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Entrevista

Turismo de saúde pode ser 3 vezes mais valioso que o convencional, diz presidente da Abratus

Por Renata Farias

Turismo de saúde pode ser 3 vezes mais valioso que o convencional, diz presidente da Abratus
Foto: Divulgação

O trânsito de pessoas entre cidades, estados e países para turismo é extremamente comum e lucrativo para os destinos visitados. Entretanto, existe um tipo de turista que é ainda mais valioso financeiramente: aquele que viaja em busca de tratamentos médicos.

 

De acordo com Julia Lima, presidente da Associação Brasileira de Turismo de Saúde (Abratus), o turista de saúde pode valer até três vezes mais que um turista comum. “Esse é o turista que mais gasta no país. Ele vale pelo menos US$ 30 mil, enquanto o turista convencional vale, no máximo, um terço disso. A permanência é muito grande, a contratação de serviços múltiplos e especializados, tanto na área da saúde quanto do turismo”, explicou em entrevista ao Bahia Notícias.

 

O turismo de saúde é caracterizado pela realização de viagens em busca de um especialista para algum tipo de tratamento médico. Dados da Abratus apontam que o Brasil ocupa o 22º lugar no ranking mundial de turismo médico. Há cerca de 20 anos, os brasileiros viajavam para outros países em busca de tratamentos, mas atualmente o fluxo se inverteu.

 

“A gente ainda tem um potencial muito grande, certamente para entrar entre os 10 países preferidos entre os estrangeiros. Já há muitos anos, recebemos principalmente em São Paulo, mas também em várias outras regiões do Brasil, estrangeiros que procuram procedimentos de cirurgia plástica, traumatologia, cirurgia ortopédica, tratamentos cardíacos, oncológicos, neurologia, fertilidade, entre outros”, afirmou Julia.

 

A presidente da associação ainda falou sobre a situação da Bahia com relação ao turismo de saúde e detalhou a importância de investimentos na área para todo o país. 

 

Para começar, queria uma explicação do que é o turismo de saúde, até porque esse não é um termo muito usual. O que caracteriza essa prática?

O turismo de saúde se refere a qualquer viagem para fora do local de residência feita por razão de um procedimento médico, cosmético, estético e de bem-estar. A gente não usa esse termo, mas faz isso toda hora. O brasileiro tem o costume de viajar para procurar o melhor dentista, o melhor terapeuta, o melhor médico. Quando a gente fala da área médica, isso fica mais claro. Muitas vezes a gente tem uma enfermidade ou quer fazer um procedimento estético e procura um especialista naquela área. Quase sempre, ele não está na nossa cidade de residência.

 

Como está o Brasil nesse mercado, seja com relação a turistas de outros países ou até mesmo a esse movimento dentro do país?

A gente está desenvolvendo estimativas dentro do Brasil através da criação de um inventário nacional de oferta do turismo de saúde no nosso país. As informações aqui dentro ainda são muito insípidas e não satisfazem a nossa curiosidade. A gente trabalha principalmente com os números internacionais. O Brasil ocupa o 22º lugar no ranking mundial de turismo médico. Esse é um dado muito interessante porque, se você for comparar o Brasil em relação ao ranking mundial, a gente está em uma posição bem adequada. A gente ainda tem um potencial muito grande, certamente para entrar entre os 10 países preferidos entre os estrangeiros. Já há muitos anos, recebemos principalmente em São Paulo, mas também em várias outras regiões do Brasil, estrangeiros que procuram procedimentos de cirurgia plástica, traumatologia, cirurgia ortopédica, tratamentos cardíacos, oncológicos, neurologia, fertilidade... São cerca de 10 especialidades reconhecidas por atrair pacientes estrangeiros no nosso país.

 

A senhora citou São Paulo. Esse é o estado que mais tem destaque no Brasil? Como está esse ranking?

São Paulo é o estado mais tradicionalmente preparado para isso, e as entidades médicas da região costumam se promover no exterior para atrair esses acordos. Esse negócio é muito interessante, porque ele apresenta uma fonte de receita muito especial para os hospitais e clínicas. Os maiores compradores são seguradoras estrangeiras. Os planos de saúde percebem que há muito a se economizar enviando o paciente para fazer um tratamento em um país como Brasil, Colômbia ou Argentina, principalmente pela diferença na taxa cambial. E há qualidade de serviços no mesmo nível do país de residência do paciente, que geralmente é da América do Norte, Europa ou, principalmente, dos Emirados Árabes. A gente recebe, atualmente, pelo menos 250 mil estrangeiros que vêm fazer os procedimentos. Isso acontece principalmente em São Paulo, mas também temos uma região que está florescendo cada vez mais no Nordeste do Brasil. O estado de Pernambuco está se desenvolvendo bastante como polo de turismo médico, também pela proximidade dos países emissores. Para você ver como a gente vai de Norte ao Sul do país, Porto Alegre (RS) também tem um cluster de saúde, que se dedica a atrair pacientes estrangeiros. E esse mercado não se limita apenas à visita de um estrangeiro a um hospital. No momento em que esse estrangeiro entra no nosso país, é um turista de alto luxo que fica um período muito maior que o turista tradicional, ele contrata dezenas de serviços - como terapeutas, spa, hotéis de elevada especialidade - e permanece mais tempo circulando por lugares apropriados para uma reabilitação, no período em trânsito entre exames pré-operatórios, hospital e exames pós-operatórios. A gente tem de sobra esse tipo de entretenimento, e ele vai ter acesso direto às estruturas de comércio do país.

 

Queria saber exatamente isso. Por que é interessante para o Brasil e para os estados investir nessa área?

Primeiro, porque esse é o turista que mais gasta no país. Ele vale pelo menos US$ 30 mil, enquanto o turista convencional vale, no máximo, um terço disso. A permanência é muito grande, a contratação de serviços múltiplos e especializados, tanto na área da saúde quanto do turismo são grandes filões para nosso mercado. A gente tem um mercado de entretenimento que precisa despertar para esses turistas e aprender a encontrar uma forma de se relacionar melhor com eles. É importante que se crie não só um programa de certificação que inclua os empresários, até o microempresário brasileiro, da saúde e do turismo nesse circuito de recepção desse paciente, mas que também se desenvolva novas estruturas. Existe uma tendência mundial para se desenvolver as health care cities, que são cidades voltadas para a saúde e bem-estar. São cidades extremamente inteligentes. Existem grupos de trabalho, dos quais a gente faz parte, que já apresentam projetos sólidos para se realizar isso dentro e fora do nosso país. O Brasil está sempre se desenvolvendo em termos hospitalares e de estruturas clínicas. A saúde continua crescendo no nosso país. A gente tem muitos clusters e comitês de desenvolvimento econômico, em todas as regiões, que estão frutificando com as startups de desenvolvimento de tecnologia para saúde. Aqui a gente vai ter um desenvolvimento econômico com foco na criação de cidades mais sustentáveis e na melhora no estilo de vida do brasileiro, que é muito natural em comparação aos estrangeiros. A gente prefere comida orgânica, o país é muito cheio de recursos para se viver de forma mais natural e saudável. Esse é o grande diferencial do nosso país, além do nosso talento para atender e cuidar das pessoas e de nossa especialidade médica. Esse país oferece todo tipo de recuperação.

 

Na Bahia, especificamente, como está o desenvolvimento desse mercado?

Eu estive na Bahia há cerca de dois meses e tive a chance de me encontrar com o secretário de estado do Turismo e com as principais entidades da área. Fui informada de que estão construindo um complexo de um centro de eventos, também conectado a uma rede hospitalar e uma rede hoteleira. Isso, para mim, é o grande nascimento de uma health care city na Bahia. Tem uma rede de resorts que é muito conhecida no mundo inteiro que tem um hotel e spa perfeitos para reabilitação de pacientes. A gente está desenvolvendo um trabalho para criar esse arranjo econômico e ensinar o que é preciso para atrair ordenadamente esses pacientes e tratá-los.

 

Quais são as especialidades que mais atraem turistas para o Brasil?

Certamente, a cirurgia plástica. O Brasil é muito conhecido em todas as especialidades de cirurgia plástica. Inclusive, o cirurgião plástico mais conhecido nos Estados Unidos é brasileiro, o Dr. Rey. Além disso, a cirurgia traumatológica ortopédica esportiva é muito conhecida no exterior, então atletas de alto desempenho vêm para cá. Inclusive, você deve ter lido que Neymar veio para Minas Gerais para fazer uma cirurgia. Esses são os carros chefe do Brasil, também incluindo a odontologia. A gente tem também o refinamento dos procedimentos de wellness, como harmonização facial, métodos de massagem e outras especialidades. É isso que a gente vai fazer, levar uma imagem gloriosa do Brasil para o próximo congresso mundial, que acontece em Orlando, no final de outubro. A gente quer encontrar os melhores prestadores desses serviços no Brasil para levar para esse congresso mundial, onde acontecem essas grandes vendas.

 

E qual é a nacionalidade que mais procura o Brasil para procedimentos?

Os pacientes de países de língua portuguesa dão preferência para serem atendidos em países de sua língua-mãe. A gente tem principalmente Angola procurando o Brasil, mas também os norte-americanos lideram os procedimentos porque mais emite pacientes do mundo. Cerca de 27% dos pacientes que procuram o Brasil são norte-americanos.

 

A gente falou bastante sobre a vinda de turistas para o Brasil. E com relação aos brasileiros saindo do país, há dados sobre isso? O que esses turistas mais buscam fora do Brasil?

Ainda não. O turismo de saúde brasileiro para o exterior é muito incipiente. São apenas situações muito específicas, com famílias muito ricas que buscam alguma especialidade médica muito específica. A gente tem toda a tecnologia que precisa aqui no nosso país, e a taxa cambial tem uma diferença muito grande também. Não vale muito a pena viajar para países desenvolvidos para esses procedimentos. E é muito raro os brasileiros saírem daqui, a não ser que seja para um procedimento que aparece muito barato na região da América Latina.