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Entrevista

Adailton fala sobre amor pelo Bahia, concentração, racismo e Marquinhos Santos

Por Felipe Santana

Adailton fala sobre amor pelo Bahia, concentração, racismo e Marquinhos Santos
Fotos: Felipe Santana
O Bahia Notícias traz como entrevistado da Coluna Esportes o zagueiro Adailton, de 31 anos. O defensor, um dos reforços do Bahia no período da Copa do Mundo, está de volta ao futebol brasileiro após um longo período na Europa, entre Suíça e França. Revelado pelo Vitória, o reforço tricolor admite ser torcedor do Bahia desde a infância e fala sobre diversos outros assuntos, inclusive ser a favor da concentração. Adailton também responde sobre o trabalho de Marquinhos Santos, os melhores treinadores que teve na carreira e o preconceito que enfrentou nos primeiros anos longe do Brasil.
 

Adailton está regularizado e já pode jogar pelo tricolor baiano

BN: O que te faz ser tão diferente dos outros ao falar sobre futebol?
Adailton: Difícil falar sobre isso. Eu apenas sigo um roteiro que minha família deixou, sempre buscando estudar e explorar o máximo do meu potencial. Então, desde cedo, tenho grandes responsabilidades e entendi que o processo de evolução precisa acontecer em todas as áreas: intelectual, profissional e espiritual.

BN: Por falar em evolução, o que mudou no zagueiro Adailton após jogar na França e Suíça?
Adailton: Antes de sair do Brasil eu era muito mais egoísta. Profissional não é aquele que assina o contrato e precisa desesperadamente brigar para ser titular. Seria hipocrisia dizer que não quero jogar, mas, antes disso, preciso entender que sou empregado e tenho que cumprir funções, independente de gostar ou não. Hoje, eu tenho plena consciência que o futebol é muito mais cooperação do que uma competição no grupo.

BN: E você, na disputa pela titularidade de Titi e Demerson, terá que exercer esse sentimento, né?
Adailton: Ouvi um ditado na base certa vez: ‘Quando a coisa está ruim, trabalhe. Quando está boa, trabalhe também’. Então, no futebol, a luta por alguma coisa é constante. Estacionar só vai te fazer se ultrapassado por alguém. Está tudo bem por mim, faz parte da profissão, sendo titular ou não. Isso acontece sempre.

BN: O que você tem achado do trabalho de Marquinhos Santos? É diferenciado?
Adailton: Olhe, eu posso te dizer que a organização improvisada no futebol está acabando. Estamos vendo, entre times e seleções, que os mais planejados consegue ter sucesso. Todo aquele que representa algo novo, uma inovação, vai ser criticado por fugir da regra. Eu o vejo como uma filosofia vencedora. E, nós, digo no geral, temos certa dificuldade de aceitar o que é novo.

BN: Racismo, no futebol, não é uma novidade. Você sofreu com a discriminação na Suíça?
Adailton: Eu, diretamente, não sofri com o racismo lá não. Indiretamente, quando alguns jogadores afrodescendentes não rendiam o esperado, eles eram xingados e eu naturalmente me sentia triste com a situação.

BN: E quando atuou na França (Rennes)?
Adailton: Lá, sim. Sofri racismo algumas vezes e sofri bastante com isso.

BN: Ao declarar amor pelo Bahia, na apresentação, te trouxe fatos novos no cotidiano?
Adailton: Muita gente, claro, me parou pessoalmente para falar sobre isso, outros pelas redes sociais, mas acho tudo uma besteira. Falaram que faltei respeito, mas retruquei: ‘Aonde? Em que parte?’ Não vejo nada demais em falar que sou Bahia até porque nunca deixei de ser profissional. Antes de atuar eu era Bahia, torcida mesmo, e o que isso tem haver?
 

'Não vejo nada demais em falar que sou Bahia porque nunca deixei de ser profissional', diz o zagueiro formado na base do Vitória

BN: Por ser torcedor, a ansiedade pela estreia é maior?
Adailton: Estou doido, sim. Uns jogadores falaram que estou diferente, mais sério. Mas, quando vai começar o campeonato, alguma coisa muda em mim, fico mais sério, e vejo o futebol desta forma. Tem que mudar mesmo, são necessários momentos mais sérios, menos brincadeiras, e como já disse meu pai: ‘Vai ser pra pirão’. Momento de colocar o máximo de atenção e profissionalismo para que tudo ocorra bem.

BN: E, como profissional, quando foi sua melhor fase?
Adailton: Foi jogando na Suíça. Lá, eu encontrei o equilíbrio entre a emoção e a experiência. Foi na minha passagem por lá que me senti mais completo e ciente do que fazer dentro de campo.

BN: Recentemente no Bahia jogadores cobraram premiações atrasadas. Você considera isso normal?
Adailton: É natural que isso aconteça. Mostra que os jogadores estão cientes dos seus direitos e deveres, não vejo nada disso como uma revolução. Pelo contrário, para mim, é uma evolução. Agora, quando você vai cobrar, tem que saber também quais são seus deveres. Como uma vez me disse o goleiro Fábio Costa: ‘Quem fala tem que assumir responsabilidades’.

BN: Outro ponto polêmico: concentração. Você é favor?
Adailton: É um assunto muito complexo para falar em pouco tempo. Mas, pela nossa cultura, eu ainda vejo a concentração como uma coisa necessária. Não estou falando por esse grupo, que ainda não conheço, mas pela passagem no Santos e Vitória. Sinto que alguns jogadores ainda não estão prontos para assumir responsabilidades. Por isso, eu sou a favor com algumas ressalvas.

BN: Depois do futebol pretende seguir no mundo do futebol?
Adailton: Não posso dormir no ponto, né? Estou abrindo uma empresa de marketing esportivo, buscando fazer um cursinho para ingressar no curso de direito e espero fazer outro vestibular no final do ano.
 

Adailton quer atuar na área de marketing esportivo e fazer um curso de direito após deixar o futebol
 
BN: E o jogador consegue conciliar as duas atividades?
Adailton: Consegue, sim. Quem quer sempre arranja uma possibilidade. Estou trabalhando para ter essa empresa, auxiliar alguns jogadores na carreira, mas sem desempenhar o papel de procurador ou participar de negociações. Não tenho estômago para isso.

BN: Qual foi o melhor jogador que você teve a oportunidade de ter ao lado?
Adailton: Zé Roberto (jogador do Grêmio). O Zé, cara, é um exemplo de profissionalismo e de homem também.

BN: E o treinador?
Adailton: Pergunta difícil. Posso fazer um combinado? Então, se fosse pela parte tática, o Vanderlei Luxemburgo. O Joel Santana na parte da boleiragem, experiência, e o terceiro seria Ricardo Gomes. Esse é um cara que só a presença demanda muito respeito entre todos, que o jogador entende fácil. Se puder aliar os três em um profissional só seria perfeito.