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Pandemia fez jovens interromperem tratamento para prevenir HIV; entenda

Por Alexandre Brochado

Pandemia fez jovens interromperem tratamento para prevenir HIV; entenda
Foto: Divulgação

A pandemia do novo coronavírus causou impacto em diversos aspectos econômicos e sociais, entre eles os cuidados preventivos em relação ao HIV na população jovem. O alerta é de Inês Dourado, professora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA) e coordenadora do projeto PrEPara Salvador. 
 
O PrEPara Salvador é um projeto de prevenção ao HIV entre jovens. O estudo é voltado para adolescentes gays, homens que fazem sexo com homens, mulheres trans e travestis, entre 15 e 21 anos, através do uso da Profilaxia Pré-exposição ao HIV, a chamada PrEP. 

 

A PrEP consiste no uso diário de antirretrovirais por pessoas não infectadas pelo vírus, com o intuito de reduzir o risco de infecção nas relações sexuais, evitando o que se chama de "soroconversão".
 
Em entrevista ao Bahia Notícias, a especialista diz que serviços de saúde e prevenção chegaram até a fechar no período mais crítico da crise sanitária da Covid-19. “Nós do PrEPara Salvador nunca fechamos, fizemos um plano de contingência para nunca deixar de atender os nossos participantes. E como nós já tínhamos muitas experiências no mundo virtual, devido ao nosso trabalho de recrutamento de jovens nas plataformas online, como Instagram e Facebook, e os aplicativos de encontro, ofertamos telemedicina, enviamos PreP e autoteste para a casa dos participantes e começamos abrindo pelo menos por um dia presencialmente, seguindo todas as medidas de proteção contra o coronavírus”. 
 
Porém, segundo Inês, entre o final de 2020 e o ano de 2021 foi percebido pelo projeto que os jovens participantes do estudo acabaram flexibilizando os cuidados em relação à prevenção contra o HIV. Os dados mais concretos ainda estão sendo apurados pelos pesquisadores, mas o maior impacto durante esse período mais crítico da crise sanitária da Covid-19 se deu ao fato da PrEP ser uma medicação que só funciona se for tomada todos os dias, da mesma forma que um anticoncepcional. Se o usuário não tomar pelo menos  quatro pílulas por semana não terá a proteção que a profilaxia promove.
 
“Antes da pandemia, nós não tínhamos casos de soroconversão daqueles que iniciaram o tratamento com a PrEP. Durante a pandemia algumas pessoas relaxaram a adesão, por não estarem com atividade sexual e nem encontrando parceiros da mesma forma que antes da pandemia. Porém, para você ter relações sexuais é daqui pra ali, pois é uma situação que pode acontecer. Então, se você não está tomando a PrEP de maneira adequada, sendo o ideal tomar diariamente, conforme recomendamos, não há a proteção contra o vírus”, ressaltou a especialista. 
 
Informar a pessoa que inicia o uso da PrEP sobre a adesão e a necessidade de tomar o comprimido diariamente é fundamental, e é como forma de reforçar sobre essa importância que o projeto, mesmo quando os participantes saem da conversa com o profissional, utiliza dos chamados “navegadores do cuidado”. São pessoas instruídas para conversarem com os participantes, que orientam para que sejam utilizados mecanismos de lembranças para que a PrEP seja tomada, seguindo a recomendação médica. 
 
Nos casos de participantes que fazem parte do PrEPara Salvador e que são diagnosticados como soropositivos, o projeto imediatamente faz o encaminhamento para conversas com  profissionais e automaticamente realiza a vinculação com uma unidade de saúde do SUS para dar início ao tratamento. 
 
“O tratamento hoje é prevenção e qualquer pessoa que seja soropositivo deve iniciá-lo imediatamente. Acompanhamos todos, tanto aqueles que são soropositivos quando chegam quanto aqueles que soroconverteram em uso da PrEP. Ao chegar no PrEPara Salvador, nós realizamos um teste rápido para HIV, se deu positivo nós começamos fazer o acompanhamento para que seja iniciado o tratamento, porque isso será fundamental para a qualidade de vida da pessoa, para que a carga viral siga indetectável ou se alcance ela ser indetectável, que é importante para a vida do sujeito, como também é importante para a prevenção de HIV. Porque quem está com a carga viral indetectável não transmite o vírus. Nós temos essa responsabilidade ética com todos os jovens do nosso estudo que forem identificados como soropositivos, esse é um trabalho nosso bem cuidadoso”, afirma Inês. 
 
Existe uma política da PrEP no SUS, que é ofertada em Salvador em algumas unidades de saúde. O programa PrEP SUS é oferecido para pessoas sob o maior risco de virem a ter a infecção do HIV, como homens que fazem sexo com outros homens, mulheres trans, mulheres profssionais do sexo e casais sorodiscordantes. Contudo, a Profilaxia Pré-exposição ao HIV ainda não é disponibilizada no sistema público de saúde para pessoas menores de 18 anos. Diante disso, o estudo feito pelo PrEPara Salvador, que também acontece também São Paulo e Belo Horizonte, tem como um dos objetivos demonstrar que a PrEP de fato é uma medida importante para os jovens.
 
“Dentro do Brasil e em países europeus a epidemia está crescendo entre jovens gays e meninas trans. No nosso estudo, avaliamos se os jovens vão escolher usar a PrEP como medida de prevenção, além do preservativo, e nós sabemos que os mais jovens não gostam de usar preservativo, é muito baixo o percentual de uso. Então estamos produzindo o conhecimento para informar do ponto de vista da política pública e de pesquisa”, explica a especialista. 
 
Inês também chama atenção da comunidade jovem de que, para além da Aids, existem outras infecções sexualmente transmissíveis, e que para se prevenir o uso do preservativo é indispensável.