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Melancia na Escola: Punições x Consequências

Por André Garcez

Melancia na Escola: Punições x Consequências
Foto: Divulgação

Na semana passada, o instagram de Bela Gil viralizou uma nota de suspensão de uma escola, do Interior de São Paulo, para um aluno. Ele levou uma melancia para o ambiente escolar e foi suspenso por compartilhar com os colegas “gerando tumulto e desordem, transgredindo o regimento escolar”.

 

Antes de postar, a própria Bela Gil entrou em contato com a escola que preferiu não se manifestar no momento. No entanto, depois de receber muitas críticas sobre punir um comportamento de compartilhar melancia com uma suspensão, a escola deu explicações à Imprensa dizendo:

 

“De acordo com a escola, além de provocar tumulto, o jovem descartou parte da melancia no vaso sanitário, o que gerou entupimento e prejuízos financeiros. O colégio reforça que, caso o intuito dele fosse partilhar a fruta, teria sido ótimo, mas reforça que não foi o que ocorreu”. Depois o menino escreveu um pedido de desculpas à escola em suas redes.

 

O que essa viralização nos ensina?

O que mais podemos aprender não é sobre o compartilhar, mas sobre a punição, prática ainda adotada em 99% dos lares e escolas brasileiras. As críticas à escola são uma projeção às punições adotadas em casa que, muitas vezes, extrapolam para a violência física.

 

Quando a palavra perde a força e se esgota é necessário sim partir para uma ação, mas ela precisa ser educativa.

 

Qual a aprendizagem que essa medida provocou nesse aluno? Apenas que ele não deve desobedecer a ordem imposta pelos adultos. Ele não aprendeu que pode compartilhar sem prejudicar normas legítimas, como o cuidado com os banheiros coletivos.

 

Há outra forma da criança aprender as consequências do que ela fez, para que ela comece a refletir sobre seu impacto no mundo. Consequências são uma reparação que tem uma relação direta com o que ela fez, como por exemplo: sujou, limpou, quebrou, conserta; desrespeitou, perde por um tempo aquele laço social.

 

Em relação ao entupimento dos vasos, a reparação poderia ser acordada com a família para o aluno limpar os banheiros (com suporte). Porém quantas famílias estariam dispostas a apoiar essa consequência proposta pela escola?

 

Sobre a partilha, a escola poderia construir o processo de reparação junto com ele e criar regras para ele partilhar o alimento como num certo local e período. Contudo, isso levaria tempo e as escolas ainda se sentem muito pressionadas pelo currículo.

 

A repercussão da melancia nos lembra que ainda temos muito a caminhar para abandonar a punição, mas que, por outro lado, nossa vigilância sobre a infância está maior.

 

As consequências trazem a autorregulação e as punições nos tornam dependentes de regulações externas. Quando conseguirmos substituir as punições por consequências, teremos uma sociedade mais ética e harmoniosa.

 

*André Garcez é psicólogo de pais e mães 

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias