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Entrevista

Psicológico é mais importante para emagrecimento, diz criador do método Ravenna

Por Juliana Almirante | Fotos: Juliana Almirante

Psicológico é mais importante para emagrecimento, diz criador do método Ravenna
O método Ravenna é salgado só no preço. Quem quiser aderir ao tratamento de emagrecimento deverá evitar o uso de alimentos com sal e outros aditivos, como o açúcar e a gordura. Em entrevista ao Bahia Notícias, o médico argentino Máximo Ravenna, criador do método que leva seu sobrenome, admite que o tratamento é pouco acessível, devido ao alto valor cobrado, mas rebate que o custo da medicina costuma ser alto. “O uso de muitos profissionais encarece o custo e tem que ser bem feito para que você não caia novamente no hábito de comer demais. É caro. Mas é um tratamento que é muito eficaz”, acredita. A dieta de baixas calorias usada no método, segundo ele, é capaz de ligar o gatilho da saciedade no paciente. “Comer sempre uma quantidade de alimentos com caloria abaixo do habitual dá menos fome. Nós damos porções pequenas e pedimos que se detecte a comida disparadora do impulso”, conta. Ele afirma que o diferencial do Ravenna é o apoio psicológico, função de grupos terapêuticos inclusos no programa. O especialista avalia que o que mantém o peso do ex-gordo é o sentimento de orgulho de si mesmo e a mudança da sua relação com a comida, que passa a ser menos impulsiva e automática. “A gordura não se ganha em um dia. É amanhã e depois. E depois, um quilo, mais um quilo. Porque se acostumou paulatinamente àquela sua vida pobre de objetivos. O corpo vai para o secundário”, considera. Ainda de acordo com o médico, o objetivo principal do estímulo aos exercícios físicos não é o emagrecimento, mas a sensação de bem-estar.
 

Bahia Notícias –  O método Ravenna propõe uma dieta de baixas calorias, abaixo do que é recomendado. Como isso é feito?
 
Máximo Ravenna – Entre outras dietas para emagrecimento que são protocolizadas e aceitadas no mundo. Que produzem um bom efeito para emagrecer e um bom efeito para frear totalmente a sensação de fome. Esse é o efeito principal. Comer sempre uma quantidade de alimentos com caloria abaixo do habitual dá menos fome.
 
BN – E os pacientes não sentem ansiedade?
 
MR – Sim. Se não estaríamos não no Brasil, estaríamos apenas Buenos Aires, com um pequeno grupo de loucos como eu, e não estaria em Madri, Uruguai, Paraguai, em clínica. Se você tem um gordo emagrecendo e continua com fome não dura uma semana, não haveria sucesso nunca. A gente está baixando de peso sem fome com muita tranquilidade, trabalhando psicologicamente, que é o mais importante. O trabalho mental para devolver um equilíbro à pessoa que foi gorda durante muitos anos. Ver quais as vinculações dependentes ela tem e mostrar o bem que ela sente sem comer demais. Ela se sente orgulhosa de si mesma baixando de peso e sentindo que faz mais algo por ela, mais do que a coisa cômoda de comer, com objetivos muitos mais claros. E depois do emagrecimento, todo o trabalho de manutenção e cuidado forte em uma pessoa que se animou da sua capacidade de não engordar. Porque ela [Moema Soares, que trouxe o método para o Brasil], que é uma pessoa absolutamente normal como eu, engordou 25 kg e eu não? Porque há algo que ela tem que tem a ver com comer como vínculo, com o que acontece com o teu corpo ou com o teu mal estar. É algo muito impulsivo, automático, muito químico.
 
BN  Então é preciso mudar a relação que ela tem com a comida?
 
MR – E quando ela mudar a relação, porque estou impondo uma dieta hipocalórica, que não te dará fome, que te dará uma perda de peso 7 ou 8kg por mês. Eu deixo o espaço no teu cérebro para entender outras coisas e tenho que ensinar e há que reaprender a ter cuidado e atenção a este corpo que mudou e que você se orgulhou. A gordura não se ganha em um dia. Amanhã e depois, e depois, um quilo, mais um quilo. Porque se acostumou paulatinamente aquela sua vida pobre de objetivos. O corpo vai para o secundário. E essa mesma pessoa pode ser feliz com a família, os filhos, mais ou menos. Porque quando perde peso se sente muitíssimo melhor com tudo, na conquista, no vínculo com os filhos, maridos, com respeito à sedução. Ou um homem simpático passa a ser um homem lindo, mas forte e muitas coisas.
 

 
BN – Quais são os alimentos permitidos para que a pessoa não sinta fome?
 
MR – Não são permitidos os alimentos que temos hoje, que são processados, e alimentos que tem açúcar refinado, ou alimentos que tem na sua composição aditivos químicos ou mais quantidade de gordura. Essa mistura de sal, açúcar e gordura produzem mais aditivos para a intoxicação. O açúcar é um alimento que não é validado praticamente por nenhum trabalho científico. Era usado como um medicamento, porque tinha aparentemente alguns efeitos favoráveis para o corpo e depois se descobriu a epidemia de diabetes. As bebidas gasosas, como refrigerantes, que acalmam a sede, mas produzem mais sede depois. Todas essas comidas ou qualquer comida que tem oculto em seu interior açúcar, sal, muito saborosos, tem que ter muito cuidado. Como eu digo, você nunca terá uma compulsão de maçã ou de berinjela, mas sim poderá ter compulsão sempre, em manutenção, em qualquer momento, por queijo, chocolate, brigadeiro.
 
BN – É preciso retirar de vez ou equilibrar o consumo desses alimentos?
 
MR – A quem pode, equilibrar. Quem não consegue, retira. Porque não seria o melhor método.  Um autor que estuda a obesidade na Suíça apresentou uma lista que mostra o que faz a pessoa que se mantém no peso. 75% havia deixado dois ou três alimentos ou os usava muito excepcionalmente. 65% faziam atividade física. Em uma população de magros não encontra esses 65% nunca. Não é patrimônio dos magros ser assim por atividade física. Em uma população de magros, 8% ou 9% fazem atividade física. Em uma população de gordos, 1%. Mas em pessoas que estão em manutenção do emagrecimento é 60%. Porque nos anos 60, havia 12% de gordos e agora são 50%? Porque há um meio ambiente que favorece e nesse ambiente está a comida tóxica que tem açúcar e sal.
 
BN – Uma das críticas que algumas pessoas costumam fazer ao método Ravenna é o preço que acaba sendo elevado e algumas pessoas não tem acesso. Como o preço pago no Ravenna é justificado?
 
MR – A medicina é cara no Brasil, na Argentina e nos EUA. A medicina cuida da linha entre a vida e a morte. Há equipes terapêuticas e há certas enfermidades clássicas que são cobertas pelas obras sociais. As outras e se pensam que o produto da gente que engorda muito. Não há de se pensar que é algo caro, mas sim que é uma forma inteligente de trabalhar com uma equipe interdisciplinar e não uma consulta médica. O tratamento com o uso de muitos profissionais encarece o custo e tem que ser bem feito para que você não caia novamente no hábito de comer demais. É caro. Mas é um tratamento que é muito eficaz. Há o gasto com a comida, gasto com o medicamento, gasta tempo perdido. 90% dos tratamentos que utilizam cirurgia bariátrica fracassam, aqui não.  Aqui há duas mil pessoas em manutenção. Se perguntar ao médico que fez a bariátrica quantos estão manutenção, seu paciente que gastou menos não teve o resultado. 
 

BN – A maioria dos pacientes que entram para emagrecer fica em manutenção?

MR –O que recomendamos é que se continue uma vez por semana ou a cada 15 dias ou por mês. E ver como segue, até por telefone ou e-mail. De ver e acompanhar pacientes que emagreceram e que querem controlar. Tem que cuidar da alimentação todos os dias, é complicado. 

BN – Que conselho você deixaria para uma pessoa que quer emagrecer, mas sempre deixa para depois? 

MR –É muito característico da obesidade. Todas as doenças crônicas. Tem muito desejo de estar bem e tem muito esforço. Depois não é muito difícil continuar. Começa a ser difícil se você volta e come demais. Para os homens é muito difícil saber que tem uma medida. Ter que cortar algo que tem a ver com descontrole e com muitas coisas da vida cotidiana. Muita gente tem desconfiança do tratamento, porque fez muitos e nenhum teve resultado. Também porque a ideia de quando você coordena sua alimentação acha que poderá administrar isso por sua própria conta e por toda a vida e não vai ser assim. O homem é feito para engordar no mundo em que vivemos. Não tem que ser gordo, mas acaba sendo gordo. Porque o mundo que habita está mudado e portanto, a adaptação desse homem a comodidade com essa gordura. A maioria das dietas são difíceis de seguir, são muito irracionais. Nós damos porções pequenas, pedimos que se detecte a comida disparadora do impulso. Pedimos que se caminhe todos os dias nem tanto para queimar calorias, mas sim para se sentir melhor. E depois olhar o passado e o presente, no passado era um corpo destruído e esse corpo é melhor. O outro corpo era cheio de comida, que entrava sem sentido e nesse corpo não pode entrar toda comida que se quer.