Opinião: Qui-Gon Jinn já avisava: "Decisões moldam destinos", inclusive na dupla Ba-Vi
Em 1999, Star Wars retomava sua jornada com uma nova trilogia — que, paradoxalmente, voltava no tempo para explicar como um garoto talentoso se tornaria o maior vilão da saga: Anakin Skywalker, o futuro Darth Vader. As prequels dividem opiniões até hoje, mas ninguém pode negar que elas entregaram frases que entraram para a cultura pop. Entre essas vozes, a do mestre Jedi Qui-Gon Jinn ecoa até hoje, com uma serenidade quase filosófica. Não à toa, foi o mentor de Obi-Wan Kenobi e o responsável por abrir portas para técnicas que ultrapassam até mesmo a morte.
De Qui-Gon aprendemos duas lições poderosas: "as decisões que tomamos moldam quem somos" e "o seu foco determina sua realidade".
Não, esta coluna não é sobre cinema, mas sobre como frases criadas para um universo fictício podem dialogar com o futebol da vida real. Especialmente com o que viveram Bahia e Vitória em 2025.
A dupla Ba-Vi caminhou por trilhas completamente diferentes, mas chegou ao final da temporada com a mesma sensação incômoda: algumas decisões careceram de foco. E, como ensinaria Qui-Gon, isso moldou a realidade de cada um.
O Bahia evoluiu. Disso ninguém duvida. Mas, assim como em 2024, a impressão é de que poderia ter ido um pouco além. O clube já vive um patamar em que Copa do Nordeste e Campeonato Baiano deixaram de ser termômetros — a régua agora é outra. E mesmo assim o time patinou longe de casa, comprometendo uma campanha que tinha potencial para resultar em algo maior.
Entre discussões sobre se o tricolor "andou para o lado" ou "andou para frente", talvez a resposta seja: ficou exatamente onde estava. E, considerando sua nova realidade, isso não é necessariamente um defeito. Pela primeira vez, em duas temporadas seguidas, o Bahia está na Libertadores. Poderia estar direto na fase de grupos? Claro que sim. Era o objetivo. Mas para quem carregou tantos anos de sofrimento, a estabilidade que se impõe no horizonte é, por si só, motivo de comemoração.
Agora, o clube precisa escolher a direção — lado ou frente — desde que a seta esteja apontada para o progresso. Rogério Ceni já deixou claro o que deseja: reforços mais “cascudos”, mais físicos, capazes de sustentar momentos decisivos.
Dentro da filosofia do Grupo City, o Bahia continuará buscando jogadores com potencial de revenda. É o que o Manchester City faz desde o início de seu projeto e que ainda funciona. O Bahia tende a se consolidar como protagonista ao lado de Palmeiras e Flamengo; a dúvida é quando. O elenco pode, e merece, ser mais decisivo. Mas só o tempo dará essa resposta. Por enquanto, fica o lembrete de 1999: o foco do clube determinou exatamente a realidade que ele viveu. Resta saber que foco será escolhido para 2026.
O Vitória, por sua vez, viveu o contrário. Seu ano foi moldado por decisões ruins, e a temporada inteira refletiu isso. Eliminações da Copa do Brasil, Copa do Nordeste e Sul-Americana dentro do Barradão; montagem de elenco equivocada; jogos que escaparam entre os dedos mesmo quando havia vantagem. Quem lembra de Sport e Palmeiras no primeiro turno sabe do que estou falando.
Nada disso surpreende o torcedor. A gestão assumiu seus erros. Em 2024, havia um argumento, um contexto. Em 2025, não havia mais justificativas. E em 2026, não haverá espaço para falhas.
Ainda assim, quando o "bombeiro" Jair Ventura chegou para apagar o incêndio no Barradão, trouxe consigo uma virtude essencial: foco. E esse foco transformou a realidade rubro-negra. Um time consciente de suas limitações, disciplinado, competitivo — que somou 14 pontos em 18 possíveis e garantiu sua permanência na Série A. Uma missão que parecia improvável meses antes.
Agora, o desafio é o mesmo do rival: tomar novas decisões capazes de moldar uma realidade melhor em 2026.
No fim das contas, o torcedor, seja de Bahia ou Vitória, tem motivos para se frustrar. O tricolor porque seu elenco talentoso entregou menos do que poderia. O rubro-negro porque viu erros básicos se repetirem ao longo do ano. E nenhum deles pode confundir tranquilidade com acomodação.
Como lembra o mestre Yoda, "sempre em movimento está o futuro". A pergunta é: para onde Bahia e Vitória vão se mover? E qual realidade escolherão moldar?
Como ainda são muitas perguntas sem respostas, resta apenas desejar que a Força esteja com a dupla Ba-Vi. Sempre.
