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Entrevista

Em procedimento inovador, pais congelam células-tronco do dente de leite dos filhos

Por Júlia Vigné

Em procedimento inovador, pais congelam células-tronco do dente de leite dos filhos
Dentista Ana Beatriz Zaratine e paciente | Foto: Divulgação

Visando a possibilidade de cura de doenças, pais soteropolitanos estão congelando células-tronco do dente de leite de seus filhos. A técnica inovadora ainda não é regulamentada no país, mas  é uma grande aposta de mais de cinco mil testes clínicos realizados ao redor do mundo. A Bahia é o terceiro maior mercado de uma empresa especializada no procedimento, estando atrás apenas de São Paulo e Espírito Santo. A dentista Ana Beatriz Zaratine explica que o procedimento é indolor e realizado com dentes de leite que estão para cair. “Não pode ser o que já caiu porque ele está contaminado com saliva e com bactérias. Nós aceleramos a queda para garantir que o material esteja intacto”, afirmou. Estudos apontam que essas células podem ser a cura para diversas doenças, como diabetes tipo 1, Alzheimer, doenças cardíacas, entre outras. 

Qual é a finalidade do congelamento das células-tronco da polpa de dente?
A gente faz o congelamento das células-tronco pensando em um planejamento futuro. Hoje em dia para muitas doenças que não têm cura as células-tronco são uma esperança. Inclusive para muitas doenças que são consideradas incuráveis. Então pensando no futuro dessas crianças, a gente faz o congelamento das células-tronco

Quais são as doenças que podem ser tratadas a partir das células-tronco?
Hoje em dia não tem doença que já possa ser tratada ainda. Mas existem muitas pesquisas no mundo todo que são bem avançadas para curas de doenças como diabetes, alzheimer, doenças cardíacas, cirrose. As células-tronco dos dentes de leite são muito versáteis, então podem ser usadas para vários tecidos, como por exemplo o coração, osso, cartilagem. São uma gama de tecidos que podem ser construídos a partir dessa célula. As pesquisas já estão bem adiantadas para curas futuramente e o ótimo é que o material retirado não tem um prazo de validade.

Tem toda uma polêmica relacionada com as células-tronco dos embriões. Qual é a diferença entre a célula-tronco encontrada no dente para as outras?
Hoje em dia tem tido um congelamento de células-tronco tanto do cordão umbilical, como do dente. Tanto o dente de leite, como o permanente. As células-tronco do cordão umbilical só podem ser utilizadas para doenças sanguíneas, como a leucemia. Já as do dente de leite, por serem células mais versáteis, podem ser utilizadas em outros lugares. O tratamento com a célula do cordão umbilical é regulamentado no Brasil, o tratamento para leucemia já pode ser realizado, por exemplo.  Existem outros países que utilizam a célula do dente de leite, mas ela ainda está sendo regulamentada. Nós a armazenamos para quando tiver regulamentado, que poderemos utilizá-las nos hospitais. Agora nós podemos fazer pesquisas e já temos clínicas de pesquisa do Brasil. 

Quais são os avanços registrados com as pesquisas?
Tem estudos na Itália que usam essas células para regenerar casos de pessoas que tiveram algum tipo de problema que ficaram cegas, em peles com queimaduras para renovar a pele. Casos de reversão de diabete tipo 1 em criança também foram registradas. É uma célula diferenciada que pode se transformar em tecido, cartilagem e até mesmo órgãos inteiros. Ela tem essa capacidade de criar novos tecidos no nosso corpo. Diferente das células do cordão umbilical que só podem ser utilizados em doenças ligadas a sangue.

Como o tratamento é recebido na Bahia?
A Bahia é o nosso terceiro maior mercado. O primeiro é São Paulo, o segundo é o Espírito Santo e em terceiro vem a Bahia. Apesar de ser uma novidade, muitos pacientes já vieram me procurar de forma espontânea. Já tenho pacientes que têm diabetes tipo 1 que teriam que utilizar insulina a vida toda e o pai veio me procurar para saber sobre esse tratamento. 

Quais são as principais dúvidas dos pais ao realizar o procedimento em seus filhos?
Eles me perguntam o motivo do dente ser extraído. O dente que cai em casa já está contaminado com saliva, com bactéria e por isso não pode ser utilizado. A gente tem que extrair o dente perto da data que ele já cairia. Esse dente tem que ter pelo menos um terço de raiz ainda. A gente dá uma anestesia e faz o procedimento de extração no consultório. O processo é indolor, a gente só acelera um pouco o processo em semanas, mas o dente utilizado já é um mole, que estaria próximo de cair. 

De que forma o material é armazenado?
Assim que a extração do dente é realizada, uma pessoa fica responsável pelo tubo de ensaio com um líquido dentro, com vitaminas, nutrientes, para que a célula fique viva por 48 horas. O material sai, vai direto para o aeroporto e segue para Campinas, sede da empresa. E aí em Campinas é iniciado o tratamento, em que a polpa do dente é retirada, as células-tronco são separadas e é realizada a multiplicação delas. 

Qual é a média de preço do procedimento? 
O procedimento completo custa R$ 2.980,00. O valor inclui todos os exames de pré-extração, a extração do dente de leite no dentista, o transporte até a empresa, a expansão das células-tronco em laboratório, testes para constatar a qualidade do material, armazenamento da célula-tronco, e entrega em qualquer centro de terapia do Brasil caso necessário. Nos anos seguintes é cobrada uma taxa anual de R$ 735,00 para manter a célula congelada.