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Marca Bahia Notícias Saúde

Entrevista

Ginecologista alerta para riscos da pílula do dia seguinte e defende 'cultura do preservativo'

Por Renata Farias

Ginecologista alerta para riscos da pílula do dia seguinte e defende 'cultura do preservativo'
Foto: Arquivo Pessoal

Março é conhecido como o Mês da Mulher e, por isso, usado para debater diversas questões relacionadas à população feminina, inclusive saúde. No entanto, são muito comuns histórias de mulheres, principalmente jovens, que se descuidam da saúde sexual. Para além da importância do uso de preservativo para prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, torna-se necessário discutir a forma correta de uso das chamadas pílulas do dia seguinte, com o objetivo de evitar uma gravidez indesejada. “Ela não pode ser considerada um método anticoncepcional. Tem adolescentes e adultas jovens, principalmente, que adotam a pílula do dia seguinte como método contraceptivo, mas não é. A taxa de eficácia é mais baixa, e a dose de hormônios é muito alta. Ela é para ser usada em uma emergência”, alertou a ginecologista Cristina Sá, em entrevista ao Bahia Notícias. De acordo com a profissional, o medicamento tem a capacidade de interromper a ovulação. No entanto, sua eficácia é baixa, em comparação ao anticoncepcional, e pode levar ao descontrole do ciclo menstrual, aumentar o risco de gravidez ectópica, além de modificar o muco cervical e o endométrio. “O que eu acho que falta na nossa população é a cultura do preservativo”, ressaltou. “A gente tem, aqui em Salvador, um índice de HPV altíssimo. É a capital que tem a maior incidência de HPV e HTLV. A sífilis está voltando em todo o país também. Insistir no preservativo é fundamental”. Cristina Sá também explicou os sintomas, complicações e tratamentos da endometriose – caracterizada pelo crescimento inadequado do endométrio e que pode levar até mesmo à infertilidade. De acordo com a Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva, estima-se que mais de 6 milhões de mulheres sofrem de Endometriose no país. “Essa é uma enfermidade que tem início no sistema reprodutor, mas pode atingir intestino, bexiga... Quando é um caso de endometriose mais avançada, ela forma fibrose. Isso pode ainda levar à infertilidade. Sem falar que, quando é um quadro avançado, a mulher tem uma dor muito intensa na região pélvica, o que dificulta muito a qualidade de vida”, explicou a ginecologista. Leia a entrevista completa na coluna Saúde.

 

Quais sintomas devem criar um alerta para a possibilidade de endometriose?

O que mais vai criar um alerta é em relação à cólica. A mulher que passa a ter cólicas cada vez mais intensas deve ter muita atenção. Algumas meninas já têm uma predisposição à endometriose e, na adolescência mesmo, elas já começam com cólicas menstruais muito intensas. Isso aponta uma chance de desenvolver endometriose. Outro fator muito relevante é a dor durante a relação sexual. Mulheres que sempre sentem dor durante a relação sexual precisam investigar o que causa.

 

Como é feito o diagnóstico? Há fatores que aumentam o risco?

O fator hereditário é muito relevante. Com relação ao diagnóstico, é clínico e de imagem. Hoje a gente tem tanto a ressonância magnética quanto a ultrassonografia transvaginal para investigação de endometriose profunda, que é o procedimento padrão ouro para diagnóstico.

 

Existe alguma nova tecnologia que tenha facilitado o diagnóstico e também oferecido novas formas de tratamento para endometriose?

No caso do diagnóstico, há a ultrassom que investiga endometriose profunda. São poucos profissionais que fazem, realmente especializados nesse exame. É um exame muito demorado, tem que fazer um trabalho intestinal na paciente, para poder observar lesões de endometriose no útero,  ovário, bexiga, intestino... É um profissional extremamente capacitado. Com relação ao tratamento, a gente tem tratamento medicamentoso, com o objetivo de controlar e, em alguns casos, diminuir as lesões da endometriose. Alguns casos são cirúrgicos, mas hoje a gente já sabe que é a minoria. Antigamente, todo mundo operava de endometriose. Existem alguns fatores que podem melhorar a qualidade de vida das mulheres com endometriose, como alimentação saudável, aumentando a ingestão de alimentos com ação anti-inflamatória (como gengibre, alho macerado, açafrão, peixes ricos em ômega 3...) e atividade física regular.

 

Como funciona o tratamento cirúrgico?

Varia de caso a caso. Tem pacientes que precisam tirar um fragmento do intestino, outros têm endometriose no ovário, então precisam tirar. Realmente varia de caso a caso. A endometriose é uma doença que vai invadindo e se instalando nessa região. Cada mulher pode apresentar de forma diferente.

 

De que forma a mulher é afetada quando a endometriose se espalha para além do sistema reprodutor?

Essa é uma enfermidade que tem início no sistema reprodutor, mas pode atingir intestino, bexiga... Quando é um caso de endometriose mais avançada, ela forma fibrose. Isso pode ainda levar à infertilidade. Sem falar que, quando é um quadro avançado, a mulher tem uma dor muito intensa na região pélvica, o que dificulta muito a qualidade de vida.

 

É verdade que suspender a menstruação é positivo para mulheres com endometriose? Qual a relação entre as duas questões?

É porque, em todo período menstrual, a mulher sangra também onde existe foco de endometriose. Com isso, aumenta a inflamação desse local e aumenta a fibrose. Com a suspensão da menstruação dessa mulher, ela fica sem sangrar e reduz esse foco, então é realmente muito positivo.

 

Suspender a menstruação é uma questão muito controversa no geral. No caso de mulheres saudáveis, pode causar problemas?

No caso de mulheres saudáveis, a suspensão da menstruação é apenas desejo da mulher. Tem mulheres que não gostam de menstruar, outras não se sentem bem no período menstrual, têm alergia a absorvente... Suspender a menstruação nessas mulheres não vai causar transtorno nenhum. No entanto, não é uma indicação clínica, parte apenas de um desejo.

 

Como o uso de hormônios - seja em anticoncepcional, pílula do dia seguinte ou até mesmo tratamentos hormonais - pode influenciar na saúde da mulher? Há algum prejuízo, como para a fertilidade?

A pílula do dia seguinte tem que ser abordada de forma isolada, porque ela não pode ser considerada um método anticoncepcional. Tem adolescentes e adultas jovens, principalmente, que adotam a pílula do dia seguinte como método contraceptivo, mas não é. A taxa de eficácia é mais baixa, e a dose de hormônios é muito alta. Ela é para ser usada em uma emergência. Com relação aos anticoncepcionais, hoje a gente tem uma taxa de eficácia muito segura. Principalmente no caso dos orais, o retorno da fertilidade é muito rápida, então normalmente não causa nenhum prejuízo para a mulher.

 

No Carnaval deste ano, a prefeitura disponibilizou, nos postos de saúde, pílulas do dia seguinte. Esse tipo de ação pode ser considerada negativa, já que o uso frequente não é indicado?

O que eu acho que falta na nossa população é a cultura do preservativo. A população brasileira precisa ter a cultura do preservativo, principalmente nessas épocas de festa, quando se tem relação com parceiros desconhecidos e que talvez não veja nunca mais. Eu não acho negativa essa ação da prefeitura de disponibilizar pílula do dia seguinte, mas me pergunto se isso não seria um incentivo. A gente mora em um país onde o aborto é proibido, então uma gravidez originada de uma relação casual pode ser um problema muito grande para a mulher. Eu não acho que seja negativa essa ação, porque acredito que a mulher tem o direito de fazer o que quer com o corpo dela, mas o que acho que a gente precisa incentivar é o uso do preservativo. A gente tem, aqui em Salvador, um índice de HPV altíssimo. É a capital que tem a maior incidência de HPV e HTLV. A sífilis está voltando em todo o país também. Insistir no preservativo é fundamental.

 

Algumas jovens utilizam a pílula do dia seguinte após cada relação sexual. De que forma isso pode prejudicar a saúde?

Primeiro que ela vai causar um descontrole enorme no ciclo. Aquilo é uma dose de hormônio muito alta, que é feita para justamente parar a ovulação naquele ciclo ou, pelo menos, modificar rapidamente o muco cervical ou o endométrio. Só que ela tem uma taxa de eficácia baixa com relação ao anticoncepcional. Ela aumenta a incidência de gestação ectópica, que é a gestação na trompa. Ainda assim, mesmo usando pílula do dia seguinte, acontecem gestações. Muitas mulheres usam pensando que vai funcionar, mas não funciona como o uso de anticoncepcional. É apenas em casos de emergência.