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Entrevista

'Voluntário', presidente do Doce Mel valoriza projeto e quer mudar mentalidade do futebol

Por Gabriel Rios

'Voluntário', presidente do Doce Mel valoriza projeto e quer mudar mentalidade do futebol
Foto: Divulgação / FBF

Campeão como treinador pela seleção de Ipiaú, Eduardo Catalão é apaixonado por futebol e pela cidade. Há 10 anos como presidente do Doce Mel – Atlanta até 2017 -, o dirigente busca transformar o clube do município em uma referência no estado, ao lado da dupla Ba-Vi. Sem receber nenhum dinheiro, Catalão deseja mudar a “mentalidade” atual do esporte e, por isso, valoriza o projeto social que se iniciou em 2009. “A direção não recebe nenhum salário, só comissão técnica, jogadores e um supervisor. Queremos mudar essa mentalidade no futebol que tudo é dinheiro. Sempre preservamos a imagem do clube, para todos saberem que apesar de novo, priorizamos muito o comportamento”, disse em entrevista ao Bahia Notícias.

 

Atualmente, o projeto conta com cerca de 200 crianças, que não só jogam futebol, mas são encaminhadas para escolas, faculdades e empresas. “O que a gente usa no projeto é, primeiro estar matriculado na rede de ensino, segundo apresentar atestado médico de capacidade para participar, e terceiro de comportamento, tanto dentro quanto fora do projeto. Fazemos visitas semestrais no colégio para sabermos como eles estão”, explicou.

 

E o trabalho vem rendendo frutos. Após virar Doce Mel Esporte Clube em 2017, a agremiação resolveu participar da Série B do Campeonato Baiano em 2019. Estreante, conquistou o título ao bater o Olímpia na final e garantiu o acesso à elite do futebol estadual. Agora, Catalão mira vôos mais altos, como evoluir o investimento na base e na estrutura do clube, com a reforma no Estádio Pedro Caetano, localizado em Ipiaú, e a construção de uma sede para a instituição.

Campeão da Série B, o Doce Mel irá estrear no Baianão em 2020 | Foto: Tiago Caldas / Divulgação

 

Para começar, gostaria que você falasse mais sobre o projeto. É um projeto com mais de 10 anos, mas que foi a primeira vez que o clube participou da Série B, correto?

Participamos em 2008 e 2010 com o Atlanta que é o antecessor do Doce Mel. Vimos que seria importante ter um trabalho social que viesse atender as crianças e adolescentes de Ipiaú. Conseguimos trabalhar com 200 crianças e adolescentes, alguns estão em times profissionais, outros em faculdades e escolas. O que a gente usa no projeto é, primeiro estar matriculado na rede de ensino, segundo apresentar atestado médico de capacidade para participar, e terceiro de comportamento, tanto dentro quanto fora do projeto. Fazemos visitas semestrais no colégio para sabermos como eles estão. Quando há uma anormalidade, a gente chama os pais e os alunos para conversarmos, mas basicamente é isso. Temos alguns formados, inclusive um dos nossos professores estudou no projeto, fez Educação Física e agora trabalha conosco. Outros estão trabalhando em empresas. Nos preparamos para entrar no Campeonato Baiano, passamos o ano de 2018 quase todo para regularizar, entramos esse ano. É uma dificuldade muito grande, mas tem que ir trabalhando para minimizar. Conseguimos o acesso e agora estamos procurando evoluir ainda mais.

 

E como foi o planejamento para disputa da série B? Claro que o objetivo é sempre o título, mas vocês imaginavam que viria logo no primeiro ano?

Quando a gente entra é para ser campeão. Cada jogo é uma etapa que você vai superando e termina você sentindo se vai subir ou não. Fomos trabalhando bastante sabendo que poderíamos chegar. Montamos um elenco qualificado, e as peças que vimos que não estariam de acordo com o que queríamos, fomos dispensando. A grande maioria não foi nem pela parte física ou esportiva, mas pela parte comportamental. Esse acesso foi muito importante para nós. O principal é quando esse tipo de trabalho você vive para aquilo. Você quer que dê certo. Não trabalha usando como trampolim ou para aparecer na mídia. A direção não recebe nenhum salário, só comissão técnica, jogadores e um supervisor. Queremos mudar essa mentalidade no futebol que tudo é dinheiro. Sempre preservamos a imagem do clube, para todos saberem que apesar de novo, priorizamos muito o comportamento. Principalmente por ser uma cidade pequena, onde todo mundo sabe de tudo.

 

O time é forte em Ipiaú, a cidade abraçou o projeto. Vocês planejam mandar os jogos do Baianão 2020 no Estádio Pedro Caetano?

Iríamos disputar a Taça Governador, inclusive solicitamos a inscrição, mas depois dessa conversa com o governador [Rui Costa], sentimos que precisávamos focar ou em uma competição ou em outra. O orgulho do povo daqui foi fantástico. A torcida aqui é fanática. Fizemos carreata após o título e foi lindo. Vamos priorizar o estádio agora, para disputarmos no ano que vem em Ipiaú. Vamos ver no ano que vem se conseguimos trazer o primeiro jogo de primeira divisão em Ipiaú. Vamos trabalhar muito, pois o povo da região merece muito. Vamos focar nisso. O planejamento é resolver o estádio e iniciar a pré-temporada em novembro.

O time manda os seus jogos no Estádio Pedro Caetano | Foto: Divulgação / Doce Mel 

 

Todo time que sobe, em sua maioria, a briga é para não retornar à Série B. O planejamento para o próximo ano já foi iniciado? E quais são os principais objetivos para disputar a elite?

Uma das coisas é continuar organizados, bem focados na competição. Não podemos deixar as coisas para última hora. Já começamos a questão do estádio, depois vamos ver outras coisas já. Nós não paramos. Do time que foi campeão, inscrevemos 12 jogadores da base. Cinco jogaram, sendo que dois foram titulares absolutos. Prova que o trabalho está bom, mas precisamos reforçar a equipe. Estamos com alguns contatos para vermos o que a gente pode melhorar. Estamos conversando com o Elias Borges [treinador], mas acredito que seja ele. Nosso projeto tem Elias como uma pessoa que pode tocar. Temos que manter o trabalho, mas claro que a opinião não é só a minha. Vamos decidindo todos juntos. Sempre trabalhamos dessa maneira, pois todos têm direito a falar, sugerir e decidir.

 

O Doce Mel investe muito na base. Tanto que no elenco tinham 10 jogadores oriundos desse projeto. Você pode explicar mais sobre esse projeto social?

O nosso trabalho é bem inicial em relação à formação de jogadores. Esses atletas são da base, moram aqui, jogam aqui, mas ofertas já apareceram sim, para fazerem testes em outros lugares. Nenhum foi ainda, mas o ano que vem já é um pouco mais complicado, ainda assim vamos continuar acreditando neles. Agora precisaremos fazer uma base, não só o projeto social. Pois precisamos colocar novos jogadores no mercado do futebol.

 

A intenção da diretoria e do patrocinador é melhorar a estrutura e novas instalações já estão sendo construídas. Tem previsão de quando todo esse projeto será finalizado?

Você dá mais segurança ao profissional que está trabalhando. Estamos fazendo uma sede onde vamos ter 14 apartamentos duplos, dentro de um padrão de qualidade melhor do que muitos lugares, um refeitório, uma sala de reuniões, consultório médico, fisioterapia, lavanderia e academia, tudo nesse espaço. O projeto está pronto e acredito que já deve começar. Estamos pensando em uma área para treinamentos, mas é algo que talvez demore mais um pouco. Estamos colocando para fazer aquilo que gera uma despesa maior. Não tem como fazer tudo de vez, infelizmente.

 

Elias participou da arrancada ao título da Série B. Vocês já acertaram a renovação para o ano que vem?

Esse ano estava ele e o [Paulo] Sales. Sales veio e depois ele veio. Hoje, o que posso dizer é que veremos alguns pontos para decidirmos. Não estamos pensando como um clube de futebol, mas sim como um projeto. Não adianta a gente entrar como está hoje. Vejo isso aí como o único meio de sairmos de Bahia e Vitória. Precisamos mudar, fazer alguma coisa diferente. Se começarmos a usar o futebol de maneira diferente, teremos a chance de chegar a algum lugar. Elias continua no nosso planejamento, falta apenas sentarmos para fechar alguns pontos.

 

O clube leva o nome do seu patrocinador, algo que não é muito comum no futebol brasileiro. Você acha natural que isso aconteça?

O futebol está assim há muito tempo, muito caro para se fazer. Um time para disputar a segunda divisão do baiano, só com despesas, chega a quase R$ 400 mil. A renda hoje dá no máximo R$ 20 mil, que sobra só a metade. Só tem essa maneira de fazer futebol hoje. Temos na Bahia a Canaã e a Unirb também. Imagine quando for para outras divisões... Eu vejo como super natural. Seria a melhor coisa para o futebol, pois daria uma oxigenada no nosso futebol. A maioria desses jogadores que trabalha, termina o campeonato e não recebe... Vejo naturalmente em ser assim.

 

Vocês subiram para a elite do futebol baiano e, com certeza, serão mais noticiados pela imprensa. Você teme que a detentora dos direitos de transmissão do Campeonato Baiano não chame o clube pelo nome oficial?

Eu acredito que não. Talvez Red Bull possa até ter, mas no nosso caso não. Pelo que a televisão paga para ter Campeonato Baiano, que é bastante irrisória, é algo muito relativo. Espero que isso não mude, é melhor ter clubes com nome de empresa e estar dando retorno, do que não ter nome de empresa e ficar do jeito que estávamos.

Jogadores reunidos no gramado de Pituaçu após o título | Foto: Tiago Caldas / Divulgação