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Entrevistas

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Juliana Araújo define não haver concorrência para as eleições municipais em Morro do Chapéu
Foto: Divulgação

Com uma das maiores unidades territoriais do estado, o município de Morro do Chapéu se destaca como a terceira maior economia da região geográfica imediata. Impulsionada pelo turismo, crescente comércio e os mitos de vida fora da Terra, a cidade registra um crescimento perceptivo dos índices socioeconômicos. Entre as recentes mudanças, esteve a eleição da primeira prefeita da história do município, a gestora Juliana Araújo (PL). Em entrevista ao Bahia Notícias, a prefeita definiu que o projeto de governo “diferenciado” a colocou em um estágio onde ela não tema a pressão adversária para as eleições em outubro. Veja abaixo a entrevista completa:

 

O que a senhora acredita que deixa a sua marca no município? 

 

A marca principal é a gente cuidar do povo, gostar do que a gente faz. E eu gosto muito de ser prefeita. Durante os três anos de governo, a gente fez pesquisas qualitativas para saber o que cada povoado queria. Morro do Chapéu tem 5700 quilômetros quadrados. A gente tem povoados que ficam a 160 km da sede. Então, eu tentei fazer um pouquinho em cada povoado e na sede também o que as pessoas mais queriam. Os maiores sonhos do povo morrense, a gente está concretizando. A questão de obra é cuidar do povo, é ter um olhar diferenciado para as pessoas.

 

As estratégias para se comunicar com os cidadãos deram resultado?

 

Converso com todos, dos pequenos aos mais velhos. A gente vai fazer uma praça agora, que foi uma menina de oito anos que me pediu. Então assim, governar para o povo, não é o suficiente. É com o povo, porque eles têm que participar da administração. Eu peço que eles sejam os meus fiscais, porque eu não posso estar em toda a cidade olhando tudo. Então, se teve uma pessoa que quebrou alguma coisa pública? Fiscalizem se alguém jogou alguma coisa no chão, um lixo no chão, fala assim ‘Não, pai, não jogue lixo no chão, não, porque a gente quer uma cidade limpa’. Então a gente está governando todos juntos.

 

Morro do Chapéu foi uma cidade fortemente atingida pela estiagem no ano passado. Considerando os numerosos distritos rurais, quais foram as ações para amenizar esse problema?

 

A gente baixou um decreto de estiagem para que os produtores pudessem comprar as rações e o milho mais barato. Caminhão pipa não tava dando conta. A gente alugou mais caminhões pipas para poder abastecer essas pessoas e a vazão dos poços desceram demais, então a bomba não estava conseguindo pegar. Então a gente estava abastecendo as comunidades mais longínquas e a Secretaria de Agricultura em cima, ajudando sempre. Agora começou a chover. Eu já pedi para fazer o levantamento para revogar esse decreto de estiagem, porque as coisas já estão voltando ao normal. A assistência social fez o mapeamento de todas as famílias que estavam passando por dificuldade e a gente entregou diversas cestas básicas para as famílias. 

 

Morro do Chapéu é uma cidade turística da região, onde o ecoturismo é muito forte. Quais são as estratégias do município para movimentar o setor?

 

A gente vender de uma forma boa Morro do Chapéu. O potencial de Morro do Chapéu é gigante. Mas eu acho que nas outras gestões não foram muito explorados. O deputado Pedro Tavares passou um projeto na Assembleia e em dezembro foi aprovado que hoje nós somos a capital do vinho da Chapada Diamantina, pelas nossas oito vinícolas. Para potencializar essa questão do turismo, a gente tem que mostrar para as pessoas que vale a pena ir para Morro do Chapéu. Vamos fazer agora, através do Sebrae, um curso para o setor hoteleiro e para o comércio também. Teremos a Feira Agropecuária, que acontece agora, nos dias 19, 20 e 21 de abril, que a gente movimenta mais de R$ 10 milhões no município. Também recebemos vários ETs na cidade, a gente tem um disco voador, que foi Seu Alonso que fez, ele viu um disco voador e se mudou para Morro do Chapéu, porque era o lugar potencialmente que tinha mais Óvnis. Então é a cidade fantástica, com seus segredos, com sua magia e vale muito a pena visitar.

 

A acessibilidade é uma questão importante na região da Chapada. Existe alguma parceria com o Governo do Estado para fomentar as obras de infraestrutura das estradas vicinais e rodovias? 

 

Zero. A gente faz. Graças a Deus, temos uma arrecadação boa. Lá a gente deve ter quase 2000 km de estrada vicinal e hoje, temos duas máquinas. Agora, no período de chuva, tem que refazer todas as estradas, principalmente porque as aulas estão começando, a gente começa a refazer pelas rotas de transporte escolar. A gente se vira. Graças a Deus, a gente tem deputados, principalmente o deputado Elmar Nascimento, que ajuda muito com emendas e a gente pode realizar esse trabalho.

 

Sobre a política, a senhora está no PL e recebeu convites para mudar de partido. Qual é a previsão para o futuro? 

 

Estou no PL hoje por conta do meu pai, o ex-deputado Zé Carlos Araújo, que era presidente estadual do PL aqui na Bahia e em 2022, ele saiu do PL e eu continuei. Na verdade, não tinha porque eu sair naquele momento, não era minha eleição, então continuei no PL. E hoje meu pai está como vice-presidente do PDT. Recebi convite do PDT, pelo deputado também Félix Mendonça; União Brasil, por Elmar; do PSB, pelo deputado Angelo Almeida e no dia 21 de março, agora a gente vai ter a festa de filiação lá no município e vocês vão descobrir [qual convite aceitei]. 

 

Sobre as eleições municipais em outubro, como você avalia a sua possibilidade de reeleição esse ano?

 

Eu avalio que as pessoas, não só em Morro do Chapéu, saibam votar em quem trabalha, em quem dá resultado para a população e que seja uma eleição respeitosa, principalmente, que a rede social está muito forte. Tem a questão da inteligência artificial, que eu acho que vai ser um problema nessa eleição, vai ter muito fake news. Você pode, com inteligência artificial, estar prejudicando uma pessoa não só politicamente, mas também a sua família. Meu modo de fazer política, é um modo respeitoso. Eu não acho que eu tenha adversários. Acho que a minha adversária sou eu mesma, porque se eu não trabalhar, eu vou dar lugar para outra pessoa conseguir se eleger. Então eu não tenho medo de adversários, porque eu trabalho e espero que o povo reconheça esse trabalho que a gente está fazendo. Vejo obra, sou mãe, sou mulher e eu acho que para nós mulheres isso é complicado. Trabalhar, ser mãe, ser esposa. E eu espero que a eleição seja uma eleição boa e respeitosa para com os adversários.

 

Sendo uma mulher na política, como você lida com os ataques, assédio moral e misoginia? 

 

Eu acho que toda mulher sempre sofreu. Todas nós já sofremos algum tipo de assédio moral, de misoginia. Os homens já são competentes e nós temos que provar que somos competentes. Eu tento me blindar ao máximo. Às vezes, tenho que entoar o tom de voz para as pessoas poderem me respeitar. E é difícil você ser mulher na política. Sou a primeira mulher prefeita de uma cidade de 114 anos, extremamente machista e eu sinto no gabinete, no dia a dia, muitos homens que chegam lá e falam assim, “eu estou sendo mandado por essa mulher?”. Você tá sendo mandado por uma pessoa competente, que foi competente para poder estar naquele lugar, independente de ser homem ou mulher. É uma tarefa diária. 

Defesa Civil do Estado espera que prefeituras criem próprias secretarias para lidar com desastres naturais
Foto: Divulgação / Sudec

As chuvas que caem na Bahia neste ano já deixaram 380 desabrigados, 2,2 mil desalojados e seis óbitos. Os dados são do último balanço da Defesa Civil do Estado [Sudec], divulgado nesta quarta-feira (28). Para o superintendente da pasta, Heber Santana, a tendência é que ocorram novos eventos naturais de impacto, o que acende o alerta para as cidades. Em entrevista ao Bahia Notícias, o titular da Sudec abordou a dificuldade de criar as secretarias de defesa civil no interior, comentou sobre a necessidade dos planos diretores e contou como funciona as defesas civis em cidades de pequeno porte, que contam, na maioria, com secretários “emprestados” de outras pastas. “A pessoa que é um secretário de agricultura, um secretário de meio ambiente, ele vai tocando sua pasta. Quando ocorre um problema é que ele vai se voltar paras ações de defesa civil”, declarou. Veja abaixo a entrevista completa:

 

Foto: Divulgação / Sudec

 

Quais regiões têm sido mais afetadas pelas chuvas no estado?

Olha, isso tem sido diversificado no estado. Tem municípios no Oeste, como Muquém do São Francisco, Wanderley e Cotegipe. Tem no Extremo Sul, como é o caso de Medeiros Neto. Tem no Sul, tem Ilhéus. Tem no Norte, em Paulo Afonso e Pedro Alexandre. Mas há ainda cidades no Sudoeste e na região sisaleira, que também registraram muita chuva. Na verdade, as chuvas, que estão acontecendo há mais tempo ocorrem em um corredor que começa no Oeste e passa pelo Sul e Extremo Sul, que são as regiões mais atingidas. 

 

Como os municípios acionam a Defesa Civil do Estado para obter apoio, uma vez que muitos não têm Defesa Civil própria? 

Existe um comitê que é formado, e uma pessoa é delegada para ficar como responsável. Só que na grande maioria das vezes, essa pessoa acumula outra função. E aí, a gente acaba não tendo uma atenção exclusiva para as atividades de defesa civil. É um trabalho que a gente, inclusive, está fazendo para que os municípios possam entender a importância de constituir, efetivamente, uma defesa civil. O ano passado foi o ano que bateu recorde de desastres no Brasil. A tendência é que isso aconteça cada vez mais. Essa dinâmica de mudança climática tem tido esses efeitos. E nós precisamos que os municípios estejam melhor preparados.

 

Muquém do São Francisco após temporal no final de janeiro / Foto: Reprodução / Gazeta 5


A grande maioria das prefeituras têm os comitês ou eles só são formados quando os transtornos acontecem?

Esse comitê até tem, por conta de uma prerrogativa legal. Agora, o funcionamento ... Naturalmente, em municípios que não se tem muita expectativa de ter um desastre, o comitê fica realmente em segundo plano, já que o foco daquela pessoa que acumula outra função vai ser outra atividade. Eu vou dar um exemplo, a pessoa é um secretário de Agricultura, um secretário de Meio Ambiente, naturalmente ele vai tocando aquela secretaria. Quando ocorre um problema é que ele vai se voltar paras ações de defesa civil. E a gente sabe que a defesa civil vem de uma legislação nova. A lei que disciplina e cria a política nacional de proteção e defesa civil é de 2012.

 

Foto: Divulgação / Sudec

 

O senhor acredita que a crença da importância da defesa civil vai aumentar devido a esses contratempos?

Tem uma cultura sempre de dizer que o nosso país não tem problema, não tem furacão, não tem terremoto. Só que ao longo dos últimos anos, isso tem se mostrado diferente. A gente tem convivido com problemas sérios. Repito, fruto de tudo que tem acontecido. E a gente precisa estabelecer essa cultura de proteção e defesa civil. Então, o fortalecimento das defesas civis municipais, da defesa civil nacional, da defesa civil dos estados, tudo isso, é um processo que vai acontecendo, e a gente vai aqui militando, especialmente para que os municípios possam também se abrir para isso. 

 

O senhor teve algum retorno de prefeitos, entidades, sobre a importância de se criar as defesas civis, sobretudo nas cidades de pequeno porte? 

Temos algumas conversas já com a UPB [União dos Municípios da Bahia], através do presidente Quinho (PSD); com o prefeito de Castro Alves e o presidente da federação dos consórcios públicos do estado, Thiancle Araújo (PSD), e há muita boa vontade de parcerias, para que a gente possa ir fazendo esse trabalho de fortalecimento. No último ano, ajudamos a criar secretarias de defesa civil em Jacobina - para enfrentar aqueles problemas de tremores de terra - e outra em Luís Eduardo Magalhães. 

 

A Bahia tem vivido nos últimos anos situações bem dramáticas, como aquelas enchentes do final de 2021. A tendência, pelas mudanças climáticas, é que outros eventos impactantes ocorram de novo. As cidades do interior se preparam para enfrentar situações semelhantes? 

Esse processo de preparo é contínuo. Não vai parar nunca. Até porque existe uma dinâmica no desastre. Tem o evento natural, a chuva, o vento. E tem uma dinâmica humana também. Aí entran questões sociais, ocupação e uso do solo, local onde essas comunidades estão estabelecidas, topografia do município. Tudo isso, de alguma forma, contribui para uma maior gravidade desses eventos. Nós temos duas formas de fazer a gestão: a gestão de risco, que é antes do desastre acontecer. É o trabalho de preparação, de mitigação e de planejamento. E tem a gestão do desastre. Se ele já aconteceu, você vai para o salvamento, com ajuda humanitária, restabelecimento das condições e Corpo de Bombeiros. 

 

Como se faz a recuperação de estradas vicinais, as chamadas estradas de chão ou de terra, já que elas servem para o transporte de pessoas no interior dos municípios e ficam bem deterioradas quando chove muito? 

Quando a estrada é destruída, tem que fazer ela novamente para poder liberar o acesso. Mas nós ainda fazemos reconstruções de ponte, obras de drenagem. 

 

Foto: Divulgação / Sudec

 

Uma questão que é pouco discutida em cidades de pequeno porte se refere aos planos diretores, que servem para organizar o espaço urbano. Na Bahia, mais de 60% das cidades do estado têm até 20 mil habitantes. O senhor acredita que essa questão de plano diretor é negligenciada nesses municípios?

O Estatuto das Cidades criou uma obrigação e uma necessidade de resposta mais rápida realmente para os maiores municípios. Mas todas as cidades têm essa carência e essa necessidade de ter um plano diretor que conduza o desenvolvimento. E de fato isso faz muita diferença quando você vai preparar a cidade para enfrentar as adversidade do tempo e tudo mais. E como eu disse, inclusive, também tem questões sociais a serem observadas. Por exemplo, há comunidades ribeirinhas que vivem do rio e que não dá para simplesmente tirá-las dali. Você também não pode fazer intervenções de qualquer maneira em uma área que é de preservação ambiental. Então, é preciso encontrar esse equilíbrio, que é um grande desafio para as prefeituras.

Especialista avalia economia baiana para 2024; analista diz que estado precisa de mais cooperativismo
Foto: Divulgação / SEI

O que esperar da economia baiana em 2024? A pergunta inadiável também passa por saber qual setor deve se destacar e qual deve sofrer. Outra questão é: a indústria baiana vai vingar? O setor baiano tem mostrado mais baixa do que a indústria brasileira durante anos. O semiárido baiano pode ser viável? Esta é outra indagação.

 

Para responder a essas e outras questões, o Bahia Notícias conversou com Luíz Mário Vieira, analista de conjuntura da SEI [Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia]. Segundo o também mestre em economia, falta ainda ao estado o fortalecimento do cooperativismo, relegado quase apenas à agricultura familiar.

 

O recurso serviria para proteger empresas e evitar a fuga de outras, sobretudo nas cidades de médio e pequeno porte do estado. “Se sabe que o cooperativismo foi o grande diferencial em outros estados, como os do Sul do país. Lá é algo muito forte. Eles lutam pela defesa dos interesses deles. E aqui é uma coisa bem isolada, ficando mais na agricultura familiar”, declarou. Confirma abaixo a entrevista na íntegra.

 

Foto: Divulgação / SEI

 

Primeiro, o que podemos aguardar da economia baiana em 2024?

A gente tem verificado que as previsões estão sendo muito erráticas nos últimos anos, não é? Ou seja, se a gente pegar mesmo 2022 e 2023, a previsão era de crescimento de 0,8%. E os economistas acabaram surpreendidos pela dinâmica da economia brasileira. Hoje, nós temos uma previsão de que a economia feche em torno de 3%. Isso em nível de Brasil. Agora, a Bahia costuma ter uma situação peculiar. 

 

Qual situação?
O setor industrial não foi bem, sobretudo a indústria de transformação, como no setor petroquímico e no setor de refino de petróleo. A gente teve uma retração na indústria, que deu nesse resultado ruim para o PIB do estado, que ficou uma taxa muito aquém do que a gente esperava. O PIB da Bahia no terceiro trimestre ficou em 0,2% e consequentemente no ano nós teremos uma taxa de 0,5%. Por isso, esperamos fechar o ano com um taxa pela metade da do Brasil, ou seja, em torno de 1,5%. E o caso da Bahia também é em decorrência da concentração da atividade industrial em poucos setores. 

 

A saída da Ford ainda causa impacto?
Acredito que não. A saída da Ford foi em 2021. Os efeitos dela ocorreram em 2022. De lá para cá, a base de comparação não incluiu o efeito Ford. Agora, nós tivemos bons resultados nos setores de agropecuária e de serviços, que vem correspondendo nos últimos anos. Eles deram uma recuperação muito significativa para o PIB da Bahia logo após a pandemia. 

 

Foto: Reprodução / SEI


Há algum setor em especial que deve crescer mais na Bahia?
Olha, nós esperamos uma recuperação do setor industrial. Porque quando a gente fala em indústria em relação ao PIB, falamos de indústria de transformação, extrativa, além de aumento de demanda em eletricidade e construção civil. Sei. Segundo a Ademi [Associação de Dirigentes do Mercado Imobiliário], houve um crescimento de 60% em lançamentos na construção civil. Isso é importante. Por que se você lança, você vai construir. E tem a queda da taxa de juros, que ajuda a financiar os lançamentos. Na indústria, a gente espera alguma recuperação, principalmente no setor de refino. A Petrobras tentando fazer uma parceria com a Acelen [que administra a Refinaria Mataripe], também é interessante. E tem alguns gargalos no setor industrial, como a questão da Unigel [fertilizantes], que a gente não sabe como vai ficar. Tem a metalurgia, como a Paranapanema, que está em recuperação judicial. Tem uns setores que se expandem. Papel e celulose vão continuar tendo um bom desempenho porque a demanda internacional vai continuar se mantendo. E não vai ter um processo recessivo no mundo no ano que vem. As perspectivas são mais favoráveis com a expectativa de que as taxa de juros no mundo sejam reduzidas.

 


Eu queria voltar para a questão da indústria baiana. A indústria baiana caiu quase o dobro da economia brasileira em dez anos. Enquanto a baixa no país foi de 12,4%. No estado, foi de 22,6%. Como recuperar a capacidade industrial?
A indústria da Bahia tem um aspecto. Ela vive momentos de explosão e depois acomodação. Houve isso lá atrás, no final dos anos 70, com o polo petroquímico [Camaçari]. Depois, veio a Ford. Agora, a gente espera que com a chegada da BYD haja isso, dando um choque no setor industrial. Porque vai ser bom na produção como também na inovação, já que eles pretendem criar um campo de inovação aqui na Bahia. 

 

Quais setores têm potencial de se desenvolver aqui no estado?
Na pandemia, ficou evidente que a gente não produzia nem máscara. Não tinha seringa e insumos básicos, o que acabou atrasando a vacinação. Aqui, nós temos o Cimatec [Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia], que trabalha com inovação e tem um setor de excelência em saúde. Tudo isso nós temos condições de desenvolver. E Salvador está caminhando para ser um centro de excelência na questão de saúde no Nordeste. Os melhores hospitais estão aqui ou têm filiais, como Mater Dei, Rede D’or e por aí vai. O hospital que você tem aqui é o mesmo que você tem em São Paulo. Tem a economia verde também. A gente tem que trabalhar com esses essa questão da descarbonização da economia. É uma palavra um pouquinho feia, mas é o caminho mesmo. 

 

E o semiárido baiano? Qual o potencial dele que ainda não foi desenvolvido?
Acredito que passa pelas energias renováveis. Precisa também de pesquisa para apontar o caminho. A gente sempre cita o exemplo de Israel, que vive em um deserto e consegue produzir muita coisa. Acho que também precisa trabalhar com o conceito de eficiência. Se o semiárido trabalhar nesse sentido, ele pode ser viável. A Embrapa, que é uma empresa pública, por exemplo, ajudou no salto que o agronegócio teve. Ela colabora não só na produção como no valor agregado, ou seja, hoje o setor não exporta somente o produto primário. Exporta também o produto acabado. 

 

Foto: Reprodução / SEI

 

Mas se diz que o agronegócio produz muito, gera muito lucro, mas emprega pouco. 

 A agricultura antes era o setor que empregava mão de obra de baixa qualificação. Mas isso tem mudando radicalmente. O que a gente vê nas feiras que acontecem lá em Luís Eduardo Magalhães, no Extremo Oeste baiano, é o aumento do nível tecnológico agregado às máquinas. Então não vai ser qualquer um que vai sentar ali para dirigir uma máquina daquelas, tem que ter um conhecimento. Mas, apesar de menos emprego, o setor gera uma cadeia de serviços. Luís Eduardo Magalhães, um município criado recentemente, já aparece como um dos maiores PIBs do estado. Isso é muito importante. 

 

A Bahia é um estado com 61,6% de cidades com até 20 mil habitantes e apenas 18 delas têm mais de 100 mil habitantes. Aquele modelo de empresas de fábrica de calçados ainda tem potencial? 
Esse modelo teve seu momento, principalmente diante da questão da guerra fiscal entre os estados. O governo deu muitos benefícios, deu terreno, galpão, e ao longo desse período várias dessas empresas foram embora. E uma coisa que não se desenvolveu aqui na Bahia é o cooperativismo. Falta até um estudo sobre isso. Só a agricultura familiar é que consegue ter cooperativas. E ela fornece quase 80% da alimentação que se consome aqui. Tem que ver também o que o mercado precisa e que seja competitivo, sem precisar de uma ajuda tão substancial do estado, porque a própria legislação não vai permitir que se faça mais isenções fiscais e tributárias, embora no primeiro momento, na instalação delas seja necessário. 

 

Falta cooperativismo na Bahia então?
Eu acho que falta. A gente observou muito isso quando foi criado o setor calçadista. Quando se tentou as cooperativas para gerirem o negócio, o resultado não foi exitoso. E aí voltou a relação tradicional capital-trabalho. 

 

Não deu certo por quê?
Isso ainda nós não sabemos exatamente, mas se sabe que o cooperativismo foi o grande diferencial em outros estados, como os do Sul do país. Lá é algo muito forte. Eles lutam pela defesa dos interesses deles. E aqui é uma coisa bem isolada, ficando mais na agricultura familiar. 

 

Um dos problemas que afetam o desenvolvimento do estado é a infraestrutura precária?
Essa ferrovia [Fiol] está muito atrasada. Com a Fiol, a gente poderia encontrar mecanismos de produção que sejam adequados à nossa realidade, com o semiárido e a região do cacau. Você pode dar dinamismo naquela região, buscando outras alternativas, além do cacau. 

 

Foto: Reprodução / SEI 


O que a gente pode vislumbrar para o desenvolvimento no estado ano que vem?

Olha, o El Niño vai atrapalhar na agricultura. Isso a gente não tem dúvida, apesar de o pessoal do Oeste ter uma área irrigada. No setor industrial, a gente espera pela própria base de comparação um desempenho melhor. O governador assinou algumas licitações, como a do VLT [Veículo Leve sobre Trilhos] em Salvador. A rodoviária [de Salvador] deve sair no ano que vem. A própria Fiol se continuar no seu processo de construção, também vai ter um impacto na própria construção civil habitacional. Essa reflete tanto na demanda de insumos como na geração de empregos. Com essa seca, a demanda por eletricidade vai crescer e o nosso parque eólico vai ser mais acionado.  Em relação à BYD, não podemos esperar muita coisa, já que ela ainda não vai operar ano que vem, mas pode dar um incentivo à geração de energia. E o grande setor, que é o de serviços, que representa mais de 60% da economia baiana, vai bem. 
E associado ao elemento da geração de renda. E boa parte das pessoas recebe salário mínimo, que repercute nos aposentados e quem tem benefício. Se a inflação estiver controlada, esse salário tem um ganho real e isso ajuda as pessoas. 

Maior efeito do governo Bolsonaro foi a volta ao mapa da fome, diz coordenador baiano de programa de cisternas
Foto: Divulgação / ASA

Premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU), um dos exitosos programas de convivência de populações do semiárido com a seca quase desapareceu. Iniciado na virada dos anos 2000, o programa de cisternas sofreu forte queda no repasse de recursos nos últimos quatro anos. 

 

Para Cícero Félix, coordenador nacional na Bahia da ASA (Articulação do Semiárido Brasileiro), o abandono do programa impactou nas condições de sobrevivência.  "O maior impacto foi a volta do Brasil ao mapa da fome. O não investimento em políticas de acesso à água, de garantia de direito humano de acesso à agua, impactou seriamente nas famílias", declarou. 

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, Félix, que também é técnico em agropecuária, informou a meta da Bahia para o programa neste ano, detalhou como ocorre a formação dos beneficiados e afirmou que a iniciativa precisa chegar na universalização da água, conquista ainda fora do horizonte de todos os sertanejos.  Veja abaixo a entrevista na íntegra.

 

Foto: Divulgação / ASA

 

Queria saber como está a realidade do sistema de cisternas no semiárido baiano?

O governo anterior praticamente desestruturou, desmontou o programa de cisternas no Brasil. O orçamento que tinha para o programa de cisterna neste ano era de R$ 2 milhões. Isso daria para construir em torno de 400 cisternas, de primeira água, no Brasil todo. Ali no governo de transição, com a eleição do presidente Lula, nós conseguimos, com a sociedade civil organizada através da ASA e de outras organizações, e hoje o orçamento do programa é de R$ 500 milhões para este ano. Saímos de R$ 2 milhões para R$ 500 milhões. O governo também lançou um edital para construção de 51 mil cisternas de primeira água e mais 5 mil para produção de alimentos.

 

Para a Bahia seriam quantas cisternas?

 A meta para Bahia são dez mil cisternas de primeira água, aquela para beber e para consumo, e mais umas mil cisternas para produção de alimentos e manejo de animais. Com a ampliação do semiárido, se estima que na Bahia existam de mais de 150 mil famílias sem a primeira água. Já na segunda água, ainda são poucas famílias que tem esse recurso. Por isso, a maior demanda é para essa segunda água.

 

Qual foi o tamanho do impacto do governo federal anterior na falta de investimentos no programa de cisternas?

Olha, o maior impacto foi a volta do Brasil ao mapa da fome. O não investimento em políticas de acesso à água, de garantia de direito humano de acesso à agua, impactou seriamente nas famílias.

 

Foto: Reprodução / ASA Bahia

 

Dá para apontar quais municípios ou regiões baianas foram mais prejudicados com a falta de investimento da gestão Bolsonaro no programa de cisternas?

Não temos ainda esses dados, mas posso dizer com certeza que os municípios com os índices mais baixos de IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] foram os mais afetados. Porque eles têm a economia dependente da agricultura familiar. Nestes municípios, os impactos foram profundos. Porque o governo anterior desmontou o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que era o ministério que apoiava a agricultura familiar, desmontou praticamente o programa de cisternas, desmontou o sistema de segurança alimentar nutricional do país.

 

Nós tivemos um político com eleitorado na Bahia, João Roma (PL), como ministro do governo anterior que tratava desse assunto. Como era a relação com ele?

Na época, ele foi ministro da Cidadania. Nós tentamos contato com o ministério dele, mas infelizmente não foi possível. Nós não conseguimos dialogar com o ministério para executarmos o programa cisterna. Infelizmente.

 

E atualmente, como está a relação?

Hoje, conseguimos dialogar. A relação é de construção, dialogando sobre as possibilidades. A meta é garantir o acesso universal para a água de consumo. No caso da água para produção de alimentos, ainda estamos distante da universalização. Sabemos que tem a disputa por orçamento público, isso é da construção e priorização das políticas. O MDS já lançou edital para contratação das organizações, e nós estamos nesse processo agora de finalização de editais para contratar as organizações que executar na ponta o programa cisterna.

 

Foto: Reprodução / ASA Bahia

 

Para recapitular o programa de cisternas é uma iniciativa da sociedade civil, não é mesmo?

O programa de cisternas foi na verdade nós da ASA que apresentamos o chamado programa para mobilização social para convivência com o semiárido. Dentro desse programa tinha a proposta de criar um milhão de cisternas. Nós fizemos isso pela primeira vez ainda no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC). Era um programa piloto. Depois, no governo Lula virou política pública. No último governo, o programa quase que desapareceu.

 

A ASA é apontada como uma organização à esquerda, mas vocês já se manifestaram contra Dilma [Rousseff], não foi? A entidade se sente independente?

A ASA não tenho partido. É uma rede de organizações da sociedade que apresenta proposta de políticas públicas que interessam aos povos do semiárido. E nós dialogamos, nós construímos políticas públicas, e executamos. Apresentamos propostas no governo Fernando Henrique, no governo Lula, no governo Dilma, no governo Temer, mas a situação ficou difícil no governo Bolsonaro. Na época do primeiro governo Dilma, nós enfrentamos uma situação. Colocamos milhares de pessoas nas ruas para que questionar o governo por conta do desvirtuamento que estava sendo proposto no programa, que era a construção de cisternas de plástico. A pressão política é necessária para que os governos possam fazer as políticas que interessam as populações dessa região, e isso independente de cores partidárias.

 

Foto: Reprodução / ASA Bahia

 

Qual o problema das cisternas de plásticos?

O problema são os impactos dessa água armazenada durante muito tempo nesse solzão do semiárido. Imagine o plástico esquentando durante o dia e esfriando durante a noite, ampliando e encolhendo. A gente não sabe o que se libera de toxina. Além do mais, o programa cisterna não é apenas a construção de um tanque, de um reservatório. Envolve toda a formação social para convivência com o semiárido. A questão da gestão hídrica. De a família poder conhecer como é que funciona a questão das chuvas. Fazer a boa gestão da água. Tem ainda a questão da economia local, com contratação de pedreiros, compra de material no comércio, ou seja, fortalece também a economia local. 

 

Como é a formação dessas pessoas que recebem cisternas?

A cisterna chega por último na família. Para a família receber a cisterna, ela precisa primeiro se envolver no processo de formação e mobilização social pra convivência com o semiárido. Aprender como ela pode manejar e cuidar dessa cisterna, tratar a água. Muitas vezes se criticava que as cisternas não tinham água de boa qualidade. Mas antes de chegar na boca das pessoas, ela precisa passar por um filtro. Então, a água sai da cisterna e é filtrada para se ter um bom uso dela. 

 

Há previsão de novas estiagens no semiárido. Como o programa de cisternas pode ser alternativa para o enfrentamento desse problema?

Nós já estamos em um período de emergência climática, né [sic]? Então, a tendência é que cada vez mais a gente vivencie eventos extremos. Muita seca, muita enchente. No semiárido, a tendência é que a gente tenha chuvas mais irregulares no tempo e no espaço. A nossa proposta de convivência com o semiárido dialoga com todas essas esses desafios. Nossa grande estratégia é a do cuidado e da estocagem. As famílias precisam estocar água no período chuvoso para ter no período seco. As famílias precisam estocar alimentos pra si e para os animais no período chuvoso para usar no período de seca. Precisam guardar, precisam preservar, cuidar das sementes, das plantas, dos animais para não perder o seu patrimônio genético. A estratégia é a partir da realidade das famílias, das comunidades, dos biomas que cobrem essa região, caatinga e cerrado, trabalhar o cuidado desses biomas. E para isso, precisamos de políticas públicas para investir nessa perspectiva. 

 

Foto: Reprodução / ASA Bahia


As mulheres têm papel importante na gestão das cisternas?

A tecnologia de segunda água, aquela para produção de alimentos, acompanha junto o chamado Quintal Produtivo. E geralmente a água para produção é gerenciada e cuidada pelas mulheres.

 

O programa de cisternas precisa de aprimoramento?

Bom, o programa de cisternas é premiado internacionalmente. Já recebeu prêmios da Organização das Nações Unidas (ONU), recebeu prêmio de políticas com resultados comprovados contra a desertificação, recebeu prêmio como políticas de futuro para segurança alimentar das famílias. Então, assim, é um programa que dá certo, que funciona, que tem gerado grandes resultados para as populações que já têm cisterna em casa. Nós não vamos ficar reinventando a roda, nós temos é que garantir que as famílias tenham acesso a essas tecnologias. 

“Hoje não é aceito esse tipo de coisa”, diz presidente da CAR sobre abate clandestino de animais na Bahia
Foto: Fernando Duarte / Bahia Notícias

O diretor-presidente da CAR [Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional], Jeandro Ribeiro, lida de perto com a maioria dos produtores rurais baianos. Segundo dados do IBGE, 77,8% das propriedades rurais do estado são da chamada agricultura familiar, termo que veio substituir as produções de pequeno porte.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, Jeandro Ribeiro contou quais são as prioridades da gestão. Ele também citou o abandono dos programas de cisternas feito pela gestão federal anterior e criticou o ainda comum abate clandestino de animais no estado.

 

“Infelizmente quem presenciou um abate clandestino, sabe que é algo muito doloroso. Em tempos como hoje, não é mais aceito esse tipo de coisa”, disse. O presidente da CAR ainda deu orientações para a abertura de cooperativas e franquias com selo da agricultura familiar e comentou sobre o polêmico abate de jumentos, em Amargosa, no Vale do Jiquiriçá. Veja abaixo a entrevista completa.

 

Foto: Fernando Duarte / Bahia Notícias

 

Primeiro, queria que o senhor explicasse o que é a CAR.

A CAR foi concebida há 40 anos. Primeira, ela foi vinculada à Secretaria de Planejamento da Bahia. Com o governo Wagner, passou a fazer parte da Sedi, a Secretaria de Integração Regional. Já com Rui, a CAR se integrou à Secretaria de Desenvolvimento Rural [SDR] por conta de um apelo do segmento da agricultura familiar. A CAR é uma empresa pública, musculosa, com jurídico próprio, e com capacidade de investir em torno de R$ 2 bilhões na agricultura familiar nos próximos três anos. É a principal vetora de políticas públicas para o segmento da agricultura familiar, seja do assentado e assentada da reforma agrária, dos povos e comunidades tradicionais.

 

Quais é a prioridade imediata da CAR?

A prioridade máxima é consolidar as políticas que vêm das gestões de Wagner, Rui e Jerônimo. Uma das prioridades são as agroindústrias. Após um mapeamento, nós identificamos 402 agroindústrias, aquelas que nós construímos ou que requalificamos ou que temos outras intervenções.

 

Essas agroindústrias se concentram em alguma parte do estado?   

Elas estão espalhadas em função da cadeia produtiva. Se você for ali para região da Bacia do Jacuípe, você tem a Coap ou a FrigBahia, que é um frigorífico de abate de caprinos e ovinos. Se você for pra região Norte da Bahia, que é a central da caatinga, a caprinocultura é forte, como também a fruticultura, com o maracujá da caatinga e o umbu. Ali você tem a Coopercuc. Se você for para região sudoeste da Bahia, tem o café de Barra do Choça, com a Cooperbac. Na Chapada, a mesma coisa. Você tem o café de Piatã com a Coopiatã, entre outras iniciativas.  

 

Como a CAR atua junto a essas cooperativas? 

A CAR, nessas duas vertentes que são o Bahia que Produz e Alimenta e o Parceiros da Mata, tem papéis que se somam. O Bahia que Produz e Alimenta vai muito atrás desses empreendimentos que já existem. A gente faz uma busca ativa e os editais permitem isso. A gente lança os editais, as cooperativas se encontram nos editais e apresentam suas manifestações de interesse. E aí vamos escutar. Eu acho que o grande mérito do sucesso dessas políticas públicas de agricultura familiar é porque a gente teve a capacidade de primeiro escutar a demanda real. Não chegamos com receita de bolo pronta para ninguém. 

 

Foto: Fernando Duarte / Bahia Notícias

 

Agora do lado do produtor, o que ele precisa fazer para conseguir montar um negócio? Qual o dever de casa dele?

As ações se somam. A primeira relação que a gente tem com o agricultor é a partir da assistência técnica de extensão rural. Nós entendemos a dinâmica e a diversidade que a Bahia tem. Aqui existem três biomas muito bem definidos, que são a Mata Atlântica, a Caatinga e o Cerrado. Não adianta centralizar isso. O que foi que nós fizemos? Estabelecemos parcerias com quem de fato conhece a realidade no campo e quem está lá. Então chamamos organizações não governamentais para ajudar a gente na assistência técnica. Em 2016, nós começamos uma relação também com os municípios. Nós chamamos os municípios baianos para participar dessa estratégia de assistência técnica. Nós chamamos na época de Parceria mais Forte. Então você me pergunta: o que que o agricultor tem que fazer? Ele tem que ser chamado pela assistência técnica. Ele tem que organizar a base de produção. Não adianta achar que vai ter uma casa de farinha, se não tem ali 90, 100 hectares de mandioca plantada e organizada para abastecer um equipamento. O agricultor tem que estar organizado em uma associação, em um CNPJ. A gente nunca vai conseguir chegar com o olhar cirúrgico da CAR individualmente, com João ou Maria ou Antônia. 

 

Uma cooperativa precisa do mínimo de quantos membros para conseguir se estabelecer?

Por regimento, 20 membros. Mas se você pega a Cooperbac, em Barra do Choça, ela começou com 79 cooperados e hoje tem 320. A Copag, em Várzea Nova, começou com 30, 40, e já tem quase 200 cooperados. São cooperativas que começam pequenas, a política pública chega nelas, e elas conseguem trabalhar essa política pública de forma eficiente junto com o estado e vai se alargando. A Copasa em Várzea Nova é a principal geradora de emprego do município após a prefeitura. Além de fazer o tradicional, como manteiga, iogurte, queijo, ela faz também o iogurte de café, de licuri, de umbu. 

 

Um dos problemas deixados pela gestão anterior do governo federal foi a falta de investimentos no programa de cisternas. Qual foi o impacto causado no produtor rural baiano de pequeno porte nesse período?

O semiárido tem as suas estações muito bem definidas. Por isso, se sabe que tem oito meses de estiagem, e tem três, quatro meses, de chuvas intensas. Então tinha que ter uma capacidade de armazenamento dessas águas. A ASA [Associação do Semiárido Brasileiro] trouxe essa tecnologia de captação de água da chuva, através do telhado das casas para uma cisterna. Sabendo que nós temos quatro meses de chuva, era preciso armazenar para a produção. Mas isso começou em 2012. E aí quando chega o governo anterior, todo o ciclo de manutenção dessas cisternas foi quebrado. Quebrou assim a manutenção das cisternas existentes na Bahia, seja as cisternas de placa, para consumo humano; e aquelas de captação de água para produção, que chamamos de cisternas de segunda água. Agora, como a demanda por água sempre aumenta, a ASA já apresentou, junto com os consórcios da Bahia, uma proposta ao ministro de Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT), e ele já sinalizou cerca de R$ 100 milhões para execução dessas cisternas para consumo humano. 

 

E tem uma questão aí que é a previsão de estiagem nos próximos meses, o que torna as cisternas ainda mais necessárias.

A gente já esteve com a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] junto com o governador Jerônimo há 60 dias, já prevendo esse cenário de estiagem. E a Bahia é um grande produtor de alimentos. Tem o maior rebanho de caprinos e ovinhos do país, o primeiro de cacau, o segundo maior produtor de maracujá, o quarto maior produtor de café arábica, então, em função disso, a gente também foi atrás de reserva alimentar para alimentação animal. Nós apresentamos uma demanda de 60 mil toneladas de reserva alimentar, ela já comprou 15 mil toneladas de grãos lá no Oeste da Bahia que está estocando e trazendo para os armazéns de Irecê e Ribeira do Pombal, por exemplo, e vai fazer aquisição no Norte da Bahia para ter uma capacidade de ofertar na época da estiagem o milho subsidiado, que nós fizemos em 2013. 

 

Foto: Fernando Duarte / Bahia Notícias

 

É notório que os preços de alguns alimentos têm subido muito, como é o caso do tomate, que chegou a custar R$ 15 o quilo, recentemente. A agricultura familiar forte pode favorecer a uma melhor regulação desses preços?

Tem muita especulação também nisso. Agora, a agricultura, de forma geral, é uma atividade de risco, principalmente nas culturas de ciclo curto. Você pode fazer um roçado grande, aí vem uma chuva forte e leva tudo. Na Bahia, se você pegar a curva de todas as culturas perenes, como com cacau, leite, café, as curvas são ascendentes. Mas as culturas temporárias, elas oscilam, como no exemplo da chuva forte. A gente lembra que no ano passado quando teve aquela chuva de final de ano, os preços dos alimentos subiram muito. Jaguaquara, que é um grande produtor de alimentos, sofreu bastante. O nosso Ceasa pode ser esse ambiente regulador e evitar tanta oscilação de preço. 

 

Uma problemática no interior também são os abatedouros, já que muitas cidades têm os abates clandestinos. Como resolver essa questão?

É uma problemática que existe de fato. Nós precisamos unificar os interesses das cidades. A Bahia tem 417 municípios, sendo que 350 deles têm até 40 mil habitantes. Você não pode ter um frigorífico para um município de 40 mil pessoas. É impossível. Agora, vou dar um exemplo que está funcionando. Itiúba tem um frigorífico que teve o início da construção há 12 anos. Vimos que o equipamento estava lá sem uso. Reunimos todos os prefeitos da região, não só o de Itiúba, e falamos: "se vocês querem colocar esse frigorífico para rodar, vamos precisar da participação de todo mundo". Tanto nosso do estado, com o aporte de mais de R$ 4 milhões, como também dos municípios, não só na gestão como também no combate ao abate clandestino, colocando a vigilância sanitária em cima. Então, é preciso unificar as prefeituras e combater o abate clandestino. Nós temos um belo exemplo de frigorífico também em Pintadas. É um frigorífico que é a legislação permite ser multiplanta, abatendo caprinos, ovinos e suínos, ou seja, médios animais, como também bovinos, que são animais de porte grande. 

 

Agora, como convencer o produtor rural que é melhor ele usar um matadouro regularizado do que continuar fazendo o abate clandestino?

Infelizmente quem presenciou um abate clandestino, sabe que é algo muito doloroso. Em tempos como hoje, não é mais aceito esse tipo de coisa. E no abate regularizado, que é feito de acordo com a legislação, há um sofrimento menor para o animal, além das questões de higiene. 

 

Foto: Fernando Duarte / Bahia Notícias

 

Como você tem acompanhado o caso de abate de jumentos em Amargosa?

Ali foi uma agenda feita com os chineses e há uma demanda por carne de jegue. Na missão que o governador fez na China, ele visitou esses parceiros. Nesse abate há também tecnologias. Não é pegar jegue em beira de estrada, como muito gente acha que é. Não é assim que funciona, muito pelo contrário. Então, isso está sendo feito da forma como a legislação exige, e é um mercado que gera divisas para o estado da Bahia. 

 

Entre as críticas ao abate de jumentos é que não há uma cadeia produtiva, o que pode causar até a extinção da espécie. 

Mas está tudo dentro da legislação. Ninguém iria apoiar um projeto que causasse dano à saúde pública nem sofrimento ao animal. 

 

É verdade que a agricultura familiar baiana já tem franquias, ou seja, se alguém quiser abrir um negócio com a marca, ela pode fazer isso?

A ascensão da agricultura familiar é notória e hoje ela virou uma marca, que gera saúde, gera consciência limpa e não há emprego de mão de obra equivocada na produção do alimento. Você sabe que está comprando produto com qualidade, produto com uma história por trás dele. Hoje, a gente tem um empório da agricultura familiar no Ceasinha, no Rio Vermelho [Salvador], que virou uma marca. Então, a Unicafes [União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária] está preparando para apresentar para gente essa franquia. A pessoa que queira levar a marca do Empório para o interior, basta obedecer o conceito que está na loja, que é belíssima. Nós já temos uma em Juazeiro, que é administrada pela Central da Caatinga, temos essa aqui em Salvador, e já já teremos uma terceira em Senhor do Bonfim e a próxima vai ficar ali no eixo de Ilhéus-Itabuna e Vitória da Conquista. E, provavelmente, teremos outra em Feira de Santana. 

 

Então, o negócio tem se expandido?

Porque o mercado está pedindo. O consumidor está pedindo produtos da agricultura familiar. Está pedindo um iogurte de licuri, um iogurte de umbu ou de café, uma cerveja artesanal de maracujá da caatinga, uma cerveja de mel de cacau, está pedindo um café de qualidade, um morango de qualidade. 

“Não houve preocupação de dotar esses distritos de infraestrutura”, diz secretário sobre indústrias no interior baiano
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

Passados quase seis meses à frente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE), o titular da pasta, o feirense Angelo Almeida, tem a missão de melhorar os índices de industrialização no estado. Em uma década, entre 2011 e 2021, o Brasil perdeu 12,4% da força industrial, mas a Bahia conseguiu descer mais, com baixa de 22,6%.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, Angelo Almeida respondeu sobre essa questão, como também sobre o dilema dos distritos industriais, sobre o potencial do hidrogênio verde, sobre a falha de não desenvolver um maquinário para o agronegócio do estado (que compra esses itens de fora), entre outros temas, como educação e o modelo de atração de empresas calçadistas para o semiárido baiano.

 

“Toda cidade gostaria de ter uma grande empresa calçadista porque ela emprega bastante. Uma empresa dessa de médio porte emprega de 1,2 mil a 2 mil. [...] Mas o estado do tamanho da Bahia tem que entender a sua vocação”, avaliou o secretário. Veja abaixo a entrevista na íntegra.

 

Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

 

Quais são as perspectivas de curto prazo para indústria baiana, sobretudo para este segundo semestre?
Com cinco meses à frente da pasta posso dizer, com segurança, que a Bahia está em uma posição privilegiada na neoindustrialização e de novos empreendimentos na área industrial, a exemplo da agroindústria. Eu diria que é o estado central do país na perspectiva de ser um grande polo de atração para essas empresas. Isso pela facilidade da perspectiva de baixo custo e abundância energética. As vibrações estão sendo positivas e o interior tem sido o foco das atenções desses novos impedimentos para a Bahia. Só para se ter ideia, do ponto de vista da energia eólica, a Bahia é o único território no mundo onde os ventos são imbatíveis.


Ainda sobre curto prazo, a fábrica de hidrogênio verde anunciada em Camaçari ainda pode sair neste ano, como já foi dito?
O principal equipamento para tornar realidade essa planta de hidrogênio verde na Bahia, da Unigel, que será a primeira planta em alta escala na América Latina, é a compra do eletrolisador, que já foi adquirido. As compras já foram feitas e os primeiros eletrolisadores vão chegar no segundo semestre deste ano.

 

Quais são as perspectivas de emprego para o estado como um todo com o aproveitamento desse potencial de energia limpa, colocando aí as energias eólicas, solar e, por que não, o hidrogênio verde? 
Sim. Está havendo uma estabilidade na implantação de novos negócios na Bahia com cerca de 75% deles direcionados para o interior e 25% para a Região Metropolitana de Salvador. É uma tendência, justamente por conta dessa nova matriz energética. Tanto a Solar quanto a eólica. Elas barateiam os custos de mercado e o empresário consegue ter acesso a uma energia mais limpa a um custo mais barato. Além disso, o Estado tem feito diversas ações na qualificação de mão de obra no interior com a expansão do ensino técnico e profissionalizante. E os investimentos do agronegócio nos animam bastante. 

 

Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias


Em relação ao agronegócio, é notória a força desse setor no estado, mas o maquinário vem todo de fora, de empresas estrangeiras. Isso não seria um erro estratégico da política industrial baiana quando ela não estimula essa produção?
Existe uma tendência que as novas gerações baseadas em tecnologia e ciência vão fazer a diferença. 

 

A questão é que se fala na vinda da BYD para fabricação de carros elétricos. Por que não pensar também na fabricação de tratores e máquinas agrícolas?
É uma questão cultural. Esse setor metalúrgico de equipamentos agrícolas, ele vem ali de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul. Essa mudança ainda não houve aqui. E agora com esses recordes que estão batendo, seguramente nós vamos também ter a capacidade de começar a fazer esse tipo de atração, sobretudo por conta da transição energética e da necessidade de ter energia barata produzindo esses equipamentos. Nós estamos atentos a isso. Ocorre que não se transforma tudo de uma vez só. Vou dar um exemplo. Hoje na Bahia, a Ferbasa, a partir da matriz energética, que é limpa para produzir a usinagem, já fornece o chamado aço verde para a Toyota. Então, os carros da Toyota fabricados hoje no mundo tem o selo produzido aqui, que é de alta qualidade. Isso gera uma tendência de mercado. 

 

Ainda a respeito do interior do estado, sobretudo do semiárido que ocupa a maior parte do território baiano, quais as ações para reerguer os distritos industriais? 
Olha, existe um interesse do governo Jerônimo para requalificar nossos distritos industriais. Durante muito tempo, é preciso reconhecer, não houve preocupação de dotar esses distritos de infraestrutura. Esse é um papel que a Secretaria de Desenvolvimento, em parceria com a Seinfra [Secretaria de Infraestrutura do Estado], tem buscado fazer. 

 

Em Feira de Santana, a crítica é que o distrito industrial foi abandonado.
O Centro Industrial de Feira de Santana, tanto o Núcleo do Tomba e o do Subaé já estão adiantados, com projetos finalizados. Ali o trabalho de drenagem precisa ser melhorado porque foi feito há cerca de 60 anos. Uma drenagem muito superficial que já não compete mais para a realidade de hoje. Fazer qualquer intervenção sem mudar o sistema de drenagem é jogar dinheiro fora. Então, o custo para fazer a drenagem profunda está em torno de R$ 20 milhões. O governador vai autorizar e o projeto de Feira deve ficar em R$ 44 milhões iniciais. O edital deve sair provavelmente até agosto.

 

O centro industrial de Vitória da Conquista também é outra reivindicação. Como está lá?

A recuperação do distrito industrial de Conquista já tinha começado no governo Rui Costa. A obra já está em 15% dela, e até o final do ano a reforma deve ser concluída. Existe lá uma associação de empresários que passou por uma série de dificuldades, inclusive na questão documental para atualizar para cadastro fundiário. Mas, a secretaria está trabalhando para fazer a entrega desses documentos para que eles possam acessar crédito e avançar na constituição das empresas. 

 

Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

 

Além de Feira e Conquista, quais outras regiões vocês estão olhando com mais carinho para investir nesses espaços industriais?
Dos 22 distritos industriais, 17 estão sendo trabalhados pela secretaria. Trabalhando com projetos e editais que devem ser lançados ainda nesse segundo semestre.

 

O senhor poderia citar algumas cidades que vão ser contempladas?
Em Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, o governador já está dando ordem de serviço para começar a trabalhar no mês de julho. Vamos aproveitar o festival do algodão para colocar isso em prática. Em Santo Antônio de Jesus, o edital já avançou e a empresa contratada já está com 15% das obras feitas. O de Jequié já está adiantado em obras. O CIA [Centro Industrial Aratu], o edital vai ser lançado no dia 27 de junho e vamos receber as propostas de requalificação. E a requalificação do Polo Industrial de Camaçari está prevista para ocorrer nos próximos 90 dias. Então, dos 17 distritos industriais, a metade deles já está sendo tratada.

 

O Polo de Camaçari, conhecido ainda como polo petroquímico, pode se tornar um polo de energia verde?
Seguramente. A tendência é que o polo, que está perto dos seus 50 anos, passe a receber fortes investimentos e ser um grande hub de hidrogênio verde. Não é ufanismo. O hidrogênio verde será o combustível do futuro. Não é por outro motivo que estamos acompanhando as grandes empresas internacionais que estão dialogando com a gente. O polo vai se modernizar nessa transição energética que passa também pela Bahia. 

 

Entre 2021 e 2022, houve uma queda acentuada na taxa de industrialização na Bahia. Dados da Superintendência de Estudos Sociais, a SEI, apontam que em uma década, o estado teve 22,6% de baixa, enquanto o Brasil caiu 12,4%. O que explica esse problema acentuado na Bahia? 
Nós perdemos competitividade com o mercado internacional. A Bahia não se manteve competitiva muito porque houve uma tendência de avanço do empreendedorismo e do agronegócio. Tivemos problemas com garantia de energia, o que impactou no custo de produção. Além disso, nossos distritos industriais estavam pouco preparados. Isso nós estamos procurado corrigir. O que justifica essa perda acima da média nacional talvez tenha sido a partir de 2015. A Bahia deixou de ter protagonismo a nível federal.  Com a passagem de Bolsonaro, poucas empresas tiveram acesso a crédito aqui para se implantar na Bahia. Agora, temos a chance de virar a chave com Lula e Gerônimo, Wagner, na liderança do governo no Senado, Rui Costa, na Casa Civil, o professor da Ufba Uallace Moreira no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Enfim, o ambiente é favorável.

 

Há quem diga que o modelo de industrialização no semiárido baiano, que abriga quase 90% das cidades do estado, está estagnado. Geralmente, se pensa muito na vinda de empresas de calçados. O que o senhor pensa dessa crítica?
Toda cidade gostaria de ter uma grande empresa calçadista porque ela emprega bastante. Uma empresa dessa de médio porte emprega de 1,2 mil a 2 mil. Em Santo Estêvão há uma empresa com 6 mil a 7 mil pessoas empregadas, exportando produtos para o mundo inteiro. Mas o estado do tamanho da Bahia tem que entender a sua vocação. O governo do estado tem investido na ordem de mais de R$ 3 bilhões vocacionado para a pequena indústria, na área de laticínio, benefício de fruta, entre outras. Isso está sendo plantado na Bahia e essas sementes vão começar a serem colhidas. Não é de uma hora para outra que isso vai acontecer. 

 

O que o senhor diria para os prefeitos, sobretudo do semiárido, no sentido de que eles vendam melhor suas vocações e atraiam empresas para não ficar apenas no modelo calçadista?
 O desenvolvimento do interior passa muito pela melhora da qualidade do ensino fundamental. Existe uma falha na educação que é preciso ser tratada. Os prefeitos precisam entregar alunos ao ensino médio em um nível melhor. Eu, se fosse prefeito do interior, eu colocaria toda a minha atenção e energia para melhorar a qualidade do ensino fundamental. 

 

Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

 

A gente sabe que a educação do estado também foi muito criticada. É preciso também rever o que o estado tem feito nesse setor, já que um bom ensino médio também vai fazer diferença nos empregos oferecidos?
Uma boa escola coloca para cima a autoestima não só dos jovens, como também dos professores. A escola que tem sido planejada para a Bahia tem sido revolucionária. Vejo que o governador Jerônimo, como professor extremamente e vocacionado, está fortalecendo esse investimento na qualidade da educação. 

 

Tem outra questão fundamental na indústria que é a dependência de infraestrutura. Nós estamos atrás do Sul e Sudeste em rodovias, como também em ferrovias. Como resolver isso?
Um problema muito sério aqui na Bahia foi a depreciação de nossa malha ferroviária. Nos anos 90 houve a concessão da nossa malha para a Vale. E não era do interesse da Vale ter a Bahia estruturada. Tanto que nós perdemos malha ferroviária nessa gestão da Vale que vai vencer agora em 2026. Nós esperamos que o governo federal retome essa concessão, através de PPP [Parceria Público Privada] ou do próprio governo, e requalifique a malha ferroviária. Nós temos muito minério. A mineração na Bahia é pouco explorada. E não existe mineração sem ferrovia e sem porto. Porto nós temos. 

 

Falando em porto, como está a situação do estaleiro de São Roque do Paraguaçu, em Maragogipe?
Algumas empresas da cadeia de produção de energia eólica e solar estão estudando a possiblidade de se instalar no entorno de Maragogipe. Aí, você tem o porto, fica perto da BR-101, com bom escoamento. Então, a produção para exportação fica facilitada, além de escoar a produção para o interior do estado.

 

Tem alguma empresa desembarcando na Bahia que o senhor poderia informar?
Tem uma empresa de eletrodoméstico de Araçatuba (SP) que escolheu Amélia Rodrigues. Tem uma empresa calçadista do Rio Grande do Sul está fechando a vinda para cá. Isso tudo é tendência pelo potencial de atração da Bahia com a energia limpa.

“Quem vence na UPB é quem se articula mais”, diz Zé Cocá sobre PT não se eleger em entidade
Foto: Divulgação / UPB

De saída da presidência da União dos Municípios da Bahia, o prefeito de Jequié, Zé Cocá (PP), vai passar o bastão no próximo dia 13 de março a José Henrique Tigre, o Quinho (PSD), prefeito de Belo Campo. Em entrevista ao Bahia Notícias, Cocá avaliou a gestão à frente da entidade, pontuando o que realizou e o que não conseguiu fazer.

 

Ele também respondeu sobre o debate em torno do reajuste do piso dos professores e dos custos da saúde, algo que deve esquentar ainda mais a temperatura nas cidades baianas.

 

Na conversa, o gestor também opinou sobre a indicação da jequieense e ex-primeira-dama do estado Aline Peixoto para uma vaga no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), apontou o futuro político dele e considerou o que faz o PT não ser o protagonista na UPB. Veja abaixo a entrevista na íntegra.

 

Foto: Divulgação / UPB

 

Primeiro, queria que o senhor fizesse um resumo da sua gestão na UPB?

Graças a Deus, nós tivemos uma passagem bem proveitosa na UPB. Trabalhamos muito. Nós discutimos várias pautas, aprovamos a lei 122 [PEC 122/2015]. Uma lei que hoje de fato as entidades, as associações têm direito. Por ela, o governo federal não pode criar nada sem que haja antes fonte de receita. Criamos a lei das associações. Hoje, as associações têm direitos também de fazer ações e responder pelos municípios. Nós também qualificamos quase três mil servidores. E isso é muito importante para os municípios de pequeno porte. O setor de engenharia da UPB também conseguiu tocar quase 80% dos projetos via Conder que os municípios fizeram neste ano, e a Bahia hoje é protagonista de quase todas as ações municipalistas em Brasília. 

 

O que o senhor não conseguiu fazer ou não teve condição de realizar?

O que eu não consegui fazer foi aprovar a PEC 14 [que pretende reduzir pela metade a alíquota do INSS paga pelas prefeituras. Atualmente é de 22,5%]. Aprovamos nas comissões, mas não conseguimos levar ao Plenário da Câmara dos Deputados. Eu tenho certeza que será uma luta de Quinho [prefeito de Belo Campo, que assume a UPB no dia 13 de março]. Nós tínhamos algumas pautas também junto a Brasília de repasses na área social. Outra área também que a gente tentou fomentar, mas o então governo federal, de fato, não nos ouviu e foi um problema seríssimo. Nós temos hoje quase 20 anos de atraso na área social. Tem municípios que não tem como pagar nenhum profissional na saúde. E existe corpo técnico que hoje custa R$ 40, R$ 50 mil, no mínimo. Tivemos um debate forte com o governo federal pela questão do aumento da tabela do SUS. Tem procedimento que é inviável hoje, e o município recebe R$ 16 para custear um ultrassom, por exemplo. 

 

Quem vai assumir a UPB agora é o prefeito de Belo Campo, Quinho, que já está na diretoria da UPB desde a gestão de Eures Ribeiro, e é atual vice-presidente. Qual conselho o senhor daria para ele?

Eu digo sempre que Quinho é um amigo. Eu lembro que quando eu estava saindo da prefeitura de Lafaiete Coutinho, Eures Ribeiro entrou. Na nossa diretoria, ele me ajudou muito. Foi um dos diretores mais presentes da nossa equipe. O conselho é ouvir e dialogar, e graças a Deus, ele tem muito esse perfil, por ser um líder muito pujante, um cara que tem futuro, um cara que vai pra frente. Consegue dialogar, não tem medo das coisas, e isso deixa ele, em uma condição muito forte. 

 

Foto: Divulgação / Prefeitura de Jequié

 

Quinho tem algumas semelhanças com o senhor. Por exemplo, o senhor começou sendo prefeito de Lafaiete Coutinho, uma cidade de pequeno porte, e depois foi eleito em Jequié. No caso de Quinho, ele governa Belo Campo e é provável que se candidate a prefeito de Vitória da Conquista. O que o senhor acha disso?

Ele nunca me disse isso. Eu acho que ele desenha um futuro com a candidatura a deputado para depois tentar a prefeitura de Vitória da Conquista. 

 

A gente está diante de uma polêmica com a indicação da ex-primeira-dama Aline Peixoto para uma vaga no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Se o senhor estivesse na Assembleia Legislativa, votaria em Aline?

Eu digo o seguinte, eu sou partidário. Se o meu partido tomasse uma posição como tomou, eu votaria com certeza. Hassan [deputado estadual eleito em 22], que tive o prazer de indicar como meu sucessor, um cara que é muito meu amigo, quando nós discutimos, eu perguntei: “qual foi o diálogo dos seis deputados?” Ele disse: “a maioria absoluta quer votar em Aline”. Então, segue a maioria, segue o partido. Grupo é isso. Às vezes tem divergências, mas a política é feita para isso. A gente tem que ter maturidade e sabedoria para diferenciar as coisas. 

 

Nas eleições da UPB, o PT não mantém uma posição de apoiar um nome do partido, ao contrário das indicações para a chapa do governo do estado. Na última eleição da UPB, a prefeita de Rafael Jambeiro, Cibele Carvalho (PT), era candidata e retirou o nome dela às vésperas do pleito. Neste ano foi o caso também do prefeito de Amargosa, Júlio Pinheiro (PT). O PT é mais flexível na UPB?

Na UPB se depende de muita articulação interna. Então, quem se articula bem consegue vislumbrar um nome forte, como foi o que aconteceu comigo, com Eures, e agora com Quinho. Aí, por coincidência, a discussão partidária fica no final. Mas geralmente quem vence na UPB é o prefeito que consegue se articular mais. Consegue agregar mais. Começa a fazer musculatura e automaticamente se fortalece. 

 

Foto: Divulgação / UPB

 

Entre várias questões que os prefeitos vão ter que tomar decisões, muitas impopulares, é quanto ao reajuste do piso dos professores. Como o senhor tem encaminhado isso para os colegas e no caso específico de Jequié?

Nós estamos discutindo com a categoria. A nossa data base aqui [em Jequié] é abril. A UPB fez isso também junto com a Federação dos Consórcios, para discutir via território os aumentos dos profissionais de educação. Porque hoje ficou muito complicado. Nós temos municípios que não tem condição de dar um real de aumento. E tem outros municípios que têm condição de dar os 15% e até mais. Não é fácil isso porque a gente sabe que quando mexe no bolso, todo mundo quer. O professor está no seu direito, e o município precisa também pagar as suas contas. Temos que achar um meio termo. 


Para finalizar. Qual o futuro de Zé Coca na política?

Inicialmente, a preocupação é seguir prefeito de Jequié. Discutir se cabe reeleição ou não depende muito do nosso mandato. Fiz uma pesquisa popular aqui e sempre tem dando acima de 80% de aprovação. Possivelmente, poderemos tentar a reeleição, mas isso, o futuro, a Deus pertence.

João Gualberto, prefeito de Mata de São João

Por Anderson Ramos / Francis Juliano

João Gualberto, prefeito de Mata de São João
Foto: Marina Nadal / Bahia Notícias

O prefeito de Mata de São João, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), João Gualberto (PSDB), aguarda a definição da chapa de ACM Neto com a expectativa de sentar na janela. Para ele, não importa se o lugar é de postulante a vice-governador ou de senador.

 

"Pode ser vice, pode ser senador [...] desde 2002, estamos juntos, em todas as circunstâncias", disse em entrevista ao Bahia Notícias. Para este ano, o também empresário declarou que mantém a fé no crescimento da chamada terceira via. "Eu rezo todo dia para que nós brasileiros não fiquemos na opção de ter de votar em um e outro, Bolsonaro e Lula", se queixou.

 

Na entrevista ao BN, Gualberto especulou também sobre as chances eleitorais do PSDB baiano, desconfiou da federação partidária, criticou o PT, lembrou de uma “ajuda” aérea a Jaques Wagner (PT) e passou por temas como educação, Marcelo Nilo (PSB), Covid-19, entre outros. Leia abaixo a entrevista na íntegra:

 

Foto: Marina Nadal / Bahia Notícias

 

Mata de São João recebeu destaque nacional recentemente sobre o uso de câmeras de reconhecimento facial no acompanhamento dos estudantes. Como surgiu essa ideia?

A educação sempre foi minha prioridade. Desde 2005, no meu primeiro mandato, quando encontrei o município, ele era o último colocado no Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] da região metropolitana. A educação quase não existia. A gente teve muito desafio no início. Para você ter ideia, todas as escolas do município, a partir de 2005, foram construídas 90% por mim e 10% por Marcelo [Oliveira]. Neste mandado novo, o grande desafio é não fazer mais do mesmo. E o reconhecimento facial é nada mais nada menos do que uma ferramenta para dar mais agilidade aos professores. Quando o aluno entra, ele já é logo reconhecido. O reconhecimento facial também dá segurança aos pais, porque é emitido um SMS, então ele sabe se o aluno está na escola, se atrasou, se teve alguma coisa, e os pais podem entrar em contato com a escola. Toda a estrutura da escola e da secretaria fica sabendo quando os alunos estão presentes, para preparar, por exemplo, a merenda.

 

O retorno às aulas em Mata de São João teve algum impacto na saúde local?

Foi tranquilo. O maior impacto foi no ano passado. Tinha uma pressão maior da sociedade. Eu acho que os políticos cometeram alguns erros, e muitos deles até intencionais, querendo se respaldar apenas em pesquisas. Agora, nesse momento, tem município que não retornou as aulas ainda. É um absurdo. Ano passado, nós começamos com 40% dos alunos em abril e terminamos o ano com 90%. 

 

A adesão dos pais foi positiva?

Neste ano foi muito positiva. Nós começamos desde o dia 24 de janeiro, com movimento na cidade, carreata, bandeiras. Fizemos jornada pedagógica com os professores, encontro com os pais na Casa da Cultura, mostrando a importância da ação. Movimentamos a cidade para acordar as famílias. As aulas começaram com a distribuição de material escolar. E foi um sucesso. Voltamos no dia 31 de janeiro, quando historicamente os colégios voltam em fevereiro. A adesão dos pais, surpreendentemente, foi muito grande. E agora, as pessoas já não estão muito preocupadas com a Covid-19. As pessoas estão entendendo que é como se fosse gripe. Teve aquele pico, já começou a cair, agora quase ninguém foi internado. E o mundo todo está assimilando que a doença passa a ser uma gripe.

 

O senhor anunciou um reajuste na semana passada para os servidores. Com esse reajuste, o município pode fechar o ano no vermelho?

Não, não. Tudo que a gente faz é calculado. Nós fizemos uma revisão geral de salário. Isso vai gerar um aumento da folha de pagamento, mas o que eu entendi é que como o ano passado não teve aumento, a inflação foi de 5% em 2020 e 2021, então, o mínimo que eu podia dar era 10% de aumento para todos os servidores. Lógico que tem um impacto grande na folha, e ainda vai ter o pagamento do piso dos professores, mas nós fizemos todo um trabalho de gestão do município, de economizar o máximo possível, fazer cada vez mais com menos. Isso sempre foi o meu lema. É o que sempre pratico nas minhas empresas. Nós fizemos todos os cálculos e assim foi possível fazer essa revisão geral nos salários.

Foto: Marina Nadal / Bahia Notícias

 

Falando sobre turismo, Salvador registrou um aumento considerável em janeiro. Em Mata de São João como tem sido a procura e qual a expectativa da prefeitura para esse verão já em curso?

No ano passado, nós fomos na contramão de alguns municípios da região metropolitana, em função do governador querer fechar todo o comércio, mas a gente percebia que tinha duas coisas a fazer, observar a ciência e o emprego também. Então, o ano passado, os comerciantes de Mata de São João sofreram menos, principalmente os de turismo. Os restaurantes não ficaram fechados. A gente foi muito mais tolerante, e acompanhava a quantidade de pessoas contaminadas na cidade proporcionalmente às cidades vizinhas, como Lauro de Freitas e Camaçari, que fecharam quase tudo. A gente não estava pior do que ninguém. E esse ano, o verão tem sido ótimo. Aliás, o turismo no Brasil esse ano, como um todo, foi bom. As pessoas deixaram de viajar para fora por conta da dificuldade da Covid-19 e também do dólar alto e fizeram o turismo interno muito forte neste ano.

 

Voltando à questão dos salários, o senhor falou que vai cumprir essa semana o piso dos professores. 

Vai ser pago já em fevereiro o reajuste, os 33%.

 

Qual a sua visão sobre isso?

Foi uma determinação federal política. É um momento de eleição e Bolsonaro se aproveitou disso, porque de fato aumentou o repasse do governo federal para os municípios. Mas a deficiência da educação no Brasil e na Bahia, que é uma das piores do país, é muito grande em todos os aspectos. Em tecnologia, em prédios, estrutura física, e parte desse dinheiro deveria ser gasto de outra maneira. Então, os municípios vão ficar sufocados. Vão dizer: ‘vou pegar esse recurso e investir todo na folha’. Eu acho que salário tem que ser sempre compatível com o mercado. Eu sempre digo para os servidores, ‘aqui ninguém vai ganhar nem menos nem mais de que a média do mercado’. Não pode deixar o setor público muito diferente do setor privado. Mas o presidente quis fazer essa demagogia, paciência. 

 

Falando de política, no caso eleição, o senhor está sendo cotado para participar da chapa majoritária de ACM Neto. Como estão as conversas e qual vaga o senhor ocuparia em uma provável composição?

Essa conversa tem acontecido desde o ano passado, mais até em função do tamanho do PSDB, da relação do PSDB com ACM Neto. Desde 2002, estamos juntos, em todas as circunstâncias. A pessoa que encabeça a chapa majoritária leva em conta várias variáveis para escolher os nomes dos candidatos a senador e vice-governador. Eu acho que até o final de março, início de abril, vai ser definido. Tem alguns nomes, a imprensa mesmo está falando. A gente está conversando. Bom, eu participei de cinco campanhas majoritárias em Mata de São João, três como prefeito e duas com Marcelo, que foi meu vice-prefeito. Eu participei na composição da chapa, e sempre no meu caso, cada pessoa pensa diferente, eu via meu vice como uma pessoa da minha relação, uma pessoa que sempre estava comigo, que ajudava na gestão pelo mérito. A politicagem miúda, isso não faz parte do meu dia a dia. Isso eu não faço. Eu acho que estou na politica para melhorar a vida das pessoas. Tem político que muitas vezes pensa muito na reeleição. Eu não penso nada disso, honestamente. 

Foto: Marina Nadal / Bahia Notícias

 

Mas qual vaga na chapa o senhor gostaria de ocupar: vice ou senador?

Pode ser vice, pode ser senador. Quando eu deixei de ser deputado, eu disse que não voltaria mais para Brasília e tal, mas não voltaria para ser deputado. Acho que o senador tem um papel, faz parte de um grupo menor, 81 pessoas, e assim dá para fazer mais. Na Câmara, são 513 deputados. É difícil expor suas ideias. Ser vice de ACM Neto seria ótimo também. Ele mostrou como prefeito e antes como deputado o que é capaz, e o que ele fez em Salvador foi surpreendente. Ele entrou em um momento de crise, sem apoio do governo federal e estadual, e fez um bom governo da cidade, e o povo sabe exatamente como ele pegou Salvador e como ele deixou a cidade.

 

Um fato político que tem movimentado este início de ano na Bahia é a situação do deputado federal Marcelo Nilo. Como o senhor enxerga a chegada dele na base de Neto, e se ele teria algum lugar na composição majoritária?

Eu não gosto muito de falar do nome de outras pessoas. Ele deve ter seus motivos para deixar a base onde ele estava. Talvez ele achou que cansou ou ficou frustrado, decepcionado, com a turma. Espero que seja por isso, que não seja por oportunismo. Acredito, realmente, que cansou e percebeu tardiamente que a turma lá não é boa de trabalho.

 

O senhor acha que ele tem cacife para se garantir em uma vaga na majoritária de Neto?

Isso quem vai decidir é Neto. Eu pouco o conheço. Para ser muito honesto, eu nunca tive trato com ele. Ele sempre foi oposição por outro lado. Então, honestamente, eu não posso falar muito sobre ele. Ele não administrou, não foi prefeito, não foi govenador, sempre foi deputado. 

 

Na eleição de 2018, se falou que o senhor chegou a oferecer seu jatinho a ACM Neto caso ele fosse candidato ao governo. Neste ano, o senhor vai colocar à disposição dele o uso da aeronave? Outra coisa: o senhor acha que a campanha dessa eleição vai ser mais cara?

Eu desconheço essa oferta de jatinho, mas na verdade quem viajou quase um ano com meu avião foi Wagner. Em 2006, Wagner fez a campanha toda com meu avião. Um amigo comum me pediu o avião e, mesmo apoiando e sendo amigo de Paulo Souto, eu entendi que ele [Wagner] ia perder feio, ia ter 20% dos votos, então meu avião não ia fazer nenhuma diferença. Emprestei o avião por um ano, sem ter nenhuma relação com ele. Eu, na minha inocência daquele momento, achei que podia equilibrar mais a eleição. É um arrependimento que eu tenho. A gente achava que Paulo Souto ia ganhar no primeiro turno, disparado. Infelizmente, o resultado foi diferente. Até o dia que ele ganhou a eleição, ele viajou para Palmeiras com meu avião. E ele, Wagner, já falou isso que começou a campanha em meu avião. Eu emprestaria meu avião a qualquer pessoa, mas tem que ter um motivo. Naquele momento, em 2006, o motivo seria equilibrar a eleição, mesmo apoiando Paulo Souto.

 

O senhor se arrepende mesmo de ter emprestado o avião a Wagner?

Não me arrependendo de nada que faço. Não mudei a história. Se fosse decisivo para ele ganhar a eleição, eu me arrependeria.

 

Hoje, o PSDB baiano só tem um representante na Câmara dos Deputados, e o senhor já falou que não pretende voltar para a Câmara. Então, como aumentar a bancada do PSDB na Câmara Federal?

Tenho certeza que nessa eleição, a gente deve fazer três deputados. Nosso pensamento é que Adolfo [Viana] vai ser o puxador de voto, mas vai ter várias pessoas que querem se eleger com 30, 40 mil votos. Com isso, dá para sair da forma que estamos conversando. Com o fim da coligação, as pessoas vão se juntar em algum partido com esperança de se eleger com 30, 40, 50 mil votos.

 

O senhor acha que com as federações partidárias, as disputas podem se tornar mais competitivas dentro do próprio PSDB?

O PSDB tem conversado sobre federação partidária com o próprio MDB, Cidadania, então pode existir. E agora com a prorrogação até 31 de maio, dá mais tempo de as coisas se arrumarem. Na verdade, vai ocorrer um arranjo. Não deveria ter as federações, porque na verdade a quantidade de partidos que tem aqui é anormal. Não tem sentido. Não temos 30 ideologias. É impossível ter isso. Na verdade, tem partido para servir ao grupo ou ao coronel daquele núcleo político. Com a cláusula de barreira, feita na reforma eleitoral de que participei em 2017, eu acho que melhorou muito. As federações não prejudicam tanto. Você vê que todo mundo está tendo dificuldade para fazer federação, porque tem que valer pelos próximos quatro anos, mas tem gente já de olho na eleição de daqui a dois anos, para prefeito e vereadores, que vão ter que estar juntos. As federações vão servir como uma prévia de uma fusão. 

 

O senador Aloysio Nunes disse recentemente que foi um erro o antipetismo de 2018. A gente sabe que parte da direita apoiou Bolsonaro. O senhor considera também isso um erro e, caso o senhor tenha votado em Bolsonaro, se arrepende desse voto?

Eu respeito muito Aloysio, mas se ele foi antipetista, eu não fui. Você tinha a situação de um partido que criou uma organização criminosa muito grande, e eu não banalizo a corrupção. Eu participei de várias CPIs, a da Petrobras, a da JBS etc, quando fui deputado, e eu percebi o estrago que foi, no caso, o PT. Quer dizer, se ele foi antipetista, eu não fui porque não vou banalizar a corrupção. Então, a situação do Brasil é difícil porque você tem um presidente que criou e formou uma organização criminosa. Foram milhões e milhões devolvidos aos cofres públicos frutos de corrupção. E hoje, o presidente é fora do normal. Um cara que realmente é muito difícil. Eu rezo todo dia para que nós brasileiros não fiquemos na opção de ter de votar em um e outro. Ainda acredito muito na terceira via. Tem muito tempo ainda pela frente. Nós temos alguns candidatos prontos, como Ciro [Gomes], [João] Dória, Simone Tebet, [Sérgio] Moro. E eu acho que esses quatro são muito melhores que os outros dois. E espero que eles, mais na frente, com as pesquisas avançando e a época da eleição chegando, eles se juntem em uma pessoa. Eu creio muito que vai ter mudança. 

Foto: Marina Nadal / Bahia Notícias

 

O cenário político nacional pode influenciar nas eleições na Bahia? Neto demonstra que não pretende dar palanque a ninguém. Isso pode prejudicar a campanha dele?

O PT tem falado muito nisso, mas uma coisa era a eleição de 2012, que ele estava sozinho, não tinha apoio, e que diziam que não conseguiria andar com as próprias pernas. Mesmo que agora tenha uma eleição casada com a de presidente, as pessoas estão preocupadas com a Bahia e vão votar em Neto, em Ciro, em Moro, em Dória ou votar em outros candidatos. Até alguns que votam em Bolsonaro ou em Lula, vão votar em Neto. Eu acho que o sentimento que vejo é esse. As pessoas querem decidir quem vai ser o governador, independente de quem vai ser o presidente. Eu acho que a gente vai conseguir passar essa eleição que vai ser diferente das outras, até pelo perfil do candidato Neto, pela competitividade que ele mostra, pesquisa, pelo que ele fez, eu acho que vai ser diferente um pouquinho das outras eleições. 

 

O que Neto deveria adotar para vencer essa eleição de 2022?

Eu acho que ninguém ganha nem perde eleição por um fato, mas por um conjunto de fatores. Eu acho ele uma pessoa muito preparada, não só na gestão pelo que ele fez na cidade, como politicamente pela habilidade que ele tem. Ele é a segunda pessoa do maior partido do Brasil, que é o União Brasil. Eu acho que ele está no caminho certo. Ele quer focar na eleição da Bahia. Acho que essa é a grande questão. Enquanto alguns querem andar na garupa de um candidato a presidente, Neto quer andar sozinho como candidato a governador. E em relação a presidente, ele não tem ninguém como amuleto para ele. Então, ele tem que focar na Bahia e é a Bahia que interessa aos baianos.

Zé Cocá, presidente da UPB

Por Vitor Castro

Zé Cocá, presidente da UPB
Foto: Fernando Duarte / Bahia Notícias

À frente da União dos Municípios da Bahia (UPB), e prefeito da cidade de Jequié, na região do Médio Rio de Contas, Zé Cocá (PP) espera continuar avançando nas negociações junto ao governo federal na defesa de pautas apontadas por ele como prioritárias para os municípios baianos. Dentre elas está, por exemplo,  a crítica aos atrasos nas obras da Ferrovia Oeste Leste (Fiol).

 

Há mais de 100 dias na presidência da entidade, Cocá assumiu ao Bahia Notícias "não ser fácil" lidar ao mesmo tempo com a gestão da UPB e da cidade de Jequié, em meio a um dos piores momentos sanitários já vividos por nossa geração. É diante disto que o gestor diz contar com "uma equipe muito boa", para dar conta das demandas. 

 

Ciente dos desafios trazidos pela pandemia e da ressaca econômica que as cidades terão de enfrentar no pós-pandemia, o presidente acredita que, já no final deste ano, a tão esperada "vida normal" possa ser retomada ainda que gradativamente. O que, segundo ele, será um suspiro, em meio à queda de receita gerada pelo não acontecimento de festas como o Carnaval e o São João. Eventos que fazem a economia do estado circular. 

 

Nesta quarta-feira (4), ele e outros prefeitos, além de deputados e senadores baianos, vão à Brasília para pedir a aprovação de medidas que consideram urgentes para a gestão das prefeituras, a fim de evitar o que chamou de "colapso dos municípios". Zé Cocá avaliou como positivo os seus mais de 100 dias à frente da UPB e pretende continuar encabeçando pautas que possam quem sabe, projetá-lo nacionalmente. 

 

Foto: Divulgação / UPB 

 

Recentemente o senhor chegou aos 100 dias à frente da presidência da União dos Municípios da Bahia (UPB). Como avalia este período e o que considera mais difícil ao longo do seu mandato enquanto presidente da entidade?

Bem positivo. Nós  discutimos pautas bem importantes para a UPB. Temos como pauta o parcelamento do INSS que é uma coisa crônica. A Bahia comprou essa luta que eu acho que, com fé em Deus, agora em setembro deve caminhar. Essa é uma pauta muito grande. Tivemos com o ministro [da Economia] Paulo Guedes para tentar adiantar isso. Também temos como pauta a diminuição da alíquota. A gente começou a convencer para que a gente comece a fazer isso que será um dos maiores ganhos se a gente conseguir. Nossa luta é diminuir essa taxa para algo em torno de 10%. Em reunião com o ministro provamos que a União irá arrecadar mais se descontar direto da fonte. Então é uma das nossas pautas e isso tem fluído. Também fizemos um trabalho muito forte de capacitação dos municípios aqui na UPB e estamos fazendo em várias áreas. Já qualificamos mais de duas mil pessoas justamente para dar condição para que os gestores possam tocar o município. Principalmente cidades menores onde o gestor, na maioria das vezes tem pouca verba para contratar mão de obra qualificada. Então temos procurado dar esse suporte na qualificação para a administração pública. 

 

Além de presidente da UPB, o senhor também está prefeito da cidade de Jequié. Muitas têm sido as dificuldades para que os municípios lidem com a pandemia da Covid-19. Neste sentido, como o senhor concilia a gestão da entidade municipalista e da prefeitura de Jequié? 

É difícil. Se eu disse que é fácil, não é não. Mas tem que conciliar mesmo. A gente montou uma equipe muito boa tanto aqui quanto lá. Mas assim, você não tem sábado, domingo nem feriado. Se você avaliar, a prefeitura de Jequié, quando nós entramos, só de débito corrente tinha mais de R$ 100 milhões. Nós já organizamos a máquina pública e Jequié hoje só compra aquilo que ela arrecada. Estamos pagando a folha em dia. Estamos fazendo investimentos em todas as áreas como, por exemplo, o maior projeto de asfalto da história de Jequié que nós já começamos a fazer. Também estamos trabalhando para o melhoramento da rede de saúde e vamos trabalhar para que em 2022 ou 2023 a gente saia de 50% de cobertura para algo em torno de 80%. Tudo isso é planejamento e organização de equipe. Organizando nosso corpo de secretários para dar conta de tudo. Nós nos reunimos sempre aos finais de semana para debater o que foi feito dentro do planejamento semanal e assim entender o que conseguimos fazer e o que não foi feito e por qual motivo. Quando você chega na cidade, graças a Deus, têm obras em todos os cantos e a opinião pública já começa a compreender que, quando há uma gestão séria, o resultado chega até lá.

 

Na Bahia, festejos como o Carnaval,  São João e São Pedro, representam grande parte da receita das cidades, principalmente no interior do estado. Por conta da pandemia, o estado já soma dois anos sem estas festas, e com o acréscimo de gastos antes não previstos na saúde. Como a UPB, junto aos municípios, pensa em agir para driblar essa realidade e gerar novas receitas em meio à crise econômica? 

Graças a Deus a vacina já tem apontado que isso voltará a sua normalidade e, com fé em Deus, final desse ano, início do outro, é bem possível a gente conseguir voltar a normalidade. A vacina hoje já esta chegando a mais de 60% do povo baiano com a primeira dose. Já temos alguns municípios com 35% a 40% da população que já recebeu também a segunda dose, então já é um passo. A gente tem conversado com o objetivo de que volte a normalidade, pois sabemos que em alguns municípios, as festas como São João e Carnaval movimentam muito a economia local. E, além da receita do próprio município, tem também a receitas das pessoas que fazem a sua vida. Em Amargosa, por exemplo, tem pessoas que saíam das suas casas para alugá-las no período de São João e, com aquele recurso, conseguiam se manter quase o ano todo, então é um abalo muito grande para esses municípios. Nós temos um universo de pelo menos 30 a 40 municípios na Bahia que passaram apertados em relação a isso, mas estamos debatendo fortemente isso e acho que em 2022 se normaliza. Acredito que nós teremos essa condição de normalidade ainda esse ano no sentido de já começar a reabrir, nos municípios, os restaurantes e bares com som ao vivo. Claro que com restrições, então a gente vai se adaptando para que tenhamos em 2022 um cenário de abrir tranquilo. 

 

Uma das pautas que o senhor mais tem defendido é a redução da alíquota patronal do INSS paga pelas prefeituras e também o parcelamento em 240 meses da dívida previdenciária dos municípios. Em que pé andam estas propostas e qual a importância destes pleitos para os municípios baianos?

Esse pleito, eu digo sempre, o parcelamento destas alíquotas, é o que vai salvar os municípios baianos caso aconteça. O parcelamento graças a Deus já foi discutido. Havia uma resistência do governo federal, eu tive uma reunião presencial com Paulo Guedes, conversei com ele sobre as dificuldades dos municípios e com isso já teve o projeto andando e a proposta dos deputados federais para continuarmos discutindo sobre. Tem município que está gastando de 10% a 15% da sua receita líquida só para pagar o INSS, então isso desequilibra qualquer gestão. Nós temos municípios da Bahia com esses problemas e são problemas seríssimos. Aí nós temos a diminuição da alíquota e nesta reunião nós mostramos a Paulo Guedes que, se o governo federal reduzir destes 22,5% ao menos 10% e descontar direto na fonte, ele vai arrecadar mais do que ele arrecada hoje. Do contrário, o gestor não consegue pagar e o no final do seu mandato acaba aumentando seus débitos junto à União. Então, dessa forma, o governo já arrecada direto da fonte, e o município de isenta de problemas sério até como ato de improbidade. Então mostrei isso para Guedes, ele gostou muito, estamos debatendo isso com nossos deputados federais. Inclusive, teremos uma reunião em Brasília agora dia 4 com a nossa bancada federal e com isso vamos pressionar para que essa questão da diminuição da alíquota seja pautada também pelo governo Bolsonaro. E como Paulo Guedes gostou muito, a gente pede que os deputados federais pressionem o governo para fazer esse ato o mais rápido possível. 

 

O senhor defende que seja feito, por parte do governo do estado, o pagamento dos royalties do petróleo, aos municípios. Enquanto presidente da UPB, já chegou a enviar um ofício ao governador Rui Costa, pedindo a parcela destinada aos municípios. Como avalia a postura do governador frente a redistribuição desta verba? 

Já conversei com o governador sobre isso para que a gente comece a pagar, e a gente discute também o atrasado para que seja pago devagar. Estou conversando com os prefeitos para que a gente tenha ainda este ano esses valores. Às vezes até atrasa um pouco, e você me pergunta o porquê. Isso porque nós discutimos fortemente com o jurídico para achar uma brecha, mas infelizmente a gente não conseguiu. Hoje, se você avaliar, mais de 60% dos royalties ficarão na região metropolitana [de Salvador] e os municípios que mais precisam desses valores iriam receber bem pouco. Um município 0.6 vai receber R$ 1.200 reais por mês enquanto o município como Camaçari vai receber quase R$ 400 mil reais, porque a base de distribuição dos royalties se baseia na distribuição do ICMS e o nosso ICMS é concentrado em mais de 60% na região metropolitana. Infelizmente a forma da distribuição desses royalties não é justa. Tentamos resolver isso com o jurídico mas não conseguimos. Não há brechas  e para mudar essa questão dos royalties, tem que mudar também a lei do ICMS, então é muito complexo isso, não é algo fácil. São valores de fato necessários, mas os municípios que mais precisam acabam recebendo pouco por conta da forma da divisão.

 

Em relação a implementação da Fiol no estado, o senhor avalia que há atraso e/ou falta de interesse por parte dos governos federal e estadual para que o empreendimento comece a funcionar? 

A Fiol é uma obras federal em que o estado participa bem pouco do processo, mas é uma obra necessária. Nós temos debatido isso e o que a gente vê? De fato, hoje, ela infelizmente não está como prioridade no calendário do governo federal. Licitou o trecho II que é o trecho de Caetité a Ilhéus.  Até por conta da pressão em relação a exploração do minério de ferro ali na região, mas é importante que o governo federal paute a Fiol. Discutimos a criação e um consórcio para que a gente debata  com o governo federal e o plano de trabalho da Fiol porque nós não podemos deixar do jeito que está, numa altura dessa, roubando os trilhos, o povo roubando material e o governo federal não dá para gente um calendário de retorno.

Eures Ribeiro, presidente da UPB

Por Francis Juliano

Eures Ribeiro, presidente da UPB
Foto: Divulgação / UPB

Prestes a deixar o comando da União dos Municípios da Bahia (UPB), Eures Ribeiro acredita que 2021 deve ser também um ano difícil para as prefeituras. A esperança do ex-prefeito de Bom Jesus da Lapa, no Oeste baiano, é que haja um socorro da União. Caso contrário, nas palavras do próprio, “80% das prefeituras vão fechar”.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, Eures fez um balanço dos dois mandatos consecutivos à frente da UPB e apontou o que não conseguiu fazer, tarefa para o próximo presidente da entidade a ser escolhido no dia 2 de março.

 

O gestor ainda avaliou sobre as primeiras ações na pandemia. Disse que “os prefeitos foram muito radicais”. Ele falou também sobre os efeitos das eleições na propagação da Covid-19, cobrou vacina e pediu volta às aulas. Leia abaixo a entrevista completa.

Foto: Divulgação / UPB

 
Primeiro, queria que o senhor fizesse um balanço da sua passagem na UPB?
Eu faço uma avaliação muito positiva no sentido das lutas e conquistas que o movimento municipalista alcançou nesses quatro anos que estivemos à frente da UPB. Nós conseguimos instituir a Marcha da Bahia que foi permitido para a gente discutir as nossas pautas com o governo do estado e com o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-BA). Essas marchas aqui em Salvador permitiram também regularizar vários repasses que sempre ficavam atrasados por parte do governo estadual. Foram decisivas. Também com o TCM, nós conseguimos com apoio da Assembleia Legislativa da Bahia, fruto dessa marcha, fazer com que os programas federais, que eram contabilizados como gastos com pessoal e rejeitavam várias contas dos municípios, fossem retirados do índice de contagem de pessoal. 

 

Como era a realidade antes da aprovação dessa resolução do TCM?
Para você ter ideia, antes disso chegava-se a rejeitar 60% das contas das prefeituras baianas. Depois, caiu para algo como 15% de contas rejeitadas. Com isso, a Bahia foi exemplo para o Brasil. Depois da Bahia, vários tribunais passaram a tirar os programas federais que faziam com que várias contas de municípios fossem rejeitadas. Voltando ao balanço, muitas lutadas federais nasceram na Bahia, dentro elas, a que travamos com o IBGE. Na Bahia, muitos municípios que tiveram redução de habitantes iam perder repasse do FPM. O que aconteceu? Nós conseguimos aprovar uma lei, que nasceu aqui, que diz que enquanto não tiver novo censo, independente de perda de moradores, o município não sai da faixa do FPM em que ele está vinculado. Se essa lei não fosse aprovada, 230 municípios baianos nesses dois anos iriam perder receita e recurso.

 

O que ficou para fazer que a gestão do senhor não conseguiu dar conta?
Ficaram dois pontos que não conseguimos avançar. Um é a questão com a Coelba. A gente quer que ela pare de sequestrar o recurso, que é nosso, que é o recurso da taxa de iluminação. Hoje, esse recurso entra na conta da Coelba e a gente nem sabe como ele é administrado. Nós queremos que o recurso entre nas contas das prefeituras e as prefeituras, depois que a Coelba apresentar a conta, repasse o valor. Mas não conseguimos avançar. O problema é que a Coelba acha que o município vai dar calote, mas esse dinheiro não é da Coelba. A outra coisa que não conseguimos é o 1% a mais de FPM no mês de setembro. Nós já temos o 1% em junho e outro 1% em dezembro. E o mês que historicamente as receitas mais caem é em setembro. Nós queremos um FPM extra. Conseguimos aprovar no Senado. Na Câmara, Rodrigo Maia prometeu colocar em pauta, e esperamos até a última sessão desse ano. Ele prometeu aos municípios que ia votar até o último dia. Mobilizamos todos os deputados federais, e ele não colocou para votar. E foi um prejuízo para os municípios não ter esse FPM extra. 

 

No começo da pandemia, o senhor fez muitas críticas ao governo do estado. Pedia, entre outras coisas, para o estado impedir a chegada de ônibus de outros estados. Ao longo da pandemia, como o senhor avalia a condução do governador Rui Costa?
A questão da Covid-19 exigiu em cada momento um comportamento diferente. No começo, os prefeitos foram muito radicais. Com fechamento de estradas, lockdown. Cada um fez do seu jeito. No percurso do tempo, a gente viu que a economia e a geração de emprego foram muito estranguladas. Nem a própria população quer mais essas medidas. A nova luta agora é a vacina. Todos os prefeitos estão se conscientizando da exigência dos governos federal e estadual para que se vacine a população, uma vez que não tem como mais fazer aquelas primeiras medidas. Agora, a meta da UPB e da CNM é ampliar o número de pessoas vacinadas. É óbvio que no começo da pandemia cada um brigava por alguma coisa. Era o momento de fechar estrada, fazer isolamento social. Mas no momento que você tem a vacina, e lembra que aqueles fechamentos custaram emprego, a solução é vacinar as pessoas. E o movimento agora prima para que os governos estadual e federal, que é quem têm os recursos, possam adquirir as vacinas e repassar para as cidades.

 

Atualmente, como está a relação do senhor com o governador Rui Costa?
Eu brigava com o governador a respeito de repasses. Atrasava repasses da saúde, da assistência social, de transporte escolar, eu ia e sempre brigava pelos municípios. E, independente da minha relação política com o governador, a minha relação como presidente da UPB fazia com que eu fosse para cima do governador e cobrasse o que os municípios precisavam.

Foto: Reprodução / UPB

 

Tradicionalmente, o primeiro mês do ano é um dos melhores em arrecadação para os municípios. Com a pandemia, cabe a desculpa ou o argumento de que as cidades não têm dinheiro em caixa?
Do começo do ano até junho a receita é um pouco satisfatória. Mas quando chega agosto, setembro, outubro e novembro, é um desastre. Nós temos um comparativo, não em relação ao ano passado, mas em relação ao ano anterior à pandemia. No ano passado, o governo fez uma reposição do FPM. Você sabe por que muitos prefeitos conseguiram se reeleger? Porque houve reposição de FPM e ainda teve uma ajuda financeira de R$ 70 bilhões, que foi repartida para estados e municípios. Isso permitiu aos municípios sobreviverem com a queda de receita. Aqui na Bahia, 80% dos municípios são pequenos e sobrevivem de FPM e de ICMS. Com a produção caindo, cai também a receita. Ano passado, o governo fez um pacote de ajuda, com reposição do FPM e uma ajuda financeira. Este ano não tem nada. Do meu ponto de vista, vai ser um ano muito difícil para os municípios. Eu tenho aconselhado aos prefeitos a colocar o pé no freio, enxugar a máquina administrativa ao máximo porque vai ser um ano muito difícil.

 

Mas janeiro pode ser considerado um mês mais tranquilo?
Sim, mas se você comparar com os dois anos anteriores houve uma queda de 30%. Os municípios perderam 30% com queda de FPM. É uma grande perda. E as obrigações trabalhistas, com servidores, com fornecedores, não caíram 30%. Elas só aumentaram. Ano passado, o governo conseguiu repor. E esse ano como vai ser? Por mais que a primeira receita de janeiro seja relativamente boa, ela já teve uma queda de 30% antes da pandemia. Então, é isso que a gente questiona. Tem que ter uma ajuda financeira. Não digo que precise ser semelhante ao que foi no ano passado. Mas é preciso de algo que ajude os municípios. Se não, a maioria das prefeituras vai fechar as portas. Eu digo porque 80% delas precisam de ICMS e FPM. Nós vamos puxar isso aqui na Bahia e vamos levar para Brasília, com a CNM. Nós já estamos nos reunindo com diversos prefeitos, pedindo um novo socorro financeiro aos municípios neste ano.

 

O senhor acha que as eleições influenciaram muito na propagação da Covid-19 no estado?
O movimento era contra a realização das eleições. É impossível no calor de uma disputa eleitoral você conter as pessoas. As eleições mexem muito com as pessoas. Elas querem ir para a rua para mostrar que estão com um candidato. Por isso, que o movimento na época, antes de o Congresso Nacional aprovar as eleições, era contra. A gente queria o adiamento das eleições porque sabia que seria impossível conter a manifestação popular no período eleitoral. Tanto a UPB como a CNM eram contra. E aí na época, nós éramos criticados. Diziam que a gente queria ter os mandatos prolongados. 

 

No fim do ano voltamos também a ter aglomerações por conta das festas de dezembro. O senhor acha que os prefeitos relaxaram na fiscalização do controle da pandemia?
Depois virou festa. A eleição tirou todo o controle do isolamento social. Nós falávamos: “vamos deixar para ano que vem, adia as eleições, vamos esperar seis meses”. Mas ficaram achando que os prefeitos queriam alongar os mandatos.

 

Qual a sua posição sobre o retorno das aulas?
Eu estou muito preocupado. É muito tempo sem o aluno na escola. E a referência de evolução social é na escola. Imagine um ano sem escola. Nós temos que ter uma solução. Se vai ser presencial, semipresencial, a questão é que não podemos ficar sem escola neste ano. Não dá mais. É muito tempo. Está na hora de a gente parar e refletir e ver o melhor jeito. Se o aluno vai um dia, o outro vai no seguinte para diminuir o fluxo. Se a gente consegue ir para um shopping por que a gente não consegue ir para a escola? E a gente não pode esperar a vacinação. Nem que seja à distância, semipresencial, a gente tem que começar alguma coisa. Isso é um prejuízo enorme. Um dia de aula perdido, você não consegue recuperar, imagine um ano. E o futuro dessa geração que só tem como alternativa de sobrevivência a escola nessa sociedade capitalista? É muito complicado. 

Foto: Divulgação / UPB

 

E o seu futuro agora como fica? O senhor não é mais prefeito de Bom Jesus da Lapa nem daqui a alguns dias presidente da UPB. O que fará de agora em diante?
Olha, eu estou na vice-presidência da CNM, que é a maior entidade municipalista do Brasil e da América Latina. Então, eu estou vice-presidente e tenho mais dois anos de mandato. Eu vou continuar ajudando a Bahia, ajudando a UPB também, continuando a brigar e lutar pelas bandeiras dos municípios, como essa bandeira da nova ajuda financeira aos municípios do Brasil. Os municípios precisam sobreviver. A crise do coronavírus ainda afeta a economia. Não passou.

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