Com groove arrastado, Sambaiana faz história ao levar para o palco do Festival de Verão banda 100% feminina
Por Bianca Andrade
Não deveria ser surpresa a força feminina no samba, afinal, foi através da baiana Tia Ciata que o mundo conheceu o samba que é feito em grande parte do Brasil atualmente, especialmente o samba que gostam de chamar de “samba carioca”.
Apesar da história mostrar o contrário, a conquista do espaço feminino segue sendo uma surpresa, afinal, em uma sociedade machista e patriarcal, o triunfo de uma mulher ainda é a situação de “uma em um milhão”.
O milhão da vez foi para Marília Sodré (violão e voz), Ju Moraes (voz e percussão), Grace Profeta (voz e percussão), Rayra (voz e cavaco), Marcinha BB (percussão), Lalá Evangelista (percussão) e Lorena Martins (baterista), que colocaram no palco do Festival de Verão uma banda 100% feminina para cantar o bom, velho e novo samba.
Em entrevista ao Bahia Notícias, Ju Moraes celebrou o espaço, que foi dividido com uma da grandes vozes do gênero, Diogo Nogueira.
“Estamos representando as mulheres que não tiveram oportunidade. O que a gente está representando aqui hoje são anos e anos de muita luta, primeiro individualmente de cada uma de nós. Eu tenho 15 anos de carreira e nunca pisei nesse palco principal, né? É a primeira vez, então eu acho que a união de muitas carreiras aqui, de muitos sonhos, de muito desejo, de muita dedicação nessas décadas que a gente trabalha com a música, o que falta para as mulheres é a oportunidade. E a gente está tendo essa oportunidade, temos muito a agradecer muito por ela, mas também ressaltar que a gente é um percentual muito pequeno ainda. A única banda formada por mulheres e isso é muito triste porque a gente sabe que existem essas bandas.”
Foto: André Carvalho/ BN Hall
Para Rayra, o palco do FV é especial, mas não tira o brilho de todos os outros conquistados nos últimos anos, em especial, a casa do Sambaiana, no Colaboraê, no Rio Vermelho.
“A gente espera que ano que vem eu tenham outras oportunidades e que a gente esteja aqui de novo. Cada palco é uma experiência única, mas eu acho que tocar aqui em Salvador, onde tudo começou, tem um gostinho especial. Então assim, é um agradecimento especial a todo mundo que está aqui, mas quem está com a gente desde o primeiro dia, acompanhando a gente lá da rodinha de samba, da mesinha.”
Marília conta que esse será o plano da Sambaiana para os próximos meses e anos, continuar ocupando as ruas e se aproximando do público, fazendo o samba acontecer em todo lugar.
“A gente tem muita vontade de ocupar a rua e de trazer essas pessoas para o nosso samba cada vez mais. Estamos pensando sempre nesses projetos. A gente tem o Carnaval e tem muita coisa para acontecer.”
Foto: Bianca Andrade/ Bahia Notícias
A banda ainda celebrou a parceria nos palcos com Diogo Nogueira e a possibilidade de encontrar com outros nomes que são inspirações para elas, individualmente e coletivamente também.
“O festival tem essa possibilidade de fazer essa mistura, a gente poder se encontrar no backstage e combinar outras coisas também. A gente encontrou Saulo, encontrou Ivete e Luiz Caldas. Então essa é a química que tem o festival de misturar as pessoas do backstage. Encontrei Marcelo D2 outra grande referência para a gente e uma grande oportunidade um momento pra gente celebrar celebrar o samba celebrar esse momento.”
Questionadas sobre um aumento no consumo e na produção de samba no Brasil e em Salvador, Ju Moraes celebrou o bom momento do gênero.
“Eu acredito que isso seja comum pela fase do samba. A grande produção de conteúdo e de novas músicas no samba que tem vivido o Brasil inteiro. Salvador tem repercutido que vive o Brasil inteiro, que é essa onda do samba realmente muito, do samba e do pagode, muito popular. A gente fica super feliz. A gente está no samba, eu toco samba há 15 anos e eu nunca vi o samba tão forte. Então, a gente nesse momento quer aproveitar tudo isso.”