembrar a esses torcedores que quando cheguei, o Vitória tinha um CEO que ganhava R$ 25 mil, um diretor financeiro que ganhava entre 15 e 20 mil reais. Tinha diretor de futebol que ganhava R$ 60 mil. Tudo isso por mês. Tinha um diretor de patrimônio ganhando R$ 16 mil e mais um técnico com ele que ganhava mais 9 ou 12 mil reais. Veja se não chega perto de R$ 200 mil por mês? Se você pegar meu prejuízo e dividir por mês dá R$ 5 mil e acaba em um ano. Vamos comparar com a economia que o Vitória está fazendo. Toda essa equipe está sendo substituída por mim, por dr. Dilson, que é estatutário não-remunerado, por dr. Luiz Henrique nosso vice-presidente. Nós absorvemos todas essas funções só para lembrar aos esquecidos.

 

Foto: Ulisses Gama / Bahia Notícias


O senhor lembrou que aquela situação com Vinícius não voltará mais a acontecer. Por outro lado, disse que o presidente polêmico não vai acabar. E essas polêmicas sempre estão ligadas ao WhatsApp. O que te levou a dizer que vai deixar o aplicativo?

A gente tem que fazer as coisas para construir um ambiente melhor e isso não estava sendo feito. Eu não resolvia o problema. O torcedor que critica não tem condição de contextualizar. As vezes a gente quer convencer uma pessoa que não quer ser convencida. Então, aproveito aqui, o torcedor que tiver dúvidas, vem no clube. Ou então, se identifica, marca um horário e eu falo no telefone. Mas o Whatsapp acabou.


No seu último vídeo da TV Vitória, você citou que vai denunciar os ex-presidentes Ricardo David e Ivã de Almeida ao Conselho. Quais serão as outras providências tomadas?

Tive uma reunião só tratando disso e 70% do trabalho está pronto. É um assunto que cabe muito mais ao Conselho Deliberativo do clube do que do conselho diretor. Se houver uma indicação de punição, pelo Estatuto do Vitória, quem aplica é o conselho diretor. Mas quem processa a punição, quem investiga é a assembleia de sócios. O Conselho deve conduzir para a assembleia de sócios, para preparar a comissão. As contas foram rejeitadas e nós estamos nessa fase. Estou preparando as questões de gestão temerárias. Não quero polemizar, não quero desrespeitar os ex-presidentes não. Tem pessoas que passaram por aqui que foram incompetentes, mas não dilapidaram o patrimônio. Faço minha função estatutária. Não tenho sentimento de raiva. Faço isso compungido.


O quanto tem feito falta a torcida na sua opinião nas arquibancadas? E o senhor mantém o entendimento que é melhor realmente esperar uma vacina para que os portões sejam reabertos?

É muito diferente, constrangedor, mas os números estão aí. Já teve lock-down na Alemanha. Eu não sou médico, não sou sanitarista, nem infectologista, sou um cidadão. Acho que onde tiver aglomeração tem risco. Agora mesmo o Vitória teve uma coisa engraçada. Teve um caso no time profissional. E no sub-20 tivemos uns 20 casos. Jogamos o Ba-Vi sem mais de 10 jogadores. No sub-17 também até agora não tivemos nenhum. Veja o surto como ele se localiza e explode o efeito viral. Então, a gente tem que tomar todos os cuidados.


O torcedor sempre espera por novidades relacionadas ao clube. O que já é possível adiantar sobre o aplicativo e a camisa 3?

O aplicativo está em fase de testes e estamos tendo problemas. Estou até preocupado, porque o feedback dos testadores não é bom. Infelizmente estamos ajustando isso junto com nossos parceiros. A camisa 3 já está em Salvador, estamos arrumando. Ela veio com uns probleminhas de modelagem, ou seja, marcava M, mas a camisa era P, marcava G, mas era M. Acontece as vezes na fabricação. Estamos corrigindo isso para começar a distribuição dando prioridade aqueles que fizeram a pré-compra.


Já tem jogo definido para estrear a nova camisa?

Não. Não temos nada definido ainda não.


Para fechar, manda um recado ao torcedor do Vitória.

Como diz a nossa hashtag, vamos virar o jogo e precisamos da união de todos. A grande derrota do Vitória é a desunião da classe dirigente mais abastada. Essa para mim é a grande frustração. A classe de dirigente mais abastada está absolutamente distante do clube e a maioria deles torcendo contra. É muito triste isso. Nós todos aqui somos uma passagem. O que não vai encontrar aqui com a nossa gestão é nada errado. Podem até contestarem as decisões, é uma atividade de mão-de-obra, um processo de tentativa e erro. No futebol é assim, se você contratar mal, errou. Para não errar, é só não contratar. Mas o Vitória tem que caminhar para contratar cada vez menos, porque não tem chance de subir. O torcedor tem que se associar, quanto mais se associar ajuda os dirigentes a tirar o Vitória dessa crise. Quanto menos se associar ou desassociar agrava essa crise. Não adianta subir sem projeto de futebol e sem orçamento, você sobe e cai. Às vezes é melhor não subir, se estruturar para subir e ficar. Estamos trabalhando para subir. Peço ao torcedor que tenha o entusiasmo desse velho dirigente que vai fazer 70 anos em fevereiro e continua chegando no clube às 8h e saindo às 20h. Não precisa achar esse presidente bonitinho não, quem tem que achar isso é minha mulher e meus filhos. Mas gostem do clube como a gente gosta, ame esse clube como a gente ama. Não se omitam e não queiram também decidir as coisas no futebol, porque as expertises estão aqui. As pessoas que militam no futebol são aquelas que erram, imagine os que não militam. Eu queria que o torcedor torcesse genuinamente. Não imaginar que é simples e fácil, comandar um clube com a situação de caixa que o Vitória tem.

 

Foto: Ulisses Gama / Bahia Notícias