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Após estudo no Einstein, médica baiana explica importância de achar remédio contra Covid-19

Por Jade Coelho

Após estudo no Einstein, médica baiana explica importância de achar remédio contra Covid-19
Foto: Arquivo pessoal

Apesar dos incontáveis impactos negativos da pandemia da Covid-19, fato inegável, a crise sanitária pode ter contribuído de forma positiva para a ciência e ter alçado a um outro patamar a pesquisa clínica brasileira. É sob essa perspectiva que a médica baiana e pesquisadora do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa, ligado do Hospital Israelita Albert Einstein, Patrícia Guimarães, enxerga.

 

Nascida em Salvador e médica formada pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSH) em 2009, Patrícia fez residência em Cardiologia no Instituto do Coração, da Universidade de São Paulo (USP), e atualmente trabalha área de pesquisa clínica.

 

A soteropolitana está entre os médicos que conduziram o estudo que identificou que o medicamento tofacitinibe pode reduzir em 37% a chance de morte ou piora dos quadros de insuficiência respiratória provocados pela infecção pulmonar causada pela Covid-19 (leia mais aqui). Os resultados foram publicados na revista médica The New England Journal of Medicine, uma das mais importantes internacionalmente. 

 

O estudo foi feito com 289 pacientes hospitalizados com a Covid-19 e quadro de pneumonia em 15 hospitais de referência para o tratamento da infecção pelo coronavírus espalhados pelo país. Os pacientes tinham que atender a critérios específicos para serem incluídos no estudo. As exigências incluíam quadro de pneumonia comprovado por imagem pulmonar no raio X ou na tomografia, idade igual ou maior que 18 anos, teste PCR positivo para Covid-19, e estar hospitalizado há no máximo três dias.

 

O número de pacientes participantes foi definido a partir de um cálculo de tamanho da amostra e não há perspectiva de ampliação do estudo para um público maior, explicou Patrícia. “Antes de começar o estudo a gente faz um cálculo de tamanho da amostra, que é para ver qual o número de pacientes necessários para entrar no estudo para que a gente possa provar a hipótese que a gente quer estudar e avaliar. Nesse caso a gente fez um cálculo que demonstrou que com cerca de 260 pacientes ou um pouco mais seria possível comprovar nossa hipótese. Que foi o que aconteceu”, explicou.

 

Além dos pesquisadores do Einstein, o estudo contou com a colaboração da farmacêutica americana Pfizer, famosa por uma das vacinas mais eficazes contra a doença e que também é responsável pela produção do tofacitinibe.

 

Os resultados promissores animam até quem é leigo, mas podem esbarrar no alto custo do medicamento. Nas farmácias o tofacitinibe chega a custar em torno de R$ 5 mil uma caixa com 60 comprimidos. A dose usada no estudo foi de 10mg duas vezes ao dia e a média de tempo que a medicação foi utilizada nos pacientes participantes da pesquisa foi de seis dias. Em uma situação hipotética em que os 1.333 pacientes internados atualmente em UTI Covid na Bahia fossem submetidos ao tratamento, e considerando que cada comprimido é de 5mg, o custo seria de mais de R$ 2,8 milhões pra tratar as pessoas sob tratamento intensivo no estado.

 

Os pesquisadores do Einstein agora estão na expectativa de que os dados do estudo do tofacitinibe nos casos de pneumonia por Covid-19 sejam avaliados pelas agências regulatórias e pelos órgãos de saúde pública. Essas entidades vão analisar as informações levantadas por eles, além do custo e eficácia.

 

Na visão da médica e pesquisadora baiana, a pandemia colocou a pesquisa clínica em foco, assim como os esforços de cientistas que têm feito análises para mostrar novos tratamentos e vacinas. A especialista vê como positivo também o fato de a população leiga ter se interessado e aprendido um pouco mais sobre o funcionamento dos estudos.

 

Mesmo com a vacinação contra a Covid-19 em andamento, a comunidade científica prospecta que a Covid-19 não deve ir embora tão cedo. Diante disso, Patrícia afirma que a ciência deve continuar empregando esforços na tentativa de identificar medicamentos para tratar a doença. “Nós estamos enfrentando um grande aumento do número de casos e precisamos manter nossos esforços de pesquisa para buscar medicações que possam trazer benefícios aos pacientes, melhorar qualidade de vida, o índice de alta hospitalar, diminuir tempo de hospitalização... Então ainda há muitos esforços científicos e isso deve ser cada vez mais estimulado”, analisou a médica baiana.

 

Sobre o caso em que colaborou no Einstein, a cardiologista exaltou os resultados e a repercussão na comunidade científica. “A gente ficou muito feliz que uma pesquisa brasileira, com 15 hospitais brasileiros, coordenação do Einstein e o apoio da Pfizer, trouxe para nós uma visibilidade mundial, da nossa pesquisa feita inteiramente no Brasil”, celebrou. “Acredito que apesar do lado ruim da pandemia, isso nos ajudou a estimular cada vez mais tanto o entendimento da pesquisa, como a execução de várias pesquisas no Brasil”, completou a médica.