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Entrevista

Volta do sarampo preocupa gestão de Salvador, que convoca pessoas a se vacinar

Por Bruno Leite

Volta do sarampo preocupa gestão de Salvador, que convoca pessoas a se vacinar
Foto: Marina Nadal / Bahia Notícias

O município de Salvador começou, no início do mês, a uma campanha de imunização contra o sarampo. Simultânea à aplicação da vacina contra a gripe e da Covid-19,a estratégia coincide também com a chegada do novo secretário da pasta, Décio Martins, que substitui desde o dia 30 de março o deputado Leonardo Prates (PDT).

 

Embora tenha sido considerada erradicado nas Américas, o sarampo voltou a ser identificado entre a população. Entre os soteropolitanos, o número chegou a 2 casos.

 

Martins não chegou a ser uma novidade à frente da Saúde. Citado como um dos quatro preferíveis de Prates, ele já atuava como subsecretário e tem uma trajetória por outros órgãos da gestão desde os governos de ACM Neto (UB).

 

Ao Bahia Notícias, ele revelou que a experiência no enfrentamento da pandemia e com o Sistema Único de Saúde (SUS) fortaleceu sua nomeação.

 

Assuntos como a volta do sarampo, o atendimento das "sequelas da pandemia" e a atenção à saúde mental pelas unidades municipais foram outros temas da entrevista de Martins ao Bahia Notícias, concedida no último dia 6 de abril.

 

Na oportunidade, um dia após a flexibilização de máscaras na Bahia, ele ainda comentou sobre o avanço da vacinação e testes nas escolas da rede pública. 

 

"Além disso, estou discutindo com o secretário Marcelo Oliveira a possibilidade de também realizarmos testes nas escolas. Então é isso, a pessoa que tá com síndrome gripal pode testar nas nossas unidades e temos interesse em realizar nas escolas para verificar a contaminação das crianças", disse.

 

Quando é que surge seu nome à frente da secretaria? O ex-secretário Léo Prates que inclusive citou o senhor como um dos quatro preferíveis. Quando seu nome deixa de ser apenas uma possibilidade e se torna a ser trabalhado? 

Queria, primeiro, destacar aqui a minha trajetória na vida pública. Eu iniciei como diretor administrativo  junto ao Leonardo Prates quando ele era presidente na Câmara Municipal de Salvador e, quando Léo passou pra Prefeitura de Salvador, assumindo o cargo de secretário de Promoção Social eu fui como seu subsecretário. Depois de meses à frente da gestão, Léo recebeu um convite pra ir para a Saúde e eu fiquei na Promoção Social como subsecretário, quem assumiu foi a secretaria Ana Paula Matos e fiquei até o final da gestão do prefeito ACM Neto. Em janeiro de 2021, ingresso na Saúde também como subsecretário. Naquele momento foi de muita dificuldade, pois estávamos, de certa forma, com a pandemia em grande avanço. Vocês lembram, nós abrimos naquele momento cinco hospitais de campanha com um trabalho árduo. Nós trabalhávamos domingo a domingo e não tínhamos hora para trabalhar. Passamos a pandemia aí com picos e quedas no número de casos e internações ao longo de 2021 - o último foi o advento da ômicron, em dezembro de 2021 - e ele foi até mais ou menos fevereiro de 2022, com um pico de Influenza e H3N2, muitas pessoas tiveram também a fluorona. Então, foi um momento de dificuldade e cada onda trouxe a sua especificidade. Ente janeiro e abril de 2021 nós tivemos um grande problema com internamentos, já agora na ômicron tivemos dificuldade por conta dos profissionais da saúde que contraíram Covid-19 e também muitos pacientes agravados por outras enfermidades. Esse foi um problema muito grande para realizar a regulação e principalmente isolar esses pacientes. Foram desafios muito grandes e tudo isso me possibilitou chegar agora como secretário, suceder a excelente gestão que o Leonardo Prates fez à frente da pasta. De fato, foram ventilados outros nomes, pessoas competentes como a vice-prefeita Ana Paula Matos que é minha amiga e que eu já tive o prazer de trabalhar como subsecretário dela, meu amigo Thiago Dantas e também Moisés Andrade, que é subchefe da Casa Civil. Acho que o que contou, principalmente para mim, foi o fato que eu já vivia a saúde no dia a dia e já conhecia o processo do SUS, que é uma área muito específica. Quero dar continuidade a todo belo trabalho que foi feito pelo secretário Prates, mas sem continuísmo porque estamos vivendo uma nova fase onde estamos com dados epidemiológicos favoráveis, mas precisamos também retornar a atenção básica em sua integralidade.

 

As pessoas têm que voltar a frequentar os postos de saúde. Estamos observando aí as pessoas dois anos se cuidar e o reflexo disso de fato são as pessoas chegando agravadas nas UPAs, muitos com pés diabéticos, infarto, câncer agravado. Então esse é um desafio, é um trabalho de formiguinha e que a gente só vai observar o reflexo, o que a nossa equipe técnica estima, é daqui a um ano. Outra sequela também que a pandemia nos trouxe foi a saúde mental. Nós temos observado muitas pessoas com ansiedade, com problemas mentais. Então fortalecer essa área também será um desafio para a gente. No ano passado apresentamos a política de diretrizes de saúde mental do município de Salvador na Câmara Municipal, esse projeto está amplamente debatido e nós defendemos a política antimanicomial. Já temos duas UPAs aí que funcionam como espécie de PA e que tem leitos psiquiátricos. 


A gente trouxe esse assunto aqui no Bahia Notícias. São as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Valéria e do Santo Antônio, não é?

São Valéria e Santo Antônio. Então estamos aí estudando o projeto de aumentar o nosso PA psiquiátrico. Aumentamos os serviços no Multicentro da Carlos Gomes destinados à saúde mental. E, não tenha dúvida, nosso interesse é melhorar o nosso serviço de saúde mental, eventualmente transformar CAPS II, que funcionam durante o durante o dia, para CAPS III, funcionando 24h. Essa também será uma uma característica na nossa gestão, que nós buscamos para deixar como um legado e melhorar a saúde das pessoas. Eu acho que nossos principais desafios são esses, além de todos os desafios que estão postos aí no nosso planejamento estratégico, que é construído de quatro em quatro anos.

 

Estávamos analisando os dados sobre testes na Bahia, o governo até utilizou o número de casos ativos como parâmetro para a liberação de máscaras, e percebemos uma queda no número de pessoas que realizaram o serviço. Como vocês atuam aqui em Salvador para manter essa testagem?  

No início do ano, em janeiro, em fevereiro, a dificuldade que nós tivemos nos gripários. Muitas pessoas iam buscar a testagem e isso de certa forma dava uma sobrecarga no sistema de saúde. Então, naquele momento, nós adotamos uma estratégia de realizar o teste de antígeno em diversas Unidades Básicas da nossa capital. Essa é uma estratégia que está sendo mantida, então diariamente nós publicamos os cards, tanto no site da prefeitura quanto da secretaria, com os locais onde estão sendo realizados os testes.

 

Além disso, estou discutindo com o secretário Marcelo Oliveira a possibilidade de também realizarmos testes nas escolas. Então é isso, a pessoa que tá com síndrome gripal pode testar nas nossas unidades e temos interesse em realizar nas escolas para verificar a contaminação das crianças

 

Há previsão de quando essa estratégia terá início nas escolas?

Estou discutindo com o secretário Marcelo. A gente quer começar o mais rápido possível. Estamos montando a estratégia e discutindo a melhor forma de fazer. Estamos também, como vocês sabem, realizando a vacinação contra a Covid nas escolas, é uma estratégia que adotamos desde quando tínhamos o público de 12 a 17 anos e estamos fazendo agora com o público de 6 a 11 anos também. O de 5, somente para a Pfizer pediátrica.

 

A gente está nesse cenário de pandemia e o que tem sido discutido a nível nacional é a mudança desse entendimento de pandemia para endemia. Como é que Salvador tem discutido isso? Como é que vocês pretendem entrar nessa discussão?

Nossos dados epidemiológicos do momento estão de fato muito bons. Agora eu ainda sou defensor de que mantenhamos como pandemia para observar como se comportará o cenário. Temos observados alguns aumentos de casos na China e na Europa. Existia a discussão de se encerrar a pandemia e transformar ela em endemia agora no final do mês de março, mas a decisão foi revista pelo ministro Queiroga, na minha opinião foi acertada. Então eu acho que devemos ainda manter o status de pandemia e observar ao longo dos próximos meses como se comportará aqui no Brasil o aumento de casos, se haverá alguma onda nova ou não. Particularmente acredito que não haverá mais, mas penso também que nós temos que ter toda cautela neste momento. 

 

Entre as sequelas da pandemia a gente tem um aumento, não só em Salvador, mas em outras cidades brasileiras, um aumento da população de rua. O último censo que a gente teve em todo o Brasil foi de 2008. Em 2019, a SEMPS (hoje Sempre) acenou que ia realizar essa iniciativa junto com o Projeto Axé. A que pé esse levantamento ficou? De que maneira a SMS tem acompanhado as pessoas em situação de rua? 

Eu vim justamente da Promoção Social. Passei dois anos lá. Nós fizemos um censo com o Projeto Axé, com a estimativa de 6 mil pessoas em situação de rua. Depois o Ministério da Cidadania modificou o entendimento de que também aquelas pessoas que viviam da rua, ou seja, aquele ambulante que passa a semana do lado de seu carrinho para que seus não sejam eventualmente furtados, ele também passou a ser considerado como população de rua.

 

A estimativa achou que esse número aumentou para 17 mil. E na minha saída da Sempre estávamos preparando um novo chamamento para que quem ganhasse pudesse fazer uma nova contagem. Eu não sei em que estado está esse processo, mas tenho certeza que o secretário está imbuído disso. 

 

É um trabalho muito bonito que a Promoção Social faz. E eu quero destacar que lá na Saúde nós inovamos, temos cinco consultórios de rua atualmente, que é o projeto "Girassóis de Rua", temos dois pontos de cidadania, que são contêineres que a pessoa em situação de rua vai lá fazer a sua higiene e também nós temos uma unidade de acolhimento lá no Bonfim. Então, esses cinco consultórios de rua fazem parte do maior programa que nós temos. 

 

Às vezes a população em situação de rua, ela não se sente credenciado a adentrar um posto de saúde, por exemplo, ela não se sente credenciada a ir tirar um documento. Então, o que que a prefeitura fez? Mudamos o NOA, que é o núcleo aí para o exclusivo para atendimento da população em situação de rua como um shopping de serviços. Então ele vai lá tirar identidade, ele vai lá procurar emprego abrimos diversas unidades de acolhimento institucional... E na Saúde nós temos esses cinco consultórios de rua que percorrem a cidade.

 

Ou seja, às vezes a pessoa em situação de cai no chão, tem uma ferida e não vai se cuidar. E essa ferida ela vai se agravando, quando vai observar a perna está necrosando, por exemplo. Esses dias eu tive um caso de um uma pessoa em situação de rua que me assustou bastante, um caso de miíase no queixo que já estava tomado por bichos. Nós conseguimos, através do consultório de rua, trazer esse paciente. Também com a população de rua há um trabalho de convencimento. E levamos esse paciente. Esse paciente se curou. Então isso mostra aí que estamos adotando o caminho correto. Temos total atenção. 

 

Também realizamos a vacinação em parceria com a Promoção Social. Inicialmente escolhemos o imunizante Janssen porque na época ele tinha somente uma dose e a maior dificuldade dessa população é efetivamente encontrar ele pela segunda vez. Estamos vacinando nos Centros Pop, nos consultórios de rua e com as equipes volantes junto com a abordagem social, em busca dessa população. 

 

Com relação a estratégia de enfrentamento à Influenza, como vocês estão colocando em prática a aplicação do imunizante?

Iniciamos no dia 4 de abril a vacinação de Influenza. Estamos com 156 unidades de saúde vacinando, neste primeiro momento os trabalhadores da saúde, pessoas acima de 60 anos. Os idosos com dificuldade de deslocamento ou acamados contam com o Vacina Express. Mas também quero destacar que começamos a campanha de sarampo também no mesmo dia. Ela é exclusiva nesse momento aos trabalhadores da saúde.

 

Eu quero também, em relação a vacinação de rotina, destacar que temos observado uma diminuição muito grande aí da vacinação infantil. Observamos isso principalmente no ano de 2020 para o ano de 2021. Nós nunca tivemos problemas com a vacinação infantil aqui no Brasil, nós temos uma cultura vacinal realmente enraizada na nossa população, mas vacinas como Sarampo, como BCG, nós observamos [essa diminuição]. Então, uma uma doença que já estava praticamente erradicada, que era o sarampo, voltou ainda timidamente.

 

Aproveitamos para pedir à população que leve seus filhos para se vacinarem. As vacinas de rotina estão em pleno vapor em todos os nossos postos de saúde. 

 

Aqui em Salvador vocês identificaram casos de sarampo? Quantos? 

Poucos. Eu vinha conversando com o Hospital Martagão Gesteira. Foram dois casos, mas com um só a gente já liga o sinal amarelo, digamos assim. 

 

Volto a destacar, de forma muito tímida, nós observamos um ou dois casos. Também temos observado a diminuição da procura pela vacina de rotina e da atualização do cartão vacinal. Então essa é a campanha que também nós fazemos esse ano. 

 

Salvador ficou abaixo da média nacional quanto aos índices que medem a infecção pela dengue. Ao que se deve esse trabalho e como a secretaria tem atuado em relação a essas arboviroses? 

Em janeiro nós tivemos o menor índice LIRAa da história de Salvador. Contamos ele há 16 anos, se não me falha a memória. Isso denota um trabalho preventivo que viemos fazendo. Nossos agentes estão nas ruas todos os dias, realizando um trabalho contra a dengue, chikungunya e zika. Realizamos o fumacê e recentemente instalamos nas motos para que possamos acessar locais em que os carros não chegavam.

 

No interior aconteceu um aumento grande de de casos de arboviroses, principalmente de dengue tipo I, que não é a hemorrágica e isso também nos ligou sinal de alerta. Estamos até no momento de atualização do LIRAa, em um período determinado pelo Ministério da Saúde. Não tivemos observado uma notificação de muitos casos aqui, mas em outros locais, isso nos liga o sinal de alerta para que a gente redobre o trabalho.

 

Esse foi um pedido que eu fiz a toda a nossa equipe, para que a gente intensifique nossas testagens, o trabalho nas ruas e que haja notificação desses casos para que a gente possa estar acompanhando em tempo real.