Opinião: Será que Neymar ainda consegue voltar a ser Neymar?
O Paris Saint-Germain publicou recentemente um vídeo com os melhores momentos de Neymar no clube. Logo no início, uma voz feminina questiona: "Será que o Neymar ainda consegue voltar a ser Neymar?". A dúvida ecoa entre os fãs — e, para os mais lúcidos, a resposta pode ser mais dolorosa que a pergunta.
Hoje “adulto Ney”, o camisa 10 do Santos vive um Brasileirão apagado: 13 jogos, três gols e nenhuma assistência, quatro cartões amarelos e um vermelho por reclamação. É verdade que ficou fora de dez partidas por conta de lesões e seria injusto ignorar esse contexto. Hoje, o argumento mais pronto é dizer que “futebol vai além dos números”. Mas, mesmo quando está em campo, o impacto tem sido pequeno. A pergunta que fica é: o que Neymar tem oferecido além dos números?
Dizem que ninguém conhece o seu corpo melhor do que você mesmo. E o próprio Neymar se catapulta em cima desse argumento para mostrar que está bem fisicamente — tem atuado os 90 minutos com frequência. Mesmo assim, Carlo Ancelotti, em sua convocação teste para uma Seleção já classificada à Copa do Mundo, preferiu não o chamar. Não é por falta de admiração: o italiano sempre manifestou o desejo de treiná-lo. Mas a ausência indica algo mais profundo. O fato é que ainda falta técnica, e há de se reconhecer que o Neymar em 2025 não entrega mais isso, pelo menos até aqui.
"Uma seleção precisa reunir os jogadores mais talentosos. Mas um jogador talentoso também precisa estar em forma. Neymar é, sem dúvida, o brasileiro mais talentoso. Ele teve um pequeno problema físico e se recuperou rápido. Mas quero que ele esteja 100% para jogar. Do ponto de vista técnico, não há discussão", disse Ancelotti em entrevista recente ao L’Équipe.
Ainda assim, há quem defenda: "Neymar joga num time limitado. Se estivesse em um elenco melhor, voltaria a brilhar". O grande problema é que tudo tem girado em torno do "se". Hoje, o que temos é o "Neymar hipotético", como dizem. Mas esse é só mais um dos argumentos que se dissipam quando você enxerga, por exemplo, um Philippe Coutinho voltando à sua forma e propondo jogo ao limitado elenco do Vasco, que está classificado para as semis da Copa do Brasil. Não vou entrar em números aqui, porque "futebol vai além dos números", se é assim que se deve comparar Neymar.
O que se vê, na prática, é que Neymar vive de lampejos. Um drible ou outro ainda arranca aplausos e cria falsas expectativas de que ele pode voltar a ser o que já foi. Mas a sequência nunca vem. A cada jogo, o torcedor se agarra a pequenos sinais que, no fim, não passam de momentos isolados.
Hoje, o principal ídolo do futebol brasileiro não consegue "voltar a ser Neymar". Falta explosão, falta reação, forma, técnica e maturidade (ainda). "Não preciso provar nada para ninguém", foi o que disse ao ser questionado sobre um eventual retorno à Seleção. E a verdade é que hoje precisa provar, e muito. Não adianta se esconder em indiretas nas redes sociais, atacar fãs que o criticam e se apegar à legião de parças e amigos — hoje cegos sob a luz da hipótese — para causar um efeito manada. O campo fala e hoje ele diz que Neymar não está pronto para voltar a vestir a Amarelinha.
Ainda faltam alguns compromissos antes da Copa do Mundo de 2026, e Ancelotti já alertou que, mesmo ficando fora de todos os próximos amistosos, ele ainda tem credencial para brigar por uma vaga. Depende de Neymar. Mesmo que não volte a ser Neymar, precisa se reinventar e juntar o que tem para estar entre os 26 convocados para o Mundial na América do Norte.
O que se desenha — e o que Ancelotti esboça — é um time sem ele. Mesmo que seja convocado, dificilmente será titular com o que mostra hoje, pois seus concorrentes estão tecnicamente à frente e já dá para observar um padrão. Neymar pode pintar na Copa e mudar a visão imposta neste texto. Tem talento para isso, mas hoje a realidade precisa ser encarada. E, para toda pessoa apaixonada ou emocionada, o mais saudável a se fazer é não criar expectativas, pois a frustração é um dos sentimentos mais dolorosos de quem anseia por um cenário mais feliz à frente.