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Marca Bahia Notícias Saúde

Entrevista

Representantes do método Ravenna, usado por Dilma, explicam funcionamento e rebatem críticas

Por Renata Farias

Representantes do método Ravenna, usado por Dilma, explicam funcionamento e rebatem críticas
Foto: Luiz Fernando Teixeira / Bahia Notícias
Criado em 1991, em Buenos Aires, pelo médico e terapeuta argentino Máximo Ravenna, o método que leva seu nome chegou ao Brasil em 2009, com a criação da primeira clínica em Salvador. Recentemente muito divulgado por conta da adesão da presidente Dilma Rousseff, o método Ravenna ganha cada vez mais adeptos no país e já conta com outras duas clínicas, uma em São Paulo e outra em Brasília. Em entrevista ao Bahia Notícias, a diretora executiva do Método Ravenna no Brasil, Moema Soares, que trouxe o sistema de emagrecimento para o país, e o diretor médico das Clínicas de Salvador e Brasília, Marcos Barojas, explicaram o funcionamento do método que pode ser utilizado por pessoas dos cinco até cerca de 85 anos. Eles ainda rebateram críticas que nutricionistas fazem, como cardápios com muitos itens industrializados, como gelatina, consumo de apenas 800 calorias por dia e proporções inadequadas entre os grupos alimentares. "O que adoeceu as pessoas foi o tamanho das porções. E ninguém prega que não se tenha prazer pela comida", disse Moema. Para aderir ao Ravenna, em Salvador, o paciente deve desembolsar R$ 1.670 no primeiro mês e uma mensalidade de R$ 1.100 nos meses seguintes.



Foto: Luiz Fernando Teixeira / Bahia Notícias

Em que se baseia o método Ravenna? Quais são os pilares?
 
Moema Soares - É um tratamento multidisciplinar em que a gente trabalha com as áreas da medicina, psicologia, nutrição e atividade física. Você centraliza as quatro atividades para poder direcionar para que a pessoa consiga trabalhar para tratar a questão da obesidade. Porque se você trabalhar uma só das áreas, não vai ser possível resolver e manter essa redução de peso ao longo do tempo. Depois, a gente fala de corte, medida e distância, que é o método Ravenna. Você tira as comidas que são compulsivas, que você não consegue parar de comer, as comidas que são muito aditivas. Medida que é ligado à medida que você tem, à medida que emagrece, à medida do corpo, do prato. É a parte mais comportamental do tratamento. E a distância, que é a distância das coisas da sua vida, que vai provocando a distância também de comidas muito aditivas. Ele vai rodando nesse aspecto.
 
Como é feito o acompanhamento dos pacientes?
 
Marcos Barojas - No método Ravenna, o paciente é visto por quatro segmentos que têm o mesmo nível de importância e dinamicamente se comunicam: medicina, nutrição, educação física e psicologia. Entende-se que o peso pesa em relação ao corpo, o peso pesa em relação à atividade física, em relação à comida e em relação à conduta. Quando há uma peculiaridade maior, uma individualização maior, uma questão mais médica, ou com uma restrição à atividade física, ou específica terapêutica ou nutricional, a gente consegue que essa individualização seja contemplada 100% com um profissional específico daquela área. A gente consegue gerar um colchão de proteção com essas especialidades para que esse processo de reduzir peso seja feito com segurança.
 
Então há um tratamento específico para cada paciente?
 
MB - Sim. Na verdade, ele tem alguns parâmetros, que são um norte do tratamento, como corte medida e distância, algumas questões técnicas nutricionais, mas para cada paciente ele é individualizado. Tem pessoas que são mais iguais e pessoas que são mais diferentes. A gente vai individualizando e vai vendo qual a maior necessidade da pessoa.
 
Há uma idade ou característica específica para a qual o Ravenna é indicado?
 
MB - A gente propõe como ponto de corte inicial o grupo de crianças a partir de cinco anos. Aí já transita entre pré-adolescência, adolescência, até o jovem até 18 anos. Se é adolescente, tem questões biológicas e psicológicas muito específicas, então a gente tem um pediatra, educador físico e psicólogo especificamente voltado para esse grupo. A partir daí, o adulto em todas as suas faixas até o idoso. O idoso, no Brasil, é considerado a partir dos 60 anos de idade, porém o Brasil é um país muito heterogêneo, que tem vários extratos sociais e níveis de qualidade de vida para pessoas com 60 anos. A gente acaba utilizando um critério de países desenvolvidos para o idoso, que é a partir de 65 anos, que também é um parâmetro que a gente sempre julga. Às vezes, um paciente com 65 anos de idade tem uma questão biológica, física, mental muito fragilizada ou o contrário, com muita lucidez e disponibilidade. O que, na verdade, a gente avalia não é nem a idade como ponto de corte teto. A gente avalia a fragilidade que a senilidade traz. Teoricamente, não há limite de idade para fazer o processo. Quanto mais idoso ou mais fragilizado pela senilidade, a gente vai customizando o tratamento. E a ideia é que a pessoa só perca peso e não tenha nenhum agravo ao seu processo de saúde.
 
MS - Na verdade, é melhorar a qualidade de vida, porque tinha esse conceito de que mais idade, mais peso. As pessoas pensam isso. De repente, a pessoa vai perdendo a qualidade de movimento. O paciente com mais idade na clínica tem 85 anos. A gente tem uma paciente de 80 que emagreceu 30 kg e se mantém perfeitamente no ritmo próximo a esse estabelecido para pessoas mais jovens. Respeitamos todas as questões biológicas da pessoa e as patologias referentes à idade.
 
MB - A ideia é que o processo seja seguro em todos os aspectos. É o principal.
 
 
Ainda sobre os pacientes, quais são as principais dificuldades que eles apontam ou até mesmo que vocês percebem durante o tratamento?
 
MS - O grande processo que a gente vai falando do corte é a questão da vida social. É uma das coisas que aparem muito na clínica. Como lidar com um mundo que se comunica e vive através da comida? Como fazer para mudar essa minha relação marcada por uma alimentação que não tinha limites ou regras e passar a criar uma regra e pensar que isso é uma mudança de estilo de vida? Lidar com esse processo, que é o início do tratamento, está ligada à questão do social, e a gente houve muito isso nos grupos. Essa questão de ter uma orientação alimentar diferente do que você fazia. O seu conceito pessoal de alimentação vai ter que ser mudado. É uma questão de aprender a ter limite, que nem toda hora pode comer, que nem todos os alimentos podem ser consumidos sempre. A gente trabalha com filosofia de vida. A gente diz que 80% da alimentação tem que ser muito controlada e os outros 20% pode ter mais flexibilidade. E essa flexibilidade também não é tão grande assim. A minha vida vem em primeiro lugar do que o prazer puro na alimentação.
 
E há alimentos terminantemente proibidos?
 
MB - Isso é relativo, porque, na verdade, o processo de tratamento tem início, meio e fim. E a gente sabe que o processo de tratamento é importante, mas manter o peso equilibrado é muito mais importante, porque o que é válido é não ficar nessa gangorra, mas se manter em equilíbrio. Em tratamento, sim, tem alimentos que vão contra ao que a gente entende como ideal para o nosso método. Depois da história terminada, tendo perdido peso, o tratamento é de manter o peso. O proibido ou não é relativo. A questão é que alimento que lhe tira do prumo deve passar batido. Não tem condições de dizer que é alimento A, B ou C. A questão é você perceber que aquele alimento lhe tira do prumo. Às vezes, a pessoa reconhece instintivamente. Em outras, a pessoa reduz o peso, vira pra o lado e volta tudo. O que a gente fala da dieta, de perder peso é aprender a se relacionar com o objeto, no caso a comida, que tem uma forte relação. Tem alimentos que significam muito para uma pessoa e outros não. Isso lida com compulsão, ansiedade, ociosidade. Como Moema falou, ele passa por um processo de reorganização do que se come, mas há um processo paralelo de treinar ter limite. O gordo só é gordo porque ele não tem limite. Ele come mais do que deveria comer como organismo biológico. Se ele não comesse, não estaria gordo. E emagrece porque come menos. Que ele aprenda a calibrar a mão na hora da refeição.
 
MS - Tem alimentos que é muito difícil lidar com um pouquinho. Esse alimentos, na etapa do emagrecimento, a gente coloca dentro de um corte. Depois que você entra na fase de transição, não tem alimento proibido, mas quantidades proibidas. Ou alimentos nessa linha que o Marcos está comentando. Na fase do descenso, tem alimentos que estão fora do quadro de alimentação, porque nenhuma pessoa consegue controlar. As pessoas vão ter dificuldade de comer só um pouquinho, porque são alimentos que dão muita fome, que provocam picos glicêmicos. Eles dificultam esse tratamento, porque você vai ficar o dia inteiro com vontade de comer. Eles atuam sobre áreas de prazer.
 
Após o fim do tratamento, o essencial é se manter longe desses alimentos que provocam prazer ou existe alguma outra instrução?
 
MB - Não há fim. Às vezes, tem alguma situação pontual que a pessoa sempre se mantém no seu peso, mas acontece alguma quebra e engorda. Aí depois volta ao que era antes. Já existem outras pessoas que, desde a infância ou adolescência, tem uma relação com a comida que negocia e, na negociação, perde. Se negocia e perde, não é em seis meses que isso vai mudar. Então a etapa de perder peso vai até um limite pré-estabelecido claramente. Medido, parametrizado, não é empírico, é mensurado. No segundo momento, o tratamento se mantém, mas gerenciando suas relações com a comida, com os objetos com as ansiedades.
 
 
Com toda a divulgação do método por conta da adesão da presidente Dilma Rousseff, já é observado um aumento na procura?
 
MS - Obviamente, que não vai passar despercebida a divulgação do tratamento com esse processo que explodiu na imprensa, mas a gente tem muita tranquilidade no que a gente está fazendo de manter a clínica com o foco de trabalho, como sempre foi. Ela [a clínica] também tem os próprios pacientes. Você vê uma pessoa que foi gorda a vida inteira e, quando encontra seis meses depois, a pessoa tá com 50 kg a menos, não tem como não perguntar o que aconteceu. É um tratamento que a gente fala que funciona muito no boca a boca. Os pacientes já dizem que é no corpo a corpo. Só é validado o tratamento através do resultado. E hoje, o resultado das pessoas que estão na mídia é muito mais forte do que o fato de estarem fazendo o tratamento. Da mesma forma como acontece com qualquer paciente. E os pacientes na clínica trabalham a manutenção do peso, um prazer com o corpo, com a atividade física, com a relação com a comida. Eu vejo o resultado e percebo que, se aquela pessoa conseguiu, eu também posso conseguir. Então afeta a clínica de alguma forma, mas não é o que move. Não é a divulgação que leva os pacientes, mas o resultado. A gente completa seis anos agora [no dia 20 de março] da clínica na Bahia. A gente fala que é igual ao Brasil, que começou pela Bahia. E hoje nós estamos com profissionais cada vez mais especializados. É a partir do resultado.
 
Sempre há pessoas que desistem logo quando iniciam uma dieta. No caso do método Ravenna, qual a taxa média de desistência?
 
MB - Vou fazer o inverso, a taxa de sucesso. Tecnicamente, em obesidade, se considera como sucesso na redução de peso cerca de 5% a 7% do peso absoluto e se manter assim por um ano. A gente já parte de um paradigma diferente: todo mundo que tem sobrepeso tem excesso de gordura. A gente considera que a meta é zerar o excesso. Essa faixa é, por um lado, vista como ambiciosa e, por outro lado, como realista. A gente calcula, como taxa de sucesso, quantas pessoas entram e se mantêm. Depende do perfil, se é homem, mulher, jovem, velho, se tem uma vida muito agitada… Em geral, a gente calcula de 10% a 15% a taxa de entrar com excesso de peso, passar por todo o processo e estar na clínica com excesso de peso zerado. É diferente das metas de tratamento com outros padrões de dieta ou tratamentos de obesidade, porque é um número que não dá para comparar. As taxas médicas são baixíssimas de tratamentos no mercado para obesidade, vide o que foi colocado que as pessoas desistem. O tratamento não tem nenhuma amarra, nada externo que o limite a não comer. Não há nada como passar mal, ter palpitação, azia. Aí que é o pulo do gato, porque a pessoa é ator principal do seu processo. Não é um sujeito passivo, é ativo. O mérito de emagrecer não é do método Ravenna, mas da pessoa. A gente só dá a ferramenta. Por isso que, quando as pessoas perdem peso nesse processo, conseguem entender sua relação com a comida. São paradigmas quase inalienáveis, porque o indivíduo tem uma relação com a comida que passa desde o peito da mãe até o consumo do mundo externo. Respondendo à pergunta, é uma taxa muito acima da média, mas com um objetivo muito mais ambicioso que a média.
 
Têm surgido nutricionistas que criticam bastante o método principalmente por três pontos: cardápios com muitos itens industrializados, como gelatina, consumo de apenas 800 calorias por dia e proporções inadequadas entre os grupos alimentares. Como vocês lidam com essas críticas?
 
MB - Vamos do simples para o complicado. Na verdade, um processo alimentar nunca é como um pacote de salgadinho, que a gente sabe especificamente quanto tem ali. A dieta tem aproximadamente 40% de proteína, 40% de carboidratos e 20% de gordura. É considerada uma dieta low-fat, com baixa quantidade de gordura. Acontece que os carboidratos utilizados são carboidratos com baixíssimo índice glicêmico que, portanto, não são os processados. A gente não usa arroz, feijão, farinha, macarrão, mas usa carboidratos de fontes alimentares de alta qualidade biológica, que são fruta, verdura, abóbora, chuchu, salada… O mundo alimentar é composto de três coisas: carboidratos, proteínas e gorduras. Tudo é feito disso. O que eu entendo é que existem pessoas que criticam sem conhecer. Existe uma pirâmide que deve ser respeitada, mas não funciona tão bem, já que há epidemias de problema com peso. A gente não está pedindo para a pessoa fazer uma dieta hiperproteica ou suspender carboidrato. A gente só tira os carboidratos mais famosos. Sobre ser uma dieta de 800 calorias, é realmente uma dieta de muito baixas calorias, mas é por isso que existe um médico. Todo paciente da dieta – quando essa é prescrita, porque nem todos recebem a mesma – tem acompanhamento médico para evitar que ela gere qualquer tipo de dano, que nunca tem, porque a gente faz ações para que isso não ocorra. Quanto à questão do uso de industrializados, como gelatina, a gente sempre brinca: entre comer um Big Mac e comer uma gelatina… Redução de agravos. Um exemplo mais amplo é alguém que fuma crack e cheira cocaína, quando vai para a clínica de desintoxicação, começa a fumar cigarro. Tabaco mata, mas crack e heroína matam muito mais. Quem tem 30 anos de história de sobrepeso e nunca foi iniciado ou treinado a comer salada, abóbora, alface, carne branca, grelhado, se é tirado tudo de uma vez só, até por conta da palatabilidade, a chance da pessoa conseguir sustentar é mínima. Na verdade, há um processo de relação de vínculo com o objeto muito mais forte do que a gente imagina que seja. A gente considera as grandes farinhas brancas: cocaína, açúcar, sal e farinhas brancas. Há um efeito, claro que da cocaína muito maior, similar. Quando o ser humano inventou de refinar, tirar do alimento os refugos, que são as melhores partes, na verdade. Quanto mais branco ou mais refinado, menos dos alimentos. Isso vai ter um efeito biológico com o cérebro. A pessoa não vai se internar, passa por um treinamento alimentar. Ninguém tolera sofrimento, tolera sacrifício. Se tirar tudo, quem não está acostumado com uma dieta naturalista, em três dias já não consegue. Deixa de ser sacrifício e vira sofrimento, aí a chance de abandono do processo é alta. Entre comer um Big Mac e gelatina, a gelatina está no lucro.
 
MS - Tem uma outra coisa dessa questão das críticas, que é em termos de viabilidade e resultado. Tem outras linhas de emagrecimento que são mais restritas, como aquelas que fazem cirurgia. Em nossa linha de atendimento, talvez o paciente nunca tenha tido uma dieta tão balanceada como agora. Tem pessoas que só comiam pão e massa. Entender que em fruta, verdura, leite, você encontra carboidratos. Os pacientes perdem peso sem tomar uma medicação, sem fazer um ato cirúrgico e apresentam exames completamente saudáveis. Com relação às 800 calorias, o ser humano é feito para usar sua reserva de gordura. Quando você vai comendo a mais, ele vai estocando para quando você não tiver alimento, mas ele não usa nunca. A gente trabalha para usar essa reserva, que faz muito mais mal do que qualquer gelatina que ela vai comer no tratamento. Primeiro, a gente reduz o peso e, depois, pensa em uma reeducação alimentar. Nossos pacientes têm uma qualidade alimentar muito maior do que qualquer um quando chega. Alguns nunca tinham comido salada antes. Hoje todos comem. Muitos nem comem a gelatina, comem frutas. Na Europa, os pratos são muito menores do que os que as pessoas estão acostumadas a comer aqui, e eles têm índices muito melhores de saúde.
 
MB - O que engorda não é a globalização, mas a ocidentalização alimentar.
 
MS - O que adoeceu as pessoas foi o tamanho das porções. E ninguém prega que não se tenha prazer pela comida. Muito pelo contrário, nossa comida é gourmet, é prazerosa. Temos parceiros em restaurantes muito conhecidos em Salvador. A gente respeita todas as áreas e linhas de tratamento, mas a gente sabe do nosso. São anos de estudo. A clínica Ravenna já tem trabalhos no mundo há 25 anos. A gente sabe o que está fazendo. O paciente está muito bem cuidado.