Destaque no Esqui Alpino, baiano fala sobre sonho de ir aos Jogos de Inverno de 2018
O esquiador baiano Nathan Alborghetti
Como começou o seu interesse pelo esqui alpino?
Bom, eu comecei a esquiar com uns 6 anos e foi até de uma forma engraçada. Morávamos na Europa e já tínhamos viagem de final de ano marcada para o Brasil, mas minha irmã pegou catapora e tivemos que adiar nosso retorno. Com isso, meu pai teve a ideia de me levar para conhecer a neve, já que eu nunca tinha visto, e fomos para a estação de Ovindoli (130km de Roma). Daí fiz a minha primeira aula e adorei. Só que na outra semana, fui eu que acabei ficando doente e a Esmeralda acabou conhecendo a neve também e se apaixonou. Como tivemos dificuldades de conseguir novas passagens para cá, por conta do final de ano, acabamos tendo mais contato com a neve e evoluindo.
E como aconteceu o desejo de participar de competições envolvendo o esqui?
Nos dois anos após esse primeiro contato, fomos aprendendo as bases e depois entramos em um clube de esquiadores, onde começamos a competir. Porque sempre víamos os garotos treinando para os torneios e tanto eu quanto a Esmeralda gostamos daquilo. Daí passamos a treinar também e a minha primeira competição foi com oito anos, onde ganhei uma medalha de bronze. Depois disso fui evoluindo e treinando mais e mais até hoje, quando vou entrar na categoria profissional.
Os irmãos Nathan e Esmeralda Alborghetti (Foto: Divulgação)
Antes a gente não sabia muito da questão de representar um país. Nós morávamos na Itália desde os meus seis anos, por conta do trabalho de meu pai, e nas competições nós representávamos o clube que nos matriculamos. Não existia, para nós, uma competição de nacionalidades e sim entre equipes. Depois, já com 13 anos, nós começamos a ter uma ideia maior disso tudo quando descobrimos que existiam troféus internacionais e aí cogitamos se haveria algum clube de esqui brasileiro. Naquele ano, fomos esquiar na Argentina e no Chile e lá conhecemos o presidente da Confederação Brasileira de Desportos na Neve, que nos convidou a representar o Brasil. A primeira foi a minha irmã, que é mais velha e já tinha entrado na categoria para competições internacionais. Um ano depois eu entrei também e já na minha segunda temporada eu consegui conquistar medalhas. Hoje estou no quinto ano e estou sempre focado em competir pelo Brasil, evoluindo e conseguindo mais resultados para o país contra adversários tanto da América do Sul quanto da Europa.
E existe algum tipo de investimento por parte do país para os praticantes dos esportes de neve como o Esqui Alpino?
Existe sim. Na categoria de juniores, entre 12 a 15 anos, já existia uma bolsa atleta para aqueles que conseguissem ganhar medalhas nos troféus internacionais. A primeira medalha foi conquistada por Esmeralda, que foi a primeira brasileira a levar um troféu internacional na categoria, e um ano depois eu levei duas medalhas pelo Brasil, o que nos deu o privilégio de ter a bolsa-atleta. E como continuei mantendo a regularidade segui mantendo o auxílio.
E hoje você mora no Brasil atualmente. Como funciona a sua dinâmica de treino para o Esqui Alpino?
As competições geralmente são períodos de janeiro a março na Europa. Então me baseio no calendário do inverno de lá. Meu colégio aqui termina no final de novembro e até chegar os resultados finais pode levar até o início de dezembro. Então viajamos no meio do último mês para lá e eu começo a treinar. Quando começam as primeiras competições, passamos a participar e treinar até março, onde voltamos e retorno pro colégio. Daí só volto a esquiar em julho, aqui mesmo na América do Sul, onde treino e temos outras competições até setembro. Nesse período onde não temos como esquiar, passo a me condicionar fisicamente, porque de certa maneira uns 50% do esporte também é fora da neve. Por que a preparação atlética é muito importante para conseguir chegar ao máximo de sua forma, e se você não se prepara, cansa muito rápido na hora da disputa. Então, o meu treino aqui é basicamente de resistência com corrida e bicicleta; de força, treinado principalmente os braços e o abdômen, e um treino mais aeróbico que é o surf. Hoje a grande maioria dos campeões mundiais, principalmente os americanos, eles praticam esse esporte não somente nas férias mas também porque é propedêutico, porque implica muito equilíbrio já que você tem que se equilibrar na prancha. No esqui é a mesma coisa e com isso acabo treinando e me divertindo, porque adoro o surf.
Assim, eles também acabam indo para lugares frios nesse período para treinar, e na maioria das vezes escolhem o norte da Europa ou as zonas glaciais porque é até mais perto para eles em relação à distância. Mas, em compensação, acabam tendo que enfrentar maiores altitudes. Já na América do Sul as pistas estão na altura do mar e dá para se fazer treinos melhores sem se cansar muito e com a neve invernal, que é bem diferente da neve que eles encontram no verão por lá, que é mais aquosa. Então se você tem a possibilidade de sempre tentar em neve invernal é melhor.
Agora você vai se profissionalizar. O que muda agora para você nesta categoria?
Bem, várias coisas vão mudar. Os tamanhos dos esquis mudam e também a própria dinâmica das provas. Antes, as competições eram de 30 portas, agora vão ser de 50. Aí o tempo da descida aumenta e demanda maior preparação atlética. Mesma coisa dos esquis, porque é mais difícil fazer as curvas com eles. Por isso que eu esse ano eu comecei a utiliza-los nos treinos. Estou me adaptando bem, apesar de ter que dividir o tempo na época entre os esquis da minha categoria e os profissionais.
Nathan em entrevista ao Bahia Notícias (Foto: Bahia Notícias)
São bem diferentes. Quando você é semiprofissional tem sempre as mesmas competições, mas quando você entra na categoria profissional tem vários e vários torneios, em diversos lugares do mundo. Mas, para você ter acesso a elas, precisa estar qualificado para elas. Na categoria profissional você tem uma pontuação invertida, onde os melhores são os que tem menos e para reduzi-los você tem que disputar as competições. No início você é um não qualificado e cada vez que você for competindo você vai pegando uma pontuação e vai reduzindo. No decorrer da sua evolução, você acaba se qualificando para outros torneios que vão ser liberados enquanto você vai se tornando melhor no esqui e, quem sabe disputar uma Copa do Mundo por exemplo.
E como funciona o cenário nacional hoje? Existe alguma competição de referência para os atletas brasileiros?
Cada ano temos um Campeonato Sul-americano, onde temos três competições que valem para o Campeonato Brasileiro. Nelas, todo mundo pode participar, mas além daquele torneio, os brasileiros disputam um troféu próprio. Dentro da classificação geral, o melhor colocado do país acaba ficando com o título nacional.
E como funciona a classificação dos brasileiros para os Jogos de Inverno?
Então, para se qualificar para os Jogos de Inverno, independente de que país você é, tem que ter no mínimo 140 pontos, o que não é difícil. Mas, como no Brasil existem outros esquiadores o que tem a pontuação menor é o que vai para a competição. Normalmente, é o que ganha o campeonato brasileiro. Como o Brasil não tem ainda um atleta entre os 500 do mundo, o país só tem direito a 1 vaga tanto no masculino quanto no feminino. Quando um deles chegar a superar essa marca, aí desbloqueamos para ter mais um participante nas Olimpíadas de Inverno.
Ver o Brasil nos esportes de neve era algo impensável para as gerações passadas. Como um atleta de base da categoria, como você tem visto esse cenário do esporte de neve do país?
O Brasil tem crescido muito nos esportes de neve. Não só no Esqui Alpino quanto em outras modalidades vem crescendo muito, não só nas Olimpíadas como nos Mundiais. Hoje temos no snowboard, por exemplo, a Isabel Clark que já teve expressivos resultados nos mundiais. No esqui temos atletas que vem a cada ano baixando sua pontuação.
São três anos até 2018. Existe tempo hábil para treinar e chegar nessa competição?
Existe condição sim. Tenho que treinar muito e concorrer por uma vaga durante esse período. Se eu ganhar o Campeonato Brasileiro, eu vou para os Jogos de Inverno, pois é dali que se determina em quem o Brasil vai investir para a competição. Essas condições existem para todo mundo e eu vou para lutar, tentar até o fim.